Quanto è bella questa macchina!

Das italianas dizemos que são bonitas, elegantes e temperamentais. Sim…estou a falar de motos!

E a musicalidade da sua voz também não tem igual. Continuo a falar de motos…mas até podia não ser.

Esta Ducati Supersport 950S tem tudo isso: é bonita, elegante, temperamental e tem um som que marca a sua passagem.

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Ducati Supersport 950

Sem dúvida que o visual “alla Panigale” ajuda. O ar de família realçado com alguns pormenores específicos – as aletas aerodinâmicas junto aos faróis – está lá. O Testastretta de 937 cm3 amplificado pelas duas curtas trombetas do escape, numa voz rouca e profunda, transmite-nos a sensualidade que é habitual associarmos às italianas. Destas…e das outras!

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Ducati Supersport 950

É o carácter italiano…apesar do desenho desta Supersport ter saído do lápis (em sentido figurado, é claro) e da criatividade de um francês: Julien Clément, o criador das linhas das Panigale V2 e V4. Um rapaz com jeito para a coisa…

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Ducati Supersport 950

Apenas um detalhe dissonante. Às belas italianas está geralmente associado um vermelho flamejante. Neste caso não. A Ducati Supersport 950S na versão ensaiada é branca. Um lindo branco mate a que a marca chamou “White Silk” (o mais próximo que conheço é o branco das pérolas naturais). Depois do impacto inicial, estou perfeitamente convencido que esta cor lhe fica a matar!

Sobre a Ducati Supersport 950S

 Tinha grande curiosidade em experimentar esta Ducati. Por duas razões principais:

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Ducati Supersport 950

1. Há uns meses atrás, tive a oportunidade de experimentar a Panigale V2. Apesar das parecenças (não só estéticas), não partilham o mesmo motor. E no caso da Supersport, a diferença mede-se em menos 45 cv. Nada despiciendo. Mas ainda assim, para menos de 190 kg (em vazio), são 110 cv;

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2. A segunda curiosidade prendia-se precisamente com este valor de potência. É o mesmo que eu tinha na minha antiga Honda CBR600F de 1999 (ainda a carburadores e sem qualquer sofisticação electrónica ou mecânica face ao que é habitual hoje em dia). Eram 110 cv do século passado…mas seriam assim tão diferentes?

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Ducati Supersport 950S

A primeira nota de destaque tem a ver com o encaixe em cima da moto. Mais facilitado do que na Panigale. Provavelmente pelas quotas da moto, mas também pela posição dos avanços – claramente acima da linha da mesa de direcção – e do posicionamento das peseiras – não tão recuado.

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Ducati Supersport 950

Afinal, esta Ducati vem referenciada como pertencendo ao segmento das “sport-touring”. Ou seja, uma desportiva com características turísticas. As Panigale são claramente “racing”. É todo um outro mundo. Mas se olharmos para outro lado da gama de modelos da marca, as Multistrada são turísticas com características desportivas (e outra polivalência, claro…). E a 950 até partilha motor e outros componentes com a Supersport. Será que isto não levanta alguma confusão?

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Ducati Supersport 950S

Por analogia a uma classificação mais característica dos automóveis e em muito em voga há algumas décadas atrás, diria que a Supersport 950 é um exemplar perfeito do conceito GT: “Grande Turismo”.

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Oriola – Barragem de Albergaria dos Fusos

 Este modelo entrou no catálogo da Ducati em 2016 (nada consensual na época a decisão de lançar uma moto com estas características mas o resultado deu razão aos seus defensores) e até agora não tinha sofrido actualizações. Nesse ano foi considerada a moto mais bonita do Salão de Milão onde foi apresentada.

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Valeu a pena a espera. Para lá da estética que já referi – e que evoca sem qualquer tipo de hesitação a linhagem das Panigale – a adopção de uma central inercial de 6 eixos, a actualização do motor Testastretta a 11º (ângulo de inclinação entre as válvulas de admissão e escape) de 937 cm3 que incluiu a conformidade com a norma Euro 5 – que de passagem lhe retirou 3 cv – e um ecrã TFT colorido de 4,3” e excelente leitura (idêntico aos das Panigale mas menor), esta Supersport é uma moto com a qual nos sentimos integrados quase desde o primeiro momento (digo quase porque precisei de breves momentos para mudar o chip, habituado que estou a motos mais altas…).

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Ducati Supersport 950

Relativamente à experiência de há meses atrás com a V2, continuo a achar que os limites da moto estão muito para lá dos meus dotes de condução. Mais ainda na V2, claro. Mas se nesta nunca deixei de sentir que era mais ela que me conduzia, com a Supersport senti um maior domínio da máquina, sem qualquer dúvida.

O que aliás é natural. A Supersport é uma moto de estrada (e 110 cv) que pode ir à pista com muita facilidade e sem desmerecer. A Panigale V2 é uma moto de pista (com 155 cv) que se deixa conduzir em estrada.

Convém referir que a moto ensaiada é a versão S. Mais e melhor equipada (e também mais cara, naturalmente). Mas diria que a diferença justifica o maior investimento…se para tal houver disponibilidade, claro.

DSC01548.JPG_6.25_JPGO que a versão “normal” tem a menos? Em vez das suspensões Ohlins tem um conjunto Marzochi+Sachs (F+T), não tem a cobertura do assento do pendura e… não existe em branco. Só em vermelho!

A caminho do Alentejo

Aproveitei a viagem a Viana do Alentejo e Oriola, ali ao virar da esquina, um pouquinho abaixo de Évora, para experimentar a Ducati Supersport 950S. A propósito,Já conhece Oriola?

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Oriola – a importância dos detalhes

A meteorologia não ajudou, pois alguns episódios de chuva recomendavam bastante prudência uma vez que mesmo quando o S. Pedro dava tréguas, o piso estava húmido em algumas zonas.

Ao “mudar o chip” como atrás referi, tive que voltar a habituar-me à posição de condução mais em cima dos pulsos (uma das razões de ter mudado a minha moto pessoal de uma de estrada para uma trail) e com as pernas mais flectidas. Ainda assim, nada de muito radical, porque a ergonomia desta Ducati é muito boa, considerando a tipologia em causa. Devo referir que a altura do assento fica a 810 mm do chão o que permite que qualquer um, mesmo os mais baixos, se sintam perfeitamente à vontade na Supersport.

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Ducati Supersport 950

Direi que no final de quase 400 km de viagem, alguns deles mais tensos por causa da chuva e outros, poucos, no meio de engarrafamentos em Évora e Montemor (até aqui há horas de ponta…), os meus pulsos já se queixavam. A postura, principalmente no meio do trânsito, castiga-os sobremaneira. Já em estrada livre…não há queixas! Nem os pulsos sofrem por aí além – mérito dos avanços serem em posição mais alta face à mesa de direcção – muito menos as costas que ficaram impecáveis nesse e nos dias seguintes.

20210428_111032.jpg_7.90_jpgÉ importante aqui referir 3 aspectos que achei verdadeiramente superlativos:

1. A aerodinâmica é muito boa! Apesar da reduzida dimensão do vidro e da “magreza” da moto face à minha envergadura, não se sentem perturbações no capacete, ombros ou braços. Impressionante! A possibilidade de regulação do vidro dá uma ajuda neste domínio.

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2. A suspensão…eu sei que é Ohlins, mas… A leitura do terreno e a capacidade de absorção das irregularidades é excelente. Fiquei deveras surpreendido pois as minhas referências não tinham nada a ver com a forma como estas suspensões se comportam.

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3. Os travões. Eficazes, doseados na perfeição, transmitem uma confiança fantástica. Sabemos que estão lá para o que der e vier. São Brembo…

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Mas não ficamos por aqui: o funcionamento do quick-shift é brilhante (aliás, idêntico ao que tinha verificado na V2).

Outro aspecto a destacar tem a ver com os modos de condução. São 3: Sport, Touring e Urban.

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Painel TFT: onde tudo se passa!

Em cada um destes modos, combinam-se a actuação da entrega da potência do motor (ENGINE), o controlo de tracção (DTC), o ABS, o anti-cavalinho (DWC) e a utilização ou não do referido quick-shift (DQS). Todos estes parâmetros têm definidos de série os respectivos valores mas que podem ser personalizados pelo condutor (deveria dizer piloto?).

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Modo de Condução Sport
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Modo de Condução Touring
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Modo de Condução Urban

E não podia faltar a referência a uma características que me fala ao coração: o monobraço traseiro. Com a bela roda traseira bem descoberta porque o escape curto isso permite. Bem bonita que é vista deste lado!

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Ducati Supersort 950S

Por tudo isto que refiro, em andamento é o que se esperava. Temos máquina para andar e andar. E “chegamos lá” enquanto o diabo esfrega um olho.

Uma única preocupação: os fotógrafos à la minuta que por estes tempos se dedicam ao passatempo do voyeurismo velocimétrico. As fotos não são nada de jeito, as carteiras ficam mais aliviadas e o cartão de fidelização de condutor ganha rapidamente pontos adicionais. 

Características e especificações

Características Ducati SS9500001.jpg_0.66_jpgCaracterísticas Ducati SS9500002.jpg_0.55_jpg

Ducateando…

Quando ligamos o motor desta Supersport 950S, sentimos aquele som tão típico: parece que há peças soltas dentro do motor.

Aumentamos a rotação e a coisa muda de timbre. Algo assim mais parecido com um slow cantado pela voz do Joe Cocker – foram vocês que pensaram em “You can leave your hat on”?. Leva-nos para terrenos de elevada sensualidade. E isso tem tudo a ver com esta moto. Ela é sensual até dizer basta!

Finalmente…enrolamos o punho e entra em cena a Orquestra Sinfónica de Borgo Panigale em todo o seu esplendor. Aquelas duas cornetas do lado direito sabem bem como se expressar…

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Orquestra Sinfónica de Borgo Panigale!

O terreno de eleição desta Ducati é uma estrada de bom piso (quanto melhor, melhor!) e bem sinuosa. A estrada que nos levou ao nosso destino tinha alguns pedaços que correspondiam a esse modelo…mas há outras bem melhores. Era o que tínhamos e portanto aproveitámos.

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Ducati Supersport 950S

Vamos em frente que atrás vem gente! A moto vai precisamente para onde queremos numa ligação quase umbilical com o nosso olhar. Será que nos lê o pensamento? (devia ter confirmado isto no Manual de Instruções). As mudanças de inclinação entre curvas são intuitivas e a moto flui estrada fora. A propósito, para os mais “baldados” a marca indica como inclinação limite 48º…

O motor tem “apenas” 110 cv mas parece ter algo mais. Muito redondo – 80% do binário disponível desde as 3.500 rpm – cheio nos regimes intermédios e sempre em crescendo até perto do red-line (se esgotarmos a 2ª velocidade já ultrapassámos todos os os limites de velocidade permitidos em Portugal!). A velocidade máxima andará perto dos 270….

Em nenhum momento, mesmo com piso molhado, senti os limites dos Pirelli Diablo Rosso III. Coladinhos à estrada como convém, cumprem a sua função sem percalços. Quanto à durabilidade?…who cares?

Na componente “turística” diria que a moto é pequena para pendura e alguma bagagem. Se for possível prescindir de algum….

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Para terminar, duas notas:

– a primeira, positiva: a qualidade dos acabamentos em particular e a qualidade percebida do todo é francamente boa;

– a segunda, negativa: aquele algoritmo que rege o indicador do volume de combustível e a autonomia “não lembra ao careca” (já tinha dado por algo similar na Panigale). Atestei a moto antes de sair. A certa altura tinha ainda 3 dos 7 “paus” do indicador. Passados vinte e tal quilómetros…acende a luz da reserva e com a indicação de autonomia de cerca de 60km. O que não me deixou tranquilo apesar de saber que tinha uma bomba a metade da distância. Porque não há ali uma linearidade na informação prestada… Ainda assim, o consumo rondou os 6 litros de líquido precioso por cada centena de quilómetros percorridos.

Conclusão

Numa época em que tudo tende para uma certa “ecologia asséptica” em que o que transige com uma certa noção de cumprimento de regras deve ser banido (a confusão existente entre excesso de velocidade e velocidade excessiva ou um falso combate à sinistralidade rodoviária que disfarça a necessidade de aliviar as carteiras dos “privilegiados”, por exemplo) é bom sabermos que ainda vão existindo motos que nos aquecem a alma e estimulam a adrenalina. E tudo isso, sem cometer loucuras ou assumir riscos desnecessários.

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A Ducati Supersport 950S cumpre essa missão. Afinal, não obedece a uma escalada nas potências (como referi no início, há quase 22 anos tinha uma moto com o mesmo número de cavalos…só que eram cavalos do século passado!) mas tem o suficiente para nos poder proporcionar imenso prazer de condução (com a segurança que então não tínhamos graças ao potencial da electrónica) e com uma estética apaixonante. E tudo isto sem “deixar nas lonas” o seu potencial comprador (o preço é elevado mas face ao que oferece, diria que é adequado).

Parabéns Ducati!

Para saber tudo sobre esta viagem ao Alentejo na bonita Ducati Supersport 950S, leia “JÁ CONHECE ORIOLA?

E no canal de YouTube de Viagens ao Virar da Esquina, também pode ver o filme sobre a Ducati Supersport 950S: Quanto è bella questa macchina!

ORIOLAAgradecimentos

O meu muito obrigado à  DUCATI PORTUGAL pela cedência desta excelente Supersport 950S

 Ao Carlos, pela inestimável companhia e camaradagem neste périplo alentejano e pela paciência face às necessidades de captura de imagens.

Já conhece Oriola?

Foi assim. Desta forma simples que os meus cinco sentidos ficaram alerta.
Uma atenta seguidora de Viagens ao Virar da Esquina lançou assim, de chofre, a inquietação. Até porque fez acompanhar a interpelação com algumas fotos magnifícas.
“Oriola? O que é? Onde Fica?” – respondi, perguntando da mesma forma directa.

A expressão “Já conhece…” tem o poder mágico de me colocar a curiosidade em estado de alerta máximo. Por vezes não conheço mas já ouvi ou li algo. E acalmo. Neste caso, nada disso!

Enquanto aguardava a resposta fui à Enciclopédia Universal dos nossos dias: o Google. Oriola é uma pequena aldeia, situada a meio caminho entre Viana do Alentejo e Portel (a cujo município pertence).

A conversa prosseguiu mas o “mal” estava feito. Até porque há muito que queria também visitar Viana do Alentejo.

E os astros estavam mesmo de feição. Por esses dias tinha-me sido cedida para uma experiência de condução uma bonita Ducati Supersport 950. As estradas alentejanas seriam óptimas para tal finalidade e até para perceber se esta seria uma boa solução para viajar, tão diferente das configurações da moda.

Como disse Júlio César ao atravessar o Rubicão: “Alea Jacta Est”. Os dados estão lançados!

A viagem começa com com um cafézinho…

Sendo destino final Oriola, queria deter-me antes em Viana do Alentejo. Para lá chegar, e porque um amigo me fazia companhia desta vez, a volta tinha que ter um pouco mais de tempero.

Assim começámos por um cafézinho matinal numa esplanada em Alcácer do Sal, defronte para a tranquilidade das águas do Rio Sado e da magnífica ponte metálica, que depois de restauro recente voltou a ter a sua funcionalidade basculante perfeitamente operacional.

Ponte de Alcácer do Sal
Ponte de Alcácer do Sal

Rumámos a nordeste apenas para mais à frente tomarmos a estrada de S. Catarina. A M1071 que nos levaria até Alcáçovas, primeiro ponto de interesse da jornada.

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Planície alentejana

Para mim, era o regresso ao banco de jardim onde a tradição dos últimos anos e das diversas passagens por aqui, manda que tire uma foto (desta feita com companhia). Começou quando aqui passei a primeira vez que percorri a EN2. E pertencer à nossa estrada maior está bem sinalizado à entrada da vila.

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Foto tradicional em Alcáçovas
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Alcáçovas na EN2

Mesmo ao lado desse banco de jardim fica a imponente Igreja Matriz (em bom rigor deveria dizê-lo ao contrário por ordem de importância óbvia). Cujo rico património interior está bem protegido pelas paredes meias com o posto de GNR local (gente simpática, mas essa é outra história…).

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Igreja Matriz de Alcáçovas

Em Janeiro do ano passado, na “Opinião” da Andar de Moto #20, falei sobre Alcáçovas e sobre a importância histórica desta vila alentejana. Foi aqui que em 1479, Portugal e Espanha começaram a divisão do Mundo pelo Tratado que lhe leva o nome.

Esse tratado foi assinado no Paço dos Henriques (de Transtâmara), obra do Séc. XIII que recentemente foi alvo de importantes obras de restauro e que agora está inteiramente disponível para os visitantes.

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Paço dos Henriques

Essa divisão do Mundo foi a primeira pedra para a estratégia dos Descobrimentos de ambos os países nas décadas futuras. Foi a partir daí que ficou verdadeiramente redondo e portanto, como defendi, começou a Globalização. Convido-vos a reverem esse texto.

Mesmo ao lado fica a curiosa Capela das Conchas ou Capela de Nossa Senhora da Conceição. Construída nos séculos XVII e XVIII, apresenta a particularidade de ostentar a fachada e o altar decorados com conchas. Também adornam o jardim adjacente, onde é possível entrar através de uma torre com o interior coberto de conchas e cacos de porcelana antiga. Uma das paredes da capela, no espaço do jardim, encontra-se completamente revestida com um invulgar painel de desenhos coloridos feitos com conchas.

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Capela das Conchas
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Capela das Conchas – pormenor
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Capela das Conchas – jardim

Em Alcáçovas existe uma arte ancestral que é o fabrico de chocalhos. Desde 1 de Dezembro de 2015, que esse fabrico é considerado “Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente”, título atribuído pela UNESCO. O Museu do Chocalho é também um ponto de visita obrigatório.

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Arte Chocalheira

Foi em Alcáçovas que começou a chover. Os ameaços já tinham sucedido mas daqui até Viana, escassos 18 km, seguimos sempre abençoados pela água vinda do céu. Assim voltaria a acontecer ao longo do dia!

…e continua com chuva!

Debaixo de chuva mas bem protegidos, entrámos em Viana do Alentejo. Motos estacionadas no centro da vila, tréguas feitas com o S. Pedro (por enquanto…) e, como eram horas de repor energias, procurámos umas migas. Lá nos indicaram um sítio onde seriam boas. E digo seriam porque …não havia! Só no dia seguinte. Pois…

Lá almoçámos (quando a expectativa é elevada, o bom torna-se banal) que a hora ia adiantada e ainda faltava ver o principal.

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Rua típica de Viana do Alentejo

De Viana se diz que rivalidade regional a terá feito mudar da anterior designação, Viana a par d’Alvito ou Viana de Alvito, para a actual “do Alentejo” (certamente para a destacar de outra bem mais a norte). A razão de não terem preferido a ainda mais ancestral nomenclatura – Viana de Foxem (ou Fochem) – desconheço. E também não será relevante. Fiquemos com a mera referência histórica.

Tinha 3 pontos de referência em Viana do Alentejo: o Castelo com a Igreja Matriz no seu interior, o Santuário de Nossa Senhora d’Aires e a lenda de uma moira encantada e o Píncarinho de S. Vicente.

Começo por esta última.

Moiras encantadas e as suas lendas são inúmeras Alentejo fora. Reminiscências românticas – porque de amores desencontrados entre cristãos e mouros geralmente se tratam e com finais trágicos também amiúde – de muitos séculos de permanência mourisca no nosso território e das muitas lutas que no final lhe puseram termo. Contudo, desta não lobriguei história.

Fiquei de mãos a abanar e acabei por nem procurar o dito Píncarinho. É uma elevação relevante, 374 m no meio da planície, mas em dia cinzento e chuvoso … Apenas referir a curiosa expressão “píncarinho”, muito frequente no Alentejo (principalmente no Baixo, onde quase tudo merece este carinhoso sufixo diminutivo) quando se quer destacar um ponto de maior altitude.

A visita ao Castelo

A primeira curiosidade é o facto de esta fortaleza não ficar propriamente num alto – aqui ficaria apropriado utilizar novamente o termo “pincarinho”! – mas sim integrada em plena urbe. Lá se chega por rua estreita e quase conseguimos imaginar o carteiro a bater à porta para aí entregar uma carta. Certamente que o endereço terá nº de polícia e tudo…

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Entrada do Castelo

A fortaleza tem uma planta pentagonal, com 5 torreões cilíndricos e de telhado em bico a marcarem os 5 lados do polígono. No seu interior, um pequeno jardim, um pátio e duas igrejas: a Matriz de Nossa Senhora da Anunciação e a da Misericórdia.

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Castelo – Muralha e torreão

Diz-se sem certeza absoluta que a origem deste castelo estará no reinado de D. Dinis (1279-1325),sendo assim da mesma altura da outorga do primeiro foral da vila alentejana (1313). Alguns dados mais recentes poderão sugerir para uma construção mais tardia. Abrigou na sua disposição os primitivos Paços do Concelho, o primeiro cemitério da vila e a primitiva Igreja Matriz, consagrada a Santa Maria de Foxem.

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Castelo – pormenor do Jardim
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Castelo – Jardim, Torreão e Igreja Matriz

Sob o reinado de João II de Portugal (1481-1495), esta fortaleza foi remodelada, uma vez que o soberano, tendo reunido as Cortes em Évora a 12 de Novembro de 1481, depois as transferiu para Viana, onde vieram a encerrar-se a 7 de Abril de 1482.

Na ocasião, o soberano utilizou o Castelo de Viana como residência temporária. Fato semelhante repetiu-se em 1489, tendo a então Viana de Alvito sido escolhida como palco para as grandes festividades realizadas por ocasião das bodas de seu filho, o príncipe D. Afonso, com a infanta D. Isabel de Castela, em Janeiro e Fevereiro de 1491, para o que foram também promovidas remodelações na Igreja Matriz.

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Castelo – Pátio

Esses trabalhos prosseguiram no reinado de seu sucessor, D. Manuel I (1495-1521), com obras sob a direcção dos arquitectos Martim Lourenço, Diogo e Francisco de Arruda (o arquitecto da Torre de Belém). No castelo, destaca-se a construção de um novo pano de muralhas devidamente ameado.

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Castelo – Torreão

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Anunciação é preponderante neste conjunto pela sua matriz Manuelina, conjugando vários elementos de um gótico final e do Renascimento, despontando ainda numa clara influência mudéjar.

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Igreja Matriz
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Igreja Matriz

Na fachada principal encontramos um lindíssimo portal manuelino, exuberantemente decorado e com as divisas régias de D. Manuel: a cruz de Cristo, o escudo das quinas e as esferas armilares. Lindíssimo!

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Igreja Matriz – Portal manuelino

No interior majestoso, os fechos das abóbadas repetem as divisas do Rei. Subsistem no transepto dois belos vitrais quinhentistas representando São Pedro e São João Baptista. O altar da capela que é panteão de Vasco Godinho (m. 1525) é forrado com belos azulejos sevilhanos do séc. XVI.

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Igreja Matriz – interior
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Igreja Matriz – interior
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Igreja Matriz – interior.
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Igreja Matriz – interior
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Igreja Matriz – interior – pormenor do tecto

No recinto do castelo, um cruzeiro renascentista mostra duas comoventes figuras, uma Pietá e uma Virgem do Leite.

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Castelo – Cruzeiro renascentista
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Castelo – Cruzeiro – Pormenor

A Igreja da Misericórdia de Viana, também no estilo Manuelino, apresenta uma planta rectangular de dimensões mais recatadas, fruto de alterações arquitectónicas que o edifício sofreu ao longo do século XX. Tem um altar magnífico e a nave revestida de azulejos oriundos do século XVIII.

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Igreja da Misericórdia – Interior
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Igreja da Misericórdia – Altar

Sem dúvida que o Castelo de Viana merece uma visita. E se tiverem a mesma sorte que nós ainda melhor. O senhor do turismo local que estava na recepção, foi de uma simpatia extraordinária e brindou-nos com uma lição de História sobre aquilo que depois visitámos. E também conversámos sobre a vila e a vida. As conversas são como as cerejas (estamos quase no seu tempo) e é assim que se promove o Turismo e a riqueza da terra. Merece um aplauso!

Foi também ele que nos informou que o nosso terceiro ponto de destaque estava em fase de conclusão de obras: o Santuário de Nossa Senhora d’Aires. A sua reabertura já se terá realizado quando lerem este texto. Aprazado para 16 de Maio, veremos se os arruamentos e acessos ficam prontos, porque quanto ao edifício está terminado. E é magnífico. Imponente, destaca-se na paisagem e segundo nos foi referido, será o terceiro maior santuário mariano de Portugal (depois de Fátima e Lamego).

Santuário de Nossa Senhora d’Aires

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Santuario N S Aires

Pelo que refiro atrás, obviamente não foi possível visitar o seu interior. Ainda assim, fica o registo.

Aqui se venera a imagem em pedra de Ançã da antiga padroeira, Nossa Senhora da Piedade.

Essa imagem, em que Nossa Senhora está sentada com Jesus morto nos braços, é objecto de grande fé, pois segundo a tradição nunca deixou de socorrer os crentes, como o confirmam os inúmeros ex-votos expostos na Casa dos Milagres, uma colecção de arte popular única e singular que inclui objectos de diversas épocas como fotografias antigas, vestidos de noiva e tranças de cabelos.

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Santuário N S Aires

O santuário em estilo barroco foi construído entre 1743 e 1804, segundo o projecto do Padre João Baptista, no local onde existia uma anterior ermida quinhentista.

Na portada, uma inscrição em latim relata que após a expulsão dos mouros destas terras, um lavrador arava o campo quando encontrou dentro de um pote de barro a imagem que se vê no altar.

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Santuário N S Aires – Portada

O edifício tem uma planta de cruz latina, composta por uma única nave, com cobertura em abóbada de berço. No interior, destaca-se o altar de talha em estilo rococó.

Fazem parte do santuário também a fonte de Nossa Senhora d’Aires, situada no Terreiro dos Peregrinos e casas de romeiros.

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Fonte de N S Aires

Dois dos eventos mais emblemáticos de Viana do Alentejo estão relacionados com este local: a feira franca de Nossa Senhora D’Aires, que desde 1751 decorre no quarto fim-de-semana de Setembro; e a Romaria a Cavalo, que percorre os 120 kms da antiga canada real, entre a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita do Ribatejo, e este santuário, em Viana do Alentejo, que costuma realizar-se no quarto fim-de-semana de Abril. Por motivos dos tempos que correm, desde o início de 2020 que estão suspensas.

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Santuário N S Aires
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Santuário N S Aires – arranjos exteriores (em conclusão)
Finalmente…Oriola!

Desta terra disse José Saramago em “Viagens a Portugal” (1981):

“O viajante gosta de nomes, está no seu direito. Não tendo motivos para parar em Oriola, povoação no caminho de Viana do Alentejo, saboreou-lhe as sílabas italianíssimas ou geminalmente mais próximas da Orihuela valenciana.”

O viajante era, no texto, o próprio escritor, e a referência ainda que breve, ficou. Pouco simpática, qualidade que, julgo eu que o não conheci, também o caracterizava. Mas tinha razão. Oriola tem uma sonoridade que nos desperta.

Pequena terra que terá agora uns 200 habitantes, talvez, chegou a ter o triplo nos idos de 1800. Era então vila e sede de concelho, que o foi de 1282 e 1836. E é verdade que o seu nome derivará da palavra árabe que também está na raiz da Orihuela citada por Saramago.

O seu primeiro donatário foi João Moniz, clérigo e tesoureiro-mor do rei Afonso III, e o seu último, D. Luís Lobo da Silveira, 7º Barão de Alvito. No ano de 1282 recebeu foral dado por D. Dinis, e ampliado em 1516 por D. Manuel I.

Em 2006, Oriola recebeu a visita do primeiro-ministro da época (J. Sócrates) para comemorar o facto de a sua Escola Básica ter sido a última escola a receber banda-larga da Internet. Não sei se ser o último deve ser motivo de comemoração…mas seja como for, mais vale tarde que nunca!

O que hoje destaca verdadeiramente Oriola, para lá da sua traça genuinamente alentejana – casas térreas de branco caiado, ruas direitas, planas, perpendiculares e imaculadamente limpas – é a proximidade à barragem e albufeira de Albergaria dos Fusos (também chamada do Alvito…que fica mais longe!).

Quando seguimos na EN384 entre Viana do Alentejo e Portel, mais ou menos a meio caminho, cortamos à direita para Oriola. Uma pequena recta leva-nos à entrada e aí encaramos com um monumento ao 25 de Abril.

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Quase em Oriola

 

A escala é um pouco exagerada face à cércea dos edifícios da terra (acredito que esse sobre dimensionamento terá paralelo no sentimento da população, legítimo e justificado portanto) e hoje talvez um pouco kitsch, mas a simbologia está lá. E no final, é isso que interessa. A pomba branca com o cravo vermelho (único elemento cromático) assinala a entrada em Oriola.

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Oriola – Monumento ao 25 Abril

Logo de seguida podemos constatar que aqui se dá verdadeira importância aos detalhes…

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Oriola – a importância dos detalhes
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Oriola – Ruas brancas

Seguimos a direito, percorremos o casario e lá bem mais à frente uma placa indica-nos “barragem”. para o lado esquerdo.

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Oriola – A caminho da barragem

Viramos e uma centena de metros depois…a estrada afunda nas águas da albufeira da barragem. Logo ali!

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Oriola – Onde a estrada afunda

Essa estrada que ligava Oriola a Santana (e que curiosamente ainda hoje encontramos em mapas actuais e até no Google Maps) está completamente submersa. Como submersa também está uma ponte romana.

E aí parámos para umas fotos. Garanto-vos que a paisagem, o silêncio dos campos apenas quebrado pelo cantar dos pássaros ou o marulhar do ventos na superfície da água, tornam este local belíssimo e transmitem-nos calma. Muita calma!

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Oriola – Barragem de Albergaria dos Fusos
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Oriola – Uma Ducati na paisagem.
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Oriola – Uma Ducati na paisagem
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Oriola – Barragem – panorâmica
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Oriola – Panorâmica
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Oriola – Chegámos ao fim da estrada
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Oriola – Chegámos ao fim da estrada

E sim! Já conheço Oriola.

E a Oriola (e também a Viana) hei-de voltar em breve.

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Oriola: Até já….

No Verão…com sol e calor. Porque é a melhor forma de sentir o Alentejo. Se calhar, para muitos não será a mais agradável mas, para mim, é a mais genuína!

E a Ducati? Perguntam vocês…

A primeira impressão é notável: a Ducati Supersport 950 é muito bonita. Apesar de não ter o vermelho característico da marca, este branco pérola mate fica-lhe a matar! É linda, qualquer o ângulo em que para ela olhamos. Mas lá está….os gostos são subjectivos…

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Ducati Supersport 950

Dispenso-me de comentários mais técnicos que não têm aqui o seu lugar. Para saber tudo sobre a Ducati Supersport 950S, lerQuanto è bella questa machina!

Mas tinha muita curiosidade em perceber como se comportava uma moto do Século XXI, com todo o requinte de uma marca premium, a elegância do design italiano e um coração que herda o que de melhor a Ducati sabe fazer. Já agora, no final comparar com a memória da minha antiga CBR 600….mesma potência mas os cavalos eram de 1999!

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Ducati Supersport 950

A tendência actual – uns chamam-lhe moda… – é a de utilizarmos motos mais encorpadas, com um perfil a que o marketing chamou trail, para viagens. Postura mais direita, mais confortável e menos exigentes para outras partes da anatomia humana como sejam os pulsos (algo que me levou a optar por esta fórmula). A Supersport 950 é uma moto, neste domínio, à antiga. Será que funciona?

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Ducati Supersport 950

Direi que no final de quase 400 km de viagem, alguns deles debaixo de chuva e outros poucos no meio de engarrafamentos em Évora e Montemor (até já aqui há horas de ponta…), os meus pulsos já se queixavam. A postura, principalmente no meio do trânsito, castiga-os sobremaneira. Já em estrada livre…não há queixas! Nem os pulsos sofrem por aí além – mérito dos avanços serem em posição mais alta face à mesa de direcção – muito menos as costas que ficaram impecáveis nesse e nos dias seguintes.

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Ducati Supersport 950
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Ducati Supersport 950

Em andamento é o que se esperava. Temos máquina para andar e andar. E “chegamos lá” enquanto o diabo esfrega um olho. Uma única preocupação: os fotógrafos à la minuta que por estes tempos se dedicam ao passatempo do voyeurismo velocimétrico. As fotos não ficam nada de jeito, as carteiras mais aliviadas e o cartão de fidelização de condutor ganha rapidamente pontos adicionais.

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Ducati Supersport 950
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Ducati Supersport 950

Os diferentes modos de condução adequam-se às condições de utilização, as suspensões são magníficas – filtram as irregularidades do terreno de forma notável para o tipo de moto que é – e os travões devem ter sido extrapolados do TAV – Treno Alta Velocità (o TGV por paragens transalpinas).

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Ducati Supersport 950
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Ducati Supersport 950

Comparativamente à CBR 600? 22 anos depois até os 110 cavalos parecem diferentes (os antigos “respiravam” melhor, mas isso podemos agradecer aos Euros 5 e anteriores). Mas no resto…os 20 anos parecem 2 séculos.

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Ducati Supersport 950

Que vos posso dizer mais? A moto é linda!!!

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Ducati Supersport 950
Agradecimentos:

Em primeiro lugar, à Ducati pela cedência desta espectacular Supersport 950.

Em segundo lugar, a duas pessoas importantes para esta viagem ter acontecido:

  • a fiel seguidora que me lançou na intranquilidade de não conhecer Oriola;
  • ao meu Amigo Carlos que me acompanhou e tornou a viagem muito mais divertida!

(crónica também publicada na revista Andar de Moto #36 de Maio de 2021)

 

 

 

A Globalização começou na EN 2!

“Sacrilégio” gritam uns….”então o Bill Gates e o Steve Jobs, a World Wide Web, e essas cenas todas?
“’Tá maluco!” dizem outros, provavelmente antecipando o ensandecimento intelectual do escriba.

Vamos lá então esclarecer as coisas. Hoje o tema é História. De Portugal e de Castela. Dos Descobrimentos e do domínio do mundo. E o escriba ainda não está maluco….ainda!

E lá vem a pergunta: “e o que tem isso a ver com motos? Com a EN2? Com viagens (bem, os Descobrimentos eram viagens…sim! mas não é por aí…)?

Vamos então à história e à História!

É habitual ouvir dizer que a Globalização começou verdadeiramente com os Descobrimentos Portugueses. Um bocadinho de nacionalismo exarcebado não faz mal a ninguém….

Efectivamente, foi a partir do século XV e desta gesta heróica que um povo acantonado por um vizinho várias vezes mais poderoso de um lado e um Oceano desconhecido do outro, optou por este último (afinal, do outro lado já se sabia que nem bom vento nem bom casamento).

Com a chegada à India por Vasco da Gama, ao Brasil por Pedro Álvares Cabral e ao Extremo Oriente mais tarde (fomos os primeiros Ocidentais a chegar ao Japão e à Austrália). Não esquecer, a chegada de Colombo à América (por equívoco…) em nome dos espanhóis mas com os conhecimentos adquiridos em Portugal.

E com a viagem de circum-navegação do português Fernão de Magalhães se bem que ao serviço da coroa espanhola (e que foi concluída por Juan Sebastian Elcano) o mundo provou ser verdadeiramente redondo. Foi em 20 de Setembro de 1519 – há 501 anos – que Magalhães se fez ao mar em Sanlúcar de Barrameda…se quisermos ser “rigorosos” este foi o primeiro feito que verdadeiramente materializou a Globalização. Não só o Mundo ficou mais “pequeno” porque mais próximo, mas pela primeira vez “o Mundo” era só um! Este foi sem dúvida o começo da Globalização.

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Fernão de Magalhães

Dada esta primeira explicação, porque razão disse atrás que começou na EN2, que já agora, à data ainda nem sequer se vislumbrava a não ser nalguns eventuais troços herdados dos romanos?

Vamos à segunda explicação e temos que andar para trás no tempo: as conquistas e descobertas portuguesas, primeiro no norte de África, depois nos arquipélagos atlânticos e finalmente na costa da Guiné despertaram a cobiça dos nossos vizinhos. Sempre eles! Acabaram por seguir os nossos passos e começaram também a navegar nas mesmas águas. A coisa tinha tudo para correr mal! E correu…

Esta disputa vinha acesa desde os inícios do século de 1400, e quase no final do século a coisa já piava fininho e havia “batatada marítima”. Acresce que no último quartel do século (1 quartel=25 anos) surgiu uma disputa pelo trono de Castela (Espanha ainda não existia como tal mas viria logo a seguir porque alguns dos protagonistas são aqui precisamente os Reis Católicos que promoveram a unificação desse território).

Em 1474 morreu o rei Henrique IV de Castela. Pretendentes ao trono eram a sua filha única D. Joana que estava “prometida” ao rei de Portugal D. Afonso V e a meia-irmã, D. Isabel que estava casada com o rei de Aragão, D. Fernando. Ou seja, estava o caldo entornado! E assim foi.

Tal como era tradição, portugueses e castelhanos envolveram-se num arraial de pancadaria que extravasou para o mar (foi a chamada Guerra da Sucessão). Em terra dominavam os castelhanos (mais os aragoneses) e no mar imperavam os portugueses. Depois de muitos confrontos, finalmente acharam por bem fazer a paz, até porque o impasse não satisfazia ninguém. As negociações e o Tratado foram celebrados em 1479…há 541 anos!

Assim sendo, celebrou-se um Tratado que veio a tornar-se verdadeiramente essencial no presente e futuro de ambos os países porque trouxe a paz e resolveu a crise da sucessão em Castela, permitiu aos Reis Católicos Isabel e Fernando iniciarem o processo de união do que viria a ser a Espanha, D. Joana casou com o nosso D. Afonso V (renunciaram às aspirações ao trono de Castela através de uma adenda ao Tratado chamada Tercerias de Moura) e veio acompanhada de um portentoso dote atribuído também como indemnizações de guerra (o nosso já tradicional jeitinho para sacar uns cobres aos outros…), mas muito principalmente, definiu os limites geográficos do que no mundo conhecido e que faltava conhecer, seria para Portugal ou para os nossos vizinhos. Desde logo, a posse da Madeira, Açores para Portugal e Canárias para Castela, bem como as praças do norte de África.

Mas fundamentalmente, a determinação que abaixo do Cabo Bojador a exclusividade era portuguesa. O ouro da costa da Guiné, da Costa da Mina ou os escravos daí provenientes. Mas também tudo o que depois veio a ser descoberto: caminho marítimo para a Índia e o Brasil. E também a explicação porque Castela apostou em Cristóvão Colombo com um caminho para a Índia por Ocidente…que o levou a esbarrar na América!

Ok! E então? Alguém já por aqui começou a pensar em Tordesilhas… Errado!!! Esse foi mais tarde em 1494.

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Imagem do Tratado de Alcáçovas (ou também chamado Paz de Alcáçovas)

Em 1479 celebrou-se na vila alentejana de Alcáçovas, no Paço dos Henriques, o Tratado que leva o seu nome e que promoveu a primeira divisão do Mundo! Entre outras coisas como vimos. O Tratado foi celebrado a 4 de Setembro de 1479 e outorgado pelo Rei D. Afonso V 4 dias depois. A outorga pelos Reis de Espanha ocorreu a 6 de março de 1480…ou seja, completaram-se recentemente os 540 anos.

O Tratado de Alcáçovas foi celebrado num edifício que foi muito recentemente restaurado, o Paço dos Henriques que merece sem dúvida uma visita. E onde toda esta história está documentada e explicada. Além do mais, este Paço serviu também de residência real tendo sido palco ainda de alguns casamentos reais. Rico em História, portanto.

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Paço dos Henriques

Apenas mais alguns comentários que o texto vai longo (mas espero que interessante!).

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Igreja Matriz do Salvador de Alcáçovas

Em Alcáçovas existe uma indústria do mais tradicional que podemos encontrar em Portugal, razão pela qual foi considerada Património Cultural Imaterial da Humanidade atribuído pela UNESCO: a arte do Chocalho e a indústria chocalheira.

No Paço dos Henriques agora renovado, existe também um núcleo documental e um espaço dedicado a esta arte e está previsto que venha a ser instalado um Centro UNESCO do Património Imaterial da Humanidade.

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Paço Real de Alcáçovas

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Quinta das Conchas

E também assinala o facto de por lá passar a EN2.

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Marco simbólico da passagem da EN2 por Alcáçovas – Km 551

Donde surgiu este nosso interesse pelas Alcáçovas?

Pois bem, quando percorremos a EN2 em Abril de 2018, vivemos aqui uma das peripécias mais curiosas da viagem e também ao visitarmos o Paço dos Henriques fomos cativados pela simplicidade do local, a excelência da renovação e a simpatia de quem nos acolheu.

Mais recentemente, a caminho de Évora, tornámos a passar por lá. Uma simpática e muito branca vila alentejana que recomendamos vivamente. E em Janeiro de 2020…novamente por lá passámos, já noite cerrada a caminho de Faro em nova passagem pela estrada mais longa (no Portugal de Fio a Pavio).

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Alcáçovas – primeira vez

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Alcáçovas – segunda vez

E fica logo ali, ao Virar da Esquina, no quilómetro 551 da EN2!

Já perceberam o título desta crónica?

Referências:

– a história do Portugal de Fio a Pavio

– a viagem pela EN2 – de cima a baixo

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