Ó Mããããe!!!!….ó’pra nós, no j’rnal!!!

Era assim que em miúdos, anunciávamos em casa, se por algum acaso, uma foto ou referência nossa aparecia, nem que fosse no jornal da paróquia.
Era assim, não era?

Pois é com a mesma felicidade de miúdos que vemos este nosso blogue, ainda imberbe,  “no jornal” (e não é no da paróquia!), neste caso no nº2 da revista digital GO MOTO TRAVEL!

Felicidade, orgulho e honra! Sim, que termos a oportunidade de fazer parte deste projecto é um orgulho e uma honra. E tão bem acompanhados estamos!

A partir da página 98 até à 115 somos nós. Mas a revista tem tanto, mas tanto mais para ler, desfrutar e sonhar que quem puder usufruir do fim de semana mais prolongado tem aqui muito com que se entreter (e os outros também, obviamente):

Para a GO MOTO TRAVEL o nosso bem haja. Disponham sempre.

E se alguém falhou o número 1 (imperdoável!!!) aqui fica o link.

GO MOTO TRAVEL nº 1

Devagar…para chegar rápido!

Esta é a frase com que a minha Mãe quase sempre me despede.

Sábia frase, que poderia ser o mote para a experiência que vou relatar.

Para viajar é fundamental conhecermos o veículo e sabermos como o conduzir. Se faz sentido dizê-lo, de moto ainda mais!

As acções de formação são sempre bem vindas. Ou porque nos permitem aprender algo se somos novatos no tema, ou recordar e reciclar conhecimentos já adquiridos. E se a primeira vertente é fundamental, aprender para quem está a começar, a segunda não é menos porque com a prática e o “à vontade” que a mesma induz, tendemos a ficar algo desleixados.

Foi assim com grande entusiasmo e expectativa que correspondi ao convite da Linhaway – concessionário Honda na Linha do Estoril (Parede) – para um curso de condução defensiva em moto na E.P.H. – Escola de Pilotagem Honda que funciona no Kartródromo Internacional de Palmela.

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Esta Escola existe desde 2000 e nela pode aprender-se desde os primeiros passos ao aperfeiçoamento da condução defensiva – a Segurança é Sempre o elemento fundamental – de moto ou moto4.

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Os cursos de iniciação são muito interessantes para aqueles que querem iniciar-se no mundo das motos pois aqui o objectivo será mesmo ensinar a conduzir moto e não uma preparação para um exame de condução.

Quanto ao curso de aperfeiçoamento – o que fizemos – destina-se a condutores com alguma experiência e que pretendem aperfeiçoar os seus conhecimentos, sempre na lógica de uma condução defensiva. Curiosamente, dos 8 presentes no curso, tínhamos quase todos os tipos de experiência: um companheiro que está a tirar a carta e que ainda não tinha iniciado as aulas de condução, alguns mais ou menos experientes mas que conduzem scooters com a carta de ligeiros ou com a carta A2 e outros mais experientes.

O curso tem a duração de cerca de 4 horas e decorre em ambiente de sala primeiro, com algumas noções teórico-práticas sobre o “estar” numa mota, o equipamento, a posição, a necessidade de sermos vistos (a utilização de equipamento reflector, por exemplo, através de um simples colete sobre os nossos blusões e também de capacetes cujas cores sejam visíveis e se destaquem no ambiente urbano) e depois com sessões em simulador com a possibilidade de “viver” muitas das situações com que nos confrontamos no trânsito.

Uma curiosidade e que tem a ver com esta última referência: a única senhora presente no curso teve, à ida, um percalço similar a muitos outros que todos nós já experimentámos. Ao passar uma fila de carros (pela esquerda!), subitamente no intervalo entre dois, dos quais um autocarro, um peão sai inadvertidamente para a faixa de rodagem. Foi inevitável o contacto, felizmente sem consequências de maior (excepto uns riscos na moto). Ou seja, precisamente aquilo que é o nosso tema: a segurança e a necessidade de sempre se antecipar o que poderá, ou não, acontecer!

Depois fomos para a pista e aí tivemos a oportunidade de aprender/rever/reaprender a utilização de técnicas de condução relacionadas com a segurança em cima da mota. Algumas coisas básicas como seja o não confiar exclusivamente nos espelhos e outras bem mais relevantes e relacionadas com as diferentes técnicas de travagem – em curva, em situações de emergência ou simplesmente no domínio da moto durante a condução.

Em resumo: EXCELENTE!

E aqui uma palavra muito especial para o nosso “Professor”: a experiência, o saber, o entusiasmo e acima de tudo, a capacidade pedagógica do Nuno Barradas são fundamentais para a excelência do curso. Recomendo vivamente!

Obviamente também, recordar o companheirismo e camaradagem de todos. Foi uma oportunidade para conhecer pessoas que têm esta mesma paixão e que também se preocupam com a sua segurança e de todos os outros. E como sempre acontece quando dois (ou mais!) motards se encontram, é como se se conhecessem de toda a vida. É esse o espírito!

A última menção tem que obrigatoriamente ser dedicada à LINHAWAY e ao Miguel Pires (que organizou a nossa sessão e também participou no curso) e é de agradecimento: MUITO OBRIGADO!

Linhaway

Pela oportunidade que me foi dada, naturalmente, mas acima de tudo pela manifestação de preocupação com a segurança dos seus Clientes. A provar que a venda de uma moto é muito mais que um mero acto comercial: é uma relação…e uma amizade! Parabéns!

Afinal…saber não ocupa espaço e nunca se sabe quando dá jeito!

Em resumo: uma X’periência que recomendo vivamente!!!

A Fórnea, o Polje de Minde e o final nos Olhos d’Água

Polje de Minde? Fórnea?
Nomes estranhos:! Venham daí…vamos conhecer.

Um dia na Serra dos Candeeiros
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Turismo, Moto Turismo!

Nomes estranhos! Polje de Minde? Fórnea?…os Olhos d´Água já conhecíamos, mas os outros?

Surgiram à nossa frente quando preparávamos uma volta domingueira pela Serra dos Candeeiros. E suscitaram ainda mais a nossa curiosidade. Já lá iremos…

Cerca de 100km a norte de Lisboa, a Serra dos Candeeiros é conhecida pelas suas grutas – Santo António, Alvados e Mira d’Aire. Por incorporarem já muitos circuítos turísticos, não faziam parte do nosso objectivo. Pretendíamos conhecer melhor a Serra, as suas especificidades e alguns pontos menos conhecidos…que não menos interessantes.

Outro aspecto que avivou a nossa curiosidade tem a ver com a semelhança (geológica) entre a Serra dos Candeeiros e aquela outra onde recentemente se passou um episódio que centrou a atenção do mundo inteiro: o salvamento dos miúdos de uma equipa de futebol, que ficaram isolados no interior de uma gruta, na Tailândia.

É verdade! A Serra dos Candeeiros, predominantemente calcária é, tal como aquela, um verdadeiro queijo suíço, tal a profusão de grutas e túneis que tem no seu interior. Algumas conhecidas e disponíveis para visita (as acima referidas) e outras, pela sua perigosidade, obviamente fechadas aos curiosos. Uma delas, em Alvados, muito similar à tal dos miúdos da Tailândia, estima-se que terá cerca de 70 km de comprimento…

Desta vez, éramos 6 à partida, cedinho que a jornada antecipava-se longa. Para quebrar a monotonia das marcas, desta vez 4 Hondas e 2 Yamaha.

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4 Hondas e 2 Yamaha à partida. A meio ainda teríamos mais uma Yamaha.

O primeiro objectivo era as Salinas de Rio Maior. Para lá chegar, 30 km de A1 até ao Carregado e depois a mítica Estrada Nacional 1 até Rio Maior. No caminho, passámos por um decadente edificio que era, há muitos anos, um dos ex-libris de paragem obrigatória das nossas estradas : o café e restaurante Ponderosa. 40 km de N1 foram suficientes para percebermos (ou recordarmos) como era ir de Lisboa ao Porto há trinta e tal anos….

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Estrada Nacional 1

As Salinas de Rio Maior são um fenómeno muito interessante. A mais de 30 km do mar existe uma nascente de água salgada que alimenta os tanques onde, pelo tradicional método de evaporação, é obtido o sal que utilizamos nas nossas cozinhas. A curiosidade é explicada pelo facto de o caudal de água atravessar no seu curso um veio de sal, de tal forma que esta água é 7 vezes mais salgada que a água do mar!

Muito interessante ver também, como a mesma forma artesanal de obtenção do sal permanece bem viva no nosso tempo.

A paragem mereceu também um pequeno intervalo para nos refrescarmos e recebermos mais um amigo, natural da zona e que simpática e muito orgulhosamente foi nosso cicerone durante o resto da manhã e também depois se nos juntou no final do dia para uma petiscada. Mais uma Yamaha…estavamos quase equilibrados!!!

E não ficou por aqui…de caminho, proporcionou-nos em sua casa um reabastecimento alimentar cinco estrelas. Pois é…quem não é para comer, não é para andar de mota!

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Reabastecimento…

O próximo objectivo  era conhecer a vertente oeste da Serra dos Candeeiros, entre Rio Maior e Porto de Mós. Pelo caminho, iríamos conhecer algumas povoações: Chãos , Alcobertas, Casais Monizes, Vale de Ventos, Arrimal e as suas aprazíveis lagoas…

As estradas praticamente desertas e ainda muitas notas históricas do modo de vida destas gentes e também do trabalho meritório de recuperação do património edificado e das tradições locais, foram-nos proporcionadas pelo nosso cicerone. Excelente!

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Vista panorâmica

Interessantíssimo pelo seu ineditismo, o Dólmen-capela adjacente à Igreja de Santa Maria Madalena (monumento megalitico funerário do período neolitico +/- 4000/3500 a.c.), situado em Alcobertas.

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Alcobertas – Dólmen – Capela  (Igreja de Santa Maria Madalena)

E assim chegámos a Serro Ventoso, onde tomámos a EN362 que nos levaria diretamente a Porto de Mós.

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As paisagens que desfrutámos neste caminho foram verdadeiramente espectaculares, nomeadamente quando começámos a descer e, bastante ao longe, ao fundo de um vale, descortinámos Porto de Mós – com o seu original castelo que visitámos rapidamente pois está fechado para obras de recuperação – onde seria a paragem para o já merecido almoço.

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Lá ao fundo… Porto de Mós

Porto de Mós é uma localidade tão antiga, pelo menos tanto quanto a nossa nacionalidade, pois segundo a lenda, já em 1182 o cavaleiro D. Fuas Roupinho (o tal da lenda do Sítio na Nazaré) era o seu Alcaide depois da conquista aos Mouros em 1148. Recebeu foral de D. Dinis em 1305 e de D. Manuel I em 1515. No entretanto, o seu concelho tinha sido doado a D. Nuno Álvares Pereira e à Casa de Bragança, na sequência da vitória na Batalha de Aljubarrota em 1385.

O castelo, que remonta à época da Reconquista, foi sofrendo as vicissitudes do tempo e da História e já na segunda metade do séc. XV sofreu as alterações que lhe conferiram a actual traça, que o diferencia e o torna original em Portugal. Sofreu depois o impacto do Terramoto de 1755 e foi já no séc XX que sucessivas obras de recuperação têm vindo a ser efectuadas.

Era pois tempo de almoço!

A designação “tasca” remetia-nos para um local onde poderíamos eventualmente desfrutar de alguns petiscos tradicionais. Pois…já nem as tascas são o que eram! De petiscos, nem vê-los….mas, sejamos justos, os bifes estavam muito bons! A curiosidade também de a área de restauração ficar na base de um moinho (em recuperação) com uma bela vista para Porto de Mós (curiosamente, estávamos a uma cota superior à do castelo…).

Faça-se jus ao sítio: Tasca de S. Miguel. É agradável, come-se bem, não é caro e o atendimento algo demorado, é simpático.

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Vista do Castelo de Porto de Mós

Reabastecidas as montadas e bem nutridos os cavaleiros, era tempo de voltarmos à Estrada. Desta feita, o destino era a entrada na Serra pelos lados de Minde.

Optámos pela EN 243, sentido Mira d’Aire e Minde. A primeira meia dúzia de quilometros, cerca do Livramento, foi o que precisávamos para uma saudável digestão: bom piso, curvas e contra-curvas bem lançadas a permitir logo um bom pedaço de diversão – e dar a oportunidade às máquinas para “respirarem” um pouquinho!

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O bando em formação cerrada!

A estrada segue paralela à encosta norte da Serra pelo seu sopé, com um traçado ligeiro com curvas espaçadas e a permitir um andamento um pouco mais rápido não fosse algum trânsito e um teimoso traço contínuo….

Um pouco antes de Mira d’Aire, começamos a perceber que entre a estrada que percorremos e a Serra começa a haver algum afastamento ocupado com uma pequena planície com características muito particulares (talvez parecida com algumas zonas da lezíria do Tejo) e que constatamos se estender até Minde. É o Polje de Minde, também conhecido como Mar de Minde.

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EN 243 – à direita já se vislumbra o Polje de Minde

Recordemos que no início referi que a Serra dos Candeeiros era predominantemente calcárea. Trata-se de uma rocha muito permeável quer à agua das chuvas quer aos cursos de água subterrâneos que aquela em parte alimenta. Daí também a existência das inúmeras grutas já mencionadas. O Polje de Minde é também reflexo destas características. A água da chuva não é retida à superficie e vai alimentar os aquíferos subterrâneos. Quando estes esgotam a sua capacidade, a água é empurrada para a superfície, alagando toda a planície (contrariamente a outras zonas que são alagadas porque a água não se consegue infiltrar no solo, aqui ocorre o contrário). No Inverno e até no início da Primavera é possível observer o Mar de Minde…o que não foi o nosso caso, pois estávamos no pino do Verão, em Agosto e com bastante calor.

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Minde

Atravessámos Minde em direcção a Serra de Santo António. Subimos numa Estrada relativamente inclinada com poucas curvas mas dois “ganchos” bem pronunciados, cujo piso estava mal tratado.

Quase a chegar ao cume, temos 2 miradouros separados por cerca de 1 km. O primeiro, virado a norte, permite-nos observer com detalhe o Polje de Minde, para lá da terra que lhe dá o nome e também, um pouco mais para poente, Mira d’Aire.

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Miradouro norte – Minde, Mira d’Aire e o Polje de Minde

O primeiro nome estranho estava desvendado: o Polje de Minde!

Agora íamos partir à descoberta da Fónea… mas antes ainda tinhamos o segundo miradouro, virado a Sul e com umas mesas e cadeiras em pedra, a pedirem um piquenique.

Oferece-nos uma vista ampla, com Montejunto bem destacado no horizonte e vista para Alcanena, alguns dos muitos pequenos povoados desta zona e, em dia de boa visibilidade, quase até Santarém tal não é a planura que temos à nossa frente.

E se a primeira parte do percurso desta tarde foi no sentido poente-nascente, agora iríamos em sentido inverso, por Serra de Santo António, Curraleira, Covão do Sabugueiro, São Bento e Chão das Pias, quase até Porto de Mós novamente, para visitarmos a Fórnea.

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Trata-se de um majestoso anfiteatro natural, cavado nas encostas norte da Serra que nos deslumbra com a sua profundidade e cujo nome se deve ao facto de o seu aspecto se assemelhar a um forno. Mais uma vez, as características do terreno transformam este curioso recanto em algo espectacular, na devida altura do ano: o Inverno e início da Primavera, tal como no Polje. As suas encostas são polvilhadas com diversas cascatas que lhe dão uma beleza muito especial (que apenas pudemos adivinhar, logicamente).

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Fórnea
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Fórnea

Foi aqui que um dos nossos companheiros nos deixou pois a tarde já ía adiantada e outros compromissos sobressairam. Nem ele sabe o que perdeu….

Pela nossa parte, ainda tínhamos programa a cumprir antes do regresso.

O destino era agora Olhos d’Água. À nossa espera estava a nascente do Alviela, o nosso Cicerone da manhã e finalmente a degustação de um farnel que nos acompanhava desde o início da viagem. Voltámos a passar em São Bento mas desta feita seguimos por Casal Velho e Amiais de Baixo. Cerca de 20 km depois da Fórnea chegávamos ao destino, onde já esperavam por nós.

Este recanto paradisíaco, com uma praia fluvial rodeada de árvores frondosas com saborosa sombra, restaurante e parque de merendas, estava compreensivelmente muito frequentado.

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Olhos d’Água
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Olhos d’Água

Abancámos primeiro para beber uns líquidos refrescantes adequados ao calor que tínhamos vivido até aí. Depois, já numa mesa do parque de merendas, era tempo de despachar um queijinho de Nisa, um paio enguitado da mesma zona alentejana acompanhados de um casqueiro da Vidigueira para amansar o conduto e ainda uns pastelinhos de bacalhau para temperar o paladar. É evidente que a estadia se prolongou pelo tempo necessário à deglutição do manjar e também para mais um momento de convivio e converseta! Quem diz que andar de mota é um exercicio solitário não sabe mesmo do que fala…

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Palavras para quê? É um petisco português, com certeza!

Com tudo isto, a tarde ía já muito adiantada e impunha-se uma alteração ao plano inicial. Resolvemos regressar a Lisboa de forma a chegarmos ainda com alguma luz natural, razão pela qual deixámos o castelo de Alcanede para outra ocasião, que certamente se irá proporcionar pois ficou prometida uma almoçarada em Chãos.

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A jornada estava a acabar. Era tempo de regresso.

Do regresso, pouca história pois fomos apanhar a A1 perto de Santarém, depois de passarmos por Pernes. Eram cerca de 21 horas quando fomos chegando aos nossos destinos, depois de percorridos cerca de 270 km de amena cavaqueira e grande camaradagem, paisagens espectaculares e a oportunidade de conhecer melhor este recanto ….

Que fica mesmo ao virar da esquina!

Serra da Estrela…e algo mais (3)

Terceira parte da volta pela Serra da Estrela.
Desci à Covilhã e rumei a Unhais da Serra. Depois Alvoco da Serra e Loriga, para subir quase até à Torre pelo Adamastor! Depois o regresso…com história para contar!

Do Loriga Pass ao castelo assombrado

Depois de uma noite retemperadora do cansaço dos muitos quilómetros da véspera, faltava contornar a Serra por sul e poente e descobrir o Loriga Pass.

Convém explicar!

Trata-se de um troço da EN338 quando esta cruza a EN231 (a meio da distância entre Loriga e Valezim) e sobe vertiginosamente a Serra até pouco depois da Lagoa Comprida. Os nossos amigos do Quilometro Infinito batizaram-no de Loriga Pass! 

Batizou, está batizado!!!

Loriga Pass
Loriga Pass

De facto, a analogia com os mais célebres “Pass” dos Alpes faz justiça a este pedaço espectacular e emocionante de estrada. Já agora, os colegas ciclistas apelidam-no de Adamastor. Muito adequado, também. Diz tudo!

Adiante descreverei mais em pormenor…

A manhã começou brilhante, radiosa e sem uma núvem no céu. Mais um excelente dia neste Verão Outonal. Pequeno almoço singelo mas a que nada faltou, terminou a nossa estadia na Pousada da Juventude da Serra da Estrela. Recomenda-se, já o referi.

A Serra vista, manhã cedo, da Pousada
Vista serrana, manhã cedo

A jornada começou com a descida até à Covilhã, sempre sinuosa e com piso apenas razoável, como tínhamos constatado na véspera.

Cruzámos a cidade serrana, antiga capital do têxtil, indústria responsável pelo passado esplendor desta bonita cidade, que hoje recupera dinâmica e riqueza (muito devido ao impacto da Universidade da Beira Interior) e seguimos pela N230 , a antiga ligação privilegiada entre esta zona da Beira Baixa e Coimbra.

Passámos pelo Tortosendo, outro importante centro de indústria têxtil também longe da anterior riqueza. Estrada com muitas curvas, bom piso, que se faz de forma muito fluente e em bom ritmo. A paisagem é frondosa e o trajecto vai ao sabor das curvas de nível desta face da Serra.

A primeira paragem foi em Unhais da Serra.

Unhais da Serra
Unhais da Serra

Reza a lenda que certo dia andando à caça pela Serra da Estrela, um jovem brasonado e rico, perdeu-se no entusiasmo da caçada. Depois de andar perdido durante muito tempo sentiu-se cansado e com fome. Nestas condições chegou até perto do local onde hoje está situada “Unhais da Serra”. Aqui encontrou um pastor que o vendo com fome, logo lhe deu leite do seu rebanho, foi à ribeira e com as suas grandes “unhas”, apanhou trutas para o jovem senhor. O jovem caçador ficou admirado pela facilidade com que o pastor apanhou as trutas com as “unhas”, e chamou ao local “Unhas da Serra” ou “Unhais da Serra”.

Certa é a sua riqueza termal, muito explorada nos finais do Séc. XIX e principios do Séc XX que lhe valeu à época as alcunhas de “Pérola da Beira” ou “Sintra da Covilhã”. Ainda hoje, esta riqueza é aproveitada inclusivamente com novas instalações hoteleiras.

Prosseguimos caminho, agora mais sinuoso e ganhando altitude. Alguns quilómetros à frente, virámos à direita para a EN231 em direcção a Seia.

Dali viemos (Covilhã)
Dali viemos (Covilhã)

Os vales serranos desfilavam à nossa esquerda à medida que a estrada continuava ora curvando à direita, ora à esquerda, como que antecipando o que nos esperava.

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Estrada serrana

Nesta altura, observámos mais um exemplo da riqueza toponímica portuguesa, nestes que deverão ser os domínios de um tal Vasco Esteves, personagem importante certamente…

A primeira povoação que encontrámos foi Alvoco da Serra, curiosamente a povoação da Serra mais próxima da Torre (em linha recta, claro). É uma localidade de fortes tradições e origens muito antigas, conservando alguns vestígios da presença dos romanos, nomeadamente uma calçada onde foram encontradas moedas da época.

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Alvoco da Serra

Panoramicamente, é também de uma beleza enorme, principalmente pela encosta serrana onde se insere.

A jornada continua e o próximo destino é Loriga. De origem que se confunde com a antiguidade, por ela passaram os romanos (com testemunho numa calçada da época) e o seu foral é de data anterior à da nacionalidade.

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Loriga – a “Suíça Portuguesa”

É conhecida como a “Suíça Portuguesa” devido à sua extraordinária localização geográfica. Está situada a cerca de 770 m de altitude, na sua parte urbana mais baixa, rodeada por montanhas, das quais se destacam a Penha dos Abutres (1828 m de altitude) e a Penha do Gato (1771 m), e é abraçada por dois cursos de água: a Ribeira da Nave e Ribeira de São Bento, que se unem depois para formarem a Ribeira de Loriga, um dos afluentes do Rio Alva. Os socalcos e sua complexa rede de irrigação são um dos grandes ex-libris de Loriga, uma obra construída ao longo de centenas de anos e que transformou um vale rochoso num vale fértil.

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Loriga

Cruzamos a ponte sobre a Ribeira e podemos observar a pequena praia fluvial que aproveita as àguas que correm desde a Serra.

Alguns quilometros adiante e aí estava o cruzamento que iria ser o ponto de partida para a “piéce de resistance” de toda a viagem: o já referido Loriga Pass (ou Adamastor…)!

Aqui se cruzam a EN231 que trazíamos e a EN338 proveniente de Vide. Estrada concluída em 2006, seguindo um traçado pré-existente, com um percurso de 9,2 km de paisagens de montanha, entre as cotas 960 m (Portela do Arão) onde nos encontrávamos e 1650 m, junto à Lagoa Comprida.

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Loriga Pass – o Início!

A partir daqui, só os olhos e a memória fazem jús ao que desfrutámos. As fotos não conseguem reproduzir nem a beleza da paisagem, nem a emoção de fazer uma estrada íngreme – a primeira metade decorre a inclinação média de 14%, atenunado depois para 12% e já no final, “muito menos” a 9%. Fantástico!

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Loriga Pass – a 14%

Merece referir que se trata de uma estrada em excelente estado, larga e muito bem desenhada, não é uma sucessão de curva e contra curva mas vai tendo à medida que subimos algumas curvas quase a 180º.

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Loriga Pass – sempre a subir
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Loriga Pass – curvas e contra curvas
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Loriga Pass – Panorâmica
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Loriga Pass – lá em baixo…Loriga

Outro dos aspectos é que a vegetação é quase inexistente. Apenas algum mato rasteiro o que aumenta (e muito!) a sensação de declive e a visão do precipicio mesmo ali ao lado. Confesso que quando cheguei ao topo tinha os níveis de adrenalina (ou seria ansiedade?) ao máximo (e não era pela velocidade ou qualquer outro tipo de risco assumido na condução)!

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Loriga Pass
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Loriga lá ao fundo
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Formações rochosas recordação do passado glaciar
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Loriga Pass

Sinceramente, a estrada que fiz que mais emoção me criou. Não é dificil em termos de condução mas….a envolvente condiciona e muito!!! IMPERDÍVEL!!!

Não resta nenhuma dúvida no final. Chamemos-lhe Loriga Pass, Adamastor ou o que mais quisermos, é absolutamente fantástica.

Dali viemos, da esquerda agora, da frente na véspera:

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Viemos da esquerda!

Terminado o Loriga Pass, estávamos um pouco à frente da Lagoa Comprida (por onde passámos na véspera) e a caminho da Torre, na nossa já bem conhecida EN339. Desta feita, não valia a pena voltar lá mas registámos o ponto mais alto do dia.

Depois, iniciámos a descida a caminho das Penhas da Saúde (ponto de partida da jornada de hoje) e depois novamente a Covilhã.

Era o regresso e o final de 2 dias fantásticos na Serra da Estrela. Um paraíso para quem anda de mota e um deslumbre para quem gosta de paisagens que nos esmagam. na realidade, é na Serra da Estrela que melhor podemos ter a verdadeira noção da nossa pequenez.

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Barragem do Covão do Ferro

E esqueçam aquela ideia de que a Serra é boa é no Inverno. Corro o risco de dizer que é ao contrário! Porque as ineficiências que nos caracterizam, fazem com que estas estradas fiquem, na sua maioria,  intransitáveis sempre que a neve aperta (um contrasenso para uma zona que poderia ser um mini centro de desportos de inverno). Na Primavera, no Outono ou mesmo no Verão (atenção, que ele é bem quente aqui!), a Serra é sempre um deslumbre para o olhar.

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Lago do Viriato

Mas ainda havia viagem a fazer e uma surpresa quase no final. Falei num castelo assombrado ao início, não foi? Já lá vamos.

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A Serra, o túnel e a VFR!

Da Covilhã para sul tomámos a EN18 (referi logo no início a deficiente sinalização da Covilhã e mais uma vez pude confirmá-lo!). O simpático recepcionista da Pousada da Juventude (5 estrelas!) alertou-me que era possível à entrada do Fundão tomar a A23 e por ela percorrer os 2 túneis da Gardunha, poupando quilómetros e sobretudo tempo (obviava a passagem no Fundão, em Alpedrinha e, principalmente, a travessia da Gardunha que já tinha feito na véspera). Este pedaço da A23 é gratuito desde que logo a seguir aos túneis se saia na direcção de Castelo Novo/Castelo Branco (e no sentido contrário, idem). Não há nenhuma sinalização a alertar para esta “borla”, que será provavelmente só do conhecimento das gentes locais. Pois aqui fica a referência!

Pequena paragem para trincar algo em Castelo Branco e descansar um pouco pois a manhã já ía longa e tinha sido bem animada! Continuámos pela EN18 até Vila Velha de Ródão e aqui, como ainda era cedo resolvi que valeria a pena investigar uma referência que tinha visto algures. Existiria um castelo mesmo por cima das portas de Ródão que teria uma vista espectacular. Fui confirmar!

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O Castelo do Rei Vamba lá ao fundo

Na realidade, mesmo antes de entrarmos na ponte de Ródão sobre o Tejo, existe uma estrada à direita e o castelo está sinalizado. Era por ali!. Passada uma passagem de nível da linha da Beira Baixa (ainda activa!) surgiu pela frente uma estrada em bom estado que ao longo de cerca de 5 quilómetros foi conquistando cota, primeiro por uma encosta e depois pela outra que bordejava um pequeno mas profundo vale. Pequeno percurso muito engraçado não fora a desolação de todo este pedaço de Serra ter ardido e o cenário ser parecido com tantos outros que fomos encontrando. Finalmente, um pequeno cruzamento, uma estrada estreita e algo serrabulhenta à esquerda e uma placa que indica: Castelo do Rei Vamba! Era aqui. Mas porquê “Rei Vamba”?

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Castelo do Rei Vamba. Amaldiçoado…

Fui ver…e só posso dizer que a paisagem é esmagadora. Estávamos a uma cota bem mais alta que os dois maciços rochosos das portas de Ródão e por cima também da fronteira Serra de Nisa. Isso permite ter uma vista desafogada por longos quilómetros, para lá inclusivé da Serra de S. Mamede (Portalegre). E ainda conseguimos ver, um pouco mais abaixo, alguns elementos da colónia de grifos que “residem” na encosta das portas. Espectacular.

Mas de onde veio o nome então? Investigação (a net é fantástica!) e descobrimos:

Reza a lenda, que nos tempos (500 anos antes da fundação de Portugal) em que o Rio Tejo separava o reino dos visigodos do reino dos mouros, o Rei deles se tomou de amores pela mulher do Rei inimigo, Vamba de seu nome. Terá construído um túnel por baixo do rio para se encontrarem mas a coisa terá corrido mal. O marido enganado descobriu e a rainha acabou atirada do penhasco abaixo. Foi nessa altura que ela amaldiçoou aquelas terras. Quanto a Vamba, terá sido o último rei deste povo e por isso também a sua sorte não terá sido a melhor, efeito ou não da maldição. Sucedia-se o domínio árabe…

O castelo, que é apenas uma torre, ainda por lá está, altaneiro e dotado de uma vista fantástica. Não é difícil perceber a sua utilidade estratégica e militar nas guerras de antanho, pois permitiria descortinar inimigos a dezenas de quilómetros de distância (ou a dias de viagem quando estas se faziam a pé).

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Castelo do Rei Vamba (ou Castelo de Ródão)

O castelo continua amaldiçoado, e nem a presença de uma capela ermida ao seu lado terá feito diminuir o feitiço. Dizem…

Regresso à ponte onde mais uma vez pudémos vislumbrar as magnificas Portas de Ródão.

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Portas de Ródão
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Rio Tejo e a ponte que dá entrada no Alentejo

Depois, entrámos no Alentejo, para terminar a viagem em beleza pelos 18 quilómetros de curvas e contra curvas da EN18 enquanto percorre a Serra de Nisa. Não sem antes registarmos mais uma Casa de Cantoneiros abandonada (são tantas, País fora…) e fazermos uma pequena paragem na fonte onde tantas vezes, nas viagens com os meus pais, do Alentejo para a Beira, nos refrescávamos na fonte e, se a época era propícia, comíamos uns figos de uma frondosa árvore que agora apenas se vislumbra por trás da fonte.

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Serra de Nisa: Casa de Cantoneiros abandonada
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Serra de Nisa: fonte

Aqui começámos, aqui terminamos!

Nisa
Nisa

Anteriormente:

Serra da Estrela…e algo mais (2)

Serra da Estrela…e algo mais (1)

Serra da Estrela…e algo mais (2)

A segunda parte do périplo pela serra maior de Portugal.
Pelo interior da Serra cheguei à Torre, depois de passar pelas Penhas da Saúde, Manteigas, Penhas Douradas, Sabugueiro e Lagoa Comprida.

Já na Serra – sobe e desce pelo lado oriental

Em Belmonte fechámos o baú das memórias.

Montada e cavaleiro reabastecidos, era tempo de por o pé na estrada que a segunda metade deste dia antevia-se longa, desafiante e cansativa. O objectivo para o final do dia era desfrutar do pôr-do-sol no ponto mais alto de Portugal continental: a Torre.

Assim, pela EN18 já habitual, dirigimo-nos para a Covilhã com o fito de subir até às Penhas da Saúde. Constatámos algo que pudemos confirmar no dia seguinte: a sinalização na Covilhã é sofrível. Algo confusa (a configuração da cidade não ajuda, é certo) e com sinais que aparentemente fogem ao que é normal e em nada ajudam, pelo contrário. Apesar de haver regras para a sinalização rodoviária, parece que sempre existem uns criativos que julgam ser capazes de fazer melhor…Fica feita a nota e assim escusamos de a repetir mais à frente.

A partir do Largo do Municipio, começa-se desde logo a subir e de forma pronunciada pela EN339. Passamos o Parque de Merendas, o Parque de Campismo do Pião e chegamos à Varanda dos Carqueijais.

Miradouro em local privilegiado com uma vista magnífica para a Covilhã logo abaixo e para toda a Cova da Beira com a Gardunha em fundo.

Varanda dos Carqueijais - Vista panorâmica

Prosseguimos a subida e passamos pelo antigo Sanatório dos Ferroviários, majestoso edifício que tendo sido no antigamente uma unidade hospitalar, esteve abandonado durante décadas e recentemente foi restaurado de forma brilhante, seguindo a traça original e mantendo-a também no interior, numa Pousada (Grupo Pestana) com muito requinte. O edifício e os jardins fronteiros merecem uma visita, até porque a vista é também espectacular.

Sanatório dos Ferroviários - Pousada Pestana

Continuando a subir, passamos por mais uma unidade hoteleira já tradicional – a Pousada da Serra da Estrela – e mais um pouco, já a 1600m de altitude chegamos às Penhas da Saúde.

Era tempo de breve paragem. Efectuar o registo, alijar carga desnecessária para o passeio, verificar as instalações, na Pousada da Juventude. Uma estreia que se revelou insuperável na relação qualidade/preço. De facto, se o objectivo for a economia, sem luxos e com o conforto estritamente necessário para quem se propõe jornadas algo cansativas, não há dúvida que é uma solução convincente. Acresce a extraordinária simpatia do pessoal, o ambiente informal a convidar ao convívio, os pequenos requisitos hoje habituais como sejam o wi-fi gratuito em todo o edificio e com boa performance. Na manhã seguinte, o pequeno almoço também muito agradável, com tudo o que é habitual numa unidade hoteleira. Excelente!

Pousada da Juventude - Serra da Estrela

Tudo tratado, seguimos viagem. Até aos Piornos, onde depois da foto da praxe para a Nave de santo antónio, virámos à direita em direcção a Manteigas pela EN338. Começava verdadeiramente a parte espectacular da viagem.

Nave de Santo António e Cântaros

O sinal para “Teste de travões” não enganava. A descida seria pronunciada. Íamos a caminho da primeira paragem, num sítio que é para mim obrigatório: o Covão da Ametade. Aqui nasce o Rio Zêzere que depois ganha força a descer o vale glaciar até Manteigas seguindo depois o seu percurso, contornando a Serra a nascente e depois, pelo lado sul na Cova da Beira até, muito mais tarde e mais longe, vir desaguar no Rio Tejo em Constância depois de encher a albufeira de Castelo do Bode.

O Covão da Ametade, situado mesmo por baixo dos três picos a que alguém chamou Cântaros – o Raso, o Gordo e o Magro – dois deles acima dos 1900m – é um local frondoso, com um parque de merendas.

Lindíssimo, não fora o facto de estar ao abandono… culpa das entidades oficiais que dele não cuidam, dizem uns, culpa dos utilizadores que o degradam e mal estimam, dizem outros. Uma pena!

Foi aqui também que tive o privilégio de encontrar e trocar algumas palavras com um simpatiquíssimo pastor serrano que cuidava do seu rebanho de cabras – o início da fileira do saboroso queijo da serra! Conhecedor profundo e muito orgulhoso da sua Serra da Estrela, numa profissão que se calhar caminha para o desaparecimento pois duvido que haja pretendentes a calcorrear os caminhos abruptos e perigosos da Serra.

À minha frente vislumbrava-se agora um dos cenários mais monumentais de Portugal: o vale glaciar de Manteigas. O antigo glaciar há muito desaparecido cavou este vale profundo por onde corre o (ainda) pequeno Zêzere a caminho, bem lá ao fundo, de Manteigas.

Vale Glaciar Zêzere

A estrada corre quase (um quase muito relativo!) rectilínea sempre a descer pela encosta sul do vale. Estrada estreita, bom piso, a convidar a algum empenho na condução…mas cuidado, que a aparente visibilidade para as curvas seguintes não iluda: a estrada não tem escapatórias!

Vale Glaciar - descida para Manteigas

Vale Glaciar - Manteigas

Entrámos em Manteigas, vila serrana conhecida pelos seus têxteis, pelo Queijo da Serra e também pelos seus viveiros de trutas. Um pouco antes, o desvio para o Poço do Inferno. Local que merece obviamente uma visita pela beleza da sua cascata. Optei por não fazer o desvio: no final do Verão, terá um caudal mínimo que lhe retira espectacularidade e também a estrada recomenda cuidados acrescidos – estreita e mau piso. Estivémos lá recentemente pelo que desta feita passámos… mas a recomendação fica: merece a visita!

Em Manteigas seguimos em direcção às Penhas Douradas (sugerimos a ajuda do GPS porque as placas de sinalização apontam para uma estrada que não é aquela que pretendemos, pois embora seja até mais curta, não tem a espectacularidade da EN232 que iríamos seguir). O que nos aguardava à saída de Manteigas era isto:

A meio da subida tínhamos agora uma perspectiva diferente do vale glaciar, com Manteigas no sopé e bem lá ao fundo, os Cântaros majestosos a contemplarem-nos.

A subida continuava, íngreme e sinuosa, sempre em regime de curva e contra curva. Um espectáculo!!! À nossa volta, arvoredo e vegetação frondosa a contrastar com a aridez que tínhamos presenciado anteriormente nas Penhas da Saúde e na descida para Manteigas.

Vale Glaciar do Zêzere e Manteigas

Cerca de 20km de de diversão depois, chegamos ao planalto onde se situam as Penhas Douradas. A altitude estava mais uma vez acima dos 1800m e voltava a paisagem agreste e rude. Quando conseguímos vislumbrar um pouco mais, desta vez para Norte, era uma nova realidade: uma planície a perder de vista no sentido de Gouveia ou um pouco mais longe, Celorico da Beira. A Beira Alta estava à frente dos olhos!

Virámos à esquerda para o Vale de Rossim.

Logo a seguir uma construção curiosa: a Casa da Fraga:

“A Casa da Fraga foi construída no meio de nenhures, num ermo da Serra da Estrela, lugar que hoje tratamos por Penhas Douradas. Parece estranho mas não é: muito provavelmente, as Penhas Douradas, lá do alto dos seus 1500 metros, não seriam nada não fosse a Casa da Fraga existir. Ou pelo menos não seriam aquilo que são agora.

Tudo começou com uma expedição organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa à Serra da Estrela. O objectivo era nobre: fundar sanatórios que, como já era feito noutros países, como por exemplo a Suíça, pudessem curar doenças de foro pulmonar.

Daí se concluiu haver condições climatéricas, na encosta norte da serra, antes de chegarmos ao seu topo, para um tratamento bem sucedido às patologias.

Sousa Martins, crente nos estudos optimistas que vários cientistas davam aos ares da Serra da Estrela, enviou para lá um dos seus doentes, Alfredo César Henriques, que sofria de tísica pulmonar, que construiu uma casa lindíssima camuflada na paisagem natural que a envolvia.

Ali permaneceu dois anos e as visíveis melhorias no seu estado de saúde deram alento a outra gente, também com problemas nos pulmões, que lá foi procurar casa. E assim, de uma boa notícia, se fez aquele pedacinho encantado que hoje conhecemos como Penhas Douradas.”

in ncultura.pt/serra-da-estrela-a-incrivel-casa-da-fraga/

No Vale do Rossim exite um eco-resort que usufrui de uma pequena barragem que tem o espelho de água a maior altitude na Serra da Estrela. Paisagem agreste mas de profunda beleza.

A tarde ía já a mais de meio e ainda havia caminho a percorrer. Retomámos a EN 232 um pouco mais à frente e cumpre salientar que este desvio que tomámos para o Vale do Rossim está num estado lamentável!

Pela primeira vez ia também ver um cenário que aqui e ali passaria a ser uma constante no resto da viagem: a desolação provocada pelos incêndios de há um ano! Uma tristeza sem fim…

Descida para o Sabugueiro

A estrada que, saindo da EN232 que segue para Seia e Gouveia, vai directamente para o Sabugueiro, o nosso destino e a aldeia a maior altitude em Portugal, é algo perigosa: estreita, piso bastante deficiente e com pouca protecção… A fazer com bastante prudência.

A caminho do Sabugueiro

Sabugueiro: aldeia transformada num centro comercial de produtos serranos, para lá dos queijos é também aqui que é possível encontrar à venda os lindos cachorros da raça típica da Serra e que lhe levam o nome!

Muito terão sofrido estas gentes com os incêndios! Tudo à volta da povoação está queimado…

Vista do Sabugueiro

No Sabugueiro tomamos a EN339, que de Seia se dirige à Torre, e que seria a nossa via até ao objectivo final. Começamos novamente a subir, umas vezes de forma mais pronunciada outras menos, até chegarmos à Lagoa Comprida, passando pelo caminho por algumas pequenas lagoas e por diversas cambiantes da paisagem.

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A Lagoa Comprida é a mais conhecida e a maior das lagoas do maciço superior da Serra da Estrela. Construída a partir de uma lagoa natural, constitui o principal reservatório de água da serra da Estrela.

Lagoa Comprida

Na vertente norte da lagoa observa-se um dos mais interessantes campos de blocos erráticos da Serra da Estrela. Estes blocos de granito foram transportados pelos glaciares e abandonados aquando da fusão e recuo do gelo.

Lagoa Comprida

Este era um antigo glaciar com um quilómetro de extensão. Aproveitando o covão, iniciou-se em 1912 a construção da barragem. Em 1914 tinha uma altura de seis metros e em 1934 atingia os 15 metros. Actualmente, desde 1965, tem uma altura de 28 metros. É uma barragem do tipo gravidade, formada por três arcos de alvenaria de granito com 1200 metros de desenvolvimento. A albufeira tem a capacidade de cerca de 12 milhões de m3 de água, e inunda uma área de 800.000 m2.

Nesta lagoa desaguam dois túneis: o do Covão do Meio, com 2354 metros que desvia a água das encostas do Planalto da Torre e o do Covão dos Conchos com 1519 metros que desvia as águas da Ribeira das Naves.

Lagoa Comprida

A partir daqui subimos mais um pouco, paisagem agreste, quase nua, na aproximação à Torre.

Sendo o ponto mais alto de Portugal Continental, não tem todavia a configuração de um pico. É um vasto planalto onde encontramos a torre que prolonga a altitude até aos 2000m, as desactivadas instalações de radar da Força Aérea, um pequeno e algo decrépito centro comercial e ainda as instalações do teleférico. de referir que tudo isto tem um aspecto de quase abandono, o que é lamentável a avaliar pela numerosa frequência turística que demanda este local.

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A Torre é o ponto mais alto de Portugal Continental (1.993 metros). Ali se encontra implantada a célebre «Torre do Cume» para completar os 2.000 metros de altitude. A actual Torre em pedra foi reedificada em 1949, datando a anterior do Reinado de D. João V (1806). A vista é magnífica: para Sul, alonga-se pela Cova da Beira até à Serra da Gardunha. A Norte, alcança as Serras do Caramulo, da Lapa e Montemuro. A Leste, atinge as Serras da Marofa e da Malcata, e para além da Meseta, as Serras da Gata e de Gredos, marcadas também pela glaciação. A Oeste, estende-se para as Serras do Açor e da Lousã, até ao oceano Atlântico. Abrange as bacias do Douro, do Mondego e do Zêzere/Tejo. No dia 04 de Agosto de 1940, para se comemorar o duplo centenário da Fundação e da Independência de Portugal foi benzida e colocada no topo da Torre uma cruz de ferro.

Vista da Torre

Mas o objectivo era um pouco mais ambicioso. Não só chegar à Torre mas assistir o pôr do astro rei!

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O espectáculo superou as expectativas. o facto de termos todo o horizonte à nossa disposição, um céu limpo e sem nuvens, proporcionou imagens inesquecíveis e de rara beleza, a que as fotos não conseguem fazer justiça.

A jornada estava a acabar em beleza.

Por do Sol na Torre

Por do Sol na Torre

Por do Sol na Torre

De facto, mais cerca de 150km feitos durante a tarde, a subir e descer as estradas da Serra da Estrela recomendavam um merecido descanso. Uma sandes de presunto serrano e queijo da serra adquirida na Torre seria o merecido jantar, já em modo de pré-repouso porque o cansaço acumulado e o facto de estarmos quase no cimo da Serra não recomendavam grandes deslocações noturnas. De qualquer modo fica uma sugestão: nas Penhas da Saúde existe um restaurante a merecer recomendação forte. Chama-se Varanda da Estrela e a especialidade característica é o delicioso arroz de zimbro, entre muitas outras iguarias.

A Serra da Estrela ao lusco-fusco

Era tempo de descanso. O dia seguinte seria também bastante exigente porque ainda havia muito a percorrer!

Anteriormente:

Serra da Estrela…e algo mais (1)

A seguir:

Serra da Estrela…e algo mais (3)

Serra da Estrela…e algo mais (1)

A primeira perte de uma volta pela Serra da Estrela, num regresso às raízes familiares.
De Nisa a Belmonte, aproximei-me da serra maior.

A aproximação: de Nisa a Belmonte

Diz-se que de manhã começa o dia. Assim é. Mas sem exageros…

Pronto para partir

Pouco passava das 9h e já depois de consultado o horóscopo na máquina Multibanco mais próxima, lançámo-nos ao caminho. Nisa é o último bastião alentejano antes de atravessarmos o Rio Tejo e entrarmos em território beirão. A jornada antecipava-se longa em tempo e distância…

Nisa

Mas até lá, tínhamos para começo de conversa, um troço de 18 km da EN18 (vejam a coincidência numérica) que é uma delícia. A estrada desenvolve-se fluente e em bom piso, seguindo e por vezes cruzando as curvas de nível da Serra de Nisa, num percurso a fazer lembrar a Serra do Caldeirão mais a sul. Sem grandes inclinações, curvas e contra curvas bem lançadas, umas mais rápidas outras a exigir alguma mudança mais baixa, mas sempre em bom ritmo. Se no início a paisagem é agreste, perto do final, os últimos 3 km são uma maravilha com uma descida pronunciada e o Rio Tejo, recém entrado em Portugal, a correr à nossa direita. Mais ao fundo vemos Vila Velha de Ródão.

Rio Tejo - Descida para Ródão

Rio Tejo - Vila Velha de Ródão

Chegados ao final da descida, temos a ponte metálica que atravessa o rio e nos dá uma perspectiva deslumbrante do monumento natural que é as Portas de Ródão.

Portas de Ródão

Ponte de Ródão e Rio Tejo

Entrámos então na Beira Baixa, passa-se Vila Velha de Ródão e seguimos pela EN18, que nos iria ser o eixo principal desta viagem, agora já com um piso algo descuidado, com destino a Castelo Branco, a primeira paragem do dia. Certamente por efeito da trepidação originada pelo piso deficiente, poucos quilómetros volvidos, o primeiro (e único, felizmente) precalço: o aperto da base do GPS desapertou-se…algo simples de resolver com uma chave Allen de tamanho adequado…que não havia! Paragem forçada numa bomba de gasolina mas sem resultado. Ainda tinham menos ferramentas que eu. Solução? Fácil, muito fácil! Segui até Castelo Branco com algum cuidado para não agravar o desaperto e…lá chegado, paragem na primeira Loja do Chinês encontrada. Problema resolvido em 5 minutos (incluindo a visita à loja!).

Em Castelo Branco, a paragem era acima de tudo sentimental. Tirar a foto da praxe em frente ao Liceu onde há muitos anos atrás vivi época feliz. À época chama-se Liceu Nun’Álvares Pereira. Hoje há-de ser algo parecido… Em breve conversa com jovem que me tirou a foto, recordei-me de mim próprio naquele sítio, com aquela idade, provavelmente com idênticos sonhos.

SE7

E não poderia faltar uma recordação da passagem pelos Jardins do Paço, um dos ex-líbris da cidade a merecerem sempre uma visita atenta, com a sua multiplicidade de estátuas (muitas delas réplicas das originais em bronze pilhadas aquando das Invasões Francesas). É evidente que Castelo Branco merece uma visita mais demorada, principalmente para quem não conheça a capital da Beira Baixa, mas o objectivo é diferente.

Castelo branco - Jardins do Paço

Deixámos para trás a cidade, sempre pela EN18 (o piso melhorou) e em direcção norte. Esperava-nos Alpedrinha e a Serra da Gardunha, de certa forma o aperitivo para o petisco final, a Serra da Estrela.

Serra da Gardunha e Castelo Novo

Se até Alpedrinha a estrada flui quase rectilínea, a subida da Serra não tem grande história, pois é relativamente curta e não muito sinuosa. E as obras de melhoria do pavimento aconselhavam também alguma cautela. Esperava no cimo da Serra poder antever a majestosa Serra da Estrela em frente e no intervalo, Fundão e a famosa (e rica) Cova da Beira. Mas a vegetação quase só deixava antever esse cenário pelo que a panorâmica ficou para depois

Serra da Gardunha - Vista para a Serra da Estrela e Covilhã

Aproximava-se o final da manhã. A próxima paragem seria em Belmonte. Minha terra materna e, pelo adiantado da hora, local ideal para um breve descanso e algum reforço alimentar, leia-se almoço! Mas ainda faltavam uns quilómetros.

Em miúdo, quando fazia o trajecto Castelo Branco – Belmonte ou vice versa, sempre questionei a razão de escolherem a estrada mais longa, pela Covilhã, em vez da alternativa mais curta por Caria. A resposta invariavelmente era: esta tem mais curvas. Bem, se assim é, de curvas é que nós gostamos!

A meio da descida, antes do Fundão, cortei à direita pela EN345 em direcção a Alcaide e mais à frente Caria. E surpresa das surpresas! Uma estrada relativamente estreita, bom piso, bem marcada, quase sempre a descer suavemente, com curvas de diferentes perfis mas sempre bem lançadas, um verdadeiro prazer de condução. A requer apenas algum cuidado extra porque, provavelmente por ter pouco trânsito (o que confirmei!) e alguns caminhos rurais a desembocar, pode apresentar terra e outros detritos nomeadamente nas curvas. O único susto (mais um aviso) destes dias foi aqui e por essa razão, mas nada de significativo. A meio caminho, lá estava enorme a Serra da Estrela. Majestosa, com a Covilhã a seus pés e a galgar encosta acima

Serra da Estrela e Covilhã

Passámos algumas terras cujo contributo para a série “localidades com nomes peculiares” é válido: Terreiro das Bruxas, Enxames (com um curioso “Bem vindos”….sim, sim!), Sra. do Fastio e Panasco! Em Caria vimos também um exemplo da arqueologia das telecomunicações ainda funcional!

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Já a seguir a Caria, a estrada bifurca com as alternativas Covilhã ou Belmonte. Mantivemo-nos na EN345 que nos levaria à terra de Pedro Álvares Cabral, mas curiosamente, a partir daqui voltava o piso algo irregular.

Cerca de 150km depois da partida, chegávamos ao primeiro objectivo do dia. Muito ainda faltava fazer, mas agora era tempo de repousar um pouco e recordar alguns dos pontos de maior interesse desta vila beirã. Com uma história riquíssima, não só por ter sido a terra natal do descobridor do Brasil, e por essa razão ter sempre mantido uma profunda ligação ao “Portugal de lá do Atlântico” mas também por ter sido um dos últimos e talvez o mais importante reduto do povo judaico quando foi expulso do nosso País pelo Marquês de Pombal. A Judiaria belíssimamente conservada e o Museu são pontos a não perder obviamente.

É evidente que não perdi a oportunidade de rever a construção/reconstrução que fizeram no que foi em tempos a casa da minha bisavó…mas com sinceridade, acho que não resultou bem. A original era bem mais bonita apesar de não ostentar uma “típica” fachada de pedra. Mas ao menos a caixilharia era de madeira…

Belmonte - Casa da Bisavó (reconstruida)

Lá ao fundo, a Serra da Estrela esperava-nos!

Belmonte - Vista da Serra da Estrela

A seguir:

Serra da Estrela…e algo mais (2)

Serra da Estrela…e algo mais (3)

EN 118 – do Montijo a Alpalhão

Cruzo Portugal de poente para nascente, quase sempre ao lado do Tejo pela sua margem esquerda.

De povoação em povoação a caminho do destino final

A EN118 é uma estrada que antigamente, muito antes da era pré-auto estradas, era utilizada na sua íntegra ou em parte, por quase todos os que se deslocavam do litoral para a Beira Baixa (Castelo Branco e Serra da Estrela) ou para o Alto Alentejo (distrito de Portalegre principalmente). Segue paralela à margem sul do Rio Tejo e tinha a sua correspondente na EN3, hoje completamente retalhada, que unia Castelo Branco a Alcanena (sendo esta muito mais complicada pois aqui o terreno é muito mais sobe e desce…). Já a EN118 tem o seu traçado praticamente intacto.

A estrada nacional 118 preserva quase na íntegra o espírito das estradas do “antigamente”. Unindo pacientemente uma terra a outra, numa linha quebrada que vai desde Passil, junto ao Montijo, até à vila norte alentejana de Alpalhão. É aqui que começa… EN118_1

…e este é o primeiro marco que encontrei (mas que curiosamente será o 5º km):En118_2

Daqui, a caminho do Porto Alto e uma constatação que se confirmou ao longo da totalidade da estrada: está excelentemente sinalizada, sabemos sempre em que estrada estamos, a esmagadora maioria dos marcos estão no seu sítio e inclusivamente, nas aproximações a cruzamentos com outras estradas principais, as mesmas estão bem identificadas (a comparação com o que se verifica na EN2 é abissal!).

EN118_3

No Porto Alto, uma homenagem aos homens e às tradições ribatejanas (que se repetiriam em diversas formas em Samora Correia, Benavente e por aí fora…):

EN118_4

Fomos avançando, numa estrada com imenso trânsito (ou não fora esta uma via que atravessa o coração de uma zona rica do ponto de vista industrial e agrícola). Mesmo assim, há terras em que nos sentimos em casa…vá-se lá saber por quê!!!

EN118_5

Em Alpiarça, uma terra onde a tradição do ciclismo reina, a justa homenagem aos heróis do pedal:

EN118_7

Na Carregueira uma homenagem (curiosa) com significado:

EN118_8

E assim cheguei à Chamusca. A primeira metade da viagem estava feita. Diga-se que pouco interessante do ponto de vista paisagístico e ainda mais desinteressante no que se refere à condução. Rectas e mais rectas, entremeadas com uma ou outra curva rápida, mas sobretudo com muito trânsito em ambos os sentidos, a obrigar a médias na casa dos 60km/h.

Mas a partir daqui, as coisas iam mudar um pouco. E o primeiro momento alto do dia deu-se com a chegada ao miradouro para o Castelo de Almourol. Espectacular!

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Pouco depois, o 118 da 118!

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E aproximava-me do Tramagal. À esquerda a beleza das curvas do Rio Tejo e em frente a parte mais divertida de toda a viagem: antes mas principalmente depois do Tramagal, as suas famosas curvas.

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Mas ainda antes de começarem as curvas e contra curvas, um ex-libris da região (e local de memórias boas ou más, conforme o caso, de muito boa gente que “andou na tropa”…):

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Uma foto com duas armas de combate…mas só uma no activo!!!!

A aproximação a Abrantes trazia também a satisfação de rever os amigos Ana e Zé Rafael que mais uma vez, foram anfitriões de excelência (e o caril estava soberbo!!!).

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Abrantes na outra margem. Nesta, Rossio ao Sul do Tejo, ponto de confluência onde se cruzam duas estradas que atravessam Portugal: a EN2 de norte a sul e a EN118 de poente para nascente. É aqui (um cruzamento desta importância merecia melhor tratamento…se calhar uma rotunda com dignidade e evitar o Fernando Mendes que não é para aqui chamado!):

EN118_15

A primeira parte da viagem estava concluída!

……

Almoço despachado, conversa posta em dia, era tempo de regressar à estrada. ainda faltavam cerca de 60 km e a tarde ainda mal tinha começado. Havia muito tempo para aproveitar.

Pouco depois, uma dúvida nos assaltou…seria Springfield? Estaria Homer Simpson aos comandos da Central? Pelo sim pelo não…o melhor era dar de frosques…

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E assim se chega a Alvega. Terra com uma história curiosa…

En118_17

Recordam-se da série Major Alvega que deu há alguns anos na TV? E que era a adaptação das histórias de banda desenhada com o mesmo herói?

Pois bem…a inspiração para o nome veio desta localidade ribatejana segundo contou certa vez o conhecido meteorologista Anthímio de Azevedo, que era na sua juventude o tradutor dos originais ingleses, para a revista “O Falcão” que fazia as delicias dos adolescentes dos anos 60 e 70. A história conta-se breve:

Major Alvega é uma personagem fictícia, ás da aviação anglo-portuguesa da RAF (Royal Air Force, a Força Aérea britânica), e herói da série de banda desenhada que fez grande furor nas décadas de 1960 e 1970 em Portugal, aparecendo recorrentemente nas páginas de pequeno formato da revista juvenil “O Falcão”. No título original em inglês chamava-se “Battler Britton – England’s Fighting Ace of Land, Sea and Air” e foi criado em 1956 para a revista britânica Sun, por Mike Butterworth (argumento) e Geoff Campion (desenho) e chegou a ser desenhado por vários desenhistas de renome tais como, Hugo Pratt, José Ortiz, Dino Battaglia ou Luigi (Gino) D’Antonio para a editora Fleetway. Foi protagonista das mais variadas aventuras, todas caracterizadas por muita acção, suspense e um toque de humor, nas quais defrontou (e venceu) alguns dos mais importantes intervenientes da Segunda Guerra Mundial: Rommel, Goering, Hitler e Mussolini.

No entanto, numa época em que a censura (ao serviço de um Estado Novo fervorosamente nacionalista) obrigava todos os heróis do género a figurarem nomes portugueses (e por consequência alguma forma de ascendência lusa), o protagonista seria rebaptizado por Mário do Rosário, director da revista “O Falcão”, e por Anthímio de Azevedo, o tradutor, para Jaime Eduardo de Cook e Alvega, um ribatejano por via paterna e inglês por via materna, que teria estudado em Coimbra, tendo também sido alterada a sua patente de tenente-coronel para Major.

De Alvega ao Gavião é um pulinho. E do Gavião até à praia fluvial do Alamal é outro. Merece o desvio!

A estrada desce íngreme na aproximação à praia. Do outro lado do rio, Belver com o seu majestoso castelo bem destacado na paisagem com o casario da vila em segundo plano

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Regresso pelo mesmo caminho e uma volta pelo centro do Gavião. Feitos todos estes quilómetros, é a primeira vez que o traçado original não corresponde ao actual, pois a construção da variante a sul da vila retira-lhe o tráfego do interior.

Mais à frente, a chegar a Tolosa, encontraríamos o mesmo cenário mas aqui com a curiosidade de estrada antiga e estrada nova correrem por momentos em paralelo.

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Segui pela estrada antiga, atravessando Tolosa e Gáfete e, à saída desta os caminhos unem-se novamente até à chegada a Alpalhão, destino final e onde uma outra variante nos obriga a entrar na vila por sitio diferente do original.

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Mas o marco final da estrada ainda está no seu sítio:En118_25

A viagem estava concluída. Quase 200km de Estrada Nacional 118. Que une, ponto a ponto, os arredores de Lisboa até relativamente perto da fronteira com Espanha. Este troço final, de cerca de 20 km coincide com o IP2 que intermitentemente vai percorrendo o país de norte a sul.

Em registo de conclusão dizer que esta estrada não figurará num ranking das melhores. a envolvente paisagística tem algumas partes muito bonitas mas também muitas desinteressantes. Sob o ponto de vista de condução, o piso é geralmente bom e a sinalização muito boa para o padrão das nossas ENs, mas a estrada tem na maioria da sua extensão pouco interesse. Salva-se principalmente a zona do Tramagal e o resto é demasiado a direito. Acresce que até Alpiarça a estrada é bastante movimentada.

Então porque fazê-la? Vale a pena, se for utilizada como aproximação a zonas de maior interesse turístico, como sejam a região da Serra de S. Mamede – Portalegre, Castelo de Vide e Marvão – ou uma deslocação até à raia espanhola (Badajoz, Alcântara ou, um pouco mais longe, Cáceres) ou ainda, como uma primeira etapa para uma ida até Castelo Branco ou à Serra da Estrela…que é o que vai acontecer amanhã!

A alternativa? Voltar pelo mesmo caminho:

En118_26

BOAS CURVAS!

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