Pernoitar num dos Solares de Portugal é usufruir da calorosa hospitalidade e boas–vindas, que são uma arte das famílias portuguesas. É também conviver com um património rico em história e cultura e com uma secular tradição que os donos das casas partilham com os seus hóspedes, de modo cortês e simples.
Desde a primeira hora, os Solares de Portugal, acompanham e apoiam o projecto Viagens ao Virar da Esquina.
No ano passado visitei 4 dos mais de 120 alojamentos espalhados pelo território nacional e, em 2020, apenas acrescentei mais 2 a essa lista por força da situação que vivemos.
Os Solares de Portugal possuem no seu portfolio mansões, solares, quintas e casas dispersos por todo o território nacional, que estão disponíveis para quem nelas se queira acolher. Fazem parte do património arquitectónico de Portugal e são repositório da sua História e das muitas histórias locais que contribuíram para a cultura e tradição do nosso País.
Mais do que apenas pernoitar, conhecer a história e desfrutar da estadia passando dias agradáveis nos Solares de Portugalé usufruir da calorosa hospitalidade e boas–vindas, que são uma arte das famílias portuguesas. É também conviver com um património rico em história e cultura e com uma secular tradição que os donos das casas partilham com os seus hóspedes, de modo cortês e simples.
A oferta dos Solares de Portugal divide-se em três categorias: Casas Antigas, Quintas e Herdades e Casas Rústicas, consoante a sua imponência, quer na dimensão, espaços envolventes e jardins, quer na decoração e peso histórico.
As Casas Antigas caracterizam-se pela sua arquitectura erudita e muitas delas remontam aos séculos XVII e XVIII. Nas Quintas e Herdades, o acolhimento faz-se num ambiente mais rural, pois estas casas constituem o assento de lavoura, ainda vivo e palpitante, da propriedade agrícola em que se enquadram.
Para quem preferir usufruir da calma da vida do campo, existem as Casas Rústicas, com grande valor etnográfico, na medida em que usam na sua arquitectura – simples e de pequenas dimensões – materiais e processos construtivos caracteristicamente locais.
Desta feita, e no âmbito de algo que começou por ser uma parceria e é hoje uma amizade, conheci mais dois Solares de Portugal, agora bem a Norte de Portugal.
Já sabemos: é o Berço da Nacionalidade! Aí foi proclamado o nascimento de Portugal, foi a primeira capital do País e, ainda hoje, é a residência oficial – o Paço dos Duques de Bragança – do Presidente da República quando se desloca ao Norte do País (poderemos assim dizer, nesta perspectiva, que é a nossa segunda cidade-capital).
É difícil fugir dos clichés quando falamos de Guimarães, tal é o seu peso na História de Portugal e na nossa memória colectiva.
O Castelo, o Paço dos Duques de Bragança, , o bonito e simbólico Largo da Oliveira, as ruelas do seu centro histórico bem cuidadas, o bom estado de conservação das muitas casas com uma arquitectura bem característica. Tudo denota o carinho devotado à preservação da memória na Cidade- Berço.
Foi no Largo da Oliveira que encontrei o Guimarães das Duas Caras. E a história que me levou a Guimarães.
Na Casa do Ribeiro
A meia dúzia de quilómetros da cidade de Guimarães encontrei a Casa do Ribeiro. Típico solar minhoto com uma fachada branca, debruada a granito e um portal imponente, encimado pelas armas da família. À direita, a original capela.
Passado o portão de entrada depara-se-nos o pátio interior. Duas escadas confluem na porta principal. No 1º piso o Solar propriamente dito e no piso térreo as antigas instalações dedicadas à lavoura, duas das quais já convertidas à utilização pelos visitantes da Casa do Ribeiro.
A sua construção data de finais do Séc XVII e tem permanecido na família desde então. A casa, apesar de em diferentes momentos ter sido alvo de obras de recuperação, mantém a sua traça original, a presença cuidada do mobiliário de época com que sucessivamente foi enriquecida e, naturalmente, a presença vigilante dos nobres antepassados através dos seus retratos que preenchem algumas das paredes.
Quando, vindo do pátio, entrei na porta do primeiro piso, subido que foi um dos lanços laterais das escadas de granito, deparei-me com uma linda liteira que ostenta numa das portas o brasão familiar, visível também na magnífica tapeçaria que lhe serve de cenário…
Tenho particular carinho por Chaves. Sinto-me lá bem. E de cada vez que por lá passo…fico deslumbrado pela beleza da Ponte de Trajano sobre o bonito rio Tâmega. Ex-líbris desta cidade que tem muito, muito mais para nos dar.
Pernoitar num dos Solares de Portugal é usufruir da calorosa hospitalidade e boas–vindas, que são uma arte das famílias portuguesas. É também conviver com um património rico em história e cultura e com uma secular tradição que os donos das casas partilham com os seus hóspedes, de modo cortês e simples.
Os Solares de Portugal agrupam um conjunto de mansões, solares, quintas e casas dispersos por todo o território nacional. Fazem parte do património arquitectónico de Portugal e são repositório da sua História e das muitas histórias locais que contribuíram para a cultura e tradição do nosso País.
A oferta dos Solares de Portugal divide-se em três categorias: Casas Antigas, Quintas e Herdades e Casas Rústicas, consoante a sua imponência, quer na dimensão, espaços envolventes e jardins, quer na decoração e peso histórico.
As Casas Antigas caracterizam-se pela sua arquitectura erudita e muitas delas remontam aos séculos XVII e XVIII. Nas Quintas e Herdades, o acolhimento faz-se num ambiente mais rural, pois estas casas constituem o assento de lavoura, ainda vivo e palpitante, da propriedade agrícola em que se enquadram.
Para quem preferir usufruir da calma da vida do campo, existem as Casas Rústicas, com grande valor etnográfico, na medida em que usam na sua arquitectura – simples e de pequenas dimensões – materiais e processos construtivos caracteristicamente locais.
A parceria celebrada com os Solares de Portugal permitiu-nos conhecer e dar a conhecer algumas destas pérolas do nosso património.
Brotas é terra de devoção a Nª Senhora. Culto mariano multisecular que a seu tempo se expandiu pelo mundo. Dessa devoção e da necessidade de abrigar os peregrinos organizados em Confrarias, nasceram as Casas de Confraria – ou de Romaria.
Sobre elas escrevi:
… do Santuário sai a Rua da Igreja. Nela se situam a maioria das Casas de Confraria. Estas casas, em que cada uma leva o nome da origem das confrarias de devotos, serviam para albergar os romeiros que vinham prestar culto à Santa.
Os tempos eram outros e as deslocações faziam-se muito lentamente. De Setúbal por exemplo, media-se em vários dias o tempo de caminhada. Por isso, também quando chegavam, para lá do descanso necessário, também o culto se prolongava. E era nestas casas que os romeiros se alojavam. Vinham por confraria e quando uma abalava, logo outra vinha ocupar o seu lugar e as casas.
As Casas de Romaria são uma unidade de Turismo em Espaço Rural que através da recuperação de 6 destas Casas de Confraria permite aos seus visitantes usufruírem em simultâneo dos confortos da vida moderna mas instalados em habitações com 600 anos de história. Casas tipicamente alentejanas, de branco caiadas e com as suas riscas coloridas, que mantém a traça original e estão decoradas de forma singela com os artefactos típicos que ilustram a vida nesta região.
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Ficar numa destas casa – no caso, a da Confraria de Palmela – é partilhar com o conforto do Séc. XXI, a vivência histórica de uma profunda devoção hexacentenária!
E à noite, é mágico escutar o silêncio dos campos que nos rodeiam!
Borba é uma cidade alentejana típica – curiosamente, a mais pequena cidade do Alentejo – com as suas ruas de calçada estreitas, o casario branco de casas maioritariamente térreas. Foi conquistada aos mouros em 1217 (tal como Vila Viçosa) e um século mais tarde foi-lhe atribuído foral de vila. Muito antiga, anterior à nacionalidade, Borba vive um pouco na sombra da vizinha e faustosa terra dos Duques de Bragança.
E alguns dichotes não perdoam. Desde a referência que Borba tem uma fonte muito bonita….porque já não havia sítio em Vila Viçosa para lá a colocar ou o facto mais picante de ser onde os senhores nobres da outrora faustosa Vila (hoje cidade) Ducal alojavam as senhoras da sua predilecção, suficiente próximas para visitas frequentes e minimamente afastadas para não haver confusões…
Situada em zona central de Borba, a Casa do Terreiro do Poço viria revelar-se a enorme surpresa desta viagem. E logo no início, uma pequena demonstração da forma como fui acolhido: o meu anfitrião aguardava-me convenientemente protegido da chuva que já há algumas horas não dava tréguas, para me ajudar a estacionar e acondicionar a moto. De imediato se disponibilizou para me recolher o fato que vinha já ensopado (mas cumpriu a sua obrigação de me deixar seco!) e colocá-lo a secar no sitio mais quente da casa, a casa das máquinas. Assim foi e no dia seguinte não só tinha o equipamento como se nada se tivesse passado como à hora de saída me entregou as luvas aquecidas!
Somos tratados como amigos. Como família. É essa a verdadeira diferença entre a hotelaria “normal” e a possibilidade de sermos acolhidos em casas familiares, cujos proprietários fazem questão de nos fazer sentir como se em nossa casa estivéssemos. Ou melhor ainda….
A Rita e o João, os meus anfitriões brindaram-me com um acolhimento fantástico. Tal como fantástico é o trabalho que ao longo do tempo têm feito para transformar a Casa do Terreiro do Poço naquilo que é: uma série quase infindável de caixinhas de surpresas, tantas quantos os quartos – 13 – que disponibiliza.
A Casa original data do Séc XVII (o piso térreo) tendo sido depois sucessivamente aumentada no séculos seguintes, com dois novos pisos. No último, já no Séc XIX, podemos observar nos quartos, escadaria e corredores, pinturas murais em diferentes estágios de conservação mas que têm vindo a ser recuperados com desvelo.
Hoje, a Casa do Terreiro do Poço é constituída por outras casas contíguas que os proprietários vieram sucessivamente a agregar tendo todas elas como zona comum um frondoso páteo – quase uma pequena selva interior- para garantir a frescura nos meses de canícula. Ao lado, um pavilhão com ampla zona de convívio fronteira à piscina.
Devo dizer que a dado momento da visita guiada pelo João (que para lá da descrição e da história de cada pedaço, ia complementando com detalhes e curiosidades sempre interessantes e com algumas pinceladas de humor) estava completamente perdido…parece labiríntico. O que só lhe aumenta o interesse…
Cada quarto – são mais que simples quartos! – tem uma componente temática, com decoração adequada repleta de criatividade e bom gosto. Por isso, mais que um quarto, cada um é um verdadeiro cenário capaz de despertar a imaginação dos seus ocupantes tornando a estadia, de facto, memorável.
O quarto onde pernoitei:
À medida que ia percorrendo a Casa, os quartos, uma ideia me acorreu à mente: não fotografar nem descrever os quartos (até porque na net é possível encontrar algumas imagens). Porquê? Porque o sentimento de surpresa de cada vez que uma porta se abria e eu era transportado para um imaginário diferente do anterior merece ser destacado. Se alguém tiver curiosidade em conhecer e ficar aqui alojado, que venha de mente aberta e preparado para ser surpreendido.
Depois…bem, cada um tem a sua própria imaginação e criatividade…
Um quarto numa antiga cozinha? Uma suite dourada? Um quarto decadente? Ou um quarto étnico? …Com decorações a condizer, pois claro! E que tal uma verdadeira taberna à antiga ou uma adega? Afinal estamos em Borba…
Deve referir-se que existem quartos preparados para quem viaja com filhos pequenos, para pessoas com deficiência, para quem não se separa dos seus animais, o que só enriquece a oferta e enaltece o espírito de ir de encontro às necessidades de quem procura um local para descansar e usufruir.
E esta julgo ser a melhor homenagem que posso fazer à criatividade, perseverança, sentido estético e muito, mas mesmo muito trabalho que a Rita e o João têm dedicado à Casa do Terreiro do Paço.
Quanto à forma como fui acolhido, já atrás o referi: como um amigo de longa data. Assim, apenas posso deixar o testemunho da minha gratidão e amizade.
No Sec XII, D. Afonso Henriques outorgou estas terras aos irmãos Guilherme e Robert de Corni, cruzados franceses, em agradecimento a serviços prestados nas lutas contra os Mouros, nomeadamente a conquista de Lisboa. Chamava-se assim o território pois nele abundavam touros selvagens. A denominação actual – Atouguia – deriva de sucessivas evoluções do termo ao longo de 2 milénios. Ainda hoje, defronte da Igreja Matriz é possível ver alguns dos pilares que circundavam o Touril onde esses touros bravos eram depois exibidos nas festas medievais (e provavelmente as antepassadas das touradas actuais…).
História diferente tem o acréscimo “da Baleia”. Conta-se que por volta de 1526 terá dado à costa, num lugar então chamado Areia Branca, uma baleia que “tinha de comprimento 30 côvados” (cerca de 15 metros). Daí a Atouguia…da Baleia. Na Igreja de São Leonardo pode ser vista uma grande costela de baleia petrificada que, diz a lenda, pertenceria ao tal cetáceo.
Casa do Castelo
Situada mesmo defronte da Igreja de São Leonardo fica a Casa do Castelo. A ela cheguei já a tarde caminhava para noite. Ainda a tempo de vislumbrar a beleza arquitectónica do edifício e o seu enquadramento paisagístico. Que é relevante, uma vez que está encostado a parte da muralha do que em tempos foi o Castelo da Atouguia, de origem mourisca e datado do Séc XII, em perfeita simbiose.
E desde logo, fomos simpaticamente acolhidos pelo nosso anfitrião. Estacionada a moto, não pudemos deixar de ficar impressionados com o enorme e centenário dragoeiro que nos aponta o caminho da Casa. Diga-se que, como me foi contado, esta belíssima árvore classificada perdeu uma parte importante do seu porte no ano passado, mas não perdeu a sua altivez e majestade. Impressionante!
A Casa do Castelo, precioso abrigo depois de uma jornada menos luminosa que o desejado mas não menos interessante, acolheu-nos. E desde logo nos deixou favoravelmente impressionados. Quer pela beleza do edifício, testemunho da sua história secular. Construída no Séc. XVII sofreu profunda transformação e ampliação nos princípios do Séc XIX, como aliás é comum nestas casas senhoriais que cresciam à medida que as famílias aumentavam e reflexo da sua própria prosperidade.
Nos finais do século passado, obras profundas de recuperação e restauro, concluídas em 1995, devolveram o brilho e elegância ao edifício e dotando-o então das características no seu interior adequadas à actual função: um turismo de habitação que acolhe os seus visitantes como se de velhos amigos se tratassem. Essas obras procuraram respeitar a antiga traça do edifício mas dotando-o agora dos confortos modernos.
Também o antigo páteo virado a poente foi adaptado, com as antigas instalações da faina agrícola (cocheiras e galinheiros) transformadas em simpáticos apartamentos com um alpendre acolhedor sobre a apelativa piscina (estivesse melhor o tempo e não teria escapado a um mergulho…).
A última palavra é a mais importante. Por mais bela que uma casa seja, a verdadeira alma vem daqueles que a habitam. E a capacidade de nos fazerem sentir que estamos em “nossa casa” e podermos desfrutar, com a simplicidade da amizade, da história e da vida, neste caso, da Casa do Castelo. Assim, uma enorme gratidão pelo acolhimento e pelo convívio que o João e a Maria me proporcionaram nesta curta mas memorável visita à Casa do Castelo.
Ourém, Auren (ou Portus Auren no seu termo latino) ou ainda Abdegas, se formos caminhando para trás na História era o destino. E a Quinta da Alcaidaria-Móro porto de abrigo.
Ourém tem foral concelhio desde 1180, outorgado pela infante D. Teresa, Filha de D. Afonso Henriques e D. Mafalda. Afirma-se aliás no documento correspondente que o local onde o castelo foi construído se chamava anteriormente Abdegas. Por outro lado, no foral de Leiria (de 1142) era referida a designação Portus de Auren (Porto de Ourém) e referir-se-á a um curso de água, provavelmente a Ribeira de Seiça .
Mas a lenda conta-nos outra história: a “Lenda de Oureana” foi divulgada por Frei Bernardo de Brito na “Crónica da Ordem de Cister” (Livro VI, Cap. I). Assim conta-se que num ataque surpresa a Alcácer do Sal, no dia de São João de 1158, o cristão Gonçalo Hermigues, com alguns companheiros, raptou uma princesa moura chamada Fátima e trouxe-a para o lugar na Serra de Aire que depois se veio a chamar pelo nome da princesa. Mais tarde, no seu cativeiro, a moura apaixonou-se pelo cristão e resolveu baptizar-se para poder casar com o seu amado. Para seu nome de baptismo escolheu Oureana. Daqui, segundo a lenda, teria tido origem o nome da vila de Ourém.
A Quinta da Alcaidaria-Mór recebe-me com uma alameda frondosa e ao chegar ao pátio principal sou surpreendido: a beleza do seu edifício principal, a curiosidade pela pequena capela à nossa esquerda ou a convidativa piscina defronte. A tarde ia avançada, senão….
Consegui também ver, desde logo, que as antigas instalações dedicadas à faina agrícola estão agora bem aproveitadas para a finalidade turística que até aqui nos conduziu. Sendo esta uma das primeiras unidades de turismo de turismo de habitação no País e a primeira na região centro, está aberta ao público desde 1984.
A história da Quinta cruza-se com a história da região. E esta claramente com a de Portugal. Conta-se que aqui, na capela, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira terá ajoelhado e pedido a protecção divina a Santa Luzia, quando a caminho de Aljubarrota. Em 1385…
A propriedade está na posse da família de Nuno Vasconcelos – que tão bem nos acolheu, mostrando os mais pequenos recantos, contando a história e referindo também os seus projectos – desde o Séc XIX, quando o seu antepassado foi agraciado com o título de 1º Barão de Alvaiázere pela excelência da assistência médica prestada a El-Rei D. João VI, inclusivamente acompanhando-o no exílio brasileiro devido às invasões napoleónicas.
É no edifício principal que ficam os quartos principais, bem como a magnífica e imponente Sala de Jantar. As escadarias, as paredes que exibem a pedra que lhes dá forma, os recantos, os tectos em madeira, as óbvias referências monárquicas e à Casa de Malta, tudo contribui para a extraordinária beleza do edifício e para o ambiente que, apesar de impregnado de História, não deixa de ser acolhedor. Muito acolhedor mesmo.
Ao lado, nas antigas instalações agrícolas, fica uma esplêndida sala de convívio e lazer, bem como alguns apartamentos que garantem aos seus ocupantes a tranquilidade tão ansiada por quem aqui resolva passar uns dias. E ainda há espaço e edificação para crescer. Um pouco acima, um pavilhão que permite assegurar a realização de alguns eventos contribui para aumentar a polivalência e a pluralidade da oferta.
E tudo isto, rodeado de um bucólico ambiente campestre que a extensão da Quinta garante, onde predomina o verde e impera a frescura.
Se o objectivo for aproveitar uns dias para um repouso absoluto, num ambiente de grande tranquilidade, rodeados de História e de histórias, com o máximo conforto e requinte, então a Quinta da Alcaidaria-Mór cumpre todos estes requisitos. Até porque merece que a estadia se prolongue para se poder absorver todo o ambiente que a rodeia. E, como a crónica tenta demonstrar, a zona que a rodeia merece incontestavelmente uma visita detalhada.
O Viagens ao Virar da Esquina convida os seus amigos e seguidores para viajar consigo no tempo conhecendo a historia e estórias únicas e identitárias dos Solares de Portugal, verdadeiros guardiões do Turismo de Habitação e do TER (Turismo no Espaço Rural) em Portugal.
Num dia de Verão mas com tempo a lembrar invernia, procurei as praias do Oeste. O destino era Atouguia da Baleia e lá cheguei depois de algum frio, nevoeiro e bonitas paisagens. Já as praias estavam quase desertas…
1ª parte: De Tauria a Atouguia, em terras que outrora foram mar
A Atouguia da Baleia, que hoje vive na sombra da cidade de Peniche a meia dúzia de quilómetros, e do corrupio balnear e surfista das praias das redondezas – sendo o Baleal talvez a mais conhecida e de certeza a mais bonita e original – tem no seu passado uma riqueza muito interessante, onde a história, a lenda e a geografia se entrelaçam.
Foi este o destino e a Casa do Castelo o nosso abrigo, principalmente depois de um dia de viagem em que o clima andou a tropeçar num Verão teimosamente arredio. Afinal, a única certeza é mesmo a do tempo incerto!
Construida à volta da História, encostada no que resta da muralha do velho Castelo da Atouguia , defensor do que em tempos muito idos foi o porto da Atouguia, a Casa do Castelo acolhe-nos com a beleza das suas linhas clássicas e a simpatia dos anfitriões que nos privilegiam com um ambiente verdadeiramente familiar.
A caminho das praias do Oeste
A companheira desta jornada foi uma Honda X-ADV, uma moto – ou scooter? – com características originais e que se veio a revelar uma experiência muito interessante que aqui conto: “Honda X-ADV”.
A moto, gentilmente cedida pela Honda Portugal, foi uma companheira fiel, adequada ao tipo de trajecto com uma ou outra incursão em terrenos nos quais o asfalto primava pela ausência no acesso a algumas das praias visitadas. E diga-se, porque é de justiça, a X-ADV fez jús aos seus pergaminhos, percorrendo essas estradas em terra como se esse fosse o seu terreno de eleição. E se calhar até é… Em estrada, confortável e segura, com boa performance, económica q.b. (4l/100) e o espaço debaixo do banco suficiente para a bagagem de 3 dias.
A caminho, saí de Lisboa cedinho. Dia ensolarado e temperatura amena. Aparentemente condições ideais para uma jornada mototurística. Puro engano! Uma vintena de quilómetros para Norte, percorrendo a sinuosa EN115, quando me aproximava de Sobral de Monte Agraço, vislumbro forte nebulosidade…restos de incêndios da véspera, foi o primeiro palpite. Que rapidamente se desvaneceu quendo constatei que era mesmo nevoeiro. E cerrado. No Alto da Forca, sobranceiro à vila, era evidente que a esperança de um dia solarengo era para já uma miragem. Lá para a frente logo se veria, mas o augúrio não era bom.
Para trás ficou Sobral de Monte Agraço, rumei a Torres Vedras por algumas das estradas menos óbvias mas que naquela zona são muito mais interessantes. Pouco ou nenhum trânsito, piso razoável e com muitas curvinhas para quebrar a monotonia.
Depois de Torres que apenas circundei, o rumo era para a costa. Alguns pormenores lançaram a confusão…afinal, passei por Benfica… e Gibraltar fica ali. Será que vamos ter um enclave quando acontecer o Brexit?
À saída de Gibraltar…antes que aí venha o Brexit…
Lindo nome … que lhe fica bem!
De praia em praia, até Peniche
O roteiro das praias a caminho da Atouguia da Baleia começou um pouco abaixo de Santa Cruz, na Praia Azul. Para Sul ficava a Ericeira e a costa ocidental da zona de Lisboa que percorri por alturas de Março em agradável companhia (ver “Uma volta pelos nossos terrenos de caça”).
A Praia Azul estava banhada pela neblina que, já antecipava, iria ser companheira de viagem. Dava tonalidades diferentes daquelas que seria expectável para a altura do ano…nem por isso desvalorizando a beleza do extenso areal rodeado de dunas e com a foz do Sizandro a sul.
Daqui, um pouco para Norte e cheguei a Santa Cruz. Praia mais cosmopolita mas onde o tempo nebuloso afastava os veraneantes do areal e até das ruas. Apenas uma ou outra esplanada mais composta. No entanto, a praia não escondia a sua beleza. Apenas as tonalidades eram diferentes. Do alto do Miradouro da Praia Formosa conseguimos admirar o enquadramento rochoso e o areal que lhe dão com inteira propriedade o nome.
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Para o outro lado, a Pedra do Guincho, altiva, destaca-se do areal e daí parte o areal da Praia do Centro fronteira ao núcleo urbano de Santa Cruz.
Um pouco mais à frente, entre outras, a Praia da Física onde alguns surfistas enfrentavam o mar bastante pacífico.
Prossegui junto à costa e um pouco adiante, a Praia da Mexilhoeira. No meio da neblina era possível admirar ainda assim a beleza das arribas que lhe dão o aconchego face ao mar.
Praia da Mexilhoeira
Praia da Mexilhoeira
Praia da Mexilhoeira
Sucedeu-se a Praia de Santa Rita. Os corajosos veraneantes desafiavam a neblina na qual as tradicionais barracas de praia davam a cor que o tempo permitia. Praia com um bom areal, mar revolto a aconselhar algum cuidado aos banhistas. Como a generalidades das praias da zona, é procurada por surfistas e bodyboarders.
E chegava à Praia de Porto Novo. Um bonito areal situado no final de um vale luxuriante e enfeitado com a foz do Rio Alcabrichel. Ele próprio a proporcionar águas mais calmas a permitir desfrutar de momentos de diversão, por exemplo com as canoas de aluguer.
Esta praia, onde antigamente havia um porto piscatório tem a sua história. Foi aqui, que em 1807, desembarcou o exército britânico comandado por Wellington e que viria a derrotar as forças francesas da primeira Invasão Napoleónica, comandadas por Junot, na batalha do Vimeiro.
Depois de uma pequena paragem para recuperar e petiscar algo era tempo de continuar pois ainda faltava muito para o destino.
Seguiu-se a pequena Praia de Valmitão, com o escasso areal apertado pelas falésias que o ladeiam.
Depois a Praia de Porto Dinheiro, que me acolhe com um engraçado dinossauro antes de começar a descer para o areal. Bonita praia com um pequeno aglomerado de casas da comunidade piscatória. Consta não ser mau sitio para restaurar…afinal, peixe não faltará.
Era agora a vez de chegar à Praia de Porto das Barcas. Como o nome indica, também pequeno porto piscatório. Terá sido uma praia antigamente famosa mas que entretanto caiu em decadência, como se pode constatar por alguns antigos restaurantes agora fechados.
Em fase de alguma recuperação, é possível ver algumas esculturas do artista local simplesmente conhecido por Zé…ou ZenArtes. Muito interessante…
A praia seguinte tem um extenso areal e, apesar do tempo cinzento, até estava apetitosa… falo da Praia da Peralta.
A curiosidade histórica que a marca está relacionada com o naufrágio do Galeão São Nicolau, em 1642. Fazia parte de uma armada de 11 navios preparada para ir em socorro da Ilha Terceira ainda em poder dos Espanhóis (estamos nos anos seguintes à Restauração da Independência). A força expedicionária era comandada pelo General Tristão de Mendonça Furtado que seguia no Galeão Bom Jesus de Santa Teresa e o Almirante da Armada, Francisco Duarte, no Galeão São Nicolau. Acometidos por violenta tempestade, o São Nicolau viria a naufragar nestas águas. Por sua vez, o Bom Jesus salvar-se-ia mas, o General e outros oficiais resoveram meter-se num batel que os trouxesse até à costa. O batel voltou-se e pereceram todos.
Neste batel vinha também um marinheiro que tinha uma missão secreta: entregar ao capitão donatário da Ilha Terceira um cofre com pérolas enviado de Lisboa. O marinheiro conseguiu chegar à praia…mas moribundo terá conseguido ainda enterrar o cofre escondendo-o. Terá deixado algumas pistas mas desconhece-se se alguma vez as pérolas terão sido encontradas…
Mais um pouco e continuei o périplo pelas praias à medida que me aproximava de Peniche. Seguiu-se a Praia do Paimogo. Uma pequena baía dominada pelo Forte de Paimogo datado do Séc. XVII. Procurada para a prática de mergulho e pesca submarina, talvez pelo fundo rochoso que se descortina do areal, foi aqui que em 1993 foram encontrados cerca de 100 ovos de dinossauro, alguns contendo ossos embrionários, que mais tarde viriam a ser atribuídos à espécie Lourinhanosaurus antunesi e que se encontram à guarda do Museu da Lourinhã.
A praia seguinte foi a de S.Bernardino. Não é grande mas por estar protegida por arribas é bastante acolhedora e convidativa. Até porque tem boas infraestruturas de apoio.
Ao longe já vislumbro Peniche. Mas ainda tenho duas praias antes de chegar à cidade de Peniche e começo a estar em pleno domínio dos praticantes de Surf.
A primeira é a Praia da Consolação. Protegida pelo forte que a divide em duas, tem características muito peculiares. A norte, o extenso areal que segue até Peniche passando pela Praia de Supertubos (próxima paragem) e que é muito procurado pela comunidade surfista. A sul, praia rochosa, mas sobretudo com uma excelente exposição solar e muito rica em iodo, o que a faz ser muito procurada por motivos terapêuticos (doenças de origem reumática e óssea).
E assim cheguei à Supertubos, de seu nome Praia do Medão. Protegida da nortada pela península de Peniche, os seus “tubos” são considerados os melhores em mares europeus. Ondas grandes e tubos perfeitos fazem-na ser considerada uma das mecas do Surf e cenário de multiplas competições internacionais. E não só só do Surf, pois também é procurada por praticantes de jet-ski, kitesurf, windsurf e bodyboard.
Praia do Medão / Supertubos
Praia do Medão / Supertubos
Praia do Medão / Supertubos
Em Peniche…outrora ilha e hoje península
Peniche é considerada a cidade mais ocidental da Europa Continental. Mas nem sempre assim foi. E não porque o estatuto de cidade lhe foi outorgado apenas em 1987. Mas porque há algumas centenas de anos, a agora península era então uma ilha.
Na realidade a geomorfologia deste pedaço de território sofreu imensas transformações ao longo dos tempos. E se há alguns milénios a linha de costa se situava a cerca de meia dúzia de quilómetros a oeste da actual Peniche, já no segundo milénio da era Cristã, este pedaço era uma ilha.
Supõe-se que etimológicamente, Peniche venha do termo em latim para península – paene+insula ( que significa “quase ilha”) – mas ainda no séc XII, a linha de costa situava-se a oriente do maciço rochoso que hoje constitui a península. E também o Baleal era uma ilha. À época, o que hoje conhecemos por Atouguia da Baleia, era designada por Tauria pela grande quantidade de touros selvagens que aí havia. E dominava o estuário de S. Domingos, sendo aqui o principal porto da região.
O açoreamento progressivo do triângulo situado entre Peniche, Baleal e Atouguia, não só alterou significativamente a morfologia do terreno como também teve significativo impacto na importância relativa entre estas povoações.
Se na actualidade Peniche é um dos maiores postos piscatórios nacionais e a cidade é o polo urbano mais desenvolvido da região, à época dominava Touria/Atouguia, porque o estuário lhe dava características de abrigo e de maior facilidade na respectiva defesa. A pesca é a principal actividade da cidade sendo o turismo também cada vez mais relevante
O monumento mais conhecido é o Forte de Peniche, que teve a sua origem no Castelo da Vila datado do Séc XVI e mandado construir por D. João III em 1557. Era a resposta à crescente importância de Peniche (e à decadência da Atouguia, cada mais inacessível por via maritíma) neste ponto da costa que deixava de ser uma ilha e passava a fazer parte da plataforma continental. A construção fica concluída em 1645. Sendo a praça-forte responsável pela defesa de Peniche ao longo dos anos, tornou-se tristemente célebre no Séc XX enquanto prisão de oposicionistas políticos do Estado Novo. É hoje o Museu da Resistência (fechado quando por lá passei…).
Outro ex-libris de Peniche é o Cabo Carvoeiro. Em dias mais límpidos, é possível vislumbrar as Berlengas. Mas não foi esse o caso pois o meu dia continuava muito cinzento e nublado. É, todavia, um destino que está na agenda.
O Cabo é majestoso e à medida que nos aproximamos as formações geológicas de origem calcária dão formas surpreendentes às falésias que se precipitam para o mar alteroso lá em baixo.
A caminho, uma placa indicava Papôa. O nome suscitou a minha curiosidade pois não tinha qualquer referência ao local. Lá fui…e bem surpreendido fiquei pela riqueza paisagística do local. O trabalho de erosão do mar e dos ventos gerou formações rochosas imponentes e de grande riqueza visual. Dali se vê, a norte todo o areal que vai até ao Baleal e a sul, a figura majestosa do Cabo Carvoeiro.
Visitado Peniche e o Cabo Carvoeiro, segui caminho. Obviamente a próxima paragem foi o Baleal. Já bem conhecido, ainda assim a beleza desta “ilha” e a curiosidade do acesso por via única sobre o istmo arenoso que a une ao lado continental, nunca deixa de me deixar encantado. O próprio casario, apesar da pressão turtística cada vez maior, não perdeu as suas características originais e dá assim a forma de grande beleza que é possível observar “do outro lado”. Apesar do tempo sombrio, muitos eram os fiéis da praia que frequentavam, quer a do norte (mais pequena) quer a do sul (cujo areal se estende até Peniche).
Cafézinho tomado e voltei à estrada. Até esta altura, a X-ADV foi uma fiel companheira. Confortável e sempre disponível, a sua configuração de scooter torna-a muito acessível e prática para uma viagem com estas características em que a cada passo surge uma oportunidade de ver algo ou tirar umas fotos. A bagagem para esta viagem (de 3 dias) toda convenientemente guardada debaixo do banco (onde alternativamente cabe um capacete integral e mais umas coisinhas) livrou-me de preocupações adicionais nestas paragens. E por falar em preocupações, foi algo que também não tive quando o acesso a algumas destas praias se fazia por estradas de terra batida ou em pior estado. A X-ADV é, na realidade, uma scooter-trail com as características de polivalência inerentes. As suspensões absorvem competentemente as irregularidades do terreno e a tracção – com a opção Gravel ligada – associada à gestão da caixa semi automática DCT nunca deixou margem para qualquer reparo. Sem dúvida uma excelente opção para passeios com estas características. Que ao longo dos quilómetros fui confirmando e com crescente satisfação à medida que a viagem decorria.
A tarde ía avançada e preparava-me para começar “a apontar” ao destino do dia: a Casa do Castelo na Atouguia da Baleia. Mas ainda tinha alguns pontos no roteiro para visitar.
O primeiro foi a Praia d’El-Rei. Actualmente um grande condomínio de luxo, a praia estava quase deserta apesar de ser um dia de Verão.
A zona da costa que percorri nesta jornada é sempre uma caixinha de surpresas quanto ao tempo que se encontra. Ora belos dias de sol e calor, ora a neblina e o vento que tornam os dias cinzentos e menos agradáveis. Como já referi, a única certeza é o tempo incerto! Continuei…
Aproximava-me da margem sul da Lagoa de Óbidos que seria o limite onde depois inflecti para o interior rumo à Atouguia. Entretanto, ainda houve tempo para rever a praia de Rei Cortiço (onde há algum tempo tinha estado…mas de bicicleta). Zona em que se vê estarem a ser implantados alguns aldeamentos e que antecipa algum crescimento turístico mas o ritmo parece ser lento. Ainda bem…
A pequena Praia de Rei Cortiço rodeada de umas pequenas falésias que a comprimem até ao mar, mantinha o ar de calma tranquilidade que recordava. Obviamente que num dia solarengo talvez a azáfama fosse diferente.
E finalmente cheguei à Lagoa de Óbidos. Do outro lado, a Foz do Arelho que visitei no dia seguinte. Aqui, a oportunidade para uma foto panorâmica e…..rumo à Atouguia da Baleia percorrendo as margens da Lagoa e depois por Vau, Olho Marinho e Serra d’El-Rei
Na Atouguia da Baleia…
…ou na Tauria como lhe chamavam antigamente!
No Sec XII, D. Afonso Henriques outorgou estas terras aos irmãos Guilherme e Robert de Corni, cruzados franceses, em agradecimento a serviços prestados nas lutas contra os Mouros, nomeadamente a conquista de Lisboa. Chamava-se assim o território pois nele abundavam touros selvagens. A denominação actual deriva de sucessivas evoluções do termo ao longo de 2 milénios. Ainda hoje, defronte da Igreja Matriz é possível ver alguns dos pilares que circundavam o Touril onde esses touros bravos eram depois exibidos nas festas medievais (e provavelmente as antepassadas das touradas actuais…).
O primeiro foral data de 1167! Veja-se que o foral de vila é atribuído a Peniche apenas em 1609…mas, dois séculos passados, em 1836, o concelho da Atouguia é extinto e integrado no de Peniche. Como a alteração geomorfológica do território que atrás mencionei alterou significativamente as relações de importância entre as duas povoações.
História diferente tem o acréscimo “da Baleia”. Conta-se que por volta de 1526 terá dado à costa, num lugar então chamado Areia Branca, uma baleia que “tinha de comprimento 30 côvados” (cerca de 15 metros). Daí a Atouguia…da Baleia. Na Igreja de São Leonardo pode ser vista uma grande costela de baleia petrificada que, diz a lenda, pertenceria ao tal cetáceo.
Também este templo tem história curiosa. S. Leonardo não é santo de devoção habitual em Portugal, sendo este mesmo o único devotado a tal santo. S. Leonardo de Noblac era um nobre gaulês no Sec V que consagrou a sua vida a Deus em vez de seguir os caminhos da guerra como seria habitual à época para a sua condição social. Noblac é o nome do mosteiro que fundou em terras que lhe foram oferecidas.
Estabelecida em terras da Gália a devoção a este S. Leonardo, séculos mais tarde, era ele o padroeiro de navio francês que enfrentou terrivel tempestade ao largo da Atouguia (recorde-se que na Idade Média, Atouguia era porto de mar) tendo procurado aqui protecção da fúria dos elementos. Toda a tripulação abandonou o navio e acolheu-se numa capela que ali existia. Com eles vinha a imagem do santo padroeiro. Algum tempo passado, a tempestade desvaneceu-se e era tempo de os marinheiros voltarem ao navio e fazerem-se ao mar, só que…sempre que procuravam transportar a imagem do santo para o navio, o mar alterava-se e a tempestade regressava. Ou seja, acabaram por se estabelecer naqueles domínios. Mais tarde, no local onde se abrigaram veio a ser construída a que é hoje a Igreja de São Leonardo, cuja origem remontará ao Séc XIV.
O nosso abrigo: a Casa do Castelo
Situada mesmo defronte da Igreja de São Leonardo fica a Casa do Castelo. A ela cheguei já a tarde caminhava para noite. Ainda a tempo de vislumbrar a beleza arquitectónica do edifício e o seu enquadramento paisagístico. Que é relevante, uma vez que está encostado a parte da muralha do que em tempos foi o Castelo da Atouguia, de origem mourisca e datado do Séc XII, em perfeita simbiose.
E desde logo, fomos simpaticamente acolhidos pelo nosso anfitrião. Estacionada a moto, não pudemos deixar de ficar impressionados com o enorme e centenário dragoeiro que nos aponta o caminho da Casa. Diga-se que, como me foi contado, esta belíssima árvore classificada perdeu uma parte importante do seu porte no ano passado, mas não perdeu a sua altivez e majestade. Impressionante!
O Castelo, bem como a Igreja de São Lourenço, situa-se no cimo de um monte e tem à sua frente, o que hoje é um vale onde corre um fio de água chamado S. Domingos (domesticado por barragem do mesmo nome situada ligeiramente a montante). Mas antigamente, esse vale fazia parte do estuário de S. Domingos e nele se situava o porto da Atouguia. Naturalmente, o Castelo e suas muralhas faziam parte essencial das defesas do porto. Da janela do quarto era possivel perceber todo este enquadramento, com a muralha logo ali e a vasta planície que se estende até ao Baleal e que outrora foi o já referido estuário de S: Domingos.
A Casa do Castelo, precioso abrigo depois de uma jornada menos luminosa que o desejado mas não menos interessante, acolheu-nos. E desde logo nos deixou favoravelmente impressionados. Quer pela beleza do edificio, testemunho da sua história secular. Construída no Sec. XVII sofreu profunda transformação e ampliação nos principios do Séc XIX, como aliás é comum nestas casas senhoriais que cresciam à medida que as familias aumentavam e reflexo da sua própria prosperidade.
Nos finais do século passado, obras profundas de recuperação e restauro, concluídas em 1995, devolveram o brilho e elegância ao edifício e dotando-o então das características no seu interior adequadas à atual função: um turismo de habitação que acolhe os seus visitantes como se de velhos amigos se tratassem. Essas obras procuraram respeitar a antiga traça do edifício mas dotando-o agora dos confortos modernos.
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Também o antigo páteo virado a poente foi adaptado, com as antigas instalações da faina agrícola (cocheiras e galinheiros) transformadas em simpáticos apartamentos com um alpendre acolhedor sobre a apelativa piscina (estivesse melhor o tempo e não teria escapado a um mergulho…).
A última palavra é a mais importante. Por mais bela que uma casa seja, a verdadeira alma vem daqueles que a habitam. E a capacidade de nos fazerem sentir que estamos em “nossa casa” e podermos desfrutar, com a simplicidade da amizade, da história e da vida, neste caso, da Casa do Castelo. Assim, uma enorme gratidão pelo acolhimento e pelo convívio que o João e a Maria me proporcionaram nesta curta mas memorável visita à Casa do Castelo.
E não esqueço que a simpatia e disponibilidade se prolongaram pela manhã seguinte com um périplo pela Atouguia da Baleia, onde o João Baltazar foi um cicerone precioso, contando-me algumas das histórias que aqui reproduzo e que bem ilustram a ancestral riqueza desta povoação cuja história corre em paralelo com a de Portugal.
Nesse périplo pela vila, para lá de outros monumentos – a fonte medieval, a Igreja Matriz, o pelourinho…e até a sede do Vespa Clube do Oeste – foi possível ver os resquícios do Touril.
E aqui vem a talhe de foice contar mais um episódio da nossa História, vivido nestas terras. Este Touril virá da época em que D. Pedro e D. Inês por aqui viveram alguns dos tempos do seu trágico romance. Estávamos a meio do Séc XIV, quando D. Pedro se veio a acolher no Paço situado na então designada povoação de Serra d’Atouguia e que a partir daí passou a ser Serra d’El-Rei. Sendo ainda relação entre ambos ilegítima, D. Inês estava na povoação vizinha hoje denominada Coimbrã (alusão ao facto de os apaixonados amantes virem de Coimbra onde antes residiam?).
E foi precisamente D. Pedro, grande apreciador da caça e dos touros que terá renovado o interesse por esta espécie na Atouguia da Baleia e que já fazia parte da sua história anterior.
Contada este episódio, e porque o caminho por aí nos levava, nada como terminar em Serra d’El-Rei com uma foto da entrada do Paço Real que acolheu o Infante, futuro Rei D. Pedro I.
Agradecimentos
A moto utilizada nesta viagem foi uma Honda X-ADV, sobre a qual já escrevi a respectiva análise, publicada aqui. A minha gratidão à Honda Portugal pela sua cedência.
Um grande muito obrigado também aos Solares de Portugal, companhia de primeira hora neste projecto em que vos dou a conhecer algum do riquíssimo património histórico e arquitectónico dos muitos solares e mansões familiares do nosso País.
E obviamente, a minha gratidão aos anfitriões desta excelente visita à Casa do Castelo na Atouguia da Baleia. Que recomendo…até porque fica logo ali, ao Virar da Esquina!
P’rós Amigos
A partir de hoje (24/09/2019) e durante os próximos 30 dias, os Solares de Portugal oferecem um desconto de 10% nas reservas efectuadas para este destino sendo que nesse acto deverá ser indicada a referência 6F0BD582 e mencionar que a casa visitada foi a Casa do Castelo na Atouguia da Baleia.
Este desconto não é cumulativo com campanhas em vigor e a reserva da estadia terá que ser feita através da CENTERpromo@center.pt e tel 258 743 965 e não directamente à casa.
Outros benefícios podem ser consultados na página P’rós Amigos!
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