A Kawasaki passou ao nível seguinte – Versys 1000SE Grand Tourer

Por mim, ficava com ela e ia virar esquinas por aí fora…mas não me deixaram!!!

26 de Março de 2019

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Por esta altura, não há revista ou jornal especializado (ou até mais generalista),seja o suporte papel ou digital, que não se tenha já pronunciado sobre as virtudes – muitas – e os defeitos – poucos da nova Kawasaki Versys 1000 SE. Portanto, não se justifica aqui uma análise detalhada sobre as características e especificações desta máquina. Seria chover no molhado e nem sequer possuo os meios ou a habilidade para tal. Mas posso testemunhar as minhas sensações, aquelas que um condutor normalíssimo pode efectivamente sentir nas mais comuns condições de utilização, sem sequer nos aproximarmos dos limites.

Aliás, clarifico: os meus limites são atingidos muito antes dos da Versys!

A este respeito, recomendo o teste que vem na revista Andar de Moto de Março (#10) a páginas 42 a 49. Exaustivo e muito mais detalhado que o que vão ler aqui. Leiam por favor…e depois façam o mesmo nas páginas 80 a 82. Este escriba agradece. E se alguém resolver fazer a EN2 com uma Kawasaki Versys 1000, diga!

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Mas comecemos pelo principio. Para 2019, a Kawasaki “baralhou a e tornou a dar” no que à sua trail turística concerne. E é muito mais turística do que trail (naquilo que estamos habituados a considerar quando falamos das mais notórias GS ou Africa Twin). De facto, a Versys poderá frequentar ambientes mais poeirentos, assim o permitem as rodas de 17” e a distância ao solo. Poderá…mas não se sentirá completamente à vontade até porque os sapatinhos são para asfalto. Porque é uma estradista! E que estradista…

Tem tudo o que hoje em dia uma máquina topo de gama tem direito, até porque estamos a falar da versão SE Grand Tourer, a mais cara e mais completa: desde os 4 modos – Sport, Road, Rain e o quarto totalmente configurável através do painel de instrumentos ou com uma app específica do modelo – à embraiagem “Slip & Assist” (já falarei desta que me deixou impressionado), ao quick shifter, à forma como o motor “espalha” a sua potência, às assistências electrónicas da praxe incluindo as suspensões, ou às “cornering lights” (um ovo de colombo!).

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Devo dizer que houve algo que não me agradou ao início. 2 coisas, aliás. A primeira, o contacto inicial com o guiador. Achei que era demasiado largo. Mais tarde, já habituado, não me perturbava mas continuei com a sensação que levava os braços abertos em demasia (apenas desconforto porque em termos aerodinâmicos, nada a dizer). Admito que possa ser reflexo de não conduzir habitualmente estes tipos de mota e estar muito mais habituado a menores distâncias entre os punhos. Já agora, a condução em pé é perfeitamente possível mas…já vi melhor. A segunda coisa foi o barulho. Esperava algo mais ruidoso…mas até aqui a vocação turística – leia-se muitas centenas de quilómetros de seguida – está presente. Acredito que não será pelo barulho que sai do escape que chegaremos ao final da jornada fatigados. Acabei por compreender…e gostar! Vejam lá…deve ser da idade!

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Outra surpresa. Existe um preconceito: as Kawasakis são explosivas. São poderosas e dizem-nos isso desde o primeiro momento. Há muitas luas tive uma ZZR e era tudo isso e ainda mais. A Versys não. É toda ela suavidade. Diria melhor: souplesse! Obviamente que os controlos electrónicos (não me perguntem quais, que é areia de mais para a minha…top case!) estão lá por alguma razão!

Mas atenção, a moto não é amorfa. Muito longe disso. Fiz a experiência. Deixei morrer até às 2.000rpm em 6ª velocidade, no modo Sport. Depois enrolei o punho como se não houvesse amanhã. E nem uma ligeira hesitação, engasgue ou batidela do motor. Linear por ali acima, até atingir os cento e….mais não digo! Ainda assim, com suavidade, progressiva, sem criar qualquer tipo de frisson ou arrepio na espinha. A sua vocação não é essa. É uma moto madura, para um condutor que sabe o que quer: chegar confortavelmente ao seu destino, o menos fatigado possível, com o máximo de segurança. E quando tudo isso se conjuga, também consegue chegar mais cedo!

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Outro aspecto que me deixou maravilhado. Curvar!

Não que eu seja um especialista de raspar a pezeira, longe disso (medinho….), mas gosto de me sentir seguro a inclinar. E senti-me seguro. Muito seguro mesmo. Uma excelente sensação. Testei os dois modos: Sport e Road. Confesso que se a moto fosse minha andaria geralmente no modo Road. Mais confortável e até mais previsivel (se é que o termo faz sentido nesta moto). Mas com a “regularidade” do piso das nossas estradas….o Road é melhor. Em autoestrada, a conversa seria outra, claro. Aliás, estão lá precisamente para isso. A cada situação seu modo. Isto se o feliz proprietário não optar por configurar um modo inteiramente à sua medida.

E antes de falarmos de coisas mais soft, vamos aquilo que me falou ao coração. Em primeiro lugar o quick shifter. Pensei que me ia esquecer de o utilizar até porque a experiência não foi longa. Errado! Comecei a utilizá-lo, para cima ou para baixo. Espectacular o seu comportamente e, lá está, suavidade. Pois é….quando regressei à minha VFR dei por mim a meter mudanças directas….não convém!

Em segundo lugar, a embraiagem “Slip & Assist”! Funciona e de que maneira. Na suavidade (acho que já tinha utilizado esta expressão antes…) de accionamento da embraiagem mas, principalmente, no controlo da moto (roda traseira) quando fazemos reduções bruscas (daquelas em que vamos a acelerar e de repente metemos uma abaixo). Nem mexe! Uma coisa destas na tal ZZR que falei atrás e hoje ainda tinha o pé direito como vinha de origem!

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Parece que tem uma coisa chamada unidade de medição de inércia de 6 eixos. Será que é assim uma coisa parecida com os giroscópios dos helicópteros? Também não interessa nada! Está lá e pronto. Controla o ABS, o Controlo de Tracção (responsáveis certamente por larga percentagem dos elogios anteriores) e as “cornering lights”. Obviamente que não as experimentei (o teste foi diurno). Mas em teoria são um ovo de colombo. Ou seja, à medida que a moto se inclina em curva, 3 leds de cada lado, colocados verticalmente na ponta da carenagem lateral, acendem-se progressivamente em função da inclinação e iluminando o interior da curva. Simples e muito, mas muito útil para a condução noturna (onde as motos ainda têm um grande handicap face a outros ocupantes da via pública).

Já mencionei alguns detalhes da ergonomia. Extremamente confortável quer pelo banco quer pelo acesso a todos os comandos (o botãozinho do pisca pareceu-me um pouco…. coiso… fraquito), pela visibilidade do painel e modo como a informação está arrumada (e a quantidade!!! Inclinação, gráficos de aceleração e travagem, eu sei lá mais o quê…ainda pensei que me fazia uma tosta mista ou lia o bioritmo, mas não!). O écran proporciona excelente protecção, sem a menor influência aerodinâmica no capacete mesmo na posição inferior. O conjunto malas e top case completamente integrado e com exclente capacidade. Não testei a arrumação mas acredito que uma pendura parcimoniosa fará bom uso das mesmas sem deixar metade do enxoval em casa.

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Finalmente, a estética. As linhas são características do actual design da marca. Linhas direitas e angulosas. Discutíveis e de modo algum unânimes. Eu gosto…com o adequado esquema cromático. Em preto e branco não gostei. Em verde e preto, a versão testada, gosto. Aquele verde metalizado, extremamente brilhante é espectacular. E tem uma característica inédita mas que acredito, um proprietário não quererá experimentar: a auto-regeração da pintura em caso de pequenos danos, evitando e eliminando os riscos superficiais causados pela lavagem ou as pequenas picadas causadas por pedras e areias. Como é que isto funciona, não sei…mas para a manutenção da “pele” da menina parece ser excelente e pode evitar alguns desgostos.

Em resumo, diria que facilmente me habituaria a andar com uma Kawasaki Versys 1000 SE Grand Tourer (parece nome de realeza!). Muito facilmente mesmo!

Exceptuando o factor preço….cerca de 18 milenas é de fazer pensar! Mas acreditem. É um exercício de reflexão que vale a pena, independentemente da decisão final. Até para não haver arrependimentos. E já que falo de custos, não experimentei o suficiente para avaliar consumos. Li algures 6,6…para os parâmetros actuais acho muito. Para a envergadura da moto se calhar justifica-se. E com uma condução conscenciosa talvez até baixe um pedaço.

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Se o objectivo é uma Kawa “tradicional”, não é esta. Ninjas é noutra secção. Agora se for possuir uma excelente moto para fazer quilómetros às paletes, esta deve mesmo ser considerada.

Por mim, ficava com ela e ia virar esquinas por aí fora…mas não me deixaram!!!

A palavra final, “last but not the least”, vai para a Rame Moto. Concessionário Kawasaki e de uma vasta lista de marcas de acessórios fica ali para os lados de Odivelas. Simpatiquissimos. Com a disponibilidade para falar daquilo que gostamos: motos! Gente 5 estrelas! Mas não fiquei surpreendido…porque já me tinha constado que assim era. Expectativas lá no alto e perfeitamente alcançadas. Uma forte recomendação para quem lê. E um enorme agradecimento para a equipa da Rame Moto.

Uma volta pelos nossos terrenos de caça

Virámos a Esquina e fomos para a região saloia…

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Nas velhinhas histórias do oeste (americano, claro) os Indios referiam-se sempre aos seus territórios de influência como os “terrenos de caça”.

Quais Sioux, Cheyennes ou Apaches, fomos até ao nosso oeste e vagueámos pelos nossos terrenos de caça. Aqueles a que, por nos serem próximos, voltamos sempre que a oportunidade de conquistar novos territórios não surge.

E mesmo assim, sempre descobrimos novos caminhos… ou redescobrimos o prazer de percorrer outros já feitos noutras investidas. Assim foi!

Sábado cedinho, num dia que se previa excelente para a prática do mototurismo – leia-se passear de mota desfrutando da paisagem, do vicio da condução das “nossas meninas” e do prazer do convívio e camaradagem – rumámos a norte. A primeira paragem era próxima e, segundo dizem, está na moda.

No alto do Cabeço de Montachique

Não sei se é verdade, mas um monte que ultrapassa os 400m de altitude, a pouco mais de uma dezena de quilómetros de Lisboa só pode proporcionar vistas deslumbrantes. Mesmo rodeado de outros mas de menor “protagonismo”, não desiludiu. A paisagem que surge à frente dos olhos é verdadeiramente espectacular.

Com a vista a 360º do Cabeço de Montachique dominamos o horizonte. Para norte, vê-se distintamente o Montejunto. Para sul, apesar de alguma neblina que só realça a sua grandiosidade, a Arrábida. No meio, toda a zona urbana da grande Lisboa! Espectacular…já tinha dito, não tinha?

A propósito das Invasões Francesas

Dali, por estradas onde qualquer pequena recta é corpo estranho – N374, M530-1, N115 e N115-4 – fomos andando até Arruda dos Vinhos, não sem antes fazermos uma paragem para a História de Portugal. Falo do Forte da Carvalha (obra nº 10) um dos mais de cem elementos fortificados que constituiram as Linhas de Torres.

Lá pelas alturas de 1810, Napoleão andava frustrado porque uns caramelos esquecidos no canto ocidental da Península Ibérica não só o desafiaram desobedecendo ao Bloqueio Continental, como ainda por cima, não se deixavam conquistar. Pelo contrário, as suas tropas entravam, pilhavam, levavam no toutiço e voltavam para casa com o saque…mas derrotadas. À terceira vez, chateado que nem um perú (atendendo à nacionalidade do ditador, talvez fosse mais apropriado um galo…), mandou um exército de 65 mil soldados comandados pelo invencível Massena, o “filho da vitória” como era conhecido até então…

Só que do outro lado, com menos efectivos, mas utilizando a inteligência, estavam as tropas portuguesas e inglesas, lideradas pelo Duque de Wellington. Inspirado pela ideia de um engenheiro indígena que achou que a morfologia do terreno servia às mil maravilhas para construir uma linha de defesa intransponível, mandou construir pequenos elementos fortificados no topo dos muitos montes que circundam Lisboa, dominando assim todos os desfiladeiros e vales por onde o exército francês poderia caminhar rumo a Lisboa. Construiu assim 3 linhas de fortificações concêntricas – as Linhas de Torres – à mais afastada das quais pertencia o forte no qual parámos. Lá do alto, uma vista fantástica para a quase planicie que se estende para noroeste e tem de um lado o Montejunto e do outro o Rio Tejo.

Em Julho de 1810, Massena e as suas tropas entram em território português. Vão avançando apesar de no caminho irem sendo “desbastados” pela resistência do exército luso-britânico e das gentes que não achavam piada aquela invasão das suas terras. No Buçaco, a 27 de Setembro, levaram a primeira grande lição. Ainda assim persistiram.  Chegaram à zona onde nós agora estávamos, Arruda dos Vinhos, em 11 de Outubro.

Fácil se torna perceber o que aconteceu: o Massena deparou com aquilo à frente, viu que a coisa não ia correr bem para o lado dele até que…numa certa noite de 6 de Março de 1811, substituiu os sentinelas por bonecos de palha e cavou no silêncio da noite de tal forma que nunca mais ninguém o viu cá pelo pedaço. Nem a ele nem ao Napoleão…

Paragem na Arruda dos Vinhos

Quanto a nós, feita a visita era tempo de descer à Arruda onde nos esperava um cafézinho para abrir a pestana. A primeira parte da volta estava concluida!

Restabelecidas as energias e nunca esgotada a conversa, retomámos a marcha. Agora o sentido era nascente-poente e iríamo-nos aproximar do mar. Mas antes ainda havia muito para curvar. Diversão assegurada!

Em regime de curva e contracurva, até ao mar

N248, M533, N115, M530, N374, N9-2….umas melhores que outras (é curioso quando mudamos de um concelho para o vizinho, verificar o maior ou menor cuidado que devotam aos pisos das suas estradas…), mas sempre em registo de curva-contracurva. Passámos Enxara do Bispo e eis que chegávamos a um sítio já conhecido: Gradil! Mais propriamente à estrada que nos conduz até cerca da Tapada de Mafra (e até esta localidade se a seguíssemos até ao fim, o que não aconteceu). O facto de ser um antigo troço do Rali de Portugal diz tudo, não diz? Apesar de conhecido, é daqueles sítios em que é absoluto prazer regressar (assim haja sorte para não apanharmos uns lentos pelo caminho…não que o objectivo seja acelerar que nem loucos, até porque o perigo NÃO é a nossa profissão). Desenhar aqueles encadeamentos de curvas, com uma vegetação luxuriante à nossa volta é espectacular.

Depois de pequena paragem para retomar o fôlego, seguimos viagem. Em Murgeira virámos à direita a caminho da N9. Direcção norte até à Encarnação e depois, por S.Domingos e Galiza até tomarmos a N247.

Mar à vista!

Chegámos à costa atlântica! Depois das serranias, agora era tempo de irmos às praias. E começámos pela Praia da Calada. Descida íngreme até lá abaixo. O tempo estava espectacular, a praia linda e sentiamo-nos esmagados pelos dois promontórios que nos rodeavam. Magnífica!

Agora iríamos com rumo sul, acompanhando a linha de costa. O poiso seguinte foi a Praia dos Coxos. Do alto do parque de estacionamento tínhamos uma vista magnífica para a praia e para o mar que apresentava alguma ondulação, o suficiente para lhe aumentar a beleza.

Ericeira e as especialidades locais

Aproximava-se a Ericeira…e o já ansiado almocito.

Ainda uma paragem no caminho: no miradouro que da estrada nos permite ver em todo o esplendor a Praia de Ribeira d’Ilhas. Linda!

Na Ericeira esperava-nos um belo peixinho na brasa que estava mesmo delicioso. Robalo e Besugo, a gosto e com aquele travo a mar do peixe bem fresco e pescado (não criado!). Depois, ainda a oportunidade de provar uns Ouriços…sabem o que é? Uma especialidade local! Não sabem? ….pois!!!

Azenhas do Mar!

O trajecto planeado levou-nos junto à costa até às Azenhas do Mar. Até aqui perfeito. A vista desta pequena vila construída na arriba é espectacular.PS23

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O regresso…atribulado!

E agora, o regresso a casa mas naturalmente com muito percurso ainda para fazer. E aqui, dar nota de algo que é fundamental quando se planeia uma viagem (grande ou pequena como esta): definimos o “por onde”, sabemos bem o “como” e escolhemos o “quando”. E este quando deve levar em consideração alguns pormenores que lá mais para a frente podem ser pormaiores. Foi o caso!

A partir das Azenhas… Disse no início que era sábado e estava um tempo óptimo. Pois! Aquela zona estava infestada de pessoal que, tal como nós, desfrutava de um dia espectacular. De “enlatado” e a velocidades dignas de qualquer bicicleta a pedal (sem assistência eléctrica!). As estradas são estreitas pelo que as ultrapassagens em segurança eram quase impossíveis, principalmente à medida que nos aproximávamos de Sintra e depois até ao Cabo da Roca. Subir de Colares atrás de 3 carros, que iam atrás de um autocarro, que ia atrás de um Tuc-tuc é…..

Chegados ao Cabo da Roca, foi sem surpresa que verificámos que estava cheio. O turismo que faz maravilhas pela nossa economia, deixa-nos quase obrigados a deixarmos para quem nos visita o desfrute das nossas belezas naturais (pelo menos as mais famosas).

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Entretanto, a jornada aproximava-se do seu termo. Faltava a cerejinha no topo do bolo (mas também com algum trânsito): a Lagoa Azul da Malveira até à Estrada do Autódromo. Ainda assim, magnífica.

Depois…despedidas e a promessa de em breve partirmos novamente para a estrada. Fizemos cerca de 200km, deliciámo-nos com paisagens espectaculares, belas estradas (umas desertas, outras nem tanto…) e a camaradagem habitual nestes eventos.

E assim foi…mais uma VIAGEM AO VIRAR DA ESQUINA!

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