O MAFARRICO DEIXOU A PORTA ABERTA

Esperava ser recebido pelo Mafarrico.
Afinal, o Diabo é personagem integrante do imaginário do Inferno. Sendo o locatário da coisa, deveria estar à nossa espera.
Mas nada!…

Tal como a generalidade dos vertebrados, temos um chassis a que chamamos esqueleto e à volta deste, para lhe dar as formas que nos caracterizam, uma camada variável de chicha! O que nos diferencia dos restantes e torna únicos é o lado espiritual: o raciocínio, os sentimentos e aquilo a que alguns chamam “alma”.

Quando a parte física e a espiritual se separam, geralmente por fadiga do material ou outra razão ponderosa, aquela é remetida para as cinzas e a alma inicia um novo percurso: vai fazer um estágio não remunerado por tempo indeterminado numa instituição chamada Purgatório que, como o nome indica, a liberta de impurezas.

No final, submete-se a um exame final de admissão. Se aprovada, sobe aos Céu. Se reprova desce ao Inferno! Algumas há que nunca chegam ao exame, vá-se lá saber porquê…são as chamadas almas penadas!

E o meu ponto é este: se por tradição se diz que se “desce ao Inferno”, porque razão nesta viagem, para chegar à entrada do Inferno é preciso subir?

(Atenção: era apenas uma visita para ver as vistas…. nada de mais definitivo, embora a dado passo a coisa não tenha sido fácil, como explicarei).

O facto é que subimos até ao Portal do Inferno. E não é que estava aberto? O Mafarrico, que seria suposto ser o porteiro, baldou-se!

Entrámos…. mas, já vos conto o resto mais adiante, porque até aqui chegar ainda houve caminho a fazer.

O aquecimento: do Caramulo a São Pedro do Sul

A manhã ia adiantada quando saímos do Caramulo. Na crónica anterior – “Fui visitar a D. Elvira” contei-vos a história do trajecto até aqui. E agora, seríamos apenas dois a prosseguir viagem.

O objectivo era, para já, chegar a S. Pedro do Sul. Saindo da vila do Caramulo continuámos a subir a serra pela EN230.

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Serra do Caramulo – Pormenor da estrada

Pouco depois, já a descer, toponímia curiosa – Monteteso – indicava-nos que pouco mais à frente teríamos que virar à direita e seguir por estradas municipais – as CM 1285 e 1310 – que nos levariam a passar pela Torre Medieval de Alcofra. 

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Pormenor toponímico…
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Serra do Caramulo
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Torre Medieval de Alcofra

Depois, já pela M619 passámos em Vilharigues e pela EN 333 chegámos a Vouzela.

Foi aí que o Zé disse de sua justiça:

” – Vouzela! Temos que ir provar os pastéis de Vouzela….”

Perguntei:

” – O que são?”

Resposta imediata:

”-São como os de Tentúgal…mas melhores!”

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Igreja Matriz de Vouzela
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Vouzela

Não quero ofender ninguém de Tentúgal, até porque não tinha ali nenhum para fazer a comparação imediata. Mas que são óptimos os pastéis de Vouzela isso é inegável. E justificaram a breve paragem. Lá teremos que ir a Tentúgal um destes dias, para tirar a prova dos nove…

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Vouzela

Seguiu-se S. Pedro do Sul onde chegámos pela EN16. A cidade merece visita pormenorizada, até porque o seu passado histórico é bem evidente no balneário termal construído no ano 1 da nossa era pelos Romanos. E que foi sendo sucessivamente utilizado desde há 2.000 anos. É exemplar único. A última vez que por aqui passei, ainda a actual cidade era vila. E mais pequena… De passagem, pudemos ver que está bem arranjada, que tem muito movimento e que terá certamente boa qualidade de vida.

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Antigo edifício das Termas de S. Pedro do Sul

Mas o nosso destino não era uma cura de águas mas sim a visita ao Inferno. E a demanda começou mesmo à saída da cidade.

Começa a subida até ao Inferno!

S. Pedro do Sul é atravessada pela EN 16. À saída viramos à esquerda pela Avenida da Ponte tomamos o rumo da EN227…e começamos a subir em direcção à Serra da Arada. Por enquanto, a estrada ainda é larga, com algum trânsito. Mas…rapidamente chegamos à rotunda que nos manda virará direita para a R326, E aqui começa de verdade a subida. Passamos Sá e entramos na CM1123. A estrada que nos vai conduzir até ao Portal do Inferno.

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Igreja de Sá

A estrada estreita bastante, com vegetação à volta, predominantemente eucaliptal (ups…já percebo porque razão há por ali tantos incêndios). Ainda assim o verde é “sol de pouca dura” porque depois de uma curva da estrada vislumbramos o maciço da serra. E esta é completamente careca!

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Inicio do caminho para a Serra da Arada

E aqui deixo uma nota pessoal: desde há alguns anos que padeço de episódios de forte ansiedade quando estou próximo de precipícios ou declives acentuados. Não são vertigens nem a “atração do abismo” mas chego ao ponto de ficar bloqueado. É evidente que tento controlar a ansiedade e acima de tudo não deixar de fazer o que quero fazer. Mas o esforço é grande, acreditem.

Por esta razão, subir uma estrada de montanha em que esta está rodeada de arvoredo e vegetação ou, ao contrário, nada havendo que me evite a visão do declive é totalmente diferente. E isto independentemente da inclinação ou sinuosidade do traçado. Quando, olhei em frente e vi o que me esperava tive plena consciência que ia ser duro. A luta comigo próprio seria exigente. Mais do que o esperado….

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Subindo a Serra da Arada

O caminho faz-se em frente e assim avançámos. À medida que subimos o panorama crescia à frente dos nossos olhos e a fronteira do horizonte era cada vez mais longínqua: serranias e mais serranias. Por aquelas zonas, dá a sensação que mão poderosa amarfanhou o terreno, porque planície é coisa que não há.

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Serra da Arada- em frente para onde vamos à direita de onde vimos

Actualmente, ribeiro sem passadiço e miradouro sem baloiço é coisa que não existe. Como aqui. Ainda não tínhamos parado de subir e num gancho à esquerda lá está, do outro lado da estrada um improvisado miradouro – um pedaço de terreno plano com uma vista magnífica – e o inevitável baloiço.

Parámos!

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Miradouro e baloiço

Balancé para cá, balancé para lá, fotos para mais tarde recordar e siga a viagem.

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Balancé, balancé…
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As motos e a vista!
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Uma preciosidade que vinha a descer a serra…
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Vista do miradouro do baloiço

Pouco depois, a maior pendente da subida: 27%. As características da estrada mantiveram-se: estreita, muito sinuosa, com raras protecções nas bermas quase inexistentes e sem marcações, com um piso bastante rugoso mas em estado razoável e sem armadilhas.

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A subida continua
No Portal do Inferno

Rondávamos os 1.000 m. E foi a essa altitude que encontrámos o Portal do Inferno. Subimos para “descer ao Inferno”. A vida tem destas contradições! Desde S. Pedro do Sul tínhamos percorrido 20 km.

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O caminho é por ali…
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Rumo ao Inferno…

Esperava ser recebido pelo Mafarrico. Afinal, o Diabo é personagem integrante do imaginário do Inferno. Sendo o locatário da coisa, deveria estar à nossa espera. Mas nada! Assim, só nos restava seguir por este caminho – M567 – que dizem ser infernal.

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Começa o Portal do Inferno

A parte inicial segue por um pequeno planalto. À nossa frente percebemos a existência de um vale e logo depois, a marcar a linha do horizonte, a Serra de S. Macário.

As curvas continuam e seguimos pela linha das cumeadas dos montes.

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Os primeiros passos no Portal do Inferno
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Pelas cumeadas dos montes

De vez em quando, uma depressão. Lá vai uma descida e mais umas curvas. Logo a seguir, sobe-se e mais curvas.

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Portal do Inferno

A altitude continua a rondar os 1.000 m e andamos pelos cumes da serra. Sem vegetação, vemos bem o que nos espera se houver uma distracção.

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Portal do Inferno

 Mas também vemos ao longe, ora a Serra da Freita, ora a de S. Macário. Afinal todas fazem parte do mesmo conjunto.

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Portal do Inferno

O percurso do Portal do Inferno (entre as placas que o assinalam) tem cerca de 9 quilómetros – desde o cruzamento para S. Macário até ao cruzamento para Regoufe – e é uma sequência de sobe e desce constante, de curta duração cada um, mas em que encontramos por vezes pendentes bastante acentuadas.

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A provação tinha terminado. Do Mafarrico nem sombras…

Mais ou menos a meio, quando estamos próximos de Drave – uma aldeia abandonada situada à cota dos 650 m – encontramos as pendentes máximas: cerca de 27% ascendente e aproximadamente 35% descendente! São pequenos troços mas ainda assim a justificarem muita atenção….até porque a paisagem também merece ser contemplada.

Do Inferno ao Paraíso (leia-se, uma Posta Arouquesa)

Chegados ao final, restava-nos optar: ou à direita, pela encosta da Serra de S.Macário em direcção a Janarde e assim seguiríamos no mesmo registo até Castro Daire, ou em frente, até Arouca onde nos esperava uma belíssima Posta Arouquesa. Atendendo ao adiantado da hora….seguimos em frente!

Mas até Arouca, pela M510 – ainda tínhamos bastante “mão de obra” porque à medida que descíamos, a paisagem também mudava, agora já bastante arborizada e verdejante e a estrada passava a ser muito mais sinuosa, com curvas e contra-curvas sucessivas.

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Começamos a descer

Passámos em Ponte de Telhe, com uma vista paradisíaca e pouco depois, estávamos em Arouca.

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Ponte de Telhe

Lançámo-nos à Posta como se não houvesse amanhã.

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Reabastecimento com a Posta Arouquesa

Nesta altura estávamos ainda bem longe do nosso destino! E o cansaço (no meu caso, aumentado pelo motivo atrás referido) destes cerca de 60 km pela Serra da Arada e também um pedaço da Freita, justificavam a paragem. 

A caminho de Castro Daire

Depois de reabastecermos as máquinas e consolarmos o estômago, fizemo-nos novamente à estrada. Seguimos pela R326-1 até Alvarenga (cerca de 20 km), a auto denominada Capital do Mundo (uma história curiosa: parece que nos anos 60 do século passado, um grupo de jovens da terra mas que viviam no Brasil veio aqui passar férias. Como jovens portugueses, estavam abrangidos pelo recrutamento obrigatório devido à guerra colonial. Restava-lhes uma de duas opções: ficar e serem recrutados ou regressarem rapidamente ao Brasil. Escolheram esta última, não sem antes inscreverem a expressão “Capital do Mundo” nas placas toponímicas da terra. Que assim ficaram…). Esta é  uma estrada bastante sinuosa e interessante não fosse ter imensa procura: é por ela que se acede aos famosíssimos Passadiços do Paiva e à nova Ponte Suspensa que dizem ser a maior do mundo (esta nossa mania de termos que ser os maiores do mundo…em minudências!).

E se a moda dos passadiços alastrou (já falei dos baloiços…) prevejo que em breve teremos pontes suspensas um pouco por todo o lado…

Em Alvarenga fizemos nossa a EN225.

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EN225

Recomendo vivamente esta estrada (que começa em Castelo de Paiva), nos 40 km que vão de Alvarenga até Castro Daire. Lindíssima pelo enquadramento paisagístico, com recantos com quedas de água e divertidas sequências de curvas que acompanham em largos momentos o curso do Rio Paiva.

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Queda de água – EN225

Peca apenas pelo estado do piso. Descuidado e certamente negligenciado por quem dele é responsável (nada de novo, infelizmente).

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EN225
A caminho do final da jornada

Já os restantes 20 km que percorremos na EN225, até Vila Nova de Paiva, são o contrário: bom piso e estrada “a direito”. Pouco interessantes e sem história. Aqui já a decisão estava tomada: o final da jornada seria em Fornos de Algodres.

Pelo caminho ainda uma breve paragem em Penalva do Castelo – do Castelo nem sombra… – e foi seguir viagem que a hora ia adiantada e já nos aguardavam para o merecido jantar.

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Penalva do Castelo

Termino com uma recomendação: o Solar dos Cáceres em Casal Vasco – Fornos de Algodres. Excelentes condições, onde o velho solar está enquadrado por moderna arquitectura e uma convidativa piscina com a envolvente do espaço verde que a rodeia, tudo condimentado com a simpatia no acolhimento que nos deixa vontade de voltar.

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Solar dos Cáceres
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Solar dos Cáceres- Piscina
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Fontanário em Casal Vasco

Este percurso que fizemos não era o inicialmente planeado. Mas uma das características de um bom plano é o poder ser adaptado à realidade do momento. De facto, optámos pela Posta Arouquesa em vez de continuar pelo caminho serrano. O desvio a Penedono e Sernancelhe ficou para melhor oportunidade…até porque o tempo não seria suficiente.

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Em ordem de marcha…

Chegámos ao final, com plena satisfação sobre as opções tomadas. E fartinhos (não exageremos…cansados sim, fartos não!) de curvas. De tal forma que no dia seguinte…. a D. Estrela acolheu-nos!

Mas essa é outra história…ao virar da esquina.

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Fornos de Algodres
Agradecimentos

Para lá dos meus amigos e companheiros desta e de outras viagens, o Jaime Fernandes e o José Serra, quero deixar um especial reconhecimento ao Jorge Casais. Não nos conhecemos pessoalmente mas vamo-nos acompanhando nas nossas deambulações mototurísticas.

O Jorge será uma das pessoas que mais e melhor conhece as estradas, estradinhas e caminhos desta nossa terra (de certeza melhor que as Infraestruturas de Portugal…). A ele recorri e das suas sugestões nasceu uma grande parte do caminho feito (outras ficaram em carteira à espera de nova oportunidade). Por isso o reconhecimento e um grande bem haja! Sigam-no aqui: Rides in my country and also beyond borders

(este texto agora revisto, foi originalmente publicado no #39 da revista Andar de Moto – Agosto/21)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SuperSoco CPX – O (belo) som do silêncio

Ecológica, silenciosa e elegante. Serão estas as características mais relevantes desta scooter eléctrica?

A resposta à questão e a análise está a seguir….

 Os veículos eléctricos têm (ou tinham até há pouco tempo) 3 características evidentes: a ausência de gases de escape, o silêncio da sua marcha e…eram feios!

Esta última característica está a desvanecer-se rapidamente e a moto de que vos vou falar é um bom exemplo. Acho-a bonita, com tudo o que isso possa ter de subjectivo.

Por outro lado, se é facto indesmentível que os motores eléctricos não libertam gases para a atmosfera também é igualmente incontestável que a produção da electricidade que os alimenta (neste caso concreto a partir de uma tomada doméstica) provém em percentagem significativa da queima de combustíveis fósseis (mais de 50% em 2019, em Portugal!).

Finalmente…o silêncio. 

Sou franco, gosto de ouvir as sinfonias tocadas pelos escapes (de série e como tal homologados e cumpridores das regras legais na matéria) de algumas das motos de que vos tenho falado por aqui. Quanto a escapes aftermarket, principalmente quando o objectivo é “aumentar a segurança porque nos tornam mais audíveis” (leia-se “gazadas” no meio do trânsito) não gosto. Até porque a questão da segurança é discutível…e a Física explica o fenómeno (Efeito Doppler). Uma certeza eu tenho: o grau de simpatia dos outros utentes da via pública diminui na mesma proporção que o nosso ruído aumenta…

Ainda assim, e sem contradizer o que acabei de referir, o facto dos veículos eléctricos serem silenciosos pode, isso sim, ser factor de algum risco porque os demais – geralmente peões – nem se apercebem da proximidade. E se estiverem “enfronhados” no telefone esperto então nem se fala…

A moto que vos trago agora é a Super Soco CPX. E é lindamente silenciosa! É verdade! Conduzir uma moto sem ouvir o “ronco” do motor é estranho ao início. Eu habituei-me com muita rapidez e gostei.

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Mas o nome da moto deixa-nos de pé atrás! “Super Soco” remete-nos para uma realidade algo violenta…a recordar vagamente personagens “carinhosos” como Van Damme, Jason Statham, Steven Seagal ou o inesquecível Chuck Norris. Malta com super socos…

Nada disso!!! A Super Soco é uma marca de motos eléctricas e a alusão tem apenas a ver com diferentes significados que uma mesma palavra pode ter  noutras línguas que não a nossa.

A detentora da marca, a VmotoSoco Limited é uma empresa  fundada em 2015 e cotada na bolsa de valores australiana, produz os seus veículos em Nanjing na China e estabeleceu operações na Europa, tendo sede em Amsterdão onde instalou o seu centro de negócios, vendas e marketing, um centro de design e desenvolvimento em Itália e um centro logístico na Alemanha. Produz anualmente cerca de 300 mil veículos nas suas diversas marcas.

Ganhou diversos prémios internacionais, como por exemplo “iF Design Award” na Alemanha, Medalha de Ouro no “China’s Good Design”, “G-MARK Good Design Award” no Japão. Tem cerca de 500 patentes registadas e mais de 2.000 pontos de venda em 73 países.

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Loja Super Soco em Milão, Itália

Uma marca global, dir-se-á… E muito ambiciosa como se pode concluir do que referem no seu site: “A Visão da Vmoto Soco é alcançar a liderança Mundial na produção de veículos eléctricos

A Super Soco é a sua marca destinada aos consumidores de todo o mundo e a E-Max a marca que produz veículos, também eléctricos, destinados a empresas de serviços de entregas.

Em Portugal e desde Março deste ano, passou a ser representada pela Moteo,SA (Suzuki, Brixton, SYM, Peugeot Motorcycles) e já está a ter uma presença muito mais activa no nosso mercado.

Aliás, foi notícia recentemente que de acordo com os dados divulgados pela ACAP, a Super Soco foi a marca eléctrica mais vendida em Portugal durante o mês de Julho, sendo a Super Soco CPX igualmente o modelo mais vendido no mesmo período.

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Feita a primeira apresentação, devo referir a enorme curiosidade que tinha em experimentar esta moto porque configura aquilo que julgo ser uma das soluções de mobilidade para o presente e futuro imediato.

Destinada ao ambiente citadino e à “vida de todos os dias” foi muito interessante tê-la comigo durante alguns dias e assim poder replicar a tal utilização quotidiana. E também avaliar a forma como são geríveis os seus ciclos de carregamento e a conveniência de o poder fazer no domicílio.

Como explicarei lá mais para a frente, a utilização da expressão “uma das soluções” foi deliberada.

Mas primeiro vamos à moto!

Super Soco … CPX!

1 – Apresentação da moto

Voltamos aos nomes. Não sei se repararam no nome do modelo: CPX. Não faz lembrar nada?

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Pois é! Esta Super Soco é ambiciosa. O seu posicionamento no mercado não é nem mais, nem menos do que enfrentar a principal rival dos motores a combustão (por ser líder de mercado e pelas suas características): a Honda PCX.

E por feliz coincidência, nos dias anteriores ao desta experiência fiz alguns quilómetros precisamente com uma PCX. Sem fazer um comparativo, de qualquer modo vou utilizar a bitola, porque um dos aspectos fulcrais quando avaliamos um veículo eléctrico é a comparação com os seus homólogos que funcionam a ouro líquido (nomeadamente no que se refere ao aspecto dos custos de aquisição, manutenção e utilização).

A CPX é, esteticamente, muito engraçada. Elegante no desenho, ligeira no aspecto, com um “olhar” felino que atrai e um jogo cromático – preta com toques de vermelho – que fica sempre bem. Mas existe outra opção: cinza com efeitos em amarelo.

20210726_121121.jpgÉ notória a influência do traço ao gosto europeu (referi atrás a localização do centro de design…Itália. Pois é!). A qualidade dos acabamentos é francamente boa.

Em termos equivalentes, a CPX é uma scooter urbana que compete directamente com as 125 cc que por aí andam. Por essa razão, quer em dimensões quer em performances está em linha com as diferentes propostas que existem no mercado.

O guiador é largo e as mãos “caem” bem nele. O vidro é alto o que assegura boa protecção ao nível da cabeça mas não tanto nos ombros, principalmente se formos altos. e neste caso, devido à inclinação do vidro, o seu topo fica muito próximo do capacete o que, ao entrar ou sair da moto, nos leva a lá bater por vezes.

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Os espelhos retrovisores têm formato hexagonal (muito em voga actualmente) com boa visibilidade.

IONX0019_Moment.jpgO mostrador é totalmente digital e reúne toda a informação que necessitamos, com boa visibilidade e sem reflexos. Tem muito boa leitura. As informações disponíveis são: Velocidade, gráfico da potência utilizada, temperatura ambiente, relógio, indicador do modo de potência, temperatura de utilização, indicadores de carga das baterias (sob a forma de gráfico de barras e em percentagem), odómetro e indicador de autonomia (que também pode dar a indicação dos parciais de quilometragem).

20210724_163219.jpgUma nota importante sobre os indicadores de carga das baterias. Estas funcionam em série, ou seja, primeiro descarrega uma e, só depois, a outra entra em acção (no momento da passagem, há um ligeiro descontinuar momentâneo de fornecimento de energia).

Tal é visualizável correctamente nos indicadores de barras. O indicador percentual refere-se exclusivamente à carga da 2ª bateria (ou seja, se indicar 50% o que na verdade nos resta é 25% da capacidade total, isto é, 35 km de autonomia no modo Sport). Com o hábito de utilização não é pormenor significativo mas importa estar atento. De qualquer forma, o indicador de autonomia em quilómetros funciona e é rigoroso.

Ecran.jpgNo punho esquerdo temos os habituais comandos de luzes. O dos piscas todavia é de deslocamento lateral com 3 posições: esquerda, central e direita.

VIRB0046_Moment(2).jpgNo punho direito, as coisas são diversas. Por cima temos o comando que regula a entrega de potência. Em formato de cursor tem as 3 posições disponíveis: 1- Eco, 2 – Normal e 3 – Sport. Por baixo, um interruptor sequencial (podemos visualizar a opção escolhida no mostrador), com 3 opções: F – em que a moto anda para a frente a muito baixa velocidade, R – que acciona a marcha-atrás efinalmente,  o modo de condução normal (1, 2 ou 3) com a indicação do nível de potência escolhido. Como é óbvio as duas primeiras posições servem para ajudar nas pequenas manobras do dia-a-dia.

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Os assentos destacam-se: são individuais, amplos, bastante confortáveis e com excelente aspecto. O do condutor levanta para podermos aceder às baterias. O facto de ter uma plataforma atrás do banco do pendura onde se pode colocar uma top-case (ou prendermos algum volume a transportar) dá ainda mais flexibilidade na utilização.

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A iluminação é totalmente em LED e com design muito atractivo.

Possui descansos lateral e central.

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O quadro é em liga de alumínio e aço. O motor está acoplado ao cubo da roda traseira com um monobraço no qual está ancorado o amortecedor traseiro (em posição lateral). 

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Dessa forma, o lado direito da roda traseira está completamente exposto. Para lá do efeito estético é também muito prático para qualquer intervenção que seja necessário efectuar nesta roda.

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A roda 16” na frente (14” atrás) dá-lhe a capacidade de enfrentar algumas das armadilhas das “trialeiras urbanas” das nossas cidades com bastante desembaraço. Os pneus são tubeless e ambos 100/80, variando o diâmetro.

Os travões com CBS (não tem ABS mas actua sobre os dois travões em simultâneo) e dois discos – 240 mm à frente e 180 mm atrás – são suficientes e muito competentes.

A suspensão tem à frente uma forquilha hidráulica convencional e atrás um mono amortecedor lateral. Comporta-se de forma competente com o senão do amortecedor traseiro esgotar rapidamente com impacto nas costas se cairmos nos muitos buracos e desníveis citadinos (o meu peso também não será alheio a esse efeito…).

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O assento está a 760 mm e o comprimento da moto ultrapassa ligeiramente os 2 metros. O peso é de 143 kg com uma bateria ou de 163 kg com duas.

O espaço a bordo não é folgado (pelo menos para os meus 1,82m) mas o conforto do assento e a correcta colocação do guiador facilitam ao conforto. interessantes os dois pequenos apoios ligeiramente recuados em relação à posição normal dos pés e que nos permitem adoptar uma posição com a perna um pouco mais flectida. Dá para ir variando de posição e isso diminui a sensação de cansaço.

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A moto está dotada de um sistema keyless através de comando remoto (também tem chave que servirá essencialmente para abrir o espaço por baixo do banco), que não só serve para a activar, como ao desligar a bloqueia e acciona o sistema anti-roubo com alarme.

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2- Falemos agora do coração da máquina

Tem um motor eléctrico Supersoco Vmoto com potência nominal de 4 kW. A potência máxima é de 4,8 kW (6,4 cv) que é impulsionado por duas baterias (neste caso, porque a moto pode ser adquirida só com uma) de lítio de 60V/45Ah. O binário é de 171 Nm! Mas domesticado para arranques calmos.

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A moto vem equipada com um carregador Fast Charger de 70,5V/15Ah. Liga directamente na tomada doméstica e demora cerca de 3,5h a carregar cada uma das baterias. 7 horas no total, portanto.

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Existem duas formas de efectuar o carregamento: ou com as baterias no seu lugar e a utilização de uma tomada que fica na moto localizada abaixo do assento ou, em alternativa, as baterias podem ser retiradas e carregadas em qualquer local onde exista uma tomada (uma de cada vez).

20210724_143450.jpgAqui poderá pensar-se: “é interessante a possibilidade de retirar a bateria e levá-la para casa ou para o escritório e recarregá-la”. Pois é….na realidade é possível. Mas cada bateria pesa 20 kg… (comprovei!).

O condutor poderá ainda verificar o estado da carga das baterias nos indicadores que cada uma tem, bastando para tar pressionar o botão à esquerda das luzes:

Dois aspectos importantes relativos às baterias: têm uma esperança de vida útil de 1.500 ciclos de carregamento (no mínimo equivalerá a cerca de 100.000 km por bateria) e garantia de 2 anos, tal como a moto.

O condutor controla digitalmente 3 modos de disponibilização da potência: 1 – ECO, 2 – Normal e 3 – Sport.

O modo ECO limita a velocidade a cerca de 45 km/h e maximiza a autonomia – 140 km com 1 bateria e 280 km com 2. No modo Normal, a velocidade máxima será cerca de 65 km/h e a autonomia baixa para 90 / 180 km respectivamente. Já no modo Sport, a potência é toda libertada, a velocidade máxima ultrapassa os 90 km/h mas a autonomia fica reduzida a 70 / 140 km, consoante o número de baterias. Veja-se a seguinte tabela com os valores alcançados nesta experiência:

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 3. Experiência de condução

 Contrariamente à percepção geral sobre veículos eléctricos, a Super Soco, de forma deliberada, limita a disponibilização de potência no arranque. Ou seja, é progressiva e user friendly em vez de termos logo um “disparo”.

Não é por isso uma moto rápida mas depois, a progressão é sempre constante. E esta progressão mostra uma característica importante: os 3 modos servem apenas para limitar a velocidade. Ou seja, se escolhermos o modo Sport, por exemplo, mas não ultrapassarmos deliberadamente os 45 km/h, o efeito obtido é o mesmo que se optarmos pelo modo Eco. Por outro lado, se andarmos apenas no modo ECO pode suceder que se necessitarmos de fazer uma ultrapassagem mais rápida depois nos faltar velocidade para a concluir.

VIRB0046_Moment(3).jpgEm condições normais de utilização em ambiente citadino – recordo que os limites de velocidade são, genericamente, de 50 km/h nas ruas e avenidas e 80 km/h em vias rápidas – pode ser conveniente andar num modo menos económico para acompanhar a fluidez do trânsito e tornar a condução mais segura.

VIRB0049_Moment(2).jpgJá em estrada, naturalmente a maior parte do trajecto será em modo Sport.

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Um conselho: o controlo da autonomia é fundamental quando conduzimos veículos eléctricos. Não é possível “atestar” em qualquer esquina… Por isso, manda a prudência que o valor a reter sempre seja o que a moto dá no modo 3-Sport. Até porque esse será sempre o pior cenário!

20210724_121407_Moment.jpgMas com o hábito, este tipo de cuidados passa a ser natural. E é conveniente referir que a indicação de autonomia me pareceu sempre bastante fiável.

Apesar de o custo ser um pormenor fundamental, julgo que a opção de compra seria sempre da versão com 2 baterias. Até porque com uma autonomia de 70 km, só com uma bateria…o número de ciclos de carregamento tornar-se-à muito frequente e, principalmente, obriga a especiais cuidados para não haver descuidos.

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Nos dias em que tive a Super Soco CPX comigo, utilizei-a tanto em trânsito citadino como numa voltinha de fim de semana por estradas nacionais.

Na cidade porta-se lindamente. Acompanha bem o trânsito, tem boa maneabilidade e a sua resposta é eficaz. Sentimo-nos perfeitamente confortáveis no ritmo normal de circulação do trânsito, sem quaisquer constrangimentos.

VIRB0049_Moment.jpgEm estrada, não sendo essa a sua principal vocação, tem um comportamento muito correcto. É evidente que em subidas mais acentuadas poderá denotar alguma falta de força mas…provavelmente outros utentes da estrada sentirão o mesmo. Em curva tem um comportamento são que denota a boa qualidade das suspensões e o bom equilíbrio do conjunto motor-ciclística.

VIRB0047_Moment(4).jpgNum percurso sinuoso, a velocidades na ordem dos 80 a 90 km/h, pode até tornar-se divertida. A tal não será estranho a sua ligeireza e o facto do centro de gravidade se situar relativamente baixo e no centro da moto, graças à colocação das 2 baterias que só à sua conta pesam 40 kg (25% do peso total do conjunto).

VIRB0047_Moment.jpgSob o ponto de vista de conveniência, é bom dizer que a solução de 2 baterias (a que recomendo) retira completamente qualquer possibilidade de utilizar o espaço por baixo do banco para transportarmos algum objecto, muito menos para lá guardarmos um capacete como é habitual neste tipo de motos (com motores de combustão).

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Há sempre a possibilidade de utilizarmos um saco ou mochila e pendurá-lo entre as nossas pernas, num gancho que existe na carenagem. Também nesta existe um pequeno espaço (mas suficientemente profundo) para levarmos pequenos objectos ou ligarmos o telemóvel na tomada USB logo por cima.

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Ainda a este respeito, de referir que a Super Soco tem em curso uma campanha de lançamento em que oferece uma Top-case de 33 litros (cujo valor é de cerca de 80€). Até 31 de Agosto…

4 – Custos de “exploração”

Quando analisamos a mobilidade eléctrica, um dos primeiros aspectos que releva é o do custo dos veículos. Que geralmente são mais caros que os correspondentes que funcionam a líquidos adquiridos a preço de ouro.

A Super Soco CPX custa, na versão com 2 baterias, 5.699 € (aos quais acrescem os habituais custos administrativos de cerca de 360 €). Ou seja, arredondando, 6 mil euros (a versão só com uma bateria fica por 4.599 + despesas). O que nos permite concluir que o preço de uma bateria rondará os 1.100 € (preços recolhidos no final do mês de Julho junto do concessionário).

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Ora a concorrente a motor a combustão visada pela CPX (a já atrás referida Honda PCX) custará pouco mais do que metade do seu valor! Como existem até modelos mais baratos no mercado, direi que é possível adquirir uma Super Soco CPX pelo valor de 2 scooters 125. Apesar do sucesso de vendas que referi no início…pode ser uma tarefa árdua convencer os consumidores a não ser que os restantes custos sejam substancialmente inferiores. É o que vamos tentar perceber:

1. SCOOTER “CONVENCIONAL” – Se o utilizador comum de uma scooter com motor de combustão efectuar 10.000 km em média por ano, para lá do consumo de combustível terá ainda que adicionar duas revisões à sua máquina. Admitamos 60€ por cada uma, ou seja 120€.

Com uma média aos 100km de 2,2 litros e um preço de referência de 1,70€/litro de combustível significa que ao final do ano teremos um gasto aproximado de 380 €.

O utilizador de uma scooter gastará cerca de 500 € por ano para perfazer 10.000km.

Em 10 anos (já veremos o porquê deste prazo) terá gasto 5.000 € mais os 3.000€ de custo de aquisição. 8.000€ portanto. Nesta altura, o valor residual da sua moto será muito próximo de nulo.

20210726_121225_Moment(2).jpg2. SUPER SOCO CPX – O comprador de uma CPX desembolsa 5.000€ na aquisição da versão com uma bateria que terá uma vida útil de 100.000 km (os tais 10.000 km por ano atrás utilizados no cálculo). Por ano, para efectuar os mesmos 10.000 km que o da scooter a combustão, terá que efectuar (no pior cenário que será o de utilizar sempre o nível de potência máximo ou a autonomia mínima, isto é 70 km) 143 ciclos de carregamento da bateria que armazena 2,7 kWh.

Segundo o site Electromaps num estudo recente, o valor de carregamento de uma bateria automóvel de 60 kWh é, em Portugal, de cerca de 13,25 € (também aqui não somos dos mais baratos da Europa…), logo, em proporção, o ciclo de carregamento da CPX custaria 0,60 € (convém salientar que o custo de carregamento de baterias automóveis nos postos públicos tem um custo de kWh mais barato que o dos consumidores domésticos..).

20210726_121225_Moment(4).jpgO custo energético para os 10.000 km seria de 86 €. Ou 860 € no final do período de 10 anos e 100.000 km que seria a vida útil da bateria da CPX e nessa altura poderíamos também assumir que o valor residual da moto seria negligenciável.

Admita-se que as revisões da Super Soco teriam metade do valor e a mesma periodicidade das da scooter a combustão. Duas por ano e 60 € no total. Ou mais 600 € no final do 10 anos. Resulta num total de 6.460€.

20210726_121225_Moment(3).jpg3. OUTRAS CONSIDERAÇÕES – Há custos que não são aqui considerados porque vamos assumir que são equivalentes: pneus, pastilhas de travão e outros elementos de desgaste. Os motores eléctricos têm menos manutenção porque têm menor número de partes móveis e tenho dúvidas que a sofisticação e fiabilidade dos módulos electrónicos de gestão da energia eléctrica seja muito diferente relativamente aos que são incluídos nas motos de motor a combustão da actualidade devido à necessidade de adequação às normas ambientais.

A este respeito, vi recentemente um estudo internacional relativo ao sector automóvel (em Autoportal.pt) no qual os custos de manutenção dos veículos eléctricos tinham um valor de cerca de 1,6 vezes superior aos automóveis com motor de combustão interna. Tal devia-se ao facto de serem tecnologia nova e as intervenções serem mais demoradas porque os problemas surgidos também seriam novos… Não levei em consideração esta informação mas tinha que a referir.

4 -RESUMINDO

– o valor estimado para uma scooter com motor de combustão interno seria, no final dos 10 anos e 100.000km de 8.000€.

– o valor estimado para a Super Soco CPX (com uma bateria) seria, no mesmo prazo e distância, de 6.460€.

Uma poupança de cerca de 20%.

Por outro lado, o tipo de utilização poderá fazer deslocar a vantagem para um ou outro lado. Ou seja, os motores de combustão interna são menos eficientes (maior consumo por quilómetro percorrido) em ambiente urbano do que em estrada aberta. Já os motores eléctricos têm o comportamento inverso. Ou seja, se a utilização for exclusivamente urbana, o ponto de equilíbrio vai surgir antes e o benefício do veículo eléctrico surgirá bastante mais cedo tornando-o mais racional.

SuperSoco -CUSTOS.jpgEstes cálculos valem o que valem. Num prazo de 10 anos não podemos fixar os valores de custo, seja da gasolina seja da energia eléctrica. Numa lógica meramente de oferta/procura, seria normal que avançando a mobilidade eléctrica os consumos de combustíveis fósseis se reduzissem, logo menor procura e redução de preço (mas como este é quase totalmente administrativo devido aos impostos…).

Já a energia eléctrica tenderá a aumentar o seu preço. Pelo efeito de maior procura mas também porque o incremento de capacidade produtiva terá que ser subsidiado pelos consumidores… e isto se entretanto o Estado não achar que será conveniente acrescentar mais umas taxinhas ao custo da energia!

Finalmente, dois aspectos que não são despiciendos:

1. a vontade do comprador e o seu posicionamento face às políticas de mobilidade no presente e no futuro;

2. a maior ou menor confiança do comprador relativamente à fiabilidade dos veículos em comparação e à sua expectativa de duração dos mesmos. Ou da sua posse. E a capacidade para um maior investimento inicial que depois se dilui na utilização subsequente.

Em conclusão

Relativamente ao caso concreto da SuperSoco CPX considero tratar-se de uma solução muito válida para deslocações em meio urbano.

VIRB0047_Moment(7).jpgComo julgo ter demonstrado, não será propriamente o aspecto financeiro a ser decisivo porque a um menor “custo de exploração” corresponde um bastante superior “custo de aquisição”. Caberá assim, a cada um, definir quais as suas opções preferenciais.

A utilização desta CPX serviu-me também para consolidar a ideia que o domínio preferencial da mobilidade eléctrica será o meio urbano uma vez que o consumo da energia armazenada nas baterias cresce exponencialmente à medida que a velocidade aumenta.

As autonomias medidas em quilómetros são bastante superiores nas deslocações urbanas se comparadas com a rapidez com que vemos essa mesma autonomia desaparecer se conduzirmos em estrada aberta.

Por isso (e outras razões cujo espaço de debate não será este) julgo que a mobilidade eléctrica é uma das soluções do presente e do futuro da nossa mobilidade. Mas não será a única nem a definitiva.

Resumo tudo no seguinte: se (ou quando) os custos de aquisição se reduzirem, aproximando estes veículos dos dos motores de combustão equivalentes, a solução eléctrica será a ideal para o meio urbano e até sub-urbano.

E, sem dogmas ambientalistas, esta será a melhor solução para o ecosistema onde vivemos. Porque é precisamente no meio urbano que o factor poluição é crucial. Não é no meio rural… não se esqueçam que as árvores precisam do carbono para produzirem oxigénio. Chama-se fotosíntese…

Quanto ao acréscimo de produção de electricidade necessário para os alimentar, isso “são outros 500!”

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Uma coisa é certa: com a CPX, visitas a estes locais só para nos encontrarmos com os nossos amigos….

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Super Soco CPX – O filme

A recolha de imagens feita durante esta experiência com a Super Soco CPX deu origem, como já vem sendo habitual, ao vídeo que  poderá ser visto no Canal de YouTube de Viagens ao Virar da Esquina:

“Super Soco CPX – o som do silêncio”

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AGRADECIMENTOS

Sobre a Super Soco CPX ficou tudo dito. Assim importa aqui deixar os devidos agradecimentos:

– À MOTEO, SA, representante nacional da Super Soco entre outras marcas e a quem fico grato pela constante disponibilidade, colaboração e amizade.

– À WATT – Electric Moving, concessionário da marca, localizado no Parque das Nações em Lisboa, que nos brindou com uma enorme simpatia e disponibilidade.

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– Aos amigos sempre presentes que me ajudam com os seus comentários e na captação de imagens.

A todos um enorme bem haja!

Hayabusa – o regresso do mito!

Hayabusa é a designação em japonês do Falcão Peregrino. Esta ave é o animal mais rápido à face da Terra e em voo picado ultrapassa facilmente os 300 km/h. Nem seria preciso dizer mais nada…

O Ano? – 1999!
Contexto histórico

Em Portugal governava Guterres (com mandato renovado no Outono) e era Presidente Jorge Sampaio. Macau passa para a administração da China e em Timor viviam-se momentos de terror.

O FC Porto era campeão, Mário Jardel o goleador de serviço e Portugal ganhava a organização do Euro 2004. Rui Bandeira vencia o Festival da Canção apresentado por Alexandra Lencastre e Manuel Luis Goucha. A 18 de Maio, João Garcia tornava-se o primeiro português a alcançar o topo do Everest. Em Outubro, desaparecia Amália Rodrigues.

Lá por fora, mas com impacto por cá, o Euro, a nova moeda da União Europeia, passava a ser aceite nas transacções internacionais. 3 anos depois passaria a ter existência física e todos nós adaptámos a forma de gastar dinheiro. Ou seja, continuámos dependentes de fisgas, catapultas ou bazucas: o dinheiro alheio.

No mundo, à medida que o ano avançava, crescia a ansiedade relativa ao “bug do milénio”. Na pior das hipóteses, os sistemas informáticos que já então governavam a nossa existência, poderiam “crashar” e sabe-se lá o que aconteceria… Na realidade, nada aconteceu!

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Ondas de optimismo davam o toque para o último ano do século e do milénio (ainda hoje não é consensual que tenha sido nesse ano ou no seguinte). Era identificada a sequência do cromossoma 22 que revolucionou o estudo da genética. E no Kosovo terminava a guerra dos Balcãs, resultante da desagregação da Jugoslávia que fez nascer novos países na Europa.

Em Barcelona, no Camp Nou, desenrolava-se a final da Champions com o desenlace mais emocionante de sempre: no período final de descontos o Manchester United marca 2 golos ao Bayern, dá a volta ao resultado e leva o caneco para Inglaterra. No mundo do desporto motorizado, Mika Hakkinen leva a palma na Fórmula 1 com a McLaren a superiorizar-se nas marcas e nos rallies, outro finlandês é campeão: Tommi Makinen. Já nas marcas vence a Toyota. Nas 24 horas de Le Mans, vence a BMW (Winkelhock, Martini e Dalmas) e no Dakar, desta vez com partida de Granada, vencem Schlesser e Monnet num buggy construido pelo primeiro e nas motos temos a vitória de Richard Sainct em BMW.

Continuando nas motos, pela primeira vez venceu um espanhol na categoria raínha, as 500cc: Alex Crivillé em Honda. que superou Kenny Roberts Jr em suzuki. O ano ficou marcado pelo gravíssimo acidente de Mick Doohan e também, pela vitória nas 250cc da Aprilia de um tal de Valentino Rossi. O nome diz-vos algo? Nas 125cc venceu Emílio Alzamora (Honda).

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Na Eurovisão, a taça vai para a Suécia pela mão de Charlotte Nilsson e no cinema, Roberto Benigni comovia toda a gente com o filme “A Vida é Bela”. Comovia-nos a nós e escandalizava Hollywood ao dirigir-se ao palco para receber o Óscar saltando por cima das cadeiras!

Mas mais importante, terminava a década onde o panorama mundial se alterou depois da queda do muro, 10 anos antes. Respirava-se um ambiente de consolidação democrática e esperava-se que o novo século trouxesse ainda mais liberdade e mais sã convivência entre todos. Estávamos enganados… (já veremos como, até porque os sinais estavam lá).

Também não se confirmavam os augúrios dos profetas do “Fim do Mundo”. Nem sequer o destino que a famosa série televisiva “Espaço: 1999”, 25 anos antes, antecipava com um cataclismo de proporções universais: uma explosão nuclear ocorrida pelo acumular de resíduos radioactivos (produzidos pelo número crescente de reactores nucleares) provocava a destruição da Terra e fazia com que a Lua saísse da sua órbita.

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Os ocupantes da base lunar Alpha estavam assim entregues à sua sorte, num planeta a vogar pelo espaço… Da última vez que verifiquei, a Lua continuava firme no seu lugar.

No mundo motociclístico

Foi precisamente na Primavera desse ano que chegou aos stands da Suzuki na Europa a resposta ao desafio: uma moto de produção em série, capaz de alcançar a mítica marca dos 300 km/h e simultaneamente bater a concorrência: a Honda com a CBR 1100XX Super Blackbird (longo nome que logo foi popularmente reduzido ao simples “XX” ou ao mais romântico Blackbird) e a Kawasaki com o top da sua gama ZZR, a 1100. Ambas se tinham aproximado, mas sem alcançar o desiderato histórico. Que ficou para a Suzuki!

A Hayabusa tinha surpreendido o mundo em meados de Setembro do ano anterior quando foi apresentada em Munique, na estreia do salão Intermot. Depois, passados alguns meses foi vê-la, qual vedeta, ser capa e vasto conteúdo em todas as revistas de motos (ver “Memorabilia”, no final do texto).

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Apesar de estranho, o seu nome rapidamente se enraizou no vocabulário motociclístico. Pelas características da moto, naturalmente. Mas a malta do Marketing não estava distraída e soube contar a história muito bem !

Hayabusa é a designação em japonês do Falcão Peregrino. Esta ave é o animal mais rápido à face da Terra e em voo picado ultrapassa facilmente os 300 km/h. Nem seria preciso dizer mais nada…

Mas lá foram avançando umas “bicadas” na concorrência: o Falcão Peregrino é o principal predador do melro-preto – designação científica “Turdus Merula” da família dos tordos e chamado em inglês…blackbird!!!

O mito estava criado. Até porque a moto veio a entrar para o Guiness Book of Records com a velocidade de 317 km/h (até hoje, apenas duas outras motos bateram esta marca…mas isso é outra história).

O motor tinha 1298 cc e debitava 175 cv com 138 Nm de binário.

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As performances eram de tal forma alucinantes para a época (ainda são!) que se instalou o pânico nos burocratas bruxelenses. Queriam limitar a potência das motos a 100 cv (nalguns países chegou a estar em vigor…) e chegaram a ameaçar com a proibição das importações! O que levou os construtores a, num esforço de auto-regulação, limitarem a performance das suas máquinas aos 299 km/h…

Ou seja, como atrás referi, já então a resposta para a evolução tecnológica era a criação de regras e limitações. E de então para cá, piorou… Quanto a educação ou responsabilização cívica como forma de vivermos em comum e em respeito uns com os outros, pouco ou nada. Mas isso é conversa para outros fóruns.

A Suzuki Hayabusa fez o seu caminho com assinalável sucesso. Que se manteve a partir de 2008. Foi nesse ano que a Suzuki lançou a 2ª geração do “Falcão Peregrino” de 2 rodas. Em equipa que ganha não se mexe e as alterações foram poucas. Mas era fundamental manter a liderança face às ameaças que vinham da Kawasaki – Ninja ZX12R e, principalmente por pertencer ao mesmo campeonato, pela ZZR 1400.

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A estética sofreu ligeiras melhorias que incrementaram o desempenho aerodinâmico e o motor viu a sua geometria alterada com o acréscimo de 2 mm no diâmetro que elevaram a cilindrada para 1.340 cc. Ficava assim com 197 cv e 155 Nm de binário.

Convém referir que as vendas constituíram assinalável sucesso: a 1ª geração vendeu cerca de 100.000 motos e a 2ª geração ficou ligeiramente abaixo deste valor. Isto numa moto que ao longo da sua existência sempre primou pela extrema fiabilidade.

Foi preciso esperar 13 anos pela 3ª geração!

Hayabusa (2021 – …) – o falcão volta a atacar

É uma das motos sobre as quais me foi mais difícil organizar as ideias e escrever sobre ela. Porque se a olharmos com os olhos de uma sociedade onde impera o “politicamente correcto” esta será, provavelmente, a mais incorrecta das motos.

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Na realidade, para um curioso completamente desapaixonado do fenómeno, que sentido fará uma moto que depois de duplicar o limite máximo legal de velocidade em auto-estrada, ainda tem de reserva mais metade desse limite…pelo menos?       (talvez valha a pena lembrar que as motos não têm o exclusivo destas performances…).

Seriam as estradas mais seguras se todos os veículos estivessem limitados à velocidade máxima de 120 km/h? Já agora porquê 120 e não 130, 140…ou 100? E cada ultrapassagem numa estrada normal se prolongasse por centenas de metros porque os veículos “não andavam”? Seriam mesmo mais seguras?…. Pela minha parte confesso: sempre que faço uma ultrapassagem não me preocupo com a velocidade a que a termino. Quero sim fazê-la em segurança, rápido e no menor espaço possível…

Convém recordar que os limites de 120 km/h nas auto-estradas e 90 km/h nas estradas, existe há cerca de 50 anos e foram instituídos na sequência dos dois choques petrolíferos dessa época que fizeram subir o preço do petróleo de forma exponencial. O objectivo não era segurança rodoviária. Era poupança de combustível (e de divisas…)! Tal como hoje é o ambiente (e as divisas…)… Sim, porque se fosse segurança rodoviária, os caminhos seriam outros…

Apesar das performances quase estratosféricas da Suzuki Hayabusa, não são necessários dotes de condução especiais para a conduzir (essa era a minha maior apreensão quando me sentei nela!). Mas é fundamental ter a noção de responsabilidade e uma grande carrada de bom-senso! Já para a pilotar…

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Só para estabelecer um paralelo, alguns jornalistas que a experimentaram na pista da Base Aérea de Beja, viram o ponteiro chegar aos 299 km/h (o limite da marcação) e ela continuar a acelerar mais um pouco. Por GPS terão atingido 310 km/h. A velocidade de take-off de um avião de passageiros (velocidade a que levanta voo) é, em condições ideais, inferior a isso e apenas o Concorde precisava atingir os 360 km/h! Registem-se ainda outras duas marcas de referência (mas onde as motos mais racing – as Rs – a superam: 3,2s aos 100 km/h e 6,8s aos 200 km/h…aos 250 já podemos começar a respirar!!!

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Esta 3ª geração da Hayabusa tem duas características essenciais, na minha opinião:

1. É a herdeira genuína do modelo estético das anteriores gerações. É uma evolução na continuidade que mostra modernidade sem deixar de manter as linhas que a definiram desde o início;

2. Está dotada de quase todas as inovações tecnológicas que configuram as motos mais sofisticadas do mercado. Nesse aspecto está perfeitamente actual. E é a montra da Suzuki.

A Hayabusa ao detalhe

Em primeiro lugar é fundamental definirmos que moto é a Suzuki Hayabusa. Principalmente esta nova versão nos dias de hoje.

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É, pela qualidade percebida e pela sua estética, uma moto de classe Premium. Ou seja, é vistosa sem deixar de ser elegante, é muito desejável mas pouco alcançável (para a maioria, apesar do seu preço não ser desmesurado), faz mover as cabeças ao passar e estimula a curiosidade quando parada. Confere status ao seu proprietário. Banalidade é termo que aqui não tem qualquer cabimento.

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Depois, é óbvio que não é moto para principiantes. Ou não tirariam partido ou correriam o risco de apanhar algum susto (violento). A quem se destina então? Quem é o seu cliente-alvo?

1º – anteriores (ou actuais) proprietários de Hayabusa;

2º – como forma de afirmação social (o status acima referido);

3º – é uma moto para ter, principalmente para quem pode ter diversas ou então for coleccionador;

4º – para viajar – é mais desportiva que touring mas em estradas rápidas com longas tiradas, pode ser uma boa solução (até para quem queira fugir às trails da moda).

5º – Era e continuará a ser uma excelente base para as transformações – até as mais loucas para as corridas de dragsters onde com turbos, nitros e outras habilidades, lhe triplicavam a potência…

5º – todos os outros que apreciem uma moto icónica como esta é.

 A quem não se destina? Certamente a “maçaricos” mesmo que endinheirados (pode correr mal) ou a malta radical para quem doses industriais de adrenalina são o mote para andar de moto. Neste último caso, ficarão certamente mais bem servidos, sem sair sequer da marca, com a GSXR 1000 (preço idêntico, mais 12 cv e menos 60 kg…).

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Uma coisa é certa. Vai ser um sucesso de vendas pois a capacidade de produção neste momento é insuficiente para a procura.

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Versões disponíveis:

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Descritas as características mecânicas principais é fundamental olhar para a parafernália electrónica com que a Suzuki dotou a Hayabusa. Afinal, esta moto é o seu melhor “mostruário” e a sigla chave é SIRS – Suzuki Inteligent Ride System.

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O elemento principal do SIRS responde por outra sigla: SDMS-a (Suzuki Drive Mode Selector – Alpha).

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Baseia-se numa Unidade de Medição Inercial (IMU) de 3 eixos e 6 direcções, permite parametrizar facilmente todos os apoios à condução e tem 5 valências básicas:

1. PMS – Selector de Modo de Potência (3 opções)

2. ALCS – Sistema de controlo anti levantamento da roda da frente (anti-wheeling)

3. BQS – Sistema de quick-shift bi-direccional

4. EBCS – Sistema de controlo do travão motor

5. MDTCS – Sistema directo de controlo de tracção

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E ainda:

  • Sistema de controlo de arranque (limitador com 3 opções: 4.000, 6.000 e 8.000 rpm)
  • Sistema activo de controlo de velocidade
  • Sistema de cruise control
  • Sinalização de travagem de emergência (ligação dos 4 piscas)
  • Sistema de assistência de controlo de descidas (que impede a roda de trás de levantar em caso de travagem)
  • Sistema de apoio em subidas

É conveniente referir que foi opção dos engenheiros da Suzuki não alterarem significativamente a geometria do motor. Ainda assim terá sido com ele que terão tido as maiores dores de cabeça face à necessidade de saltarem directamente do Euro3 para as regras do Euro5.

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O motor perdeu 7cv e 5 Nm face à anterior versão. A contrapartida foi uma melhoria importante abaixo das 6.000 rpm o que lhe dá um carácter mais cheio. Muitas peças internas foram alteradas e aligeiradas.

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A Hayabusa tem uma sólida reputação de fiabilidade. A manutenção do mesmo bloco e da maioria das soluções anteriores (actualizadas) contribuirá para manter essa já lendária fama.

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Só no sistema de escape foi possível economizar 2 kg (apesar das enormes ponteiras, como manda o Euro5. Nada consensuais esteticamente falando. Digamos mesmo…algo feias)).

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De caminho, aproveitaram o ensejo para o dotar de um roncar “profundo e distintivo”. Um som grave, ritmado, com afinação perfeita, quase sinfónico e que nos inspira a fazer o que não devemos: enrolar punho como se não houvesse amanhã….

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Um aspecto que não poderemos considerar defeito. Apenas constatar o facto. A Hayabusa não tem suspensões electrónicas (um dos elementos da moda nas motos topo de gama, como esta é). Não será por incapacidade da marca certamente, pelo que só poderemos assumir ter sido deliberado. Suspeito que as razões poderão ser duas:

  • a confiança nos acertos de origem e o facto de serem necessárias ferramentas para a sua alteração desde logo sugerirem que só lá mexerá quem sabe mesmo o que está a fazer. Ou seja, diminuir a probabilidade de o utilizador andar a experimentar regulações e alterar a segurança da moto sem saber bem o que está a acontecer;
  • considerar que uma suspensão convencional é mais fiável e durável (a tal reputação que falei atrás).
Sentei-me no Falcão Peregrino

A primeira sensação que temos é que a moto é comprida. E baixa. Para este nível de performance a aerodinâmica é mandatória.

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Sem entrar em considerações científicas desnecessárias vale dizer que, em termos básicos, a resistência ao ar aumenta com o quadrado da velocidade. Isto é, se a 50 km/h essa resistência tivesse um valor hipotético de 5, a 100 seria de 25 e a 200 625… (valores apenas para ilustrar as diferenças).

Ou seja, é fundamental a optimização aerodinâmica para maximizar não só a performance mas também a segurança a que ocorre (não vá o veículo levantar voo, por exemplo). E aqui é fundamental referir que nesta 3ª geração a Hayabusa não traz de série a cobertura do assento do pendura. É acessório….

O aspecto seguinte é o espectacular painel de instrumentos. Lindo!

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Onde o clássico enquadra na perfeição o moderno. Desde logo a estrutura de 2 mostradores grandes ao meio – conta rotações à esquerda e velocidade à direita – e dois mais pequenos nas extremidades – nível de combustível (esq.) e temperatura do motor (dir.). Todos eles analógicos. Tinha ainda 2 minúsculos mostradores digitais.

Era assim a configuração na 1ª geração (incluía também as habituais luzes avisadoras). Na 2ª geração, o desenho manteve-se mas foi incluído um outro mostrador circular entre os maiores, digital, onde era concentrada a restante informação (odómetro, parciais, etc.). Na minha opinião, esteticamente exagerava nas linhas curvas e tornava-se deselegante.

O painel actual é espectacular. É um TFT colorido onde os 4 manómetros circulares mantém a sua localização e função. Mas ao centro, entre os mostradores grandes está um relativamente pequeno quadrante, onde a Suzuki conseguiu o feito de “enfiar o Rossio na Rua da Betesga”. A sua utilização requer alguma habituação, mas está lá toda a informação necessária quer à parametrização da moto quer à sua visualização enquanto conduzimos. E visualmente é bastante atraente com um design central a lembrar o símbolo da radioactividade.

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Aí estão patentes o relógio e a temperatura ambiente (no topo) e o odómetro e parciais (na parte inferior). Ao meio é onde tudo se passa: um indicador da mudança engrenada destaca-se no meio e nos 3 pequenos trapézios temos o modo de condução escolhido (em cima), as opções do quick-shift à esquerda e do anti-lift control system (anti-wheeling) à direita. Logo abaixo, em dimensões mais reduzidas, as parametrizações escolhidas e em função do modo de condução definido. Na prática está lá tudo (ou quase). Tudo isto controlado a partir de um simples comando no punho esquerdo (tradicional na marca).

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Convém referir que a Hayabusa tem um sistema de segurança para arranques rápidos que na prática é um limitador da rotação máxima atingida. Tem 3 níveis – 4.000, 6.000 e 8.000 rpm respectivamente) e é regulado no botão de Start (punho direito) pressionando-o sucessivamente durante alguns segundos.

Nesta fase, quero salientar que nunca conduzi um modelo das anteriores gerações (nem sequer me sentei em algum). Para lá de ser uma falha tremenda em termos de cultura motociclística inibe-me de fazer comparações para lá daquelas que possam resultar da mera observação. A leitura de alguma literatura sobre a Hayabusa pode ajudar, mas pouco.

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É aqui que refiro o facto de o guiador ter visto a sua posição ligeiramente alterada com um recuo de 12 mm para um melhor controlo da frente. Para lá desse detalhe, o facto é que o posicionamento dos avanços por cima da mesa de direcção melhoram imenso o conforto de condução (minimizando a pressão sobre os pulso que encontramos em motos mais radicais). Uma pequena nota: quando levamos a direcção ao extremo (em manobras, claro) o braço encosta no depósito limitando o movimento.

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Outro aspecto, este menos compreensível numa moto deste nível: os piscas não desligam automaticamente. Em compensação algo que já é norma hoje em dia: a sinalização de emergência em caso de travagem brusca (os 4 piscas acendem nesta situação).

A propósito, toda a iluminação é LED, claro. À frente um triângulo invertido a respeitar a tradição , rodeado com o elegante “V” cor de laranja da luz diurna. Nas laterais da carenagem as luzes de presença mudam de branco para laranja quando os piscas são accionados criando um efeito original porque prolongam o desenho da luz diurna.

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Atrás, os dois elementos prolongam-se ao ponto que quase se tocarem criando um efeito de continuidade que adiciona elegância à segurança pois são bem visíveis.

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A condução aos comandos da Hayabusa

Já comentei a sinfonia que sai das duas massivas ponteiras de escape. É a primeira sensação que temos ao colocar a Hayabusa em funcionamento. Fácil aliás, porque com o sistema típico da Suzuki, basta um rápido toque no Start.

O encaixe é perfeito e tudo no funcionamento é suave e robusto. A percepção de qualidade é evidente.

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Não tem a ligeireza de motos mais racing nem essa é a sua filosofia. A sensação de segurança é total e a estabilidade que o seu peso e comprimento induzem fazem com que tenhamos sempre a noção de que estamos colados ao solo. A tal não será certamente estranho também o facto de os pneus Battlax HyperSport S22 terem sido especialmente desenvolvidos para esta moto pela Bridgestone.

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Em nenhum momento a moto tem reacções imprevisíveis. Tudo perfeitamente controlado…mesmo se a certo momento as coisas se passam depressa. Muito depressa!

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É uma moto que tem um elevado grau de maturidade, proveniente da sua herança, em vez de uma eventual “rebeldia” mais característica da juventude que se traduziria em “atitudes mais espontâneas ou irreflectidas”.

Mas atenção, esta Hayabusa não é uma moto asséptica (como parece ser a intenção dos mais “politicamente correctos”) nem sequer asmática (algo que hoje, por força das condicionantes ambientais, afecta a maioria das motos – parece que têm dificuldade em respirar…). A Suzuki está de parabéns.

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Apesar da compatibilização com as normas do Euro5, esta é (dito pela marca) a Hayabusa mais rápida de sempre. O motor tornou-se mais redondo, com entrega de potência mais linear e com maior disponibilidade em baixas e médias rotações. Chega lá mais depressa!

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A Hayabusa tem 6 modos de condução: 3 definidos de fábrica (A, B e C) e outros tantos costumizáveis pelo utilizador (U1, U2 e U3).

Os 3 modos pré-definidos são: A – Active, B – Basic e C – Confort

A utilização dos modos de condução faz todo o sentido e notam-se as diferenças. Mas sempre a um nível muito alto. Porque a potência está toda lá. Só difere a forma como nos é entregue. Bem como todos os restantes parâmetros. E não esquecer que ainda estão disponíveis 3 modos de condução perfeitamente configuráveis a gosto!

Veja-se o quadro:

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A Hayabusa é uma moto muito fácil de conduzir. Com o “kit de unhas” disponível (os meus limites estão a léguas de distância dos desta máquina) senti-me perfeitamente confortável e em segurança.

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Sabemos que a Suzuki sabe fazer excelentes caixas de velocidades. Esta é uma delas. E o funcionamento do Quick-Shift bi-direccional é brilhante.

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É uma moto que nos retribui o que lhe dermos: se formos gentis ela responde com gentileza. Se formos agressivos, lá virá a resposta na mesma moeda. E aí ela é fenomenal! Porque apesar de tudo mantém a compostura e confia em nós…mas muito vigilante. Lá está…é o tal sinal da maturidade que atrás referi.

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Não será, pelas suas dimensões e peso, a moto ideal para utilizar em estradas muito reviradas. Não fica para trás mas não tem a ligeireza mais adequada.

Agora em estradas rápidas, com boas curvas encadeadas, aí é simplesmente deliciosa. Dá imensa confiança, os travões – Brembo Stylema (de top) – e as suspensões Kayaba comportam-se como é desejável, o que se traduz por um enorme equilíbrio na abordagem à curva, no apex e, depois, na saída (que nem um foguete!). Aliás, convém referir o trabalho das suspensões: absorvem as irregularidades do terreno na perfeição sem aquele comportamento “tipo tábua” de motos mais radicais. E isso traduz-se em segurança, conforto e confiança.

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Em conclusão

É uma moto para a estrada, não para a pista (apesar das performances ímpares). Tem uma condução deliciosa que só pede quilómetros em cima de quilómetros.

Será sobre dimensionada para realidade actual? Julgo que sim. E ainda bem, até porque o faz de uma forma racional! Sair da vulgaridade faz-nos ver que há vida para lá de conceitos ambientais que, ainda por cima, têm muito que se lhes diga… e não sou negacionista nesta matéria! É a diferença entre um mundo cinzentão e uniforme ou um bem mais divertido e a cores.

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Por falar em ambiente, o consumo situa-se nos 6,5 l/100 ou um pouco mais se lhe apertarmos as goelas. O que, dizem-me, é mais do que gastaria em idêntica situação, a versão anterior. Ou seja, para melhorar o ambiente…gasta mais.

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Essa racionalidade é o segredo da Suzuki e da nova Hayabusa.

Tem performances fantásticas mas com um controlo proporcional. Ou seja, anda o que quisermos que ela ande. E se for em ritmo de passeio, garanto-vos que continua ser muito agradável. Em cidade, o seu volume e peso não a recomendam, mas a maneabilidade é melhor do que possa parecer à primeira vista. Não é o seu habitat. E o calor libertado pode ser incomodativo com temperaturas mais quentes (aqui a aerodinâmica não funciona).

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A propósito da aerodinâmica, tanto poder gera calor que necessita de ser libertado. Fá-lo na perfeição e os enormes extractores laterais, para lá do efeito estético agressivo, fazem com que as nossas pernas sejam poupadas.

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Por outro lado, sentados atrás da cúpula no topo da carenagem envolvente, estamos muito bem protegidos mesmo que para tal tenhamos que nos inclinar um pouco em cima do depósito (principalmente se a envergadura do condutor for apreciável).

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O trabalho feito pelos técnicos da Suzuki foi notável e eles designaram-na como “The Refined Beast” !

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O termo “refinado” adequa-se na perfeição: as linhas fluídas que principiam na carenagem dianteira, se prolongam pela linha do depósito e terminam na traseira arredondada – onde se nota a falta da cobertura do banco do pendura! – são muito bem complementadas pelas combinações de cores escolhidas. Todas elas bonitas, mas diria que esta que me calhou em sorte será a mais de todas (apreciação naturalmente subjectiva).

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O preto brilhante, condimentado com as linhas douradas (que já vêem da parte frontal) e o metalizado da linha de escape (salvo o tamanho sobre dimensionado da ponteira) e do contorno das “guelras” de refrigeração dão o toque de elegância e sofisticação inerente a uma moto que classifiquei logo início como Premium.

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O logótipo na traseira e o caracter japonês que a identifica na carenagem lateral, ambos em cinzento esbatido acentuam esse toque de classe.

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Não tenho dúvidas que foi uma experiência de condução inesquecível. Podemos circular o dia inteiro calmamente nas 5.000 rpm (o redline é às 11.000 rpm) e já vamos acima dos limites legais, desfrutar da “vida a bordo” e da condução com toda a tranquilidade, conforto e segurança. E agora imaginem o que é fazer isto sabendo tudo o que ela ainda tem mais para dar…

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Esta realidade está ao alcance de quem possa dispôr de 20 mil euros e mais uns pózitos para poder sair do stand aos seus comandos. Isto se conseguir…porque parece que a procura excede a produção!

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A Hayabusa é uma moto mítica. Faz parte integrante da história do motociclismo e esta sua 3ª geração faz jús a essa lenda.

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O que nos deixa a questão em aberto:

Será que daqui a 10 anos estaremos a desfrutar da 4ª geração da Hayabusa?

Memorabilia

Dei uma volta nos arquivos e descobri o que, há mais de 20 anos foi dito e mostrado por aí, quando a Hayabusa rompeu todas as convenções e chamou a si o título de “Moto mais rápida do Mundo!”. Ora vejam:

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O filme da Hayabusa

A recolha de imagens feita durante esta experiência com a Suzuki Hayabusa deu origem, como já vem sendo habitual, a um filme que  pode ser visto no Canal de YouTube de Viagens ao Virar da Esquina:

* HAYABUSA – O REGRESSO DO MITO *

Hyabusa - o filme

AGRADECIMENTOS

Sobre a Suzuki Hayabusa ficou tudo dito. Assim importa aqui deixar os devidos agradecimentos:

– À MOTEO, SA, representante nacional da Suzuki entre outras marcas e a quem fico grato pela constante disponibilidade, colaboração e amizade.

– À MigTEC Motos, concessionário da marca, localizado no Cacém, que  nos brindam sempre com uma grande simpatia e colaboração.

– Aos amigos sempre presentes que me ajudam com os seus comentários e na captação de imagens.

A todos um enorme bem haja!

Himalayan – O estilo rústico de ser moto

Dela dizem que é feita para todas as estradas…e para onde não as há!

Onde a moda e a moto se cruzam

A Moda é um elemento omnipresente na nossa vida. Sejamos seguidores fiéis das tendências, agnósticos relativamente a elas ou simplesmente espírito de contradição (o que por si também pode ser…moda), o facto é que a Moda, melhor dizendo as diferentes Modas, são uma constante no mundo de hoje.

A estatística matemática define Moda como sendo “o valor mais comum num conjunto de dados”. Mas para este caso, o que nos interessa é a outra.

Aquela que é definida como sendo “um uso, um costume, um hábito ou uma forma de agir, um estilo (habitual ou passageiro) de comportamento e que é característico de uma determinada época, de um espaço territorial, de um contexto social ou uma realidade económica”. Pode ser factor de aceitação ou de exclusão num determinado meio social, ou simplesmente uma afirmação individual de personalidade ou de estar.

Será que também há moda no mundo das motos? A resposta é obviamente afirmativa, mas não é esse o caminho que procuramos (para já).

Ao longo dos tempos, as sucessivas modas – se foram significativamente relevantes ao ponto de influenciarem o mundo na sua época – deram origem a “Estilos”. As obras mais perenes que ilustram estes estilos, até pelas suas características, são as arquitectónicas. E com reflexos por exemplo, no mobiliário ou no vestuário.

São espelho da realidade da época.

O estilo barroco, do início do Séc XVII, é caracterizado pela extravagância, pela riqueza das formas onde predominam as linhas curvas, por efeitos cenográficos que tentam exercitar a imaginação do observador, de o tentar transportar até ao infinito (a exploração do efeito tridimensional da perspectiva).

Este é o estilo da época do reinado do rei Luis XIV de França- o proclamado Rei Sol, que em 1655 afirmou “l’État c’est moi” a frase chave dos regimes absolutistas – e o seu paradigma o Palácio de Versailles, perto de Paris.

Obviamente é um estilo que só podia nascer em época de riqueza, de esplendor e de ostentação, de esbanjamento (nas classes ligadas ao poder, porque para o povo a realidade era outra…) e que depois, mais tarde, terminou mal, leia-se Revolução Francesa e uns pescoços desligados das respectivas cabeças!

Por oposição, o designado “estilo rústico” é muito simples. Traduz um estilo de vida confortável, leve, sem ostentação ou complicações no qual o contacto com a natureza é fundamental. Um certo ar antigo (que não velho), campestre, com ligação ao passado e no qual até as imperfeições “fazem parte”.

A (longa) explicação serve para ilustrar porque no título deste escrito atribuí à Himalayan a correspondência a esse estilo rústico. E porque não queria correr o risco de a palavra aqui ser entendida no seu sentido mais literal, como no dicionário: algo rude, tosco, grosseiro. Nada disso!

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A Himalayan remete-nos claramente para essa realidade simples, descomplicada, sem ostentação e vocacionada para a ligação ao campo e à natureza – a ausência de sofisticações tecnológicas, a nula importância dada às performances que não sejam as necessárias à sua utilização, o conforto natural sem recurso a soluções “aero-espaciais”.

Está em contra-ciclo com a moda vigente? Na minha opinião, sim.

Uma abordagem de Marketing

Existem 3 conceitos básicos quando se pretende lançar um produto novo. Como foi o caso da Himalayan.

Segmentação: não é possivel agradar a todos. Assim, é necessário olhar para o mercado e dividi-lo em grupos que apresentem características comuns. Depois, escolher qual vamos servir e que será o

Mercado-alvo: o conjunto de consumidores que reúnem um conjunto de características semelhantes e portanto serão potenciais destinatários da nova

Proposta de valor: o produto que vamos apresentar, com todas as suas características e que se destinam a satisfazer um conjunto de necessidades do consumidor-tipo que foi identificado. Se este considerar que o produto acrescenta valor à sua vida e que o preço pedido compensa, provavelmente irá adquiri-lo.

Ora vejamos o caso da Himalayan:

O segmento no qual se insere – as trails, também chamadas motos de aventura – está hoje definitivamente orientado para um estilo que tem muito de barroco: design rebuscado, opulência tecnológica, exploração de um imaginário radical e aventureiro….tudo isso e preços a condizer. Exuberantes! Aqui, o barroco nada tem de passado mas sim de um presente em que a sofisticação tecnológica é a palavra-chave.

A Himalayan não tem nada disso. Não “dá nas vistas” (ou se calhar até dá, porque marca pela diferença), não remete para um visual dakariano de desertos sem fim.

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Mas provavelmente, para o utilizador comum (sem especiais dotes de pilotagem) que pretende uma moto para o dia-a-dia, económica e que lhe permite enfrentar qualquer caminho mais rude (em trabalho ou em lazer), a moto indiana chega onde as outras chegam – pode demorar um pouquinho mais, é verdade – mas também chega onde as outras não chegam (ou para o fazer correm riscos que com um pouco de azar podem valer o custo da Himalayan).

Himalayan = VFM (value for money)

Chegámos ao pormenor do custo!

Os anglo-saxónicos conseguem exprimir conceitos mais complexos com poucas palavras. A língua inglesa ajuda. Em Gestão há um principio que aqui se pode aplicar na perfeição: “value for money”. A tradução literal faz pouco sentido mas a ideia que se pretende exprimir é “o que eu obtenho pelo valor que pago”.

A Himalayan custa chave-na-mão e prontinha para se fazer à estrada cerca de 5 mil e quinhentos euros. Se se lhe quiser adicionar as malas laterais e crash bars, o valor sobe para os 6 mil e picos.

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(preço afixado em 6 de Julho de 2021)

Viremos o “value for money” ao contrário: o que é que não obtenho por este custo? Não tenho controlo de tracção, não tenho anti-wheeling, não tenho cruise-control, não tenho acelerador ride-by-wire e modos de condução, não tenho suspensões electrónicas, não tenho travões de alta performance. Pois…mas pago 25% do que pagaria por uma moto que tenha tudo isso! Ou menos…

E ainda…o IUC é 19,59 €! Comparem com as big trails da moda…. (a diferença são mais de 2.000 km em ouro negro na forma líquida…por ano).

A bordo da Himalayan

Declaração de interesses: tenho um fraquinho pela Himalayan desde que há 2 anos tive a oportunidade de fazer, com a anterior versão, um périplo pelo Alentejo e Algarve com regresso pela EN 2 até ao Torrão. Uma slow travel com muito calor mas não menos divertida: “A Royal Enfield a caminho das planuras alentejanas”.

A Royal Enfield diz que ela é “Made for all roads. Made for no roads”. Nesta (e na anterior) experiência de condução confirmei isso.

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E apenas precisei dos 24,5 cv de potência e dos 32 Nm de binário. São singelos 411 cc num só cilindro a 4c tempos e refrigerado a ar. Apesar de totalmente atestada acusar cerca de 200kg, as suas dimensões contidas dão uma sensação de leveza. E só temos que nos preocupar com a condução. Só.

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Em estrada, ultrapassa dificilmente os 120 km/h e a sua marcha de conforto situa-se nos 80/90. Se isso nos complica um pouco eventuais ultrapassagens, tornando-as longas (é uma questão de hábito) o facto é que muito dificilmente contribuiremos para os 93 milhões de euros que um certo Leão das Finanças espera arrecadar este ano em donativos auto e motociclisticos para o erário público.

Mas quando chegamos a estradas secundárias ou a outras em que o asfalto é promessa ou nem isso, a Himalayan está no seu meio. Asseguro que não perde por muito para outras bem mais caras. E se a diferença de preço for utilizada em néctar explosivo…então aí, vai chegar muito, muito mais longe.

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Onde não utilizaria esta moto? Certamente em viagens longas com tiradas sucessivas a rondar o milhar de quilómetros (até porque pelas performances da mota, isso significaria pelo menos dezena e meia de horas a conduzir… ) e provavelmente também não com pendura a não ser em trajectos curtos. As razões são óbvias: a potência limita essas utilizações e as dimensões também.

Onde possivelmente não quereria outra moto? Se vivesse em ambiente rural ou próximo, em que pudesse frequentemente percorrer os caminhos campestres, fosse porque o trabalho a isso obrigava ou porque os momentos de lazer o permitiam. E da forma mais económica possível – a média de consumo situa-se abaixo dos 4 litros por 100 km, isto é, uma autonomia acima de 300 km.

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Ou, como muitos fazem, correr mundo por quaisquer estradas ou caminhos que me surgissem, sem pressas, a desfrutar da paisagem e do contacto com as gentes que encontrasse. Sem preocupações de tempo nem de horários. O verdadeiro conceito de slow-travel! Basta ir aos blogues e vlogues das redes sociais, para vermos que são muitos a fazê-lo. Já não falando nas empresas de tours organizados em zonas agrestes como os Himalaias (o nome é familiar, não é?) ou a região andina na América do Sul. Robustez, simplicidade, economia são as palavras chave.

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Resumindo de forma mais prosaica: se um amigo o convidasse para passar um fim de semana num monte alentejano (ou numa quinta no Douro) que incluísse uma experiência de vida campestre? Colher frutos, regar, pegar numa enxada, dar uma volta de tractor? Que roupinha escolhia? Fato completo com camisa e gravata a condizer ou umas jeans e t-shirt mais confortáveis e práticas? Pois… aí está a resposta!

Uma nota adicional: se o kit de unhas em off-road não é grande coisa (o meu caso), a Himalayan pode ser uma excelente escola (dizem-me na marca que são muitos os proprietários de big-trails da moda a adquirirem Himalayan como segunda moto).

A Himalayan propriamente dita

Falarmos de uma moto sem mencionar as suas características técnicas é curto. Aí vão elas:

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Quais as diferenças face à versão anterior?

Em primeiro lugar, a necessidade de adaptação à norma Euro5. Assim, nova injecção e admissão melhorada com um novo filtro de ar. Passa a ter só um catalizador, situado logo à saída da cabeça do cilindro.

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Mantém o ABS mas agora é possível desligá-lo (na roda traseira) através de um botão no painel de instrumentos (basta pressioná-lo alguns segundos para desactivar. Para regressar à situação inicial…o velho truque: desligar e tornar a ligar a moto).

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A moto recebeu também uns mimos estéticos: novo desenho das protecções superiores e dos logótipos (“Royal Enfield” nas protecções e “Himalayan” nas tampas laterais que também foram redesenhadas).

O vidro dianteiro também é diferente e diga-se que tem um bom nível de protecção (digamos que neste domínio a exigência não é grande, atendendo às baixas velocidades atingidas).

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Também o assento foi melhorado e se a moto já era confortável, pois posso dizer que resultou.

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A Royal Enfield renovou também a palete de cores. Tem agora 3 versões: uma preta (o modelo ensaiado) a que chamou “Granite Black”, uma cinzenta que denominou “Mirage Silver” e uma camuflada em tons de verde – muito original e bastante bonita (opinião subjectiva, claro) – cujo nome é “Pine Green”.

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Finalmente, “la pièce de résistence”! Para lá do painel de instrumentos “old school” (e ao qual eu acho imensa piada…) um novo manómetro ao lado.

Mantém o velocímetro (com indicações em km/h e m/h), o conta-rotações e o indicador de nível de gasolina analógicos, a bússola digital, os indicadores luminosos da praxe (bateria, motor, piscas, ABS) e o mostrador digital com os indicadores de mudança engrenada, odómetro total e parciais, relógio, temperatura ambiente e avisador de descanso lateral.

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O novo manómetro não é mais do que um simples GPS (deveria talvez chamar-lhe “tripper”) que merece alguma atenção.

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É circular e as indicações são semelhantes ao “código” utilizado nos roadbooks. Ou seja, indica a próxima mudança de direcção e a distância para lá chegar. O grafismo é excelente.

Funciona mediante emparelhamento bluetooth com o telemóvel via uma aplicação proprietária da Royal Enfield (sendo que o software é Google Maps) e também transmite as indicações para o auricular (se existir).

Sobre a sua utilização…se a marca vendesse o aparelhómetro isoladamente e o preço fosse similar ao que é na Índia (cerca de 60/70 €) comprava um para o adaptar à minha moto! Acho que não é preciso dizer mais.

Este acrescento – o GPS – que a Royal Enfield resolveu incluir (aliás já disponibilizava uma bússola digital no painel de instrumentos – que diga-se é bastante temperamental e não muito fiável) mostra uma boa atenção aos detalhes sem nunca comprometer a filosofia da marca: simplicidade!

A condução da Himalayan

Correndo o risco de me repetir, a condução da Himalayan é…simples!

Obviamente que não temos que nos preocupar se os cavalos se vão espantar ou se a força do bicho provoca derrote que nos atire fora da garupa.

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A ergonomia é muito boa. Sentamo-nos e os comandos caem na mão, naturalmente. Os “botõezinhos” são os da praxe e de qualidade ao toque muito razoável.

O assento é confortável e estreito o suficiente para que, com a relativamente reduzida altura ao solo, esta moto seja ideal para quem tem a perna mais curta. O depósito é estreito, principalmente na zona próxima dos joelhos, o que simplifica a condução em pé (com o senão de por ser metálico se tornar escorregadio nesta zona, o que facilmente pode ser corrigido com um autocolante apropriado).

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Também o banco do pendura tem bom aspecto e dimensão e será igualmente confortável, estou certo (foi algo que não testei).

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O painel de instrumentos, já o referi atrás, é muito peculiar e original face ao que é hoje habitual. Completamente vintage tem boa leitura e toda a informação que é estritamente necessária. Complementada pelo tripper que já comentei.

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Em estrada a moto conduz-se naturalmente com um comportamento muito são e apenas nos exige atenção a alguns pormenores:

– a altura ao solo não é muito grande e a “moleza” da suspensão pode fazer com que numa maior inclinação em curva, raspemos no chão. Talvez com uma melhor regulação da pré-carga (uma vez que no meu caso, a diminuição do meu peso seria algo mais difícil e demorado no tempo…);

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– o travão dianteiro não tem uma mordedura muito forte, pelo que deverá ser levado em consideração nas distâncias de travagem. Mas o travão traseiro está lá para ajudar e é bastante eficaz;

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– o curso do acelerador também é pronunciado. Mas será uma questão de hábito e confesso que passado pouco tempo…não era tema!

Em estradas reviradas, a moto é muito divertida. Se o piso for “à antiga portuguesa” aí então a Himalayan está perfeitamente à vontade. A ciclística bem equilibrada, a aparente leveza, as suspensões de longo curso, tornam-na a máquina ideal para estas tormentas. E sem o receio de danificarmos o material circulante, como aconteceria com uma das tais motos da moda.

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Mas onde ela está como peixe na água é nos estradões de terra. A leitura do terreno é excelente, as suspensões (que não são de nenhuma marca reputada) têm um comportamento são e os cursos longos favorecem a absorção de todas as irregularidades do terreno. A diversão está assegurada.

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A potência é suficiente para avançarmos e o binário disponível desde baixa rotação dá-nos confiança para ultrapassarmos os obstáculos. Este é o terreno de eleição da Himalayan que todavia não deve ser considerada uma moto “endureira”, mas antes uma verdadeira moto de aventura altamente polivalente. Sem pressas, claro….

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Por falar em enduro, a moto sai-se com muito ligeireza na azáfama do trânsito citadino, superando com notável distinção as trialeiras urbanas em que estão transformadas algumas ruas das cidades deste país (tomei como exemplo Lisboa…).

Uma chamada de atenção para os pneus: a versão anterior vinha equipada com Pirelli. A actual traz de origem uns pneus da marca indiana CEAC. Compreende-se o nacionalismo. As características são mistas e, de facto, na terra dão muito boa conta de si. Em estrada não comprometem, são confortáveis e até não são muito ruidosos. Não experimentei em piso molhado mas….

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Talvez não seja má ideia que o seu proprietário explore as suas potencialidades cuidadosamente e depois opte – ou não – por umas borrachas de marca mais conhecida.

A história da Royal Enfield Himalayan

Recentemente publiquei a análise à Royal Enfield Interceptor 650 e aí aproveitei para contar um pouco da história da marca, que convido a ler: Fui o tipo mais cool do bairro…e arredores!”.

Aí referi que a Royal Enfield começou a ser importada para a India – a marca é originária da Grã-Bretanha e começou a produção em 1901 – nos anos 50 do século passado, através de encomendas do modelo Bullet por parte do exército indiano. A adequação foi tão boa, que rapidamente foi construída uma fábrica local para satisfação da procura.

Como é natural, a sua utilização generalizou-se pelo sub-continente indiano e isso inclui os Himalaias. A robustez e fiabilidade das Royal Enfield ficou comprovada de tal forma que ainda hoje não só a produção continua a ser feita na India (quando na Europa já terminou há cerca de 40 anos) como é uma das maiores produtoras do mundo.

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Foi essa experiência adquirida, com a utilização dos seus modelos nos ambientes mais duros e inóspitos, que levou a marca a canalizar o know-how para a produção de uma moto com linhas mais adequadas aos nossos tempos, mas sem esquecer a herança de simplicidade, robustez e fiabilidade que fizeram não só o sucesso, como também a reputação da Royal Enfield.

O desenvolvimento de uma moto que tivesse essas características e simultaneamente fosse adequada ao uso citadino e no dia-a-dia dos seus utilizadores, podendo também transportá-lo para aventuras mundo fora, foi o objectivo desde o início. Que começou em 2014 e teve desde logo a colaboração da britânica Harris Performance na concepção e execução do quadro.

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O período de teste prolongou-se durante cerca de 2 anos e os protótipos foram submetidos às mais duras provas, incluindo no ambiente que lhe dá o nome: nas difíceis, rudes, estradas e caminhos que levam ao topo dos Himalaias. Mas também em pista, pois era fundamental encontrar o equilíbrio entre a rusticidade e a conveniência da utilização diária em ambiente urbano.

E as motos não chegaram logo à Europa. Apresentaram, nos primeiro modelos de produção colocados à venda na Índia, uma fragilidade que ainda hoje lhes é apontada. mesmo depois de ter sido identificada e corrigida! A moto quebrava na ligação entre o quadro e a mesa da direcção. Tratava-se de um processo de soldadura inadequado.

Depois de corrigido, rapidamente a moto foi aprovada pelos testes de segurança necessários à sua venda na Europa, que começou em 2018. Com o modelo homologado para Euro4 e que agora é substituído pela versão Euro5.

Uma história à margem

Faz por estes dias 60 anos que no Salão Automóvel de Paris foi apresentado um novo veículo que ira entrar para a história do automóvel: o Renault 4L. Foi no dia 3 de Agosto de 1961.

4L

O conceito era simples: um veículo leve, simples, barato, funcional, despojado de tudo o que não era necessário, com uma suspensão “fofa” (curso longo que lhe permitia absorver tranquilamente as irregularidades do terreno) que era confortável mas com o contra do adornar significativo da carroçaria em curva.

O seu primeiro motor tinha quatro cilindros, caixa de três velocidades em linha e 603 cm3. A potência de 20 cv às 4.700 rpm permitia velocidade máxima de 95 km/h.Foi evoluindo ao longo do tempo, e a sua última versão já tinha 1.108 cm3, 34 cv às 4.000 rpm e velocidade final de 122 km/h.

O que nunca se alterou foi o seu carácter rústico, que fez com que fosse o veículo favorito de quem, na década de 60 e seguintes, tinha que “ir ao campo”. Lavradores, caçadores ou simplesmente amantes da natureza tinham na 4L a viatura ideal pelo seu desempenho e desembaraço nas difíceis condições dos terrenos campestres.

Passados 60 anos, ainda é possível ver alguns destes veículos icónicos a circular por aí. Uns, reconstruídos e como veículo de colecção. Mas também outros que ainda desempenham as suas funções.

Conseguem notar algumas semelhanças? Será que daqui a meio século ainda por aí andarão, encantadas da vida, as Himalayan dos anos 20 do século XXI? Não ficaria surpreendido (mas não estarei cá para ver, com toda a probabilidade. Vocês depois contam-me!).

Conclusão

Referi atrás o meu fraquinho por esta moto. Tinha gostado imenso da experiência anterior. Nesta adicionei mais uns cerca de 400 km ao meu historial com a Himalayan e continuo com a mesma opinião.

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É uma moto excelente e uma opção praticamente imbatível nesta escala de preços. Sabemos que nós, portugueses, temos uma certa queda para o show-off (basta ver o número de motos último modelo a circular…face à realidade económica do país e comparar com o que se passa noutros países bem mais desenvolvidos). E não é só no que ao mundo motociclístico se refere… Não é defeito. É feitio!

Talvez por isso, a Himalayan não seja o sucesso de vendas que a marca certamente gostaria. Até porque tenho a certeza que é uma moto vocacionada para a realidade portuguesa. Económica no consumo e na manutenção, simples na utilização, robusta, fiável e com características de rusticidade que a tornam muito polivalente.

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Tem o defeito de dificilmente ultrapassar o limite de velocidade em auto-estrada…pois, se calhar é por isso que se chama limite. Também não é para passar… (calma! também não sou santinho…).

Se olharmos com muita atenção para os detalhes, veremos que os acabamentos são algo imperfeitos e não têm o aspecto de outras motos. Por exemplo, as soldaduras do quadro…mas lá está, o objectivo é robustez e não elegância.

Como referi atrás, a Royal Enfield é o paradigma da moto para slow travel e pelo número de euros que é pedido para podermos sair com uma do stand, a proposta merece atenção.

Caso não conheçam, recomendo que vejam no YouTube as aventuras da holandesa Noraly – a Itchy Boots – que adquiriu uma Himalayan na India e veio até ao seu país natal pelo caminho mais longo. Foram cerca de 36.000 km por toda a Ásia e depois Europa.

Repito o que afirmei atrás: não é à toa que esta é a moto escolhida por muitas agências de tours organizados, nas zonas mais remotas do planeta. E se tentarem encontrá-las no mercado de usados…procurem bem, porque são poucas e estão muito valorizadas. 

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Atenção! A utilização dos superlativos na apreciação desta moto deve ser levada em consideração na exacta medida do que referi no início: o “value for money”. Estamos a falar de uma moto de 5.500 euros! Esqueçam lá as comparações com GSs, Multistradas, KTM ou Africa Twins (se quiserem saber mais sobre estas, sigam os links). Agora que consegue ser tão ou mais divertida (nas circunstâncias adequadas) garanto-vos que sim.

Termino com uma sugestão: antes de fazerem juízos pré-concebidos sobre a Himalayan (ou sobre o escriba e a sua opinião), vão experimentá-la!

Mas vão mesmo…e depois façam o vosso próprio juízo. Que será sempre o mais acertado.

Royal Enfield Himalayan – o filme

Já está publicado no canal de YouTube de Viagens ao Virar da Esquina, o filme que resulta da recolha de imagens feitas durante esta experiência (é só clicar na imagem):

ECRAN

Se ainda não conhece ou se ainda não subscreveu, vá até lá, dê uma vista de olhos nos muitos filmes que já lá estão e aproveite para subscrever o canal. Assim, saberá em primeira mão sempre que um novo filme for publicado.

O canal está aqui: https://www.youtube.com/c/ViagensaoVirardaEsquina

Notas finais

A Royal Enfield Himalayan que me deu a oportunidade de viver mais uma experiência muito divertida, foi gentilmente cedida pela Royal Enfield Portugal.

Uma palavra de apreço para a simpatia e disponibilidade da Zemarks, o concessionário da marca para a região de Lisboa e que se situa ali para os lados de Belém, na Travessa da Boa-Hora. Passem por lá se apreciam os modelos da Royal Enfield. Vale a pena!

Finalmente, muito obrigado aos meus companheiros habituais nas aventuras motociclísticas, pela companhia, pelo apoio e pela ajuda na recolha de imagens.

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Fui o tipo mais cool do bairro…e arredores!

Impassível. Despreocupado. Cool…
A experiência de voltar atrás, ao espirito dos loucos Sixties, a bordo de uma vintage do século XXI.

Quando em Agosto de 1956, o americano John Allen bateu o recorde de velocidade em duas rodas com a marca de 214,4 mph – mais de 340 km/h – em Bonneville, nos lagos salgados do Utah, não imaginava o que daí adviria para a  história do motociclismo. Da qual faria parte, de qualquer forma, pela marca alcançada.

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Texas Cee-gar – 1956

O seu “Texas Cee-gar” – uma moto com uma carenagem completa em forma de charuto – utilizava um motor de 650 cc oriundo da Triumph Thunderbird que debitava a potência de 65 cv.

Este sucesso levou a marca britânica a lançar um modelo comemorativo a que chamou Bonneville e viria a ser nas décadas seguintes (a sua produção terminou nos finais dos anos 80, já sob licença porque a Triumph tinha entretanto fechado) não só um sucesso de vendas como se tornou um modelo mítico e representativo de uma certa forma de estar na vida.

A solução foi simples: um quadro trapezoidal que servia de berço ao motor (o bicilindrico tornado famoso pelo record de velocidade) e onde assentavam o assento direito e com 2 lugares e um depósito bojudo. A suspensão traseira tinha dois amortecedores laterais que completavam a estética das linhas de escape, obviamente cromadas, uma de cada lado. Finalmente, o guiador numa posição alta e descontraída.

Bonneville 1960
Triumph Bonneville 1960

Esta foi a fórmula da Bonneville. Que não só lhe trouxe um imenso sucesso, como marcou a evolução do motociclismo até que, nos inícios dos anos 70 começou a invasão oriental. A estética não era muito diferente mas a qualidade e, principalmente, as performances rapidamente “afogaram” a já então moribunda indústria motociclística britânica

Aquela forma despreocupada quase displicente, passando pela vida serenamente…vivendo-a intensamente, sempre imperturbável. O paradigma do que se chamou “ser cool”. E a moto era um elemento fundamental do “outfit”!

Como costuma acontecer, o cinema não perdeu tempo a difundir a atitude da moda e a criar os seus heróis. Foi o tempo de James Dean, Steve McQueen, Paul Newman…entre outros. Ou o famoso e inabalável Arthur Herbert Fonzarelli – o Fonzie da série de TV “Happy Days”…. personificado pelo actor Henry Winkler… a quem sobrava estilo e bastava um estalar de dedos para se ver rodeado pelas miúdas mais giras das redondezas!

E estamos a chegar ao ponto. Será que é possível hoje ter essa atitude? Será que no Século XXI temos a possibilidade de “voltar atrás” e ser o tipo mais “cool” do bairro?

A resposta é sim. Mas dificilmente se aplica ao escriba. Sem perfil, idade ou atitude para tal…embora me sinta confortável com a descontracção que a caracteriza!

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E a afirmativa está ligada à moto que vos apresento: a Royal Enfield Interceptor 650! A moto mais “cool” do meu bairro…enquanto por cá andou! Disso não tenho dúvidas.

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A Interceptor recria o visual dessa época e o seu comportamento transporta o nosso imaginário para uma onda de revivalismo. Não se esperem performances do século XXI. Até porque para ser “cool” tem que se ser visto e isso implica passar devagar…não demasiado devagar, atenção! Para se ser “cool”, embora não pareça, tem que haver algum cuidado nos detalhes…

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Tem a Royal Enfield, uma marca de motos que hoje é indiana, legitimidade para se assumir como porta estandarte desta forma de ser e estar, na actualidade? A resposta está na sua história que merece ser lembrada.

A história longa, muito longa, da Royal Enfield

20210706_114615O primeiro dado: a Royal Enfield é a marca de motos há mais tempo em produção contínua em todo o mundo. Celebra 120 anos em 2021! Mas a história até começa antes e permite-nos perceber porque o seu lema é “Made Like a Gun”.

MadeLikeaGunEm Novembro de 1891, no Reino Unido, os empresários Bob Walker (R.W.) Smith e Albert Eadie adquirem a George Townsend & Co. de Hunt End, em Redditch. A Townsend é um respeitado fabricante de agulhas, que tinha começado recentemente a fabricar bicicletas.

Dois anos depois, em 1893, a George Townsend & Co ganha um contrato para fornecer peças de precisão à Royal Small Arms Factory de Enfield, Middlesex. Para celebrar esta prestigiada encomenda, a empresa passa a chamar-se Enfield Manufacturing Company Ltd. e batizam como Enfield a primeira bicicleta desenhada por Bob Walker Smith. No ano seguinte, as bicicletas passam a chamar-se Royal Enfields e é introduzido o lema ‘Made Like a Gun’.

20210706_114325.jpgComo aconteceu nessa época, foram empresas que fabricavam outros tipos de equipamentos mecânicos que deram origem a muitas das marcas de veículos motorizados (o motor de combustão dava os primeiros passos): fábricas de teares (Suzuki), de moinhos de café (Peugeot), de pianos e orgãos (Yamaha),de bicicletas (Triumph, Rover ou a americana Indian), de armas como a Royal Enfield ou, mais tarde, a Citroën!

No caso da Royal Enfield, o lema da companhia fazia todo o sentido: motos com características de robustez e fiabilidade tal como as exigíveis a uma arma.

Em 1898, o Sr. R.W.Smith projecta um quadriciclo motorizado com motor De Dion de 1,5 cv.

A primeira moto Royal Enfield é construída em 1901. Projecto de R.W. Smith e Jules Gotiet (francês), tinha um motor Minerva de 1,5 cv montado na parte frontal do garfo. Passaram 9 anos anos até ser apresentado o primeiro motor V2, no Stanley Cycle Show.

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Em 1924, depois de passados os tempos conturbados da 1ª Guerra Mundial, a Royal Enfield apresentava no seu catálogo 8 modelos diferentes. Na altura lançou a desportiva 351 – a sua primeira moto com motor com árvore de cames à cabeça, 4 tempos e mudanças no pé – e ainda uma moto a 2 tempos com 225cc destinada ao público feminino.

A lendária Bullet nasce em 1932. Moto cuja produção ainda se mantém! À época existia em 3 versões: 250, 350 e 500cc.

Em 1939 o mundo vê-se envolvido na 2ªGuerra Mundial. A Royal Enfield vai ter um papel fundamental e histórico na libertação da Europa. A empresa produz grandes quantidades de motos e bicicletas durante a 2ª Guerra Mundial destinadas ao exército britânico. O modelo mais conhecido foi a Airbone de 125 cc, conhecida como “Flying Flea” (“Pulga Voadora”). Com motor de 2 tempos, foi projectada propositadamente para ser carregada e lançada de aviões, em pára-quedas.

20210706_114359 (2).jpgO pós-guerra trouxe o final das colónias e em 1947 a India torna-se um estado independente do Império Britânico. 2 anos mais tarde a Madras Motors começa a importação de motos de marcas inglesas: Norton, Matchless e a Royal Enfield.

20210706_114353.jpgEm 1952, a Madras Motors recebe uma encomenda de 800 Bullet para o exército indiano. Foi o primeiro passo para a montagem de uma fábrica localmente e cujos primeiros modelos Bullet produzidos chegaram ao mercado em 1956.

20210706_114336 (2).jpgAté 1970, a Royal Enfield continuou a produzir motos no Reino Unido e na India. Foi nessa altura que cessou a produção no Reino Unido. Aí terminou a Royal Enfield “original”. Todavia, bastaram 7 anos para que a Royal Enfield regressasse à Europa: com a importação de motos provenientes da India.

Todavia, desde 1970 até 1994, correu um litigio sobre a utilização da designação “Royal”. Em 94, com a aquisição da Enfield India Ltd pelo grupo industrial Eicher, a marca passa a chamar-se Royal Enfield Motors.

Desde então, a expansão não parou: novos modelos, novos motores, novas fábricas e a chegada aos Estados Unidos em 2015.

Em 2016 um novo marco: o lançamento de uma moto com características totalmente diferentes. A Royal Enfield Himalayan….mas desta falaremos “dentro de momentos”!

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Convém referir um dado importante eque nos poderá ajudar a ter a noção da dimensão da Royal Enfield: até final do mês de Maio, as vendas do ano de 2021 ultrapassaram 276 mil motos! A Royal Enfield éo 4º maior fabricante mundial, à frente da Yamaha, por exemplo….e a Royal Enfield Interceptor é frequentemente a moto mais vendida no Reino Unido, acima dos 250cc.

E a Interceptor 650?

Como referi atrás, as linhas retro da Interceptor transportam-nos para um imaginário “cool”. Não é moto para corridas nem para grandes viagens (o que seria contraditório com o estilo).

É uma moto que mais do que nos transportar, corresponde ao que os marketeers definem como um “statement”. A afirmação de uma forma de estar…

20210708_174710.jpgAté porque as suas características técnicas são as indicadas para tal.

– Características Técnicas –

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Característica0002.jpgO equipamento disponível é bastante simples mas adequado ao estilo da moto.

Assim, apresenta um duplo manómetro circular em que o velocímetro e conta-rotações são analógicos, com visor digital com o nível de combustível e o odómetro (total e parcial) e luzes avisadoras (motor, bateria, óleo, descanso e neutro), descanso lateral e central, kit de ferramentas.

20210712_172858.jpgO que esta moto não tem (face aos padrões actuais): luzes em LED, controlo de tracção, acelerador ride-by-wire e modos de condução, etc. Não tem…e não precisa!

É fundamental referir que esta moto (bem como a sua irmã Twin, a Continental GT) foi desenvolvida no novíssimo Centro de Tecnologia em Inglaterra, em Bruntingthorpe Proving Ground, perto de Leicester, Inglaterra, inaugurado em 2017. E, porque é evidente no bom comportamento da moto, o quadro foi desenvolvido pela Harris Performance, o conhecido preparador britânico de motos de competição.

– Ao guiador – ergonomia –

A primeira impressão é de que a ergonomia da moto é muito boa. O assento direito permite-nos escolher a distância ao guiador que assenta perfeitamente, com uma postura ligeiramente inclinada para a frente.

O guiador é sobre-elevado e ligeiramente inclinado para nós. Se o condutor quiser, será possível ajustá-lo e adaptar melhor às suas características pessoais. Os espelhos são circulares e têm boa visibilidade. Possui também uma barra horizontal que além de evitar vibrações, permite a colocação de suportes para telemóvel e/ou gps, por exemplo.

20210708_174639.jpgAs pernas ficam flectidas em posição confortável. Todavia, a localização das peseiras faz com que, quando parados, as suas pontas toquem na perna e isso torna-se incómodo. Também o pedal do travão traseiro está posicionado ligeiramente abaixo da linha horizontal com a peseira. No meu caso, isso é agradável porque tenho tendência para conduzir com os pés ligeiramente inclinados.

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Os comandos situados no guiador são os habituais e têm boa qualidade. Aliás, essa é uma característica da Interceptor 650: a boa qualidade dos acabamentos que denotam a atenção que a Royal Enfield dedicou a este aspecto. Já os piscas têm um aspecto demasiado “plasticóide”…e com formato rectangular. A bem do estilo “retro” preferiria que fossem redondos.

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De referir, de forma muito positiva, que os manípulos são ambos reguláveis e os tubos dos travões são em malha de aço.

O grande farol dianteiro é redondo… nem de outra forma poderia ser!

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Já mencionei o assento: é direito e apresenta costuras em formato de losango que contribuem para o seu bom aspecto. À primeira vista é confortável.

20210708_174813 (2).jpgAs grandes cabeças dos cilindros, as enormes tampas cromadas do cárter e as duas linhas de escape laterais também cromadas com as grandes ponteiras a fazerem um pequeno ângulo para cima, dão aquele aspecto “vintage” e contribuem significativamente para a beleza da moto.

20210707_175337 (2).jpgAs duas tampas laterais em preto, tal como os tubos do quadro, com o logótipo da Interceptor 650 são o complemento estético perfeito para a elegância do depósito bojudo característico deste tipo de moto, com a respectiva tampa em “estilo Monza” de acordo com o estilo desejado.

20210708_174827 (2).jpgE aqui devemos destacar, porque contribuem de forma determinante para a personalidade de cada uma das opções disponíveis, as soluções cromáticas escolhidas pela Royal Enfield:

  • Baker Express – Branco com uma pequena faixa inferior vermelha
  • Ventura Blue – Azul céu e que foi a opção da moto ensaiada
  • Sunset strip – fundo preto com faixa inferior vermelha e uma fina risca branca a separá-las
  • Orange crush – cor de laranja quase, quase a parecer dourado
  • Mark 2 – cromado
  • Downtown drag – Preto e cinzento com uma linha diagonal azul claro a separá-las
  • Canyon red – vermelho forte

 Uma última palavra para o material rolante. Os pneus são da marca indiana CEAT que também equipa outros modelos da Royal Enfield.

20210712_164710 (2).jpgNão tendo levado a moto aos seus limites – ou dos pneus – nem tendo tido a oportunidade de os testar em piso molhado, direi que ao longo dos cerca de 250 km deste ensaio não identifiquei qualquer ponto fraco. O comportamento da moto foi sempre correcto e seguro.. Ainda assim….provavelmente, quando fosse para trocar, escolheria uma marca da qual tivesse mais pontos de referência.

– Ao guiador – condução –

A Royal Enfield Interceptor 650 foi a moto com a condução mais suave que experimentei nos últimos tempos! A condizer plenamente com a tal atitude “cool” referida no início.

VIRB0599_Moment(2).jpgQuando a colocamos a trabalhar, destaca-se desde logo a “música” projectada pelo duplo escape. Grave e ritmada. Muito “cool” mesmo…

A caixa de velocidades funciona com uma suavidade notável. Seja no arranque, seja depois no engrenar das mudanças para cima ou a reduzir, tudo se faz com tranquilidade, sem falsos neutros, com toda a souplesse.

20210708_174742.jpgEsta não é moto para corridas – até porque tal contrariaria o estilo “Cool” desejado – a potência, os 47 cv chegam e sobram, nunca surge de forma intempestiva. Mas os mais de 52 Nm de binário entram em acção desde baixa rotação o que transmite grande elasticidade ao motor. Sentimos os dois cilindros a cumprirem a sua missão, de forma cheia. E sem vibrações!

VID_20210711_101401_Moment (2).jpgA moto ultrapassa com facilidade os limites máximos de velocidade (a fábrica indica como velocidade máxima 164 km/h, o que já será suficiente para adicionar uns pontitos no cartão de fidelização de condutor). Acima dos 100 km/h sentimos a falta de protecção aerodinâmica, o que é natural. Mas se o objectivo é manter a atitude “cool”, isso significa que o objectivo será andar de forma despreocupada (também faz parte ser visto!…) e logo a velocidades mais contidas.

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Dito isto, se a moto se conduz de forma positiva em cidade pois a sua maneabilidade é muito boa e a disponibilidade do motor já referida, permite as recuperações rápidas que a condução urbana exige, em estradas sinuosas é um verdadeiro prazer conduzi-la. Uma nota para a suspensão traseira: o seu curso (88 mm) tem alguma dificuldade em absorver as trialeiras urbanas (leia-se ruas de Lisboa…). Mas aí….se calhar a culpa não é da Royal Enfield Interceptor, digo eu.

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Sem plásticos a envolverem-na, sentimo-nos integrados na paisagem, o escalonamento da caixa é perfeito para explorarmos o binário disponível e a passagem das mudanças faz-se de forma impecável, graças à embraiagem que funciona com toda a suavidade. E isso permite-nos até que uma boa estrada sinuosa – por exemplo, o antigo troço do Rali de Portugal do Gradil, entre Mafra e a localidade que lhe dá o nome, por onde andámos – nos proporcione um enorme divertimento. E com uma banda sonora a condizer!

O conjunto das suspensões tem uma boa leitura do terreno e o conjunto funciona de forma adequada (salvo aquela excepção atrás referida). Quanto aos travões, mais uma vez funcionam muito bem em conjunto. O bom comportamento do travão traseiro compensa a menor (muito ligeira) eficácia dos dianteiros (bastante progressivos…lá está, uma “mordida” suave). De qualquer forma, não estamos a falar de motos para grandes “avarias”…pelo que que quer as suspensões, quer os travões se comportam de forma ajustada. Lembrem-se…esta é uma moto “cool“.

VIRB0635_Moment.jpgFinalmente, em auto-estrada: não é o meio ideal para esta moto. Pela falta de protecção aerodinâmica principalmente, mas porque também, ao fim de mais de uma centena de quilómetros, sentimos algum cansaço e o conforto inicial do assento revela-se um pouco maçador. Mas quem é o tipo verdadeiramente “cool” que quer andar em auto-estradas?

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Conclusão

Se o objectivo é ter uma moto com estilo retro, para uma condução urbana calma que seja um prazer nas voltas de fim de semana, que transmita uma certa imagem ao seu condutor com aquela atitude blasée, estilo “não me chateiem, que eu não estou nem aí…”, a Interceptor 650 é uma excelente opção. Até porque face à concorrência mais directa, o seu preço é verdadeiramente atractivo.

VIRB0601_Moment.jpgA INTERCEPTOR 650 CHR ES – com a pintura Mark 2 – custa, preço chave na mão, 7.658,22€ (preço base+ISV+Despesas de documentação+Ecovalor).

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Ou seja, por menos de 8 mil euros, o seu feliz proprietário poderá vestir “a pele” de um Steve McQueen dos tempos modernos, com uma moto de adequado estilo ”retro” mas plenamente conforme com as mais avançadas normas ambientais e de segurança: Euro5, ABS, motor de injecção.

Depois é avançar pelas ruas do seu bairro…e arredores, com a vaidade própria de ser o tipo mais “cool” das redondezas. Vá…admiradoras e invejosos, cheguem-se à frente!

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Foi o que eu fiz.

VIRB0597_Moment.jpgDurante uns dias fui o tipo mais “cool” do meu bairro.

20210708_175408.jpg Se deu resultado? …isso já é segredo profissional! Ou como diz o povo português: “presunção e água benta, cada um toma a que quer”.

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Fora de brincadeiras: a Interceptor 650 é uma excelente moto, dadas as suas características, e foi um verdadeiro prazer conduzi-la. E, pelo preço pedido, tanto pode ser uma excelente opção para primeira moto e utilização diária – até porque o consumo a rondar os 4 l/100 é bastante aceitável – como para segunda moto para aquelas deslocações ao café ou em passeio de fim de semana.

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E quando acompanhada por outros modelos da Royal Enfield, sentimo-nos verdadeiramente  transportados para outro tempo!

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Royal Enfield Interceptor 650 – o filme

O filme “Royal Enfield Interceptor 650 – A moto mais cool do bairro!” está aí.

É só carregar no link!

Notas finais

A Royal Enfield Interceptor 650 que me deu a oportunidade de viver uma experiência revivalista e, acima de tudo, muito divertida, foi gentilmente cedida pela Royal Enfield Portugal.

Uma palavra de apreço para a simpatia e disponibilidade da Zemarks, o concessionário da marca para a região de Lisboa e que se situa ali para os lados de Belém, na Travessa da Boa-Hora. Passem por lá se apreciam os modelos da Royal Enfield. Vale a pena!

Finalmente, muito obrigado aos meus companheiros habituais nestas aventuras motociclísticas, pela companhia, pelo apoio e pela ajuda na recolha de imagens.

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