Quando os convites surgem, aceitam-se!
E se com ele surgirem oportunidades…aproveitam-se.
Há alguns dias, devido a um convite da Andar de Moto sobre o qual vos contarei mais adiante, tive a oportunidade de experimentar a Versys 650. O modelo trail, do segmento médio, da Kawasaki.
Desde logo interessante, porque há algum tempo atrás (há mais de 2 anos, mas o tempo voa!) testei a irmã maior, o navio-almirante da esquadra trail da Kawasaki e, na ocasião, a versão topo de gama: aVersys 1000 Special Edition Grand Tourer.
Agora, por feliz coincidência, tive ao meu dispor também a versão mais completa da seis e meio: a Grand Tourer. Não podia deixar escapar a oportunidade pois não é fácil conseguir experimentar modelos da marca em sessões mais longas que os vulgares test-drives feitos nos concessionários.
Nota de rodapé:
A Kawasaki, tal como alguns representantes no nosso mercado de outras marcas, não parecem valorizar este tipo de experiências nas suas estratégias de marketing, ao ponto de geralmente nem responderem às solicitações. Ou então a qualidade do que é feito por quem não é profissional da comunicação mas que comunica e faz essas solicitações, não tem a qualidade que exigem (e aí o problema está do lado de cá!).
Não me cabe questionar minimamente as estratégias (como antigo profissional de marketing percebo-as mesmo que delas possa discordar) até porque cada marca saberá melhor que ninguém o que é melhor para si e para o seu negócio. Mas nem uma respostazinha a dizer “não”?….
Como referi atrás, esta oportunidade surgiu graças à revista Andar de Moto, onde tenho o privilégio de ver publicadas crónicas de viagem já lá vão mais de 2 anos. Desta feita, a revista, que irá comemorar no próximo número o seu aniversário, entendeu fazer um comparativo alargado de trails de média cilindrada, onde esta Kawa se enquadrou.
Para lá do convite para participar, coube-me em sorte poder ir buscá-la antecipadamente. Quanto ao comparativo….deixo-vos algumas fotos, só para abrir o apetite. De resto é esperar lá pelo final da terceira semana de Maio, com a edição número 36 … a do 3º aniversário!
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Sobre a Kawasaki Versys 650
Como atrás referi, trata-se da versão Grand Tourer, ou seja, a que traz de origem equipamento suplementar completo:
protectores de mãos
tomada de 12V (com cobertura de borracha)
faróis auxiliares
protector de depósito em gel-resina
top-case de 37 litros com saco interior incluído
malas laterais integradas e com design próprio da marca que incluem os respectivos sacos interiores.
Tudo isto a adicionar às características base do modelo:
Motor:
Bicilindrico paralelo com refrigeração líquida
Dupla árvore de cames à cabeça, 4 válvulas por cilindro
649 cm3 – 67cv/8.500 rpm – 61 Nm/7.000 rpm
Caixa manual de 6 velocidades
Quadro:
Tubular em aço de alta resistência
Rodas 17” (F+T): 120/70 ZR17 – 160/60 ZR17
Suspensões:
Suspensão dianteira: telescópica invertida de 41 mm com recuperação e pré carga ajustáveis – Curso: 150 mm
Suspensão traseira: Mono amortecedor de montagem assimétrica. Pré carga da mola com ajuste remoto – Curso: 145 mm
Travões:
Travões dianteiros: Duplo disco semi-flutuante de 300 mm em forma de pétala. Duas pinças de 2 êmbolos
Travão traseiro: Disco de 250 mm em forma de pétala. Pinça de 1 êmbolo
Dimensões:
Distância ao solo: 170 mm
Altura do assento: 840 mm
Capacidade do depósito: 21 l
Peso (em ordem de marcha): 217 kg
Outras características:
Ecrã misto analógico (conta rotações) + TFT (velocímetro, odómetro, combustível, médias e autonomia, indicação de mudança engrenada e relógio)
Vidro regulável em altura sem ferramentas
Escape com silenciador sob o motor – baixa o centro de gravidade, optimiza o espaço e diminui a incidência de calor para condutor e passageiro
Apoios de motor em borracha para redução de vibrações
Preço: Versão base – 8590€ Versão Grand Tourer (ensaiada) – 10.390€
A condução da Versys 650
A Kawasaki Versys 650 é um modelo que nasceu em 2007, com características que ainda hoje se mantém e fazem dela uma proposta credível e ajustada para quem pretende uma moto polivalente, que tanto se sinta à vontade nas tarefas do dia-a-dia – trânsito citadino, trajectos sub-urbanos, pequenas deslocações, a solo ou acompanhado – como depois em viagem mais ou menos longas: férias ou escapadinhas de fim-de-semana.
Ainda assim, como alerta que costumo referir, não se lhe exija mais do que aquilo que oferece. Esta Versys não está vocacionada para percursos off-road que vão além de um pequeno estradão até à praia mais próxima. Julgo também, que ao fim de algumas centenas de quilómetros a fadiga atacará…mas para este segmento até diria que a Kawa será das melhores apetrechadas.
Dito isto, é importante referir que se trata de uma pura estradista, conceito aliás introduzido pela Kawasaki com esta moto: perfil trail mas vocação claramente de estrada (como aliás o atesta a opção por rodas de 17” à frente e atrás).
De 2007 até hoje, este modelo sofreu evoluções em 2010 e 2015. Nesta última, com a introdução das linhas que actualmente são tão características das motos da marca. Linhas angulosas, muito vincadas – um pouco ao sabor do espírito “manga” tipicamente japonês – que lhe conferem uma grande agressividade e um toque de radicalismo. Finalmente, para 2021, a actualização para o Euro 5 que não prejudicou as características dinâmicas da Versys.
A moto é muito confortável, espaçosa e com uma volumetria a fazer lembrar motos de gama acima. É evidente que o pack de malas ajudam a induzir essa sensação. O que é verdade é que a condução em estrada se faz com todo o conforto, com boa protecção aerodinâmica a que não é estranha o vidro regulável em altura. E já agora….as tais malas levam toda a tralha necessária para uma viagem prolongada de vários dias!
A ergonomia é também um factor positivo da moto que faz com que nos “sintamos em casa” desde o primeiro momento. A possibilidade de regulação de ambas as manetes – travão dianteiro e embraiagem – ajuda neste capítulo. O encaixe é perfeito com os punhos à altura e distância correctas.
Sendo claramente estradista na sua vocação e nas suas características, seria de esperar que a posição de condução a aproximasse mais das motos de estrada. Mas pelo contrário, ficamos a uma altura que é sim, mais próxima das “big-trails”, o que tem inegáveis vantagens: o corpo vai mais distendido, temos mais visibilidade para a frente e possibilita uma condução descontraída e logo menos cansativa.
O motor é animado mas apenas acima das 3.500/4.000 rpm. Até lá exprime-se com alguma timidez mas nada que incomode se o objectivo for levar uma toada calma por uma qualquer estrada nacional. Se essa estrada, em determinada altura, começar a ficar sinuosa nada como “meter uma ou duas abaixo” e puxar pelo bicilíndrico.
Os 67 cv não são nenhum valor espectacular mas também não desmerecem. E, se nos deixarmos levar pelo ritmo do encadeamento das curvas em que os travões e as suspensões cumprem muito bem as suas funções, se puxarmos as mudanças para regimes mais elevados, então temos garantidos dois aspectos: divertimento e uma banda sonora agradável a acompanhar! O único aspecto menos bom é a caixa de velocidades que não tem a suavidade e precisão desejadas…ou que a Versys merecia. Os consumos situam-se entre os 4,5 e os 5 litros a cada 100 km, dependendo do ritmo imposto. Por falar em imposto, refiro-me aquele precioso líquido em que 40% é gasolina e 60%…imposto!
Na condução à noite, os faróis (que não são de LED) cumprem a sua função e os auxiliares complementam a preceito. Devo referir que ainda hei-de encontrar uma moto que me satisfaça em condução nocturna neste domínio (sem levar uma parafernália de focos e projectores à frente!), mas se calhar é mania do escriba!Em conclusão
Se a capacidade (ou sagacidade) financeira do potencial comprador o limita na aquisição de uma moto de maiores ambições, se o objectivo é ir estrada fora e fazer quilómetros a perder de vista, então a Kawasaki Versys 650 é uma excelente opção. E a Grand Tourer com o equipamento adicional corresponderá em pleno.
Mas…há sempre um mas! Que neste caso não é exclusivo desta Versys 650 mas também abrange uma outra moto recentemente ensaiada: a V-Strom 650. Ambas as motos foram concebidas já em anos longínquos. Isso significa confiança acrescida sob o ponto de vista da fiabilidade até porque foram sendo sucessivamente actualizadas. E, o facto de ainda serem competitivas neste segmento de mercado, mostra a bondade do conceito inicial e de todo o trabalho desenvolvido desde então.
Mas (lá está o mas!) o “mundo pula e avança” e novos competidores surgem a quererem rivalizar com estas marcas japonesas. Refiro-me obviamente aos vizinhos do outro lado do Mar da China que começam a chegar à Europa com modelos competitivos no capítulo do preço (recordo que as versões experimentadas destas duas motos eram as mais caras e se situam já acima dos 10 mil euros) e que trazem no seu equipamento gadgets que começam a ser norma: ecrãs TFT coloridos, aceleradores electrónicos a permitirem a disponibilização de modos de condução, controlo de tracção reguláveis (a V-Strom tem), vidros facilmente reguláveis (às vezes eléctricos), sistemas keyless, etc. E a preços inferiores aos destas duas motos.
Acresce ainda que as outras marcas japonesas – Honda e Yamaha – optam por não competir directamente mas estão presentes com estratégias diferentes, o que desde logo também abre o leque de opções dos potenciais clientes. E não falei nas europeias.
Estarão a Versys e a V-Strom ultrapassadas? Não. Ainda não. Mas….
Talvez 2022 nos traga novidades. Mas até lá, desfrutemos. E a Kawasaki Versys 650 Grand Tourer teve precisamente esse efeito: fez-me desfrutar da sua condução e não tenho dúvidas que seria uma excelente companhia numas Viagens ao Virar da Esquina!
Ofilmedesta experiência com a Kawasaki Versys 650 Grand Tourer está no canal YouTube de Viagens ao Virar da Esquina.
Agradecimentos
Em primeiro lugar, quero agradecer à Andar de Moto. Pela consideração que têm tido comigo desde sempre, por me darem o privilégio de estar nas suas páginas e pelo convite feito para a realização do comparativo que mencionei no início e que poderão ler na próxima edição da revista, a número 36 e que é a do 3º Aniversário. Não percam!
E também pelo espectacular dia de convívio, naturalmente.
Esse convite deu-me a possibilidade de realizar este ensaio da Versys 650. E também me proporcionou a oportunidade de voltar a testemunhar a simpatia e excelente acolhimento da RameMoto, desde há algum tempo em novas e óptimas instalações que eu ainda não conhecia (um bocadinho fora de mão, mas nada que não se resolva facilmente!) . Estas qualidades são reconhecidas com inteira justiça por toda a comunidade motociclística pelo que é de inteira justiça realçar.
Desde Fevereiro de 2019 até agora, são dois anos a viajar nas páginas da Andar de Moto.
Em 21 etapas, fica aqui o resumo de cada uma delas…ao Virar da Esquina.
Parte 1: In Andar de Moto #33 – Fevereiro de 2021
Ainda o ano de 2019 tinha a placa “Pintado de Fresco” e já o telefone tocava.
Do outro lado do fio (era um telemóvel, mas adoro a expressão!), às 15h previamente combinadas, estava o editor da Andar de Moto. Não nos conhecíamos, mas na sequência da conversa surgiu a pergunta: “será que eu gostaria de partilhar nas páginas da revista algumas das histórias das minhas viagens ao virar da esquina?”. A resposta só podia ser afirmativa.
Gosto de desafios. E no caso era um grande. A minha experiência de contador de histórias de viagens era curta (ainda é). O ano anterior tinha sido “o primeiro do resto da minha vida” e só então tinha aparecido a disponibilidade para dar umas voltas de moto com maior frequência. Partilhá-las tinha surgido naturalmente, primeiro no circulo de amigos e depois, por alturas de Setembro, com o blogue, cujo nome – Viagens ao Virar da Esquina – traduzia o objectivo: dar a conhecer os recantos desta realidade próxima que é Portugal e assim inspirar quem me lesse a ir por aí fora, nos breves momentos que a vida de cada um permite para lá das normais férias.
Apenas 3 meses decorridos mas o suficiente para alguém ter reparado. Vencida a primeira barreira, o vir a público com escritos próprios, surgia novo desafio. Mal sabia eu então, que a viagem já leva 2 anos e a contar…
Até agora, Fevereiro de 2021, são estas as 21 etapas de uma viagem por Portugal, que agora vos conto!
1ª Etapa – Olivença é nossa, dizem…
Fui com um grupo de amigos até Olivença, animados da intenção quixotesca de reconquistar aquela que os espanhóis dizem sua. Pelo caminho, visitámos o interessante e muito original Castelo de Evoramonte, onde foi assinado em Maio de 1834, o tratado que pôs fim à guerra civil entre miguelistas e liberais. Fratricida como qualquer uma, opôs dois irmãos com visões diferentes do mundo: D. Pedro e D. Miguel. Ganhou o primeiro e a História de Portugal conheceu novo rumo.
O poiso seguinte foi em Juromenha e aqui tivemos a primeira grande surpresa: a majestosa fortaleza, a Sentinela do Guadiana, lamentavelmente deixada ao desleixo e incúria de quem dela deveria cuidar. Paisagem lindíssima e uma fortificação que nos seus tempos áureos impunha respeito certamente. Do outro lado, na outra margem do Guadiana, é Espanha. Ou não…
Finalmente chegámos a Olivença. Na fronteira que não devia ser, vimos a ruína da bonita Ponte d’Ajuda, pelos castelhanos rebentada à bomba em mais um dos muitos episódios de “boa” vizinhança de antigamente.
Olivença que Portugal reinvindica por direito desde o Congresso de Viena de 1815, não foi reconquistada. Mas conquistou-me: desde as ruas, com toponímia nas duas línguas, tipicamente estremenhas mas com calçada portuguesa, ao carinho e orgulho que os seus habitantes têm, sendo espanhóis, pela herança lusa. E muitos têm dupla-nacionalidade.
2ª Etapa – Estrada Nacional 2 – Um guia prático
Depois de percorrida a EN2 e antes que chegasse a Primavera, altura ideal para a percorrer, achei que valia passar alguma informação resultante da experiência e do estudo feito na sua preparação.
Havia (e ainda há) muito a fazer nesta estrada que percorre Portugal de norte a sul e une as suas duas metades: o litoral e o interior. Uma espécie de “manual do utilizador” destinado a facilitar a vida aqueles que se propõem fazê-la.
3ª etapa – Um dia na Serra dos Candeeiros
Situada a cerca de 100km a norte de Lisboa, esta serra tem como principais ex-líbris as grutas. Umas bem conhecidas e visitáveis – S. António, Alvados, Mira d’Aire – e muitas outras que o não são, resultantes da formação geológica predominantemente calcária e na qual a água das chuvas encontrou os mais diversos caminhos transformando-a num verdadeiro “queijo suíço”.
Daí também resultaram outros fenómenos com designações um pouco mais estranhas como a Fórnea e o Polje de Minde, que visitámos, num percurso iniciado nas salinas de Rio Maior, passando por Porto de Mós e findo na nascente do Alviela, nos Olhos d’Água.
Desfrutámos também de bons momentos de condução nas estradas que de uma ponta à outra percorrem esses montes, como não poderia deixar de ser.
4ª etapa – Um dia na Arrábida com mistério, crimes, amores e vistas deslumbrantes
Vou com muita frequência à Arrábida. Sítio único, com fantásticas estradas e paisagens deslumbrantes que não me canso de percorrer. Desta vez, aproveitei para cruzar esses dois aspectos com algumas histórias muito curiosas.
O passeio começou na Lagoa de Albufeira com passagem nas praias da zona do Meco e paragem obrigatória no Cabo Espichel. Passei pelo imponente farol e pelo Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mua (a merecer um melhor tratamento por quem vela pelo nosso património).
Depois Sesimbra onde no Castelo desfrutei da magnífica vista para a baía.
Finalmente, Arrábida. Na prática tem duas estradas que a percorrem longitudinalmente: uma que segue junto às praias, desde Setúbal até ao Portinho e outra que percorre a cumeada. Comecei pela primeira e pelas praias: Portinho, Creiro, Coelhos, Galapinhos, Galápos e Figueirinha. Depois, passei o Sanatório – no Forte de Santiago do Outão – e a fábrica do cimento (uma ferida aberta no coração da paisagem).
Um pouco mais à frente, junto a uma pequena enseada, fica o Palácio da Comenda de Monguelas. A sua ruína e as histórias que misturam nobres endinheirados dos loucos anos 20 (do século passado) com retiros de celebridades como a viúva Kennedy e sua irmã, Truman Capote e o que mais não se sabe. E que ainda serviu de cenário para literatura contemporânea. Parece que agora finalmente está a ser recuperado…
A meia encosta encontramos um baluarte, a fortaleza da 7ª Bataria da Artilharia de Costa. O pequeno Forte Velho do Outão (a merecer cuidados, como não podia deixar de ser) com uma vista deslumbrante para Setúbal, Tróia e o estuário do Sado. No exterior ainda podemos ver o que resta de 3 peças de artilharia Vickers de 152mm. E as cassamatas que lhes serviam de apoio.
A viagem prossegue. O enquadramento é espectacular mas a exigir cuidados redobrados que a estrada é sinuosa e íngreme por vezes. Alguns quilómetros à frente, já a descer, temos numa pequena recta um miradouro (dos muitos que a estrada tem) e uma rampa de parapente. No final dessa recta, antes da curva à direita, um local celebrizado no único dos filmes de James Bond passado em Portugal…. segundo consta estava Ao Serviço de Sua Majestade!
5ª etapa – Sobe e desce na Serra da Estrela
O maciço da Estrela é o único pedaço de Portugal em que temos um vislumbre de montanhas a sério. Percorrer as suas estradas é garantia de muitas curvas, contra-curvas e paisagens magníficas. Que por vezes nos fazem sentir a nossa pequenez.
O roteiro escolhido é relativamente simples e foi, desta vez, percorrido em dois dias. No primeiro, com pernoita na Pousada da Juventude das Penhas da Saúde, comecei pela subida da Covilhã até aos Piornos. Aquela onde a inclinação e a sinuosidade melhor se combinam. Depois, pequena descida até ao Covão d’Ametade, onde nasce o Zêzere com a água das muitas fontes do alto da serra. O cenário esmaga-nos com os 3 Cântaros (todos acima dos 1800m): Raso, Magro e Gordo. Dali, a vertiginosa descida pela encosta do vale glaciar até à vila de Manteigas.
Da vila serrana e até às Penhas Douradas, uma subida mais a jeito alpino, com alguns “ganchos”, sempre a ganhar cota até terminar no Vale do Rossim. Continuei viagem em direcção ao Sabugueiro, depois Lagoa Comprida e finalmente, a Torre, onde cumpri um dos objectivos desta viagem: ver o pôr do sol no ponto mais alto de Portugal (continental). Deslumbrante!
No segundo dia, desci até à Covilhã e segui, pelo Tortozendo em direcção a Unhais da Serra. Depois, Alvoco da Serra, Loriga e, antes de Valezim, virei à direita, novamente em direcção à Torre. Fantástica escalada! Estrada recente, bom piso, sinuosa e íngreme, à qual os ciclistas chamam “Adamastor”. Ao epíteto não será estranha a inclinação: cerca de 1/3 da subida a 14% é obra…. e o resto não baixa dos 9%!
Cheguei perto da Torre mas não voltei lá. Desci de novo à Covilhã e …era tempo de regresso.
6ª etapa – Virámos a esquina e fomos até ao Lago Azul
A albufeira de Castelo de Bode – o Lago Azul – situa-se mesmo a meio de Portugal, e a barragem trava o percurso do Zêzere (cuja nascente vimos na etapa anterior) quase junto à foz onde se dissolve no Tejo.
Circundámos a albufeira, visitámos algumas das suas praias fluviais: Aldeia do Mato, Trízio, Alcanim e Castanheira (também chamada de Lago Azul…).
Detive-mo-nos na templária Dornes, com a sua original torre de planta pentagonal. Povoação que está presente na História de Portugal desde o seu nascimento, passando pela Lenda de Nª Sª do Pranto, até aos alvores do republicanismo. Ali perto, em Carril, na Sociedade Filamónica Carrilense, foi tocado pela primeira vez “A Portuguesa” de Keil do Amaral, no ano de 1890. Vinte anos depois passaria a ser o Hino Nacional.
As estradas que rodeiam a albufeira são excelentes para a prática do mototurismo. Foram elas que também nos levaram até ao Picoto da Melriça e ao Penedo Furado, alternando paisagens magníficas do plano de água com outras de vegetação exuberante.
7ª etapa – Brotas, o segredo escondido do Alentejo
Quem diria que, perdida no meio do Alentejo, meia dúzia de quilómetros antes do célebre km500 da EN2, entre Mora e Montemor-o Novo, fica uma pequena vila, outrora sede de concelho e onde desde os idos de 1400 se professa a fé em Nossa Senhora? Muitos anos, séculos, antes de Fátima!
A aparição e o milagre da Nª Sª de Brotas aí fizeram nascer o bonito e singelo Santuário.
Uma fé que fez com que a terra recebesse confrarias de romeiros que aí vinham prestar o seu culto a Maria. Aí construíram as chamadas Casas de Romaria (que hoje estão muito bem recuperadas e adaptadas ao turismo rural). E levaram o culto consigo nos Descobrimentos, razão pelo qual ele se estende às mais longínquas paragens da diáspora lusitana.
Nas imediações, a justificar um passeio pelas calmas estradas alentejanas, Mora – o Fluviário e o Parque Ecológico do Gameiro ou o Cromeleque do Monte das Fontaínhas Velhas – Pavia e Arraiolos, com o seu típico castelo de muralha circular e o património cultural das Tapeçarias, merecem também uma visita.
8ª etapa – Atouguia da Baleia – quando o mar recua
Chamava-se Tauria e foi, por alturas da fundação da nacionalidade, um importante porto de abrigo na baía da S. Domingos. Fruto do assoreamento e do recuo do mar, hoje as ondas situam-se a alguns quilómetros a poente. Do porto resta a memória e S. Domingos é o nome da pequena ribeira que por ali passa. À época, Peniche e Baleal eram ilhas…
De Tauria (porque era terra de muitos touros bravios) se foi, com o correr dos tempos, passando a Atouguia. E a baleia surgiu porque, segundo reza a lenda, um enorme cetáceo com cerca de 15 metros, ali perto terá dado à costa. Na Igreja de S. Lourenço, que também tem história curiosa até pelo facto de este não ser santo de devoção habitual no nosso País, está uma costela petrificada que seria, diz a lenda, dessa baleia.
S. Leonardo era um nobre gaulês do Séc V que dedicou a sua vida a Cristo. Santo de devoção por aquelas paragens, era o padroeiro de navio que alguns séculos depois por ali passou. Forte tempestade os fez buscar abrigo na baía de S. Domingos. Vieram a terra e por aí ficaram até que a borrasca passasse. Só que, cada vez que o temporal acalmava e se tentavam lançar ao mar…logo a intempérie recrudescia e os obrigava a recolher ao abrigo. De tal forma foi, que por ali ficaram definitivamente….
E na Atouguia também nos cruzamos com a história trágica de Pedro e Inês (Séc XIV).
Consta que por aqui procuraram refúgio. D.Pedro no Paço da Serra da Atouguia que por tal se veio a chamar mais tarde Serra d’El Rei. O Paço ainda lá está, como testemunho. E D. Inês em Coimbrã (talvez pelo facto dos apaixonados virem de Coimbra), logo ali ao lado da Atouguia.
Peniche é visita obrigatória. Imperdíveis são o Cabo Carvoeiro e a Papôa, onde o mar e o vento teceram curiosas esculturas.
Mais à frente, o típico e bonito Baleal. Depois, a caminho da Lagoa de Óbidos, as praias D’El Rei e do Cortiço.
Finalmente, Óbidos, a vila literária. Perdermo-nos nas suas ruas e nas ameias do castelo é vivermos um regresso à idade medieval.
9ª etapa – A globalização começou na EN2
Como é que um termo tão característico do Séc XXI estará relacionado com a Estrada Nacional 2?
Porque a verdadeira globalização, aquela que deu a conhecer “novos mundos ao mundo”, teve um marco fundamental na forma como se desenvolveu, por algo que ocorreu em 1479….na vila alentejana de Alcáçovas!
Aqui foi celebrado entre as coroas Portuguesas e Castelhana, no recém restaurado Paço dos Henriques, um tratado que nas suas disposições estabelecia as bases para a divisão do mundo entre os dois países. Essa divisão seria finalmente consagrada na versão definitiva em Tordesilhas. Mas sem Alcáçovas, este não teria existido.
O Tratado de Alcáçovas foi também fundamental porque veio por termo a uma crise na sucessão da Coroa de Castela, permitindo o casamento entre Isabel de Castela e Fernando de Aragão, mais tarde conhecidos como Reis Católicos, e que iria resultar na união de estados que originou Espanha.
E Alcáçovas fica na Estrada Nacional 2! Ou seja, a globalização começou ali, na EN2.
10ª etapa – Pelos caminhos de Ibn Darraj al-Qastalli
O período da nossa história que antecede a Reconquista Cristã e a fundação de Portugal está um pouco escondido na penumbra dos tempos. Durante cerca de 8 séculos, os muçulmanos permaneceram na Península Ibérica. No território que agora é Portugal foram cerca de 400 anos…impossível não terem deixado uma forte herança, da qual a maioria das palavras do vocabulário começadas pelo prefixo “Al” não será a menor das evidências. Afinal…era o Al- Andaluz! Mas vai muito para lá disso.
Nesses tempos, o culto das letras era muito forte. E um dos principais poetas muçulmanos dessa época foi Ibn Darraj al-Qastalli. Nasceu no ano de 958 e chamaram-lhe Ibn Darraj. Por ter nascido em Cacela lhe deram o apelido de al-Qastalli.
Cacela Velha foi pois o destino! Situada à beira da Ria Formosa, perto de Tavira, a sua fundação perde-se na memória dos tempos. Seria certamente terra de passagem de comerciantes – gregos, fenícios – ou alvo de pilhagens de piratas que atacavam esta costa. Os romanos reconheceram-lhe importância mas foi com os muçulmanos que atingiu o seu apogeu, principalmente no Séc X e chamar-se-ia Hishn Kastala, Qastallat Dararsh, Cacetalate ou Cacila (donde virá o actual Cacela).
Foi conquistada pelos Cristãos em 1240 e teve foral outorgado por D. Dinis em 1283. Muito destruída pelo Terramoto de 1755, deixou de ser sede de concelho nessa época.
Ibn Darraj tinha tal prestígio que integrava a corte na qualidade de poeta oficial e escritor redactor do Estado Califal do poderoso Almançor pelos finais do Séc X. Percorreu os domínios árabes da Península Ibérica e veio a morrer em 1030, tendo deixado vasta obra que abrange 3 períodos fundamentais da história do Al-Andalus: o esplendor do Estado Califal, a guerra civil que se lhe seguiu e o período dos reinos taifas. Foi um dos grandes viajantes medievais do Gharb al-Andalus devido à posição que ocupava na Corte, relatando, através da sua escrita, as adversidades e dificuldades que enfrentara ao viajar. A sua memória está bem presente em Cacela.
Cacela Velha está edificada no cimo de uma pequena arriba fóssil, antiga de 1 milhão de anos, que domina este extremo da Ria Formosa e está separada da ondulação do mar pela ilha-barreira que nos dá uma praia maravilhosa.
Destaca-se a pequena fortaleza e as muralhas que albergam no seu interior meia-dúzia de casas, uma igreja, um poço e uma riquíssima história. Que mais do que batalhas passadas recorda sim um passado e presente intimamente ligado à poesia. Talvez a beleza da paisagem seja a inspiração….
Muito mais recentes são as presenças de Sophia de Mello Breyner Andresen ou Eugénio de Andrade entre muitos outros.
Uma pequena localidade mas que serviu e serve de alfobre de inspiração para poetas que por sua vez, também a consagram. É possível observar em muitas das paredes, azulejos com poemas a ela dedicados e que evocam esta fonte de inspiração.
11ª etapa – EN 124 – A outra estrada do Algarve
Todos conhecemos ou já ouvimos falar da famigerada Nacional 125, no Algarve. Uma estrada nacional que é, na grande maioria do seu trajecto uma via urbana, perigosa nas suas armadilhas e lenta para quem pretende deslocar-se com maior celeridade.
Mas, no Algarve existe uma outra estrada. que a antecede na numeração do Plano Rodoviário: a EN124.
E foi esta que percorri. Formalmente começa em Portimão e termina a meia dúzia de quilómetros de Alcoutim no outro extremo do Algarve. Resolvi alargar um pouco o âmbito: iniciei a jornada na Praia da Rocha e terminei-a novamente junto ao mar, no local mais a sudeste de Portugal: na Ponta da Areia em Vila Real de Santo António.
Da Praia da Rocha rumei a norte até Silves. Daqui, a nossa EN124 vira para poente e começa a ser um pouco mais interessante. Vamos-nos progressivamente afastando do Algarve turístico e entramos no Algarve rural.
Até S. Bartolomeu de Messines a estrada, sob o ponto de vista de condução, não nos desafia. Mas a partir de Alte, entramos na Serra do Caldeirão e a partir daí, outro mundo surge aos nossos olhos.
À nossa frente uma estrada em bom estado, com pouco movimento, numa sucessão quase infinita de curvas e contra-curvas. São cerca de 90 km de puro deleite. Que não se esgotam no prazer motociclístico. Porque a paisagem do Barrocal Algarvio é deslumbrante. Quando paramos, o silêncio é quase absoluto. Digo quase, porque a natureza tem o seu fundo musical.
Antes de Alcoutim, em Pereiro, encontrei uma tradicional feira, com os seus vendedores de banha-da- cobra, as tendas de atoalhados ou de especialidades típicas, as barracas das bifanas… Era a feira de S. Rafael, o nosso padroeiro. Não podia ser melhor!
Alcoutim marca o final da EN124 (na verdade termina 8km antes). À nossa frente, o Guadiana e a espanhola San Lúcar de Guadiana.
Virei para sul em direcção ao final da jornada. Esperava-me a Marginal do Guadiana. Uma estrada municipal que vai de Alcoutim até um pouco abaixo de Odeleite. Sempre junto à margem direita do rio que aqui se começa a espraiar. Passo o Montinho das Laranjeiras, Guerreiros do Rio e Foz do Odeleite. e finalmente a EN122 por Castro Marim até Vila Real.
A Ponta da Areia é só um pouco mais adiante, depois de passado o farol mais oriental de Portugal. Dali em frente, só água: ou a foz do Guadiana e Ayamonte ou o Atlântico com sabor a Mediterrâneo.
(Continua…)
Estas foram as 11 primeiras etapas da minha viagem de 2 anos a Andar de Moto, publicadas no número de Fevereiro da “Andar de Moto”.
Parte 2: in Andar de Moto #34 – Março de 2021
Recordo que (no mês passado) terminei a primeira parte desta viagem de 2 anos, no extremo sudoeste de Portugal. Dali…só por água: para Espanha cruzando a foz do Guadiana ou então, perder-me nas águas do Atlântico, quem sabe para onde…
De moto não tinha saída. Regressei….
12ª Etapa – Pelos caminhos do Alto Tejo
Lembram-se do Major Alvega das revistas de aventuras aos quadradinhos? E da posterior série televisiva? Os mais velhos certamente. Pois este percurso começa na vila de Alvega (que inspirou o nome português daquele herói imaginário), situada nas margens do Tejo alguns quilómetros acima de Abrantes. É aqui que o leito do rio se começa a alargar.
Pois a ideia é percorrer as margens para montante, quase até Espanha.
Pouco depois de Alvega, atravesso o Tejo pelo paredão da Barragem de Belver. Logo a seguir, passo pela praia fluvial de Ortiga. Não é a única nesta albufeira. Mais à frente a vila que lhe dá nome: Belver.
Com o seu castelo medieval imponente no monte fronteiro ao casario, com facilidade descortinamos a sua importância noutras era. Na outra margem, a praia fluvial do Alamal. Recanto magnífico, muito aprazível em alturas estivais (que por aqui quando faz calor, faz mesmo). Atravesso a ponte metálica a caminho de Gavião. Um pequeno percurso mas com umas curvas simpáticas. Até Nisa a estrada (EN118) não tem história…rectas e bom piso. Um bom aperitivo para o troço de 18km que une Nisa, a última do Alentejo, a Vila Velha de Ródão, a primeira da Beira Baixa. Puro deleite motociclístico.
Última travessia do Tejo e oportunidade para olhar para o monumento natural das Portas de Ródão. magnífico! No topo da encosta, uma singela torre, mas com uma lenda antiquíssima que nos remete para o tempo dos Visigodos: é o Castelo do Rei Wamba.
13ª Etapa – Borba, a filha alentejana de um deus menor
O título deixa antever o desfavor que brinda esta terra alentejana: a sua mais pequena cidade. Borba.
Fui até lá pelo caminho mais longo: passei por Mora, Pavia, Vimieiro…detive-me a contemplar de longe o Castelo de Evoramonte (chovia e já lá tinha estado quando fui até Olivença – ver a história da 1ª etapa). Passei pelo Redondo e detive-me no Alandroal. Interessante vila, tipicamente alentejana e com um Castelo a merecer visita (e melhor conservação…mas já vi muito pior). Regressei a Juromenha. A Sentinela do Guadiana deixou-me maravilhado mais uma vez (rever a 1ª etapa desta viagem de 2 anos). Daqui fiz finalmente agulha para o meu destino.
Borba fica a 3 quilómetros da Princesa do Alentejo: Vila Viçosa. E essa é também a sua desdita. Porque parece que tudo de bom ficou na vila, hoje cidade, da Casa de Bragança e da Santa Padroeira de Portugal, Nª Sª da Conceição. Conta-se que Borba tem uma fonte…apenas porque já não cabia em Vila Viçosa….
Em Vila Viçosa, são imperdíveis o Paço Ducal – magnífico e a justificar a visita guiada: uma lição de História de Portugal! – o Castelo, a Igreja de Nª Sª da Conceição. E as ruas da bonita terra alentejana.
Borba perde em beleza para a sua vizinha. Casario típico da região e recorte urbanístico que deixa antever a sua ancestralidade: foi tomada aos Mouros em 1217. E se da vila pouco mais há a destacar, a não ser a excelência dos seus mármores (mas cujo contraste é evidente na terra esventrada e nos montes de escória resultantes da extracção da preciosa pedra), daqui levei a gratidão da forma como fui acolhido na Casa do Terreiro do Poço e dos amigos que aí fiz.
O regresso foi por Estremoz e Évora. Em ambas não me detive. terminei o périplo no Cromeleque dos Almendres, monumento pré-histórico que pede meças em antiguidade ao famoso Stonehenge inglês.
14ª Etapa – Para lá do virar da esquina, a lenda das duas chaves
Por duas vezes estive em Chaves. Em ambas para no dia seguinte me lançar estrada abaixo pela EN2. Pouco tempo para desfrutar da cidade mas suficiente ainda assim, no somatório das duas, para absorver a sua ancestralidade, os seus monumentos e o ser das suas gentes.
Há um monumento em particular que é um dos meus favoritos em Portugal e que não me canso de contemplar: a Ponte de Trajano. Construida pelos Romanos no século I da nossa era, reparada e restaurada ao longo do tempo, aí está ela: formosa e segura! E ao serviço… dois mil anos depois. Obra magnífica.
Percorridas as suas ruas, tive a oportunidade de ver a cidade na sua amplitude do bonito Miradouro situado num monte que a protege do lado nascente. Vista fantástica.
Denominada Acqua Flaviae pelos Romanos graças à excelência medicinal das suas águas – algo que os Romanos prezavam e cultivavam – foi nessa época que se passaram os factos (serão factos?…acreditemos nisso) que deram origem à Lenda das Duas Chaves e mais tarde deram nome à cidade: as chaves da Saúde e do Amor.
15ª Etapa – A lenda das duas caras
Visitar Guimarães é um desafio se a quisermos descrever sem cair nos clichés habituais do “berço da nacionalidade” ou das desavenças entre D. Afonso Henriques e sua mãe. Sem dúvida que foi a primeira capital de Portugal. Fundamental na fundação da Nacionalidade e preponderante na Reconquista Cristã.
Para evidenciar esse riquíssimo passado, lá estão o magnífico e imponente Castelo, a Igreja de S. Miguel onde o nosso primeiro rei foi baptizado, ou logo ao lado o majestoso Paço dos Duques de Bragança (construído no Séc. XV e único na Península sob o ponto de vista arquitectónico), Percorrer as ruas que descem do Castelo, com um casario típico e bem conservado é ter a certeza de estarmos a percorrer os caminhos da nossa História.
Mas a história que me atraiu a Guimarães foi outra: a do Guimarães das Duas Caras!
No Largo da Oliveira, ponto fulcral do Centro Histórico de Guimarães, com uma secular oliveira que lhe dá o nome e um monumento gótico celebrando a vitória na Batalha do Salado. Atrás deste a Igreja de Nª Sª da Colegiada (ou da Oliveira). Do outro lado, o edifício medieval dos antigos Paços do Concelho onde, no cimo da sua fachada principal, figura a curiosa estátua de um personagem com uma característica única: tem duas caras. Uma, no local natural e uma outra no abdomén! É o Guimarães das Duas Caras.
A história, ou lenda, remonta aos tempos de D. Sebastião e da Batalha de Alcácer Quibir. E dessa fatídica ocorrência veio a nascer a lenda de um natural desta terra, que curiosamente lhe levaria o nome (ou a alcunha), da sua fuga e regresso à terra natal numa aventura de múltiplas peripécias e que, presumo, tenha vindo a originar a famosa expressão “tem o Rei na barriga”.
Curioso? A lenda está contada com todos os detalhes na edição de Julho de 2020.
E se não perdi a oportunidade de ver um espectacular pôr-do-sol na Penha, também trouxe a memória da pernoita na Casa do Ribeiro. Magnífico solar tipicamente minhoto, bem conservado graças aos seus proprietários que foram os meus anfitriões. O serão em amena conversa foi excelente e enriquecedor. A deixar saudades, sem dúvida.
16ª Etapa – Fui andar de carrossel
Recordam-se daqueles carrosséis das feiras, que giram e giram, num sobe e desce como se tivessem uma ondulação? Com cavalos e motos, carros de bombeiros e carruagens? Normalmente têm uns caldeiros onde cabem algumas pessoas e rodam sobre o seu próprio eixo, para a direita e para esquerda, à medida que o carrossel evolui. Essa foi a inspiração para esta volta.
Diz-se habitualmente que o Alentejo é plano. E que as estradas são monotonamente a direito. É verdade. Na sua essência assim é. Mas não há regra que não tenha as suas excepções. Uma delas é certamente a zona que percorri e um conjunto de estradas que nos permitem fazer de seguida, cerca de 70km de curvas e contra-curvas, para a direita e para a esquerda, em sobe e desce permanente. Recordam-se do carrossel?
A viagem começou em Alcácer do Sal. A marginal desta cidade da margem direita do Sado é lugar aprazível para começar estas digressões. O cafézinho matinal numa esplanada com aquele enquadramento é excelente para marcar o início de qualquer jornada.
Daí, em direcção à Comporta, a primeira paragem no Cais Palafítico da Carrasqueira e a oportunidade para ver como o engenho humano resolve os seus problemas, tantas vezes da forma mais simples. E a paisagem…deslumbrante: o estuário do Rio Sado, estreitado entre Tróia e Setúbal com a Arrábida em pano de fundo. Imperdível.
Segui até Melides para “apanhar” o Carrossel Alentejano: a estrada que dali me levou até Grândola (EN261-2) e daqui até Santiago do Cacém (EN120) atravessa e volta a atravessar a Serra de Grândola. Depois, na mesma EN120, a Serra do Cercal até à pequena povoação de Sonega, foi a continuação deste trajecto sinuoso e um verdadeiro deleite de condução. Verdade se diga que a novíssima Suzuki V-Strom 1050XT foi a companhia ideal.
Acabado o festim…rumei em direcção ao litoral. Era agora tempo de reviver algumas reminiscências deste pedaço de território onde vivi a minha infância: Porto Côvo, S.Torpes, Sines, Lagoas de Santo André e Melides.
Vivi até à adolescência em Grândola e estas foram as praias onde passei férias tantas vezes. Obviamente que o terreno desta volta não me era desconhecido. Pelo contrário…mas já não o percorria há muitos, muitos anos. Foi bom voltar.
17ª Etapa – Uma viagem às arrecuas do tempo
Se na etapa passada regressei ao Alentejo da minha infância, nesta continuei por estas terras mas do outro lado, junto à fronteira e mais para norte. Por onde costumo andar mais frequentemente nas últimas décadas.
Porquê uma viagem às arrecuas do tempo? Pelas simples razão que a minha primeira paragem foi em Castelo de Vide. E aí, naquela a que chamam Sintra do Alentejo (o que eu detesto estas fórmulas! Sintra é Sintra. Para mais inigualável. Castelo de Vide não precisa de comparativo. tem personalidade, beleza, ancestralidade própria. O mesmo raciocínio se aplica a muitos outros locais…minimizam-se porque acabam por ser entendidos como segunda escolha.Adiante!). Neste caso o responsável do epíteto foi D. Pedro V. Palavra de El-Rei!
Aqui recordei Gonçalo Eanes de Abreu, distinto membro da Ala dos Namorados de D. Nuno àlvares Pereira, na Batalha de Aljubarrota. Falei do passado judaico de Castelo de Vide, que se projectou até à actualidade e de Garcia de Orta, filho de judeus e distinto médico do início do Séc. XVI. Outros filhos da terra mencionados foram Mouzinho da Silveira, político e jurisconsulto do Séc. XIX e Fernando Salgueiro Maia, militar do 25 de Abril.
De Castelo de Vide, rumei a Marvão. Pela famosa estrada (EN246-1) em que as “árvores estão de cuecas” no prosaico dizer das gentes daqui.
Situada no cimo de imponente escarpa da Serra do Sapoio, a 900m de altitude, é impressionante guardiã destas terras. E certamente foi um baluarte na defesa destes territórios ao longo dos séculos mais remotos.
Ou seja, ao visitar Marvão, andamos para trás no tempo relativamente a Castelo de Vide.
Nos tempos do Romanos fez parte da estrutura defensiva da vizinha cidade de Ammaia e na época do domínio mouro atingiu maior relevo. Terá sido Ibne Maruane, líder militar e religioso sufista do Al Andalus, que deu nome à vila de Marvão (Marvão pela aliteração do seu nome Maruane), cujo castelo construiu entre 876 e 877.
Na Reconquista, seria tomada e perdida aos Mouros. No início do Séc. XIII já portuguesa recebeu foral em 1226 outorgado por D. Sancho II. A pequena e bem conservada vila está integralmente situda no interior das muralhas.
Marvão – Castelo e Jardim
E é das ameias desta que podemos vislumbrar o horizonte. É uma visão deslumbrante, qualquer que seja a época do ano. Dada a altura a que estamos, dizem que daí “podemos ver as águias de costas”. Não foi desta vez…mas confirmo!
Saí de Marvão e continuei a viagem às arrecuas. Ainda mais para trás no tempo.
Fui até às ruínas da cidade romana de Ammaia. Ficam em S. Salvador da Aramenha, meia dúzia de quilómetros a sul de Marvão. Foi nesse tempo um importante núcleo, situado no trajecto entre Emérita Augusta (a espanhola Mérida na designação actual) e os mais importantes locais no território mais ocidental onde hoje se situa o nosso País. Fundada no Séc. I, teve o seu apogeu nos tempos seguintes, entrando em declínio por volta do Séc. V. Depois, foi sendo sucessivamente saqueada. Perdida no tempo e soterrada, só mais recentemente veio a ser alvo de escavações que a pouco e pouco no vão trazendo a memória do seu brilhantismo…há 2000 mil anos.
Comecei na actualidade e fui até ao Séc. XV em Castelo de Vide. Em Marvão se fala da herança moura e da Reconquista Cristã. Na Ammaia, recorda-se o nosso passado civilizacional com os Romanos. Andei às arrecuas do tempo.
18ª Etapa – Do Cabo à Póvoa pelas Aldeias Avieiras
Esta etapa é um regresso ao Rio Tejo. Em concreto a algo que é do mais típico que nas suas margens podemos encontrar: as aldeias avieiras.
Nas primeiras décadas do Séc. XX, os pescadores de Vieira de Leiria, pela impossibilidade de se fazerem ao mar no Inverno, migravam para a lezíria do Tejo e prosseguiam a sua faina por aqui. Se no início, essas migrações eram sazonais, muitos foram por aqui ficando. Por outro lado, as habituais cheias do Tejo, obrigavam a que recorressem a cais palafíticos e as casas onde residiam ficassem também sobre estacaria. Daí a sua muito típica construção em várias aldeias que podemos encontrar de um e outro lado do Tejo. Desde as imediações de Lisboa até um pouco para lá de Santarém. E avieiras pela origem desses migrantes: vinham de Vieira.
Começámos a jornada, no Cabo, defronte de Vila Franca de Xira, onde antigamente (antes de 1951) se fazia a travessia do rio em embarcações denominadas “gasolinos”. Prossegui e em Salvaterra de Magos, fiz breve visita à Falcoaria Real com a promessa de lá voltar com mais tempo.
Dali, passei no Bico da Goiva onde começa a Vala Real de Salvaterra e pela Praia Doce. Nome simpático o desta praia fluvial. Depois detive-me no Escaroupim. Talvez a mais conhecida das Aldeias Avieiras.
Prossegui o caminho e detive-me em Muge. Paragem obrigatória para reabastecimento nas bifanas do Silas. Aqui fica a Casa de Cadaval e pude ainda ver uma pequena ponte romana votada quase ao esquecimento. Porto de Sabugueiro foi a aldeia avieira seguinte.
Regressei a Muge e passei para a margem direita pela centenária Ponte Rainha D. Amélia.
Seguiu-se Valada do Ribatejo, famosa pela sua resistência habitual às cheias do Tejo. Muito aprazível a zona ribeirinha com pequeno ancoradouro e um parque de merendas agradável com árvores frondosas propiciadoras de sombras convidativas em dias de maior canícula. Tranquilidade absoluta por aqui.
De Valada visitei sucessivamente Palhota – onde viveu Alves Redol que bem descreveu a vida destas gentes e onde foi realizado em 1975 o documentário “Avieiros” – e Porto da Palha, situada na Quinta do Lezirão.
Mais à frente, a praia fluvial da Casa Branca. Ou melhor, o que dela resta, pois está votada ao abandono. Também ao abandono e em ruínas está, um pouco mais à frente, o Palácio das Obras Novas (nome irónico!).
Atravessei a Vara Real da Azambuja e passada esta terra ribatejana, o destino final ficava no Bairro dos Pescadores junto à Póvoa de S. Iria. Apenas para recordar o antigo cais palafítico que recentes obras de “melhoramentos” eliminaram, perdendo-se essas memórias.
19ª Etapa – Romeiro, Romeiro, quem és tu?…Ninguém!
Esta jornada é sobre uma estrada: a Estrada Nacional 10, que percorri. Porquê esta estrada em especial? Ela começa em Cacilhas e termina, do outro lado da capital, em Sacavém. Ou seja, faz um percurso circular pela Península de Setúbal, vai atravessar o Tejo em Vial Franca de Xira e depois regressa a Lisboa em percurso paralelo ao rio. Sempre achei curioso estar numa fila para entrar em Lisboa, na margem sul e ouvir dizer na rádio, que também havia fila a norte…na EN10, a mesma estrada e por onde eu tinha vindo.
Visitei Cacilhas e o cais onde ainda me recordo de apanhar o barco para Lisboa (em miúdo, daí vi a construção da Ponte 25 de Abril). Foi aqui que encontrei a inspiração para o título: no Frei Luis de Sousa de Almeida Garrett, é aí que se situa o Palácio de D. João de Portugal, aonde este regressa depois de 20 anos de cativeiro resultante da derrota em Alcácer Quibir (isto passa-se em 1600). E aí é feita a célebre pergunta….
Depois segui com um pequeno desvio até à Ponta dos Corvos, defronte do Seixal. aí fica também a ruína da fábrica de secagem de bacalhau Atlântica. Reminiscências de uma indústria quase desaparecida. Como também tinha visto anteriormente ao passar no que resta da Lisnave.
Tempo ainda para breve visita ao Moinho de Marés de Corroios.
Segui em direcção a Azeitão, com a Arrábida a ganhar dimensão no cenário. Em Setúbal, subi à Fortaleza de S. Filipe (Pousada) para usufruir da vista espectacular para a cidade de Bocage, o estuário do Sado e a Península de Tróia.
Até à Marateca segui rumo a nascente e ainda passei pelo Moinho de Marés de Mouriscas. Aí inflecti para norte, sempre seguindo a EN10.
Visitei S. Isidro de Pegões, local de interessante obra de colonização interna promovida nos anos 50 do século passado.
Novamente na EN10, passei sucessivamente Samora Correia, Porto Alto e entrei em Vila Franca pela Ponte Marechal Carmona. Subi ao Monte Gordo para apreciar a ampla vista da lezíria ribatejana, com a cidade aos pés.
Depois de Vila Franca, à saída de Alhandra, um pequeno desvio: subi durante cerca de 1 km, e num frondoso parque com uma vista magnífica, imponente monumento aos Heróis das Linhas de Torres.
Pouco mais adiante, no Sobralinho, oportunidade para visitar o Palácio e Parque que leva o nome da terra.
E Sacavém estava logo ali a seguir. O final da EN10. Uma estrada que acaba quase onde começou
20 – As estradas esquecidas da Beira Baixa
Vivi 2 anos em Castelo Branco. Todavia esta volta é por uma zona que não conhecia. E que pelo que apreciei, está quase votada ao esquecimento. Se as modernas auto estradas rasgam a paisagem, conseguem ter quase o mesmo efeito na coesão do território. Quem por lá passa em alta velocidade busca o destino e nem se apercebe da realidade que, neste caso, vai da A-23 até à fronteira com Espanha.
Comecei em Vila Velha de Ródão depois do aquecimento no troço da EN18 que percorre a Serra de Nisa.
Como sempre, parei na ponte defronte das Portas de Ródão. Daí, até à primeira paragem, em Malpica do Tejo, passei por Perais, Alfrivida e pela Ponte de Lenticais (com um muito bonito parque de merendas ao seu lado).
Em Malpica tentei aceder ao seu porto fluvial…mas a estrada estava cortada. Não percebi… Voltei para trás e tive um “encontro imediato”…
A partir daqui, estava a percorrer o Parque Natural do Tejo Internacional (a margem esquerda do rio nesta zona, pertence a Espanha). Próxima paragem, Monforte da Beira e depois rumo ao Rosmaninhal. Se olharmos para o mapa percebemos o recanto do nosso País onde estava. Esta terra foi sede de concelho entre 1510 e 1836.
Era tempo de rumar a norte. O destino era Termas de Monfortinho. Até lá chegar passei por Zebreira.
As Termas ficam mesmo junto a Espanha (separada aliás por um pequeno rio, quase à distância de um salto…mas não vale a pena. É só atravessar a ponte!). Conhecidas pelos Romanos, nunca chegaram a conhecer o esplendor de outros locais termais devido à dificuldade de acessos. Tempos houve, não muito para trás, que este era um destino remoto.
Das Termas saí em direcção a duas terras que são bem conhecidas: Penha Garcia e Monsanto. Com características diferentes mas são parecidas por ficarem ambas no cimo de montes e rodeadas do agreste de formações rochosas graníticas com formatos que a erosão do tempo esculpiu. Não é por acaso que são presença frequentes em promoções turísticas pois a beleza agreste destas terras deixa-nos reduzidos à nossa pequena dimensão
Terminei o percurso na antiquíssima Idanha-a-Velha. Fundada no Séc I aC à época do Imperador Augusto. Segundo algumas teorias, terá sido aqui que, em 305, terá nascido o Papa Dâmaso I. Mais tarde, conheceu grande esplendor na época visigótica. Os Mouros arrasaram-na em 713. Foi definitivamente conquistada por D. Sancho I.
Terras esquecidas estas. A que a situação sanitária ainda mais agrava. Locais houve onde passei que não se via vivalma. E a que encontrei olhava-me como se questionasse “o que anda este aqui a fazer”. Se calhar, com razão….
21 – A demanda pela Esperança
O mote foi tentar encontrar (simbolicamente, claro) algo que no presente é fundamental para todos: Esperança.
Serviu para completar uma zona ainda por desvendar nestas minhas viagens ao virar da esquina. Portalegre e, naturalmente visitar uma pequena povoação que tem esse nome tão grande: Esperança.
A cidade do norte alentejano, que se espalha a meia encosta da Serra de S. Mamede, tem um belíssimo enquadramento paisagístico. E percorrer as ruas do seu centro histórico é um bom exercício físico. Ora se sobe, ora se desce, em ruas de empedrado por vezes irregular. As 4 torres que restam do Castelo marcam a linha do horizonte bem como a imponente Sé em estilo maneirista. Muito bonita.
Quando entramos em Portalegre, todos os caminhos vão dar ao Rossio. É aqui o coração da cidade. E também onde fica o imponente e secular plátano (considerado a mais bela árvore de Portugal em 2020) que marca o inicio do agradável Jardim do Tarro. O Museu das Tapeçarias é um marco a merecer entrada noutra época em que possamos visitar estes espaços.
Depois do périplo por Portalegre, era tempo de prosseguir na minha demanda. A rumo foi em direcção a Arronches. Pequena vila sede de concelho e que faz fronteira com Espanha, tem o ponto central no largo onde se situam os Paços do Concelho, a Igreja Matriz e a Igreja da Misericórdia, cada uma com a sua torre que marcam de forma distinta o recorte urbano de Arronches. E Esperança estava perto…
Efectivamente, a pequena aldeia sede de freguesia, fica a meia dúzia de quilómetros em direcção ao país vizinho. Pouco tem a registar para lá do seu nome e do facto de quase parecer deserta.
A demanda estava concluída. Mas sabia que ali perto ficava uma ponte muito curiosa. Tão curiosa que é considerada a mais pequena ponte internacional do mundo. Une duas povoações de nome igual em diferentes línguas: Marco do lado de cá do Arroyo Abrilongo (o pequeno ribeiro que as separa e faz fronteira) e El Marco do lado de lá.
Antes de regressar, voltei a Esperança e fiz um pequeno desvio para visitar as pinturas rupestres da Lapa dos Gaivões. Foi a forma perfeita para terminar esta jornada…em demanda da Esperança.
E foi com pinturas rupestres terminei esta fase de 2 anos da minha viagem a Andar de Moto. Espero que tenham gostado e que estas voltas e reviravoltas ao virar da esquina possam servir para vos inspirar a melhor conhecer os recantos deste nosso País. Afinal, as aventuras são onde nós quisermos que sejam. Assim possamos rapidamente ultrapassar os constrangimentos que nos prendem e possamos dar asas à liberdade.
Para terminar, porque a segunda metade destes dois anos foi passada num enquadramento pouco propício, devo salientar que todas as viagens realizadas durante este período foram feitas em estrita obediência às regras sanitárias e de mobilidade vigentes ao momento.
Estas foram as 10 restantes etapas da minha viagem de 2 anos a Andar de Moto, publicadas no número de Março da “Andar de Moto”.
O meu desejo é que possamos continuar estas Viagens ao Virar da Esquina convosco.
Entretanto, podem ler as histórias completas que estão à vossa disposição no site da Andar de Moto. Se quiserem começar pela primeira é só seguir o link (as restantes estão lá também):
Ao longo de 148 páginas, todos os artigos publicados na imprensa ao longo de 2 anos, desde Novembro de 2018 até Setembro de 2020, compilados no formato de livro digital.
Um convite a rever 2 anos de passeios com muitas fotos e outras tantas histórias com que me fui cruzando…ao virar da esquina.
Deverá estar ligado para publicar um comentário.