Solares de Portugal – Viajar no tempo, habitar o património… (2020)

Pernoitar num dos Solares de Portugal é usufruir da calorosa hospitalidade e boas–vindas, que são uma arte das famílias portuguesas. É também conviver com um património rico em história e cultura e com uma secular tradição que os donos das casas partilham com os seus hóspedes, de modo cortês e simples.

Desde a primeira hora, os Solares de Portugal, acompanham e apoiam o projecto Viagens ao Virar da Esquina.

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No ano passado visitei 4 dos mais de 120 alojamentos espalhados pelo território nacional e, em 2020, apenas acrescentei mais 2 a essa lista por força da situação que vivemos.

Os Solares de Portugal possuem no seu portfolio mansões, solares, quintas e casas dispersos por todo o território nacional, que estão disponíveis para quem nelas se queira acolher. Fazem parte do património arquitectónico de Portugal e são repositório da sua História e das muitas histórias locais que contribuíram para a cultura e tradição do nosso País.

Mais do que apenas pernoitar, conhecer a história e desfrutar da estadia passando dias agradáveis nos Solares de Portugal é usufruir da calorosa hospitalidade e boas–vindas, que são uma arte das famílias portuguesas. É também conviver com um património rico em história e cultura e com uma secular tradição que os donos das casas partilham com os seus hóspedes, de modo cortês e simples.

A oferta dos Solares de Portugal divide-se em três categorias: Casas Antigas, Quintas e Herdades e Casas Rústicas, consoante a sua imponência, quer na dimensão, espaços envolventes e jardins, quer na decoração e peso histórico.

As Casas Antigas caracterizam-se pela sua arquitectura erudita e muitas delas remontam aos séculos XVII e XVIII. Nas Quintas e Herdades, o acolhimento faz-se num ambiente mais rural, pois estas casas constituem o assento de lavoura, ainda vivo e palpitante, da propriedade agrícola em que se enquadram.

Para quem preferir usufruir da calma da vida do campo, existem as Casas Rústicas, com grande valor etnográfico, na medida em que usam na sua arquitectura – simples e de pequenas dimensões – materiais e processos construtivos caracteristicamente locais.

Desta feita, e no âmbito de algo que começou por ser uma parceria e é hoje uma amizade, conheci mais dois Solares de Portugal , agora bem a Norte de Portugal.

Aqui fica o resumo!

Guimarães e a Casa do Ribeiro

Já sabemos: é o Berço da Nacionalidade! Aí foi proclamado o nascimento de Portugal, foi a primeira capital do País e, ainda hoje, é a residência oficial – o Paço dos Duques de Bragança – do Presidente da República quando se desloca ao Norte do País (poderemos assim dizer, nesta perspectiva, que é a nossa segunda cidade-capital).

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Palácio dos Duques de Bragança

É difícil fugir dos clichés quando falamos de Guimarães, tal é o seu peso na História de Portugal e na nossa memória colectiva.

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“Aqui nasceu Portugal”…

O Castelo, o Paço dos Duques de Bragança, , o bonito e simbólico Largo da Oliveira, as ruelas do seu centro histórico bem cuidadas, o bom estado de conservação das muitas casas com uma arquitectura bem característica. Tudo denota o carinho devotado à preservação da memória na Cidade- Berço. 

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Castelo de Guimarães

Foi no Largo da Oliveira que encontrei o Guimarães das Duas Caras. E a história que me levou a Guimarães.

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O “Guimarães das Duas Caras” (Largo da Oliveira)
Na Casa do Ribeiro

A meia dúzia de quilómetros da cidade de Guimarães encontrei a Casa do Ribeiro. Típico solar minhoto com uma fachada branca, debruada a granito e um portal imponente, encimado pelas armas da família. À direita, a original capela.

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Casa do Ribeiro

Passado o portão de entrada depara-se-nos o pátio interior. Duas escadas confluem na porta principal. No 1º piso o Solar propriamente dito e no piso térreo as antigas instalações dedicadas à lavoura, duas das quais já convertidas à utilização pelos visitantes da Casa do Ribeiro.

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A sua construção data de finais do Séc XVII e tem permanecido na família desde então. A casa, apesar de em diferentes momentos ter sido alvo de obras de recuperação, mantém a sua traça original, a presença cuidada do mobiliário de época com que sucessivamente foi enriquecida e, naturalmente, a presença vigilante dos nobres antepassados através dos seus retratos que preenchem algumas das paredes.

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Quando, vindo do pátio, entrei na porta do primeiro piso, subido que foi um dos lanços laterais das escadas de granito, deparei-me com uma linda liteira que ostenta numa das portas o brasão familiar, visível também na magnífica tapeçaria que lhe serve de cenário…

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…o resto da descrição deste magnífico solar e da forma excepcional como fui acolhido está em: “Guimarães e a Lenda das Duas Caras

Chaves e a Quinta da Mata

 Tenho particular carinho por Chaves. Sinto-me lá bem. E de cada vez que por lá passo…fico deslumbrado pela beleza da Ponte de Trajano sobre o bonito rio Tâmega. Ex-líbris desta cidade que tem muito, muito mais para nos dar.

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Ponte de Trajano

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Guimarães e a Lenda das Duas Caras

Fui até Guimarães ao encontro de uma lenda que remonta à batalha de Alcácer Quibir de má memória…

Cheguei a Guimarães ao início da tarde. A manhã tinha passado entre uma saída tardia e trezentos e tal quilómetros de auto-estrada. Viagem calma e confortável numa novíssima Honda CRF1100L Africa Twin Adventure Sports (sobre ela falei aqui).

VVE000Chegada a Guimarães

A visita à cidade seria breve porque ao final da tarde tinha encontro marcado na Casa do Ribeiro. Um dos Solares de Portugal, onde iria pernoitar. E principalmente, visitá-lo e conhecer a sua história.

VVE001Já cá estou!

 

Guimarães, pelas ruas do seu centro histórico

Guimarães, por toda a sua história e por ser um dos locais mais visitados de Portugal, confundia-se na minha memória. Não sei se as imagens que retinha eram vividas ou simplesmente fruto de as ver inúmeras vezes publicadas. E esta constatação foi o mote para o desafio: visitar a cidade no pouco tempo disponível e fugir dos clichés.

VVE002 Largo do Toural e Basílica de S. Pedro

VVE003Rua de Valdonas – Centro Histórico

VVE004Largo da Misericórdia

VVE005Fonte – Largo da Misericórdia

VVE006D. Afonso Henriques

VVE007 Igreja e Convento de S. Francisco

Já sabemos: é o Berço da Nacionalidade! Aí foi proclamado o nascimento de Portugal, foi a primeira capital do País e, ainda hoje, é a residência oficial – o Paço dos Duques de Bragança – do Presidente da República quando se desloca ao Norte do País (poderemos assim dizer, nesta perspectiva, que é a nossa segunda cidade-capital).

VVE008 Paço Duques de Bragança

No seu imponente Castelo, construído no séc.XII, sobre uma anterior edificação do séc X por ordens do Conde D. Henrique que aí fixou residência com D. Teresa quando foi criado o Condado Portucalense, nasceu o nosso primeiro Rei, D. Afonso Henriques.

VVE009 Estátua de D. Afonso Henriques

VVE010Castelo de Guimarães

VVE011Castelo de Guimarães

VVE012Castelo de Guimarães

VVE013Castelo de Guimarães

VVE014Castelo de Guimarães

Foi baptizado na Igreja de S. Miguel do Castelo que fica logo abaixo – e onde é possível ver a pia baptismal onde o acto foi consagrado.

VVE015Igreja de S. Miguel do Castelo

VVE016Igreja de S. Miguel do Castelo

Quase ao lado fica o majestoso Paço dos Duques de Bragança (construído no Séc XV e com arquitectura única na Península Ibérica) que hoje é museu especialmente consagrado ao período dos Descobrimentos.

VVE017Paço Duques de Bragança

VVE018Paço Duques de Bragança

VVE019Paço Duques de Bragança

VVE020Paço Duques de Bragança

Percorri o centro histórico, a caminho do Castelo e depois no regresso. Passei nas suas ruelas calcetadas, bem cuidadas e observei o bom estado de conservação das muitas casas com uma arquitectura bem característica. Tudo denota o carinho devotado à preservação da memória na Cidade- Berço (ai os clichés!).

VVE021Convento de S. António dos Capuchos

VVE022Igreja Nossa Senhora do Carmo

VVE023Igreja Nossa Senhora do Carmo

VVE024Câmara Municipal Guimarães

VVE025Casario típico

O meu destino era o Largo da Oliveira e a história que procurava: o Guimarães das Duas Caras!

VVE026 Largo da Oliveira – ao fundo o Guimarães Duas Caras

Este Largo é o ponto central do Centro Histórico de Guimarães. Deve o seu nome à oliveira secular nele plantada. Num dos lados do Largo podemos ver uma curiosa construção de estilo gótico, que foi mandada construir no reinado de D. Afonso IV e comemora a vitória na Batalha do Salado, onde os exércitos português e castelhano derrotaram o rei mouro de Granada, corria o ano de 1340.

VVE027Largo da Oliveira – Monumento à Batalha do Salado

VVE028Largo da Oliveira – casario

VVE029Largo da Oliveira – Monumento à Batalha do Salado e oliveira

Por trás deste fica a Igreja de Nossa Senhora de Oliveira (ou da Colegiada). Foi mandada construir por D. João I para cumprimento de um voto pela vitória em Aljubarrota. À Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira pertenceram figuras notáveis, como Pedro Hispano que viria a ser o Papa João XXI.

VVE030 Largo da Oliveira – Igreja N. S. da Oliveira

No lado oposto do Largo, fica o edifício medieval dos Paços do Conselho. E no topo da sua fachada, uma estátua curiosa: uma figura masculina que se diz representar Guimarães e que tem uma característica muito peculiar. Tem duas caras! Uma, o rosto do personagem e outra, localizada na zona do abdomén.

VVE031Paços do Concelho – Estátua Guimarães Duas Caras

VVE032Estátua Guimarães Duas Caras

A razão para as duas caras? Ao certo não se sabe. Ou seja, o condimento essencial para nascer a lenda. Neste caso, várias são as “explicações”. Era o que eu procurava!

 O Guimarães das Duas Caras

Das duas que vos contarei, nenhuma delas a que pareceria mais óbvia: o sentido que normalmente damos a alguém que tem duas caras (como o feijão frade, costuma dizer-se). Que aparenta ser algo que depois se vê não ser. Interpretação nada simpática para os vimaranenses, diga-se em abono da verdade. E injusta também!

Outra das interpretações para tão curiosa estatuária não deixa ficar bem vistos, desta vez, os vizinhos de Barcelos. Assim, reza a lenda que durante a batalha para a tomada de Ceuta, existiam duas frentes de combate, duas “caras”, uma da responsabilidade da guarnição de naturais de Guimarães e outra, dos homens vindos de Barcelos.

Ora segundo parece, os de Barcelos não deram conta do recado, tendo os valentes de Guimarães que cuidar das sua “cara” e ainda da “cara” dos de Barcelos. História esta que não abona muito a favor da valentia das gentes de Barcelos. Pouco simpática e, certamente, injusta.

A segunda lenda, aquela que mais gosto (quiçá pela sua inverosimilhança), está relacionada com a fatídica batalha de Alcácer Quibir (al-Kasr al-Kebir) corria o ano de 1578. A 4 de Agosto, sob o calor tórrido do deserto, o exército comandado por um D. Sebastião mal preparado mas sedento de glória, enfrenta os exércitos sarracenos. A infeliz demanda, que precipitou Portugal para uma das mais negras páginas da sua história, tinha tudo para correr mal. Um exército mal preparado, um clima hostil e um adversário sedento de vingança. E correu mal!

Consta que a dado momento da refrega, as tropas portuguesas são surpreendidas por um novo ataque do inimigo. De tal forma, a desordem e anarquia grassaram no exército de D. Sebastião, que as baixas foram imensas e a hora da derrota chegava. Nessa altura, uma tempestade de areia assola o local da batalha, ainda aumentando o caos que se vivia.

D. Sebastião, antevendo o final trágico, aproveitou com para tentar escapar com vida. Com ele ficaram 7 dos nobres portugueses que o acompanharam, entre os quais um tal de Baltazar Pacheco de Alcoforado, a quem chamavam “O Guimarães” por desta cidade ser natural.

Meteram-se deserto adentro, rumo a Sul, tentando escapar aquele alvoroço sanguinário. Caminharam dias a fio, sedentos e famintos, escondendo-se quando possível do tórrido calor e avançando pelo frio da noite porque tal era mais fácil. Mas desta vez a sorte não protegeu os audazes e a condição real já não existia. Eram apenas 8 desgraçados à procura do final daquele tormento .

A fatalidade da expedição continuava a acompanhá-los e a dado momento, tal era o desespero, que resolveram tirar às sortes qual deles se ofereceria em sacrifício com o objectivo de saciar a fome que a todos castigava. Desdita real! Foi a D. Sebastião que tocou a desdita. Não houve sangue real ou autoridade divina que o salvasse. E assim os sobreviventes puderam ter mais uma réstia de esperança.

Ironia do destino. Terminado o banquete e ainda não desfeita a digestão, eis que se aproximam da costa e vislumbram ao longe uma nau. Que só podia ser lusa, pois dos portugueses era o domínio dos mares. Acenaram com uma bandeira real que por mero acaso um tinha trazido da batalha e assim se julgaram salvos. Não sem antes jurarem que o segredo do real repasto ficaria selado entre eles e jamais seria revelado.

Mas o destino definitivamente era avesso. depois de atravessados os mares e já com Lisboa à vista, violenta tempestade os fustiga e acaba por afundar a salvadora embarcação. Apenas um sobrevivente dá à costa, na praia de Carcavelos: o Guimarães! Que assim virou herói pois não só tinha sobrevivido ao naufrágio, como mais importante, era o único sobrevivente da trágica batalha de Alcácer Quibir!

E nunca contou o seu segredo. Bem…nunca é forma de dizer, pois fê-lo em forma de confissão, ao padre Inácio Laranjo, o que, como sabemos jamais o poderia revelar, pois o segredo da confissão é o mais forte dos segredos.

Quando o Guimarães morreu, anos depois, a população entendeu ser de justiça que se lhe fizesse uma estátua, homenagem justa a tão grande herói da sua terra. O padre Inácio ciente de toda a história mas não a podendo revelar, muito insistiu com o escultor para que a estátua representasse o herói com o seu porte altivo mas uma segunda face na zona do ventre. Sendo conhecido por algo iconoclasta, lá levou o padre a sua avante. E assim ficou a estátua do Guimarães com duas faces.

VVE033Estátua no cimo dos Paços do Concelho

VVE034O Guimarães Duas Caras

Mas não será esse o significado, o de “ter duas caras”. Apenas o de “ter o rei na barriga”!

Quem sabe qual a verdade? A verdade…é que a estátua lá está. Com duas caras, no Largo da Oliveira e no cimo da fachada do antigo edifício dos Paços Concelhios!

Assim se passou a tarde, revisitando a História de Portugal, naquilo que ela tem de mais genuíno: o local onde verdadeiramente começou, as personagens que lhe deram a primeira forma e a tão fértil imaginação para explicar aquilo que o tempo apagou.

Por falar em tempo, o dia encaminhava-se para o final e era hora de rumar à Casa do Ribeiro. Mas antes, tive que satisfazer uma curiosidade: algures li que o pôr-do-sol na Penha era um dos mais bonitos do mundo (eu li que era “o mais bonito”, mas não gosto de exageros…). Lá subi até ao Santuário de Nossa Senhora do Carmo da Penha, em estrada que de quando em vez se transforma em pista de competição de corridas automóveis (bem divertido troço de estrada, diga-se!). Também poderia ter ido de teleférico. Podia…mas não era a mesma coisa!

VVE035Santuário de N. S. do Carmo da Penha

VVE036Santuário de N. S. do Carmo da Penha

A afirmação estava correcta. A vista é deslumbrante e o pôr-do-sol é mesmo espectacular!

VVE037Pôr do Sol na Penha

VVE038Pôr do Sol na Penha e a AT

Depois de tal desfrute, rumei finalmente à Casa do Ribeiro. Situada a meia dúzia de quilómetros da urbe vimaranense, em S. Cristovão do Selho, aguardava-me um típico solar minhoto e um acolhimento de excepção.

Na Casa do Ribeiro

Não foi difícil descobri-la (maravilhas do GPS, claro). E logo à chegada a primeira surpresa. Uma fachada branca, debruada a granito e com um portal imponente, encimado pelas armas da família. Não reparei ao início, mas vislumbra-se também a original capela. Dela falarei adiante.

40 - Casa do Ribeiro-fachadaCasa do Ribeiro – Fachada

Feitas as apresentações, passei o portão de entrada e no pátio interior tive a percepção da dimensão deste solar. Segundo me foi dito pelo meu anfitrião, trata-se de um “pequeno” solar tipicamente minhoto, de menor dimensão do que a generalidade dos que povoam o Minho, pela simples razão que este foi passando de geração em geração sempre por linhagem feminina. No piso térreo, as antigas “lojas” de serventia à actividade agrícola (e as restantes à espera de idêntico fim), duas delas excelentemente adaptadas à sua nova função turística. Numa iria pernoitar.

VVE039 Casa do Ribeiro – Pátio

A visita ao solar decorreu em dois momentos. Um primeiro, à chegada, mais breve. O outro, no dia seguinte, já com luz natural e após um belíssimo pequeno almoço. Apesar das descrições que seguem, este é um dos casos em que as imagens valem mais do que mil palavras. Espero que as fotos façam jus à beleza do imóvel, exterior e interior.

Devo aqui salientar que tive o privilégio de ser recebido pelo casal proprietário deste Solar. E mais uma vez tive o verdadeiro testemunho do que é ser recebido nestes alojamentos: como um amigo de longa data a quem aqui se recebe pela primeira vez e a quem se faz questão de contar as histórias e as curiosidades que estas paredes encerram. De realçar ainda que, depois de um saboroso jantar, ficámos em amena conversa, numa acolhedora sala com lareira e decorada com alguns temas de caça, entre os quais um imponente busto de veado, falando claro da casa e da sua história, mas também de nós, das experiências de cada um e, naturalmente, dos dias que correm. Como amigos que se reencontram, afinal. É este o verdadeiro espírito que encontramos nos Solares de Portugal.

VVE040 Casa do Ribeiro – Sala de estar

Voltemos à Casa do Ribeiro. A sua construção data de finais do Séc XVII e tem permanecido na família desde então. A casa, apesar de em diferentes momentos ter sido alvo de obras de recuperação, mantém a sua traça original, a presença cuidada do mobiliário de época com que sucessivamente foi enriquecida e, naturalmente, a presença vigilante dos nobres antepassados através dos seus retratos que preenchem algumas das paredes.

Quando, vindo do pátio, entrei na porta do primeiro piso, subido que foi um dos lanços laterais das escadas de granito, deparei-me com uma linda liteira que ostenta numa das portas o brasão familiar, visível também na magnífica tapeçaria que lhe serve de cenário.

VVE041Casa do Ribeiro – Liteira

À esquerda, a entrada da bonita sala de jantar, donde depois se pode aceder às cozinhas e à parte privada da casa.

VVE042 Casa do Ribeiro – Sala de Jantar

VVE043Casa do Ribeiro – Sala de Jantar

VVE044Casa do Ribeiro – Sala de Jantar

VVE045Casa do Ribeiro – Sala de Jantar

À direita, percorremos algumas salas com o mobiliário e os retratos já referidos, entre outras peças de decoração lindíssimas, e o acesso à sala da lareira que acima descrevi. É desta sala que depois temos acesso a outros quartos afectos à actividade turística.

VVE046Casa do Ribeiro – Sala

VVE047Casa do Ribeiro – Pormenor

VVE048Casa do Ribeiro – Sala

VVE049Casa do Ribeiro – Pormenor

VVE050Casa do Ribeiro – Sala

VVE051Casa do Ribeiro – Pormenor

No exterior, um alpendre em granito oferece-nos uma espectacular vista. Em primeiro plano para o magnífico e cuidado jardim em estilo francês, tendo do lado oposto uma espectacular fonte – a maior do Minho com estas características – com três estátuas que evocam as três Virtudes: Fé, Esperança e Caridade. Em segundo plano, e para lá dos limites do jardim, as vinhas pertença da casa e que lhe asseguram a sua produção própria de vinho. Mais longe, o ribeiro que lhe dá nome e uma vista que nos leva em diversos tons de verde, até à cidade-berço.

VVE052Casa do Ribeiro – Fachada interior

VVE053Casa do Ribeiro – Jardim, Fonte e panorâmica da Quinta

VVE054 Casa do Ribeiro – Jardim e Fonte

VVE055 Casa do Ribeiro – Fonte

Finalmente, a referência à original capela, de planta octogonal, tecto abobadado revestido a madeira pintada, com púlpito e uma pequena galeria. Apesar da sua pequena dimensão é muito bonita e as obras de restauro que se avizinham serão bem merecidas.

VVE056Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela: Acesso

VVE057 Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela: Sino

VVE058Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela

VVE059Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela

VVE060Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela

VVE061 Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela

Quanto ao meu alojamento? A imagem fala por si:

VVE064Casa do Ribeiro – Pormenor do quarto

A Casa do Ribeiro está dedicada ao Turismo Rural desde 1984, e o meritório trabalho de conservação e principalmente de permitir que o possamos admirar e desfrutar, é totalmente dos meus simpáticos anfitriões, A Maria José e o Luís acolheram-me de uma forma que não poderei esquecer, nem sequer corresponder em gratidão. Com sinceridade posso dizer que fiquei mais rico por os conhecer. Bem haja!

VVE076OS MEUS ANFITRIÕES – Bem haja!

VVE065Casa do Ribeiro – Pronta para seguir…

VVE075Casa do Ribeiro – Pronta para seguir…

VVE066Por aqui entrei. Por aqui saí…logo com saudade

De volta a Guimarães

Terminada a estadia, rumei novamente a Guimarães. Para o cafézinho matinal, para encontrar o companheiro do resto da viagem….e para voltar ao Largo da Oliveira. É verdade! Tive que voltar lá e contemplar novamente o Guimarães das Duas Caras!

No Largo da Oliveira: ainda o Guimarães….

Depois, foi seguir viagem…para trás ficou o Berço de Portugal! (para terminar, nada como um cliché…)

Agradecimentos

A moto utilizada nesta viagem foi uma Honda CRF 1100L Africa Twin Adventure Sports, sobre a qual já escrevi a respectiva análise, publicada aqui. A minha gratidão à Honda Portugal pela sua cedência.

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Um enorme obrigado também aos Solares de Portugal, companhia de primeira hora neste projecto em que vos dou a conhecer algum do riquíssimo património histórico e arquitectónico dos muitos solares e mansões familiares do nosso País.

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E obviamente, a minha gratidão aos anfitriões desta excelente estadia na Casa do Ribeiro.

Que recomendo…até porque fica logo ali, ao Virar da Esquina!

P’rós Amigos

Disclaimer

A partir de 18/06/2020 e durante os próximos 30 dias, os Solares de Portugal oferecem um desconto de 10% nas reservas efectuadas para este destino sendo que nesse acto deverá ser indicada a referência 6F0BD582 e mencionar que a casa visitada foi a Casa do Ribeiro em Guimarães.

Este desconto não é cumulativo com campanhas em vigor e a reserva da estadia terá que ser feita através da CENTER promo@center.pt e tel 258 743 965 e não directamente à casa.

Outros benefícios podem ser consultados na página P’rós Amigos!

Para lá do virar da esquina….a lenda das duas chaves!

Uma lenda do tempo dos romanos que chega até nós pelo nome de uma cidade!

Entro em Chaves vindo de sul.

Pela segunda vez em menos de 2 anos. De ambas as vezes, para no dia seguinte me lançar estrada fora e percorrer a Estrada Nacional 2.

Tinha saído 2 horas antes de Guimarães e segui o percurso por auto-estrada. A 7 primeiro e depois a 24. Se na viagem anterior, tinha passado por Braga e depois pela lindíssima e divertida N103 até Montalegre e daqui por estradas municipais, onde foi possível apreciar a rudeza da paisagem do planalto transmontano, desta feita percebi claramente que era oriundo do lado de cá dos montes.

Desde Guimarães, por bom piso, começamos a subir….a subir paulatinamente…e vamos ganhando altitude. A serra do Alvão, que a A7 atravessa dá-nos a cada passo um alcance visual mais amplo, com vales profundos e verdejantes. A tranquilidade do pouco trânsito permite-nos até breves momentos de algumas desconcentração da condução e desfrutar das vistas (quase que uma visão estrábica em que o olho esquerdo aponta ao asfalto e o direito à paisagem).

Esta serra ultrapassa os 1200m de altitude e creio que não terei passado longe de tal. Magnífico sim, mas estou certo que explorar as estradas da região será ainda melhor. A ver no futuro….

Em Acqua Flaviae!

Chegado à cidade atravessada pelo Rio Tâmega renovei a sensação que já tinha. Não é cidade de excepcional beleza, talvez porque aqueles que desde há muitos séculos a habitam sempre terão preferido que ela lhes sirva em função das suas necessidades e das duras condições de vida, em detrimento de alguma beleza “para inglês ver”. Atenção! Não é uma cidade feia. Muito menos hostil. Nada disso, como tentarei descrever.

É quase plana, na maior parte arejada e com um rio ao seus pés, o que é sinal de frescura. Senti como se um espírito me dissesse: “nós estamos cá, vieste porque quiseste, ninguém te pediu que o fizesses. Mas és bem vindo, enquanto cá estiveres és dos nossos, desfruta e quando fores, não te esqueças de nós!”.

Chaves é uma terra que tem qualquer coisa…um carácter. Personalidade. Carisma!

E voltarei sempre que puder.

É bom lembrar que a Acqua Flaviae do tempo dos romanos é muito mais antiga que a nossa própria nacionalidade e tem um dos monumentos em Portugal de que mais gosto. Remete precisamente para essa era: a Ponte de Trajano. Traz-nos o imaginário das legiões conquistadoras, da ordem imperial e da magnífica civilização, cuja queda posterior se transformou em séculos de retrocesso. E…vagamente também, a ironia dos lápis de Uderzo e Goscinny e os seus Astérix e Obélix…vagamente, porque isso é história de outras paragens.

A Ponte de Trajano, que não me canso de apreciar pela sua inegável beleza, o desenho e o equilíbrio simétrico dos seus arcos de volta redonda, foi aqui construída nos finais do Século I da era cristã. Sim, esta notável obra de engenharia tem 2 mil anos! Com cerca de 150m de comprimento, tem visíveis 12 arcos e mais 6 soterrados pelas construções que aqui ladeiam o Rio Tâmega. No meio dois marcos com inscrições da época que referem as autoridades romanas de então e o tributo às gentes (aos povos) que a ajudaram a erigir. De realçar que este foi até cerca de 1950 o principal acesso à Cidade!

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Ponte de Trajano

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Ponte de Trajano e a Africa Twin desta viagem

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Marco na Ponte de Trajano

A construção desta ponte foi a forma de atravessar o caudaloso Rio Tâmega na importante estrada romana, a Via Romana XVII do Itinerário de Antonino, que unia duas das mais importantes cidades do norte da Península à época do Império Romano: Astorga (Asturica Augusta) e Braga (Bracara Augusta). Veja-se a importância de ambas pois este era apenas um dos 4 itinerários que uniam essas cidades.

O outro legado desses tempos em Chaves, remete-nos para a sua designação então: Acqua Flaviae. refiro-me às termas e ao reconhecimento da valia das fontes de águas de Chaves (o termalismo era algo que os romanos conheciam e prezavam).

E uma pequena nota: A coincidência da EN2 se iniciar em Chaves (sendo que alguns percursos desta estrada recorrem a traçados da era romana também, nomeadamente o traçado por Vidago e que se destinaria à travessia do Douro na zona da Régua e depois a Lamego – Lamecum) e da sua homóloga do lado de lá da fronteira, a Ruta de la Plata, terminar precisamente em Astorga (originalmente esta Ruta vinha desde Mérida – Emérita Augusta – outra importante cidade romana. Na actualidade, por questões de marketing turístico certamente, a estrada é moderna (N-630) e vai de Sevilha a Gijon, passando por Mérida mas esquecendo Astorga…).

Sendo uma cidade ancestral, naturalmente Chaves tem muita história e património edificado que merece referência.

Depois da era romana, dos bárbaros que os substituiram (visigodos, suevos, havendo registo de ser sede de um bispado cristão) e do domínio árabe que lhes sucedeu, Chaves regressa à influência cristã no séc IX, quando o Conde Odoário a toma ao serviço dos reis das Astúrias. Em 1093, a vila de Chaves é incluída no dote de casamento de D. Teresa com o Conde D. Henrique. O seu castelo terá começado a ser edificado no Séc XIII. D. Afonso III passou-lhe foral em 1258 e a Torre de Menagem que é o que hoje resta dessa fortificação medieval terá sido concluída já no reinado de D. Dinis.

Torre de Menagem
Torre de Menagem

Os Paços do Concelho, localizados na Praça de Camões, são um bonito e elegante edifício construído na primeira metade do Séc XIX para residência do Morgado de Vilar de Perdizes. Em 1861, ainda inacabado, foi adquirido pela Câmara Municipal que termina as obras e o adequa à sua nova função.

À sua frente, na praça, está uma estátua de D. Afonso, filho legitimado de D. João I. Este veio a casar em 8/11/1401 com D. Brites, filha de D. Nuno Álvares Pereira, que como dote terá levado todas as terras a norte do Douro. O casal terá escolhido Chaves como seu local de residência e aí nasceram os seus 3 filhos. Entretanto, 11 anos mais tarde, D. Brites falece e D. Afonso retira-se para Barcelos.

Em 1419, D. João I temendo invasão castelhana pelo norte, encarrega o filho de ir para Bragança e acautelar a defesa do reino. É então, já em 1442, que vem a nascer a Casa de Bragança, tão relevante na nossa História e que permanece até aos dias de hoje. D. Afonso foi assim o 1º Duque de Bragança (para lá de 8º Conde de Barcelos). Mais tarde regressou a Chaves onde viveu os últimos anos, tendo falecido em 1461.

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Paços do Concelho e estátua de D. Afonso III

Ainda na Praça de Camões, do outro lado dos Paços do Concelho fica a Igreja da Misericórdia. Pequena e com uma só nave, apresenta uma fachada toda em granito e tem a seus pés uma pequena escadaria.

No frontão de pedra que encima a fachada existe um nicho com uma pequena estátua da Senhora do Manto, símbolo da maior devoção para as Misericórdias, pois segundo elas “alberga sobre o seu manto todos os necessitados”.

No interior, para lá de um magnífico altar-mor em talha dourada, tem a suas paredes totalmente revestidas com painéis de azulejos do Séc XVIII que evocam passagens bíblicas.

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Igreja da Misericórdia

A Igreja Matriz de Santa Maria Maior terá sido na sua origem, no Séc XII, um templo românico do qual ainda mantém a torre sineira e o portal com estrutura medieval. Mais tarde, no tempo de D. João III, foram acrescentados dois portais de traça renascentista.

O interior de 3 naves e grossos pilares tem um tecto de madeira (Séc. XIX). A capela-mor bem como as capelas laterais, do Santíssimo e de Santa Maria, datam do Séc XVI.

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Igreja Matriz e de Santa Maria Maior

A Igreja de S. João de Deus, do outro lado do rio, foi construída na época de D. João V, em estilo barroco, cujo projecto é atribuído ao coronel Tomé de Távora e Abreu, engenheiro militar flaviense do primeiro quartel do século XVIII.

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Igreja de S. João de Deus

Existem ainda as termas romanas, o Forte e Convento de S. Francisco, o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso. E naturalmente as ruas estreitas do centro histórico, bem conservadas e com casas varandadas com linha arquitectónica muito característica.

Obviamente, não poderia faltar a foto junto ao marco do km0 da Estrada Nacional 2.

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Adiante voltarei a Chaves e à explicação da origem do nome. Também já referi que o objectivo da vinda até esta ponta do País é a de iniciar o percurso da Estrada Nacional 2 e portanto importava cuidar do necessário descanso.

Quinta da Mata: Um enquadramento luxuriante serve de moldura à dureza do granito e ao requinte do interior

Mais uma vez, iríamos ficar num dos alojamentos incluídos nos Solares de Portugal. Neste caso, a Quinta da Mata.

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Vista do Miradouro

Situada a 3km da cidade, a meio caminho do Miradouro que, a nascente, nos proporciona uma magnífica vista sobre a cidade e todo o vale onde se situa, é uma verdejante propriedade onde a casa principal, toda em granito e originária do Séc. XVII foi estupendamente recuperada das ruínas pelos seus actuais proprietários.

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Quinta da Mata

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Quinta da Mata – pormenor da piscina e vista de Chaves, ao fundo

A quinta fornece ainda muitos dos géneros alimentares que ali poderão ser degustados. Não foi o nosso caso. Para lá de tarde termos chegado e de madrugada partido, na altura a casa estava encerrada tendo sido um acto de cortesia e generosidade que nos tocou, o facto de abrir especificamente para esta ocasião.

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Quinta da Mata – pormenor do interior

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Quinta da Mata – pormenor do interior

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Quinta da Mata – pormenor do interior

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Quinta da Mata – pormenor do interior

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Quinta da Mata – pormenor do interior

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Quinta da Mata – pormenor do interior

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Quinta da Mata – pormenor do interior

Espero que as imagens lhe façam a justiça que merece. E se linda é vista do exterior, com um enquadramento espectacular, que dizer do interior?

Quanto aos anfitriões, a simpatia e disponibilidade cativou-nos. Fomos acolhidos como amigos e isso é inesquecível. Não é demais dizê-lo: a obra de reconstrução da Quinta da Mata é notável!

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Chaves – Vista noturna

E então? Qual a origem do nome da cidade de Chaves

Já aqui mencionei o nome romano de Chaves: Acqua Flaviae. Mas, e como se terá chegado ao actual nome, que para mais tem reflexo na heráldica da cidade?

Olhemos para o brasão da Cidade de Chaves: nele estão as águas (talvez o Rio Tâmega, talvez a evocação das águas termais), o ex-líbris da cidade, a Ponte de Trajano, o escudo de Portugal e…2 chaves.

23 Brasão de Chaves

Há uma explicação mais científica: que o nome “Chaves” será a evolução ao longo dos muitos séculos do “Flaviae” do nome romano. Poderá até ser. Mas nada como uma boa lenda, que para mais até explica o porquê dos dois nomes: o romano e o actual: a lenda das duas chaves.

A história passa-se na época remota do poderio romano na Península.

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Painel evocativo da era romana – construção da Ponte de Trajano

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Painel evocativo da era romana – construção da Ponte de Trajano

Nos tempos em que em Roma imperava Tito Flávio Vespasiano, as suas legiões chegaram a esta região. E aqui se foram fixando. A terra era fértil e começaram a trazer a sua civilização. Construíram estradas, pontes.

Quando aqui descobriram as “águas quentes que jorram da terra”, com a devoção que tinham pela água, logo construíram aquedutos e um grande tanque para se banharem. E com rapidez descobriram os poderes curativos dessas águas.

A cidade aqui nasceu. Chamaram-lhe “Acquae” em preito a essas águas maravilhosas e “Flaviae” em homenagem ao Imperador reinante.

A importância crescente e a fama atravessaram o Império Romano e de tal forma que Tito Flávio Vespasiano nomeou seu procurador em Acqua Flaviae um seu jovem primo, Décio Flávio, que era até aí o comandante da Legião VII.

Mas, ao partir para a Península Ibérica, este deixou em Roma a sua paixão. Uma linda rapariga chamada Lúcia, filha do Cônsul Cornélio Máximo, que também lhe retribuía esse amor.

Todavia, a jovem tinha grave doença que não só lhe afectava o corpo como também lhe tinha retirado a beleza do rosto.

Décio Flávio não a esqueceu. Quando se convenceu que as águas flavienses tinham poderes curativos milagroso, enviou um mensageiro a Cornélio Máximo. Levava uma breve mensagem e uma pequena caixa. Esta continha 2 chaves. O escrito era um convite para que o Cônsul e sua filha Lúcia, fossem para Acqua Flaviae, onde as águas fariam o milagre da cura. E cada uma das chaves tinha o seu significado: uma representava a saúde e a outra o amor.

Apesar de renitentes ao início, finalmente aceitaram o convite e demandaram as terras do norte da Península e a cidade que tinha umas águas milagrosas.

Em pouco tempo, o tratamento com os banhos nas águas fizeram o seu efeito e Lúcia recuperou a sua saúde e a sua beleza. E, já agora, também a proximidade e a possibilidade de estar perto do seu amor, contribuíram para a desejada cura.

Décio Flávio, conseguiu também assim ter ao pé de si a sua amada.

De tal forma que se comprometeram a casar quando Lúcia estivesse finalmente livre desse mal que a afligia. E assim foi!

Conservaram sempre as duas chaves, da Saúde e do Amor, e como sempre acontece nestas histórias…viveram felizes para sempre!

O significado de ambas ficou perpetuado na toponímia da cidade. A Acqua Flaviae viria muito mais tarde a chamar-se Chaves!

Fonte Biblio MARQUES, Gentil Lendas de Portugal Lisboa, Círculo de Leitores, 1997 [1962] , p.Volume V, pp. 229-234

Não tenho dúvida nenhuma que esta história é bem mais interessante e bonita que uma qualquer evolução fonética….e explica tudo! Portanto, acreditemos nela…só porque sim!

Como disse no início, voltarei sempre que puder!

Mas era tempo de despedida. A bruma da madrugada acompanhou-nos na jornada que agora se ia iniciar.

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A despedida de Chaves…

Para trás ficava a Acqua Flaviae… ao Virar da Esquina!

Agradecimentos

A moto utilizada nesta viagem foi uma Honda CRF 1100L Africa Twin Adventure Sports, sobre a qual já escrevi a respectiva análise, publicada aqui. A minha gratidão à Honda Portugal pela sua cedência.

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Um enorme obrigado também aos Solares de Portugal, companhia de primeira hora neste projecto em que vos dou a conhecer algum do riquíssimo património histórico e arquitectónico dos muitos solares e mansões familiares do nosso País.

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E obviamente, a minha gratidão aos anfitriões desta excelente visita à Quinta da Mata em Chaves.

Que recomendo…até porque fica logo ali, ao Virar da Esquina!

P’rós Amigos

Disclaimer

A partir de 18/06/2020 e durante os próximos 30 dias, os Solares de Portugal oferecem um desconto de 10% nas reservas efectuadas para este destino sendo que nesse acto deverá ser indicada a referência 6F0BD582 e mencionar que a casa visitada foi a Quinta da Mata em Chaves.

Este desconto não é cumulativo com campanhas em vigor e a reserva da estadia terá que ser feita através da CENTER promo@center.pt e tel 258 743 965 e não directamente à casa.

Outros benefícios podem ser consultados na página P’rós Amigos!

EN2 – Portugal de Fio a Pavio

O desafio: percorrer a EN2 num só dia, de Chaves a Faro!
O objectivo: experimentar a nova Honda Africa Twin
O resultado: muita camaradagem numa viagem espectacular
O bónus: um Manual Prático para quem quiser fazer a EN2

Uma estrada, um dia, uma moto

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No km 0 da Estrada Nacional 2

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A novíssima Africa Twin e a ancestral Ponte de Trajano em Chaves

O mote estava dado. 25 de Janeiro, antes das 7.30h da manhã, ainda noite escura, fria e com nevoeiro, as motos começaram a chegar ao km 0 da EN2 em Chaves.

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Na noite escura, o grupo juntava-se no km 0

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A Red Bull deu-nos asas e muita energia!

O objectivo era conduzir a novíssima Honda CRF1100L, a Africa Twin na versão Adventure Sports, com que a marca japonesa enfrenta a nova década e a concorrência, para poder partilhar essa experiência no Viagens ao Virar da Esquina. A Estrada Nacional 2 foi o cenário ideal.

Nas semanas anteriores, a expectativa tinha crescido, graças às redes sociais. As muitas intenções saldaram-se em 9 motos que me iriam acompanhar neste desafio: percorrer a EN2, de Chaves a Faro, numa única jornada.

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Os aventureiros no km 0

Para lá da tricolor que conduzi vieram 5 da geração anterior: as duas do Tiago e do Manel que com o Luis e a sua Varadero compunham o trio de amigos que fizeram questão de me acompanhar desde a primeira hora e as do João, do Luís e do Carlos. Ainda uma GS1200 do Nuno. E uma palavra especial para o Ernesto com a sua KTM Duke125 e o casal Nuno e Paula que saíram de Paços de Ferreira com a sua Yamaha R6 para chegarem a Chaves e de seguida rumarem a Faro. As origens deste pessoal eram as mais variadas: Lisboa, Évora, Lagoa, Barreiro, Penafiel, Olhos d’Água. O País bem representado!

Ainda de noite, fizemo-nos à estrada…

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À saida de Chaves. O dia começava com nevoeiro.

Saídos de Chaves, o dia acordou connosco já na estrada e o nevoeiro levantou. Os socalcos do Douro e a bonita estrada que nos levou até à Régua foram feitos já de dia.

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Peso da Régua

À frente, em Lamego o primeiro encontro: aguardavam-nos 9 Africa Twin que nos iriam acompanhar até Penacova, numa recepção calorosa por iniciativa da Honda de Viseu – a Ondavis.

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Em Lamego. Ao fundo o Santuário de Nª Sª dos Remédios. Em destaque, muitas Africa Twin….15!!!

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No Alto de Bigorne, ponto mais alto da EN2.

E foi nesta cidade que teríamos a paragem mais prolongada de toda a viagem (com efeitos que mais adiante descrevo…). A desculpa foi uma foto no centro…mas o pessoal precisava de tomar café!

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Em Viseu, no Rossio. Com os nossos amigos da Ondavis.

1 hora depois saímos em direcção ao primeiro troço complicado do traçado”original” da EN2. A albufeira da barragem da Aguieira submergiu parte da estrada, pelo que de Santa Comba Dão até pouco após o paredão da barragem, seguimos pelo que sobrou com recurso a alguns pedaços de outras estradas. Visitámos o ponto onde o alcatrão desaparece na água. A partir de Oliveira do Mondego retoma-se a estrada que segue pela margem esquerda do Mondego.

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Barragem da Aguieira: onde a albufeira submergiu a EN2

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Barragem da Aguieira: onde a albufeira submergiu a EN2

Reabastecimento das máquinas em Penacova e despedida dos companheiros viseenses. Mais à frente, em Poiares, a paragem prometida para uma “bucha”. É de saudar o espírito de iniciativa de quem aproveita a oportunidade gerada pela EN2 para combater o abandono do interior.

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No Café Central em V. Nova de Poiares – km 248

Daqui e até à Sertã, puro divertimento. Estrada em bom estado, sobe e desce, curva e contra-curva constantes, deixámos ficar para trás Góis e Pedrogão Grande.

Na Sertã começa a segunda parte complicada do percurso. porque abandonamos aquela que hoje é chamada de EN2, uma via rápida e sem interesse excepto para quem quer chegar rápido, para tomarmos o antigo traçado, estreito, sinuoso e nem sempre em bom estado.

O paragem seguinte foi no Centro Geodésico no Picoto da Melriça em Vila de Rei. Local simbólico onde nos aguardavam alguns companheiros por iniciativa do concessionário Honda de Tomar – Masterbike.

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No Picoto da Melriça, centro geodésico de Portugal (com os nossos amigos da Masterbike)

Alguns minutos de convívio, as fotos da praxe e seguimos viagem, novamente pela antiga e sinuosa EN2 até Abrantes, que entre minúsculas aldeias passa no Penedo Furado. Um recanto de beleza e tranquilidade.

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No Miradouro do Penedo Furado

Aqui e relativamente ao plano inicial (que não contemplava a necessidade das paragens prolongadas que aconteceram) o atraso era de 2 horas. Nada que comprometesse o objectivo final de percorrermos a EN2 num só dia. Longe disso. Mas acabou por inviabilizar o que seria outro dos pontos altos da jornada.

A Motodiana de Évora preparou um dia de convívio com os seus clientes. Que iria culminar com o nosso encontro a meio da tarde em Mora. Todavia, o atraso acumulado que trazíamos e o aproximar da noite fez com que o grupo de 3 dezenas de Africa Twin compreensivelmente desmobilizasse antes da nossa passagem. Foi pena! E frustrante para todos…

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No km 500 – Ciborro

Depois da foto ao km 500 no Ciborro, nova paragem para atestar em Montemor-o-Novo. A noite já caía – as viagens no Inverno têm esta contingência, que também fazia parte do desafio – pelo que a decisão foi seguirmos até Faro sem mais delongas. De noite pouco havia para ver na paisagem e a condução iria exigir toda a atenção: alguns troços no Alentejo estão em estado deplorável e no final, as 365 curvas da Serra do Caldeirão tinham o condimento adicional de o piso estar molhado…

Já passava das 22 horas quando chegámos a Faro, os mesmos que 15 horas antes tínhamos saído de Chaves. É evidente que a celebração da jornada aconteceu junto das placas que nos queriam dizer para voltarmos a Chaves. Só faltavam 738,5km!

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A Africa Twin e o marco final

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Desafio concluído (e com direito a troféu…)

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15 horas e picos depois, os mesmos que saíram de Chaves chegaram a Faro. Excelentes companheiros e amigos!!!

Uma viagem que correu de forma espectacular, com companheiros extraordinários, sem azares ou percalços que estragassem a boa disposição e em que a única nota negativa foi o desencontro com os nossos amigos de Évora. Algo a compensar no futuro…

Os apoios:

A nova Africa Twin

A aposta da Honda foi já muito escalpelizada na imprensa por quem sabe. Como motociclista comum apenas posso dizer que cheguei a Faro sem marcas de cansaço.

A moto revelou-se sempre muito segura em todas as condições – mau piso, estrada molhada, condução nocturna, traçado sinuoso – e algumas das inovações e melhorias introduzidas provaram a sua eficácia: novas suspensões, nova ciclística e melhorada ergonomia, faróis com função “cornering”, novo painel TFT com excelente leitura em quaisquer condições e que simultâneamente permite a personalização da moto nos mais ínfimos detalhes. O novo motor, mais “redondo”, tem uma utilização linear em toda a faixa de rotação, o que se traduz em melhor agradabilidade de condução.

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A CRF1100L Africa Twin Adventure Sports que me acompanhou no Portugal de Fio a Pavio

Ler aqui: “Africa Twin – de fio a pavio

Sem dúvida uma aposta ganha com esta CRF1100L Africa Twin Adventure Sports!

E sobre a Estrada Nacional 2?

Em 2020 faz 75 anos que foi publicado o Plano Rodoviário que criou e classificou as Estradas Nacionais.

A esta, que na altura não existia na sua totalidade (nem hoje, diga-se em abono da verdade), foi atribuído o número que à época traduzia a importância que lhe estava destinada. Era a segunda, logo a seguir à estrada Lisboa-Porto. Isto denotava o relevo que era dado ao desenvolvimento do interior do País…

Só nos anos 70 a estrada ficou realmente completa com o asfaltamento dos últimos troços que ainda faltavam. Pouco tempo lhe restou. Os Planos Rodoviários de 1985 e 2000, retiraram-lhe importância (induzidos pela desertificação do interior e pelo novo paradigma das auto-estradas) e acabaram por a retalhar. Alguns pedaços estão entregues a responsabilidades municipais, outros centralizados e outros…quase parecem abandonados.

O potencial turístico da Estrada Nacional 2 vive mais da imagem mítica daqueles que a percorrem, por vezes sem saberem bem se nela estão ou não, porque a sinalização é fraca ou inexistente. Por outro lado, sem uma identidade claramente definida (que leva alguns a procurarem semelhanças com outras estradas e rotas estrangeiras) e sem um plano de desenvolvimento integrado entre quem deverá ter a responsabilidade de gerir a estrada e todo os operadores turísticos e comerciais nas suas margens, a EN2 continuará a ter esse lado semi-aventureiro mas também se irá degradando. A estrada e a sua imagem!

Merece muito mais porque percorrê-la é ter numa única via o mais perfeito retrato da diversidade do nosso País. Diria mesmo, a imagem mais completa de Portugal de Fio a Pavio.

(este texto foi editado e publicado na MOTOJORNAL #1476 de 14 de Fevereiro de 2020)

Estrada Nacional 2 – o percurso

O percurso feito seguiu o mais possível o trajecto original da EN2. E aqui surge a primeira nota:

Começamos em Chaves na EN2 e seguimo-la até à Barragem da Aguieira (em Castro Daire tivemos que fazer um pequeno desvio pela A24 uma vez que um deslizamento de terras cortou a nossa estrada…esperemos que a reparação seja breve…). Depois do paredão da barragem vamos utilizar um pequeno troço da EN228.

Mais à frente, entre Vila de Rei e o Sardoal, seguimos pela EM2. Depois novamente EN2 até Montemor-o-Novo. Daqui até Castro Verde seguimos pela ER2. E finalmente, daqui até Faro, novamente EN2.

Em Faro, nova dificuldade. O marco dos 738km foi removido para a construção de uma rotunda no cruzamento da Rua do Alportel com a Av. Calouste Gulbenkian. Para chegarmos às setas que nos indicam que para regressarmos a Chaves faltam 738,5km temos que fazer um desvio por ruas laterais uma vez que a Rua do Alportel no cruzamento com a Rua Aboim Ascensão tem o sentido inverso. No guia “Estrada Nacional 2” editado pela Papa-Figos (excelente, diga-se) referem que o final se situa junto à marina de Faro e ao Arco da Vila, na Praça D. Francisco Gomes junto à Av. da República…

Sempre que possível, o percurso faz-se pelo interior das principais localidades, como ocorria antigamente. As variantes às povoações vieram muito depois do nascimento da EN2…

Para quem o queira seguir, aqui fica o link para download do trajecto em formato GPX, utilizável na maioria dos GPS:

EN2 – Chaves – Faro (Viagens ao Virar da Esquina – versão oficial) – Fev2020

Manual Prático da Estrada Nacional 2

(publicado em Março de 2019 na Andar de Moto)

A Estrada Nacional 2, EN2 para os amigos, foi instituída no Plano Rodoviário Nacional de 1945. Tinha o objectivo de unir Portugal de cima abaixo, atravessando o seu interior, por oposição à EN1 que o fazia pelo litoral, de Lisboa ao Porto.

À época, existiam já construídos alguns troços desta estrada e outros foram-no sendo ao longo do tempo. No fundo, aquela que hoje tendemos a ver de forma algo romântica como “a” EN2 sempre foi uma amálgama de estradas. Tal como hoje, em que alguns troços foram reclassificados e até renomeados (no Alentejo, foi classificada como “estrada regional” daí a designação ER2…). Outros foram absorvidos por vias mais ou menos rápidas, que até lhe subtraíram a designação (o troço entre Sertã e Abrantes ou as muitas variantes às localidades entretanto construídas). Para não falar nos que desapareceram (na Barragem da Aguieira alguns pedaços ficaram submersos).

Tudo isto para dizer que, por incrível que pareça, encontrar o traçado mais fiel a um suposto original é mais difícil que o esperado. Isso tem consequências no trajecto mas também no planeamento das etapas. Já veremos porquê!

Todas as considerações adiante realizadas partem do pressuposto da realização da viagem desde o quilómetro 0 em Chaves até ao 738,5 em Faro. Se a opção for a inversa, pouco ou nada se altera, a não ser a divisão dos tempos para cada etapa. E já que falamos nisso…

Quantas etapas?

Esta é a pergunta que mais vezes é feita. E a resposta é muito simples: depende!

DO NÚMERO DE DIAS DISPONÍVEL. Um detalhe prévio: ao planear a viagem, independentemente do número de dias destinados à EN2, deverá reservar-se pelo menos 1 dia para o trajecto complementar. Isto é, para a ida até Chaves e para o regresso de Faro. Este trajecto terá comprimento idêntico no mínimo! Como se pode fazer, depende do ponto de partida/chegada de cada um e do tempo para (mais ou menos quilómetros de auto-estrada);

DO GRAU DE DETALHE. Isto significa que quanto mais paragens mais tempo se demora (seja pessimista quanto à alocação de tempo para cada visita. Demoram sempre mais que o previsto). E algumas, são efectivamente demoradas. Por exemplo, se em Vila Real pretenderem visitar um dos ex-libris, a Casa de Mateus, atentem no seguinte: a visita merece ser longa. Porque a Casa e os jardins assim o justificam, mas também o preço: 8,5€ só para os jardins e 12,5€ para Casa e jardins. Por este preço, justifica-se uma visita atenta…e demorada!

DO RITMO DA VIAGEM. Madrugadores tenderão a tirar mais partido do que os mais preguiçosos. Até porque o pôr do sol é à mesma hora para ambos e viajar de noite não se justifica, pois para ver as estrelas, é melhor sentado numa qualquer esplanada no final da etapa. Também os tempos dedicados à gastronomia são importantes. Há que ajustar os almoços ao tempo disponível para não andar a recuperar tempo na estrada, com os riscos que isso acarreta…e de barriga cheia!

DA ESTRADA. Este É o único elemento fixo da equação. O trajecto não tem todo as mesmas características.

De Chaves até Vila Real flui bem e em boa estrada com algumas localidades pelo caminho. Daí para Lamego, o percurso torna-se muito mais sinuoso – e bonito! Estamos a falar da descida para Peso da Régua e da subida na margem esquerda (passa-se aliás pelo ponto mais alto de toda a EN2 um pouco à frente do desvio para Lazarim – e esta pode ser uma das localidades a visitar, afamada pela sua celebração do Entrudo mas cuja estrada de acesso é íngreme e estreita).

De Lamego a Viseu, torna a fluir bem e em boa estrada. De Viseu até ao Rio Tejo é que a porca torce o rabo. Falaremos especificamente deste troço, mais adiante. Mas adiante-se que é sinuoso, nem sempre evidente e nunca a permitir ritmos elevados, pelo contrário.

De Abrantes para baixo, entramos no Alentejo. As planícies geralmente com boas estradas (uma ou outra excepção) permitem bons andamentos até porque o número de povoações atravessadas diminui drasticamente.

A partir de Almodôvar, com a entrada no Algarve, temos a cereja no topo do bolo: a Serra do Caldeirão com as suas 365 curvas. Uma por cada dia do ano e capazes de satisfazerem os gostos de qualquer motociclista, mesmo os mais exigentes.
A última dificuldade do percurso: encontrar as placas do quilómetro final da EN2 em Faro. O marco dos 738km e as placas direccionais que indicam “Chaves 738,5km”.

Então, e afinal quantas etapas?

Se possível for, diria que 3 etapas até Abrantes, mais uma até Castro Verde/Almodôvar e uma meia etapa daqui até Faro.

Comecemos pelo fim: porquê esta meia etapa? Porque é muito mais saboroso (e seguro!) fazer o Caldeirão pela manhã, fresquinhos, do que no final do dia já com alguns centos de quilómetros em cima. Por outro lado, o alojamento e a alimentação serão muito mais económicos no Alentejo do que no Algarve. Sendo possível, a outra metade do último dia pode ser dedicada ao regresso.

Resumindo 4 dias e meio.

Uma primeira etapa até Lamego ou Castro Daire. Uma segunda, daí até Góis ou Pedrógão Grande. A terceira até Abrantes ou Montargil. As restantes já falámos atrás. É evidente que se tiver mais tempo disponível….excelente. É disfrutar do muito que a EN2 tem para oferecer.

Sabemos todavia que o óptimo é inimigo do bom!

Com motociclistas madrugadores, diria que é perfeitamente viável cortar 1 dia ao que acima referi. Por exemplo, terminar o primeiro dia em Viseu e o segundo em Abrantes ou algo antes. Daí para baixo seria o mesmo.
E aqui chegamos ao ponto fulcral. Os percursos entre Santa Comba e Penacova e, mais à frente, da Sertã a Abrantes.

No primeiro caso, a construção da Barragem da Aguieira levou a que uma parte da EN2 fosse submersa e a posterior construção do IP3 nalguns pontos sobrepôs-se. E a sinalização tende a remeter a EN2 precisamente para o IP3!

Seguir um trajecto o mais próximo possível do original, leva-nos a, depois de Vimieiro, seguir na proximidade de Chamadouro, passar em Oliveira do Mondego e Porto da Raiva. Finalmente a partir de Penacova o trajecto é mais claro. Mais à frente, uma pequena armadilha na entrada de Pedrógão Grande.

Depois da Sertã, aquilo que hoje é chamado de EN2 é uma variante, estrada bem larga e rápida que, depois de passar perto do Centro Geodésico em Vila de Rei, desagua em Abrantes (Alferrarede). Mas a original é bem mais complexa, sinuosa e…muitíssimo mais bonita e interessante. Saliento apenas a passagem pelo Penedo Furado.

Ambos os troços atrás referidos são lentos. Daí a questão da divisão das etapas dever levar este aspecto em consideração, sob pena de a dada altura se estar a viajar de noite. No mínimo desinteressante!

Mais duas curiosidades: lembram-se os menos jovens, que antigamente as estradas seguiam pelo centro das localidades. Hoje em dia, existem variantes. É uma opção a tomar. Por exemplo, à entrada de Tondela, as placas a indicar EN2 fazem seguir pela variante. E merece a pena atravessar pelo centro.

A segunda curiosidade tem a ver com Viseu. Não é à toa que lhe chamam a capital da rotundas. O percurso que sugerimos (o mais próximo possível do original) passa por não menos que 24 redondéis!

Tudo isto serve para uma última recomendação. Se afastarem alguns pruridos tradicionalistas, façam-se acompanhar de um GPS.

O ficheiro GPX que “Viagens ao Virar da Esquina” disponibiliza – façam o download no link acima – tem no mínimo a vantagem de vos prevenir para todas estas armadilhas. Ou em alternativa, utilizem-no em casa, na preparação de um travel-book que vos auxilie ao longo do caminho.

A última nota: existem duas óptimas publicações sobre a EN2. Complementam-se e servirão certamente de excelentes roteiros. Uma delas, editada pela Papa Figos andará pelas livrarias. A outra, “A mítica estrada nacional 2”, foi publicada por defunta editora e só com muita sorte poderá ser encontrada. A não ser que algum amigo a tenha…

Independentemente de tudo o que foi dito, façam a EN2. De espírito aberto e do modo que quiserem.

Verão que será uma experiência inolvidável!

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Chaves, Km 0 na EN2

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Em Faro….para chegar a Chaves, já só faltam 738,5km

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No marco do km 738 (que agora não está lá!) – Abril 2018

Solares de Portugal – Viajar no tempo, habitar o património

Pernoitar num dos Solares de Portugal é usufruir da calorosa hospitalidade e boas–vindas, que são uma arte das famílias portuguesas. É também conviver com um património rico em história e cultura e com uma secular tradição que os donos das casas partilham com os seus hóspedes, de modo cortês e simples.

Os Solares de Portugal agrupam um conjunto de mansões, solares, quintas e casas dispersos por todo o território nacional. Fazem parte do património arquitectónico de Portugal e são repositório da sua História e das muitas histórias locais que contribuíram para a cultura e tradição do nosso País.

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A oferta dos Solares de Portugal divide-se em três categorias: Casas Antigas, Quintas e Herdades e Casas Rústicas, consoante a sua imponência, quer na dimensão, espaços envolventes e jardins, quer na decoração e peso histórico.

As Casas Antigas caracterizam-se pela sua arquitectura erudita e muitas delas remontam aos séculos XVII e XVIII. Nas Quintas e Herdades, o acolhimento faz-se num ambiente mais rural, pois estas casas constituem o assento de lavoura, ainda vivo e palpitante, da propriedade agrícola em que se enquadram.

Para quem preferir usufruir da calma da vida do campo, existem as Casas Rústicas, com grande valor etnográfico, na medida em que usam na sua arquitectura – simples e de pequenas dimensões – materiais e processos construtivos caracteristicamente locais.

A parceria celebrada com os Solares de Portugal permitiu-nos conhecer e dar a conhecer algumas destas pérolas do nosso património.

Aqui fica o resumo!

Brotas e as Casas de Romaria

Brotas é terra de devoção a Nª Senhora. Culto mariano multisecular que a seu tempo se expandiu pelo mundo. Dessa devoção e da necessidade de abrigar os peregrinos organizados em Confrarias, nasceram as Casas  de Confraria – ou de Romaria.

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Brotas – Santuário ao fundo

Sobre elas escrevi:

… do Santuário sai a Rua da Igreja. Nela se situam a maioria das Casas de Confraria. Estas casas, em que cada uma leva o nome da origem das confrarias de devotos, serviam para albergar os romeiros que vinham prestar culto à Santa.

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Santuário de Nª Sª de Brotas

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Santuário de Nª Sª de Brotas – Interior

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Imagem de Nª Sª de Brotas (a mais antiga)

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Largo do Santuário. Em frente a Rua da Igreja e de um lado e outro, as Casas de Romaria

Os tempos eram outros e as deslocações faziam-se muito lentamente. De Setúbal por exemplo, media-se em vários dias o tempo de caminhada. Por isso, também quando chegavam, para lá do descanso necessário, também o culto se prolongava. E era nestas casas que os romeiros se alojavam. Vinham por confraria e quando uma abalava, logo outra vinha ocupar o seu lugar e as casas.

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Casa de Romaria

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Casas de Romaria

As Casas de Romaria são uma unidade de Turismo em Espaço Rural que através da recuperação de 6 destas Casas de Confraria permite aos seus visitantes usufruírem em simultâneo dos confortos da vida moderna mas instalados em habitações com 600 anos de história. Casas tipicamente alentejanas, de branco caiadas e com as suas riscas coloridas, que mantém a traça original e estão decoradas de forma singela com os artefactos típicos que ilustram a vida nesta região.

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Ficar numa destas casa – no caso, a da Confraria de Palmela – é partilhar com o conforto do Séc. XXI, a vivência histórica de uma profunda devoção hexacentenária!

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Casa da Confraria de Palmela

E à noite, é mágico escutar o silêncio dos campos que nos rodeiam!

Toda a história na crónica Brotas – o segredo escondido do Alentejo!

Casa do Terreiro do Poço em Borba

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Borba – Casa do Terreiro do Poço

Borba é uma cidade alentejana típica – curiosamente, a mais pequena cidade do Alentejo –  com as suas ruas de calçada estreitas, o casario branco de casas maioritariamente térreas. Foi conquistada aos mouros em 1217 (tal como Vila Viçosa) e um século mais tarde foi-lhe atribuído foral de vila. Muito antiga, anterior à nacionalidade, Borba vive um pouco na sombra da vizinha e faustosa terra dos Duques de Bragança.

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Borba – Pedaço da muralha e casario

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Borba – Capela

E alguns dichotes não perdoam. Desde a referência que Borba tem uma fonte muito bonita….porque já não havia sítio em Vila Viçosa para lá a colocar ou o facto mais picante de ser onde os senhores nobres da outrora faustosa Vila (hoje cidade) Ducal alojavam as senhoras da sua predilecção, suficiente próximas para visitas frequentes e minimamente afastadas para não haver confusões…

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Borba

Situada em zona central de Borba, a Casa do Terreiro do Poço viria revelar-se a enorme surpresa desta viagem. E logo no início, uma pequena demonstração da forma como fui acolhido: o meu anfitrião aguardava-me convenientemente protegido da chuva que já há algumas horas não dava tréguas, para me ajudar a estacionar e acondicionar a moto. De imediato se disponibilizou para me recolher o fato que vinha já ensopado (mas cumpriu a sua obrigação de me deixar seco!) e colocá-lo a secar no sitio mais quente da casa, a casa das máquinas. Assim foi e no dia seguinte não só tinha o equipamento como se nada se tivesse passado como à hora de saída me entregou as luvas aquecidas!

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Casa do Terreiro do Poço

Somos tratados como amigos. Como família. É essa a verdadeira diferença entre a hotelaria “normal” e a possibilidade de sermos acolhidos em casas familiares, cujos proprietários fazem questão de nos fazer sentir como se em nossa casa estivéssemos. Ou melhor ainda….

A Rita e o João, os meus anfitriões brindaram-me com um acolhimento fantástico. Tal como fantástico é o trabalho que ao longo do tempo têm feito para transformar a Casa do Terreiro do Poço naquilo que é: uma série quase infindável de caixinhas de surpresas, tantas quantos os quartos – 13 – que disponibiliza.

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Páteo da Casa do Terreiro do Poço – os meus anfitriões

A Casa original data do Séc XVII (o piso térreo) tendo sido depois sucessivamente aumentada no séculos seguintes, com dois novos pisos. No último, já no Séc XIX, podemos observar nos quartos, escadaria e corredores, pinturas murais em diferentes estágios de conservação mas que têm vindo a ser recuperados com desvelo.

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O poço!

Hoje, a Casa do Terreiro do Poço é constituída por outras casas contíguas que os proprietários vieram sucessivamente a agregar tendo todas elas como zona comum um frondoso páteo – quase uma pequena selva interior-  para garantir a frescura nos meses de canícula. Ao lado, um pavilhão com ampla zona de convívio fronteira à piscina.

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Casa do Terreiro do Poço – Piscina

Devo dizer que a dado momento da visita guiada pelo João (que para lá da descrição e da história de cada pedaço, ia complementando com detalhes e curiosidades sempre interessantes e com algumas pinceladas de humor) estava completamente perdido…parece labiríntico. O que só lhe aumenta o interesse…

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Casa do Terreiro do Poço – Páteo

Cada quarto – são mais que simples quartos! – tem uma componente temática, com decoração adequada repleta de criatividade e bom gosto. Por isso, mais que um quarto, cada um é um verdadeiro cenário capaz de despertar a imaginação dos seus ocupantes tornando a estadia, de facto, memorável.

O quarto onde pernoitei:

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Casa do Terreiro do poço – Quarto

À medida que ia percorrendo a Casa, os quartos, uma ideia me acorreu à mente: não fotografar nem descrever os quartos (até porque na net é possível encontrar algumas imagens). Porquê? Porque o sentimento de surpresa de cada vez que uma porta se abria e eu era transportado para um imaginário diferente do anterior merece ser destacado. Se alguém tiver curiosidade em conhecer e ficar aqui alojado, que venha de mente aberta e preparado para ser surpreendido.

Depois…bem, cada um tem a sua própria imaginação e criatividade…

Um quarto numa antiga cozinha? Uma suite dourada? Um quarto decadente? Ou um quarto étnico? …Com decorações a condizer, pois claro! E que tal uma verdadeira taberna à antiga ou uma adega? Afinal estamos em Borba…

Deve referir-se que existem quartos preparados para quem viaja com filhos pequenos, para pessoas com deficiência, para quem não se separa dos seus animais, o que só enriquece a oferta e enaltece o espírito de ir de encontro às necessidades de quem procura um local para descansar e usufruir.

E esta julgo ser a melhor homenagem que posso fazer à criatividade, perseverança, sentido estético e muito, mas mesmo muito trabalho que a Rita e o João têm dedicado à Casa do Terreiro do Paço.

Quanto à forma como fui acolhido, já atrás o referi: como um amigo de longa data. Assim, apenas posso deixar o testemunho da minha gratidão e amizade.

Toda a história na crónica Borba – A filha alentejana de um deus menor

Na Atouguia da Baleia, a Casa do Castelo

No Sec XII, D. Afonso Henriques outorgou estas terras aos irmãos Guilherme e Robert de Corni, cruzados franceses, em agradecimento a serviços prestados nas lutas contra os Mouros, nomeadamente a conquista de Lisboa. Chamava-se assim o território pois nele abundavam touros selvagens. A denominação actual – Atouguia – deriva de sucessivas evoluções do termo ao longo de 2 milénios. Ainda hoje, defronte da Igreja Matriz é possível ver alguns dos pilares que circundavam o Touril onde esses touros bravos eram depois exibidos nas festas medievais (e provavelmente as antepassadas das touradas actuais…).

História diferente tem o acréscimo “da Baleia”. Conta-se que por volta de 1526 terá dado à costa, num lugar então chamado Areia Branca, uma baleia que “tinha de comprimento 30 côvados” (cerca de 15 metros). Daí a Atouguia…da Baleia. Na Igreja de São Leonardo pode ser vista uma grande costela de baleia petrificada que, diz a lenda, pertenceria ao tal cetáceo.

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Igreja de S. Leonardo

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Casa do Castelo

Situada mesmo defronte da Igreja de São Leonardo fica a Casa do Castelo. A ela cheguei já a tarde caminhava para noite. Ainda a tempo de vislumbrar a beleza arquitectónica do edifício e o seu enquadramento paisagístico. Que é relevante, uma vez que está encostado a parte da muralha do que em tempos foi o Castelo da Atouguia, de origem mourisca e datado do Séc XII, em perfeita simbiose.

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Casa do Castelo – Muralha, jardim interior e ao fundo, o Baleal

E desde logo, fomos simpaticamente acolhidos pelo nosso anfitrião. Estacionada a moto, não pudemos deixar de ficar impressionados com o enorme e centenário dragoeiro que nos aponta o caminho da Casa. Diga-se que, como me foi contado, esta belíssima árvore classificada perdeu uma parte importante do seu porte no ano passado, mas não perdeu a sua altivez e majestade. Impressionante!

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Casa do Castelo e o imponente dragoeiro

A Casa do Castelo, precioso abrigo depois de uma jornada menos luminosa que o desejado mas não menos interessante, acolheu-nos. E desde logo nos deixou favoravelmente impressionados. Quer pela beleza do edifício, testemunho da sua história secular. Construída no Séc. XVII sofreu profunda transformação e ampliação nos princípios do Séc XIX, como aliás é comum nestas casas senhoriais que cresciam à medida que as famílias aumentavam e reflexo da sua própria prosperidade.

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Casa do Castelo

Nos finais do século passado, obras profundas de recuperação e restauro, concluídas em 1995, devolveram o brilho e elegância ao edifício e dotando-o então das características no seu interior adequadas à actual função: um turismo de habitação que acolhe os seus visitantes como se de velhos amigos se tratassem. Essas obras procuraram respeitar a antiga traça do edifício mas dotando-o agora dos confortos modernos.

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Casa do Castelo – interior

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Casa do Castelo – interior

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Casa do Castelo – interior

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Casa do Castelo – interior

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Casa do Castelo – interior

Também o antigo páteo virado a poente foi adaptado, com as antigas instalações da faina agrícola (cocheiras e galinheiros) transformadas em simpáticos apartamentos com um alpendre acolhedor sobre a apelativa piscina (estivesse melhor o tempo e não teria escapado a um mergulho…).

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Casa do Castelo – pátio

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Casa do Castelo – pátio

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Casa do Castelo – pátio

A última palavra é a mais importante. Por mais bela que uma casa seja, a verdadeira alma vem daqueles que a habitam. E a capacidade de nos fazerem sentir que estamos em “nossa casa” e podermos desfrutar, com a simplicidade da amizade, da história e da vida, neste caso, da Casa do Castelo. Assim, uma enorme gratidão pelo acolhimento e pelo convívio que o João e a Maria me proporcionaram nesta curta mas memorável visita à Casa do Castelo.

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Com o meu caríssimo anfitrião!

Toda a história na crónica Certo, certo…é o tempo incerto!

Quinta da Alcaidaria-Mór em Ourém

OurémAuren (ou Portus Auren no seu termo latino) ou ainda Abdegas, se formos caminhando para trás na História era o destino. E a Quinta da Alcaidaria-Mór o porto de abrigo.

Ourém tem foral concelhio desde 1180, outorgado pela infante D. Teresa, Filha de D. Afonso Henriques e D. Mafalda. Afirma-se aliás no documento correspondente que o local onde o castelo foi construído se chamava anteriormente Abdegas. Por outro lado, no foral de Leiria (de 1142) era referida a designação Portus de Auren (Porto de Ourém) e referir-se-á a um curso de água, provavelmente a Ribeira de Seiça .

Mas a lenda conta-nos outra história: a “Lenda de Oureana” foi divulgada por Frei Bernardo de Brito na “Crónica da Ordem de Cister” (Livro VI, Cap. I). Assim conta-se que num ataque surpresa a Alcácer do Sal, no dia de São João de 1158, o cristão Gonçalo Hermigues, com alguns companheiros, raptou uma princesa moura chamada Fátima e trouxe-a para o lugar na Serra de Aire que depois se veio a chamar pelo nome da princesa. Mais tarde, no seu cativeiro, a moura apaixonou-se pelo cristão e resolveu baptizar-se para poder casar com o seu amado. Para seu nome de baptismo escolheu Oureana. Daqui, segundo a lenda, teria tido origem o nome da vila de Ourém.

A Quinta da Alcaidaria-Mór recebe-me com uma alameda frondosa e ao chegar ao pátio principal sou surpreendido: a beleza do seu edifício principal, a curiosidade pela pequena capela à nossa esquerda ou a convidativa piscina defronte. A tarde ia avançada, senão….

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Quinta da Alcaidaria-Mór – Edificio principal

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Quinta da Alcaidaria-Mór – alameda de entrada

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Quinta da Alcaidaria-Mór – pátio exterior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – Piscina

Consegui também ver, desde logo, que as antigas instalações dedicadas à faina agrícola estão agora bem aproveitadas para a finalidade turística que até aqui nos conduziu. Sendo esta uma das primeiras unidades de turismo de turismo de habitação no País e a primeira na região centro, está aberta ao público desde 1984.

A história da Quinta cruza-se com a história da região. E esta claramente com a de Portugal. Conta-se que aqui, na capela, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira terá ajoelhado e pedido a protecção divina a Santa Luzia, quando a caminho de Aljubarrota. Em 1385…

A propriedade está na posse da família de Nuno Vasconcelos – que tão bem nos acolheu, mostrando os mais pequenos recantos, contando a história e referindo também os seus projectos – desde o Séc XIX, quando o seu antepassado foi agraciado com o título de 1º Barão de Alvaiázere pela excelência da assistência médica prestada a El-Rei D. João VI, inclusivamente acompanhando-o no exílio brasileiro devido às invasões napoleónicas.

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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior

É no edifício principal que ficam os quartos principais, bem como a magnífica e imponente Sala de Jantar. As escadarias, as paredes que exibem a pedra que lhes dá forma, os recantos, os tectos em madeira, as óbvias referências monárquicas e à Casa de Malta, tudo contribui para a extraordinária beleza do edifício e para o ambiente que, apesar de impregnado de História, não deixa de ser acolhedor. Muito acolhedor mesmo.

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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior – recepção

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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior – sala de jantar

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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior

Ao lado, nas antigas instalações agrícolas, fica uma esplêndida sala de convívio e lazer, bem como alguns apartamentos que garantem aos seus ocupantes a tranquilidade tão ansiada por quem aqui resolva passar uns dias. E ainda há espaço e edificação para crescer. Um pouco acima, um pavilhão que permite assegurar a realização de alguns eventos contribui para aumentar a polivalência e a pluralidade da oferta.

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Quinta da Alcaidaria-Mór – sala de convívio

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Quinta da Alcaidaria-Mór – sala de convívio

E tudo isto, rodeado de um bucólico ambiente campestre que a extensão da Quinta garante, onde predomina o verde e impera a frescura.

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Quinta da Alcaidaria-Mór -apartamento exterior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – apartamento exterior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior

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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior

Se o objectivo for aproveitar uns dias para um repouso absoluto, num ambiente de grande tranquilidade, rodeados de História e de histórias, com o máximo conforto e requinte, então a Quinta da Alcaidaria-Mór cumpre todos estes requisitos. Até porque merece que a estadia se prolongue para se poder absorver todo o ambiente que a rodeia. E, como a crónica tenta demonstrar, a zona que a rodeia merece incontestavelmente uma visita detalhada.

Toda a história na crónica Certo, certo…é o tempo incerto!

P’rós Amigos!

O Viagens ao Virar da Esquina convida os seus amigos e seguidores para viajar consigo no tempo conhecendo a historia e estórias únicas e identitárias dos Solares de Portugal, verdadeiros guardiões do Turismo de Habitação e do TER (Turismo no Espaço Rural) em Portugal.

Ver como em P´rós Amigos!

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