QUEM CONTA UM CONTO.. ACRESCENTA UM PONTO!

O que não falta por aí são histórias, contos, lendas que nos surpreendem, paisagens que nos maravilham e pessoas com experiências de vida que nos enriquecem só por falarmos com elas.

UMA CRÓNICA SOBRE AS CRÓNICAS

Este é um ditado popular muito utilizado quando nos referimos a alguém, geralmente maldizente e propagador de boatos, que tendo tido conhecimento de uma qualquer história – referente a uma terceira pessoa e que não está presente – a reproduz acrescentando sempre uns pozinhos da sua própria criatividade. E geralmente não são abonatórios do ausente visado.

Afinal, a imagem típica daquelas vizinhas coscuvilheiras, estão a ver?

Ao longo destes quase três anos de colaboração com a Andar de Moto nos quais vos vou maçando com relatos de viagens com a regularidade mensal da tiragem da revista, tenho procurado acrescentar alguns pontos às histórias que vou contando.

Obviamente não por coscuvilhice, mas enquadrando-as na dinâmica do trajecto, por vezes dando-lhes uma interpretação própria e sempre utilizando palavras minhas.

Mas afinal como surgem estes relatos?

É o destino que me impõe a procura da história ou, ao invés, um conto ou uma lenda obrigam-me a procurar o local?

AS VIAGENS AO VIRAR DA ESQUINA

Como o nome indica, não procuro viagens longas na distância e no tempo. Não quer dizer que não as faça mas aí o propósito é diverso.

O objectivo é que possam ser simultaneamente gratificantes e facilmente exequíveis. Num fim-de-semana ou numas pequenas férias. Sem rebentar o orçamento também!

Assim sendo, fácil é constatar a primeira dificuldade: enquanto o viajante de longa distância o faz com pouca frequência (uma vez por ano, por norma), traçando um objectivo e estendendo o planeamento e a preparação ao longo do tempo até chegar o grande momento da partida, aqui estas fases são naturalmente mínimas…quase rotineiras.

Na minha opinião, qualquer viagem assenta na resposta a três perguntas que devemos fazer a nós próprios:

  • O SonhoOnde quero ir?

O destino pode ser qualquer um: um local recomendado por amigos, uma paisagem de sonho vista num programa de TV, uma estrada fantástica que alguém comentou, um restaurante perdido no meio de nenhures que tem uns petiscos divinais….ou “apenas” uma daquelas fixações que surgem não se sabe de onde mas que nos martelam a cabeça persistentemente.

A minha não é segredo: o Cabo Norte! Hei-de lá ir…brevemente, que “o tempo urge”!

  • A CapacidadeConsigo fazê-lo?

Aqui entramos no domínio da realidade: tenho orçamento? tenho condição física para o desafio? a moto é adequada? tenho o equipamento necessário? posso ir sozinho ou devo levar companhia? e nesse caso, arranjo?

Todas estas perguntas têm uma resposta em cada momento e não têm que ser todas afirmativas. Basta que o sejam à hora da partida.

  • A Vontade – Algo me impede de o fazer?

Aqui não se trata da resolução dos pontos anteriores.Tem a ver com o nosso íntimo. Se tenho vontade de o fazer, porque não o fiz ainda? Porque hesito?

Acho que todos conhecemos aquela fase geralmente no Inverno, em que nas rodas de amigos começamos a antecipar as próximas conquistas…geralmente as não concretizadas nos anos anteriores, recicladas e acrescentadas de uma ou outra novidade. E afinal o que nos impediu? A família? O trabalho? O receio?…..

As razões serão do foro estritamente pessoal e não cabe aqui explorá-las.

Por isso esta é a questão cuja resposta é mais difícil. E mais complicada de ultrapassar.

É evidente que em pequenas viagens, todas estas questões não se colocam…ou são facilmente ultrapassadas. Uma grande vantagem e o benefício evidente de as podermos fazer, repetir…e repetir!

Mas a questão fundamental é comum: onde ir?

COMO ESCOLHO OS MEUS DESTINOS

Julgo que esta é a parte mais divertida – excluindo a viagem, claro – porque no momento zero, a ideia do destino surge por vezes donde menos se espera.

Devo dizer, como nota prévia, que tenho 2 defeitos grandes (quer dizer, de certeza que tenho mais!): tenho pouco espírito aventureiro – detesto surpresas e procuro controlar os acontecimentos o mais possível – e sou um péssimo gastrónomo – quando estou a andar de moto é frequente esquecer-me das refeições e só dou por isso quando a fraqueza aperta!

Ou seja, quando saio de casa sei para onde vou. Se não souber, assim tipo ir “à sorte”, dou a volta na primeira rotunda e volto para casa. Simplesmente porque ir sem objectivo não me faz sentido.

Mas atenção! Isto sou eu. Sei de quem o faz e se diverte imenso… Chegaria a ter inveja, não fosse esta um pecado mortal. E eu acho que a vista do céu é mais bonita que a do inferno (embora haja quem sugira que este será mais divertido….) portanto vamos lá evitar este em concreto.

Quanto aos destinos “alimentares”, vou se me levarem. Sou incapaz de tomar a iniciativa de ir de propósito. Mesmo que seja para um fabuloso ensopado de enguias, um belo naco de vitela ou uma saborosa sopa da pedra. Ou uma simples bifana…

Mas então como acontece?

Vou contar-vos alguns exemplos

1. “Tem que ir a Brotas!”

Muito no início, quando os Solares de Portugal decidiram fazer o favor de me apoiar, aconteceu um diálogo que nunca mais esqueci e que vou reproduzir:

-“Tem que ir a Brotas!

Fiquei surpreendido. Conhecia terra há muito, por lá passar antigamente quando ia do Alentejo onde morava para a Beira das raizes familiares e nada me sugeria que tivesse algo digno de nota para ver. Mais uma terra anónima pelo caminho…

-“Brotas? Sei onde fica. Mas o que tem de especial?” respondi.

-”Brotas tem um santuário de culto mariano que data de há alguns séculos. Muito, mas mesmo muito, anterior a Fátima.

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Santuário de Nossa Senhora de Brotas
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Interior do Santuário de Nª Sª de Brotas

Não sou religioso mas confesso que fiquei curioso. Algo ancestral e “perdido” no meio do Alentejo?

Não perdi muito tempo a ir até lá. Na realidade, a expectativa foi amplamente superada. Chamei-lhe “Brotas – segredo escondido do Alentejo”

A história assenta, como tantas e tantas outras, numa lenda.

Conta-se que por volta de 1400, um pobre aldeão pastoreava a sua vaca quando ela despencou por um barranco, partindo uma perna. Sendo o único sustento da sua família, logo o pastor antecipou a sua desdita, pois a solução seria matar o animal para lhe poupar o sofrimento.

Foi nesse momento que lhe apareceu a Virgem Maria e lhe disse que se ele fosse chamar os outros aldeões e prometessem construir uma capela em Sua homenagem, ela curaria a vaca.

Enquanto ele foi a correr, a Virgem corta o seu próprio braço direito para substituir o membro partido do animal. Quando regressou, o pastor viu a sua vaca restabelecida. E ele e os seus vizinhos cumpriram a promessa.

Aí se iniciou a devoção a Nª Sª de Brotas. Todas as imagens da santa têm o braço direito amputado.

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Imagem de Nª Sª de Brotas

 Que tem mais três pormenores curiosos:

– o culto foi ganhando dimensão e noutras povoações mais ou menos vizinhas foram criadas confrarias de devotos que faziam romarias periódicas até Brotas. Ao ponto de cada uma construir a sua casa. Estas casas eram depois utilizadas e partilhadas pelas confrarias para reposo dos romeiros. Chama-se hoje Casas de Romaria, estão recuperadas e estão disponíveis a quem queira visitar Brotas;

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Casas de Romaria e Santuário de Nª Sª de Brotas

– ao longo do tempo e, principalmente com os Descobrimentos, devotos de Nª Sª de Brotas espalharam-se pelos quatro cantos do mundo. E levaram o culto consigo. Na Igreja – Santuário é possível encontrar imagens oriundas de paragens longínquas como o Brasil ou a Índia.

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Imagem vinda da Diáspora

– ainda hoje, os habitantes de Brotas acreditam na benção de Nª Senhora. Todos os naturais desta terra alentejana que, no Séc XX, foram mobilizados para guerras – I Grande Guerra ou Guerra Colonial – sobreviveram e apenas um chegou ferido e por acidente.

Uma das características das histórias que procuro e dos locais onde me dirijo é que sejam pouco conhecidas. Tento fugir dos clichés ou dos locais que toda a gente conhece.

Assim, nunca falei de Lisboa – a minha terra natal – ou do Porto – que mal conheço – mas que é destino de tantos. Ou também, porque nunca falei de uma terra de que gosto muito, mas sobre a qual é difícil contar algo sem cair no que todos conhecem: Évora. Ou talvez ainda não tenha encontrado aquela história escondida…

2. O Guimarães das Duas Caras

E isso recorda-me quando no início de 2020 me dirigi a Chaves para iniciar o “Portugal de Fio a Pavio” (percorrer a EN2 num só dia como desafio próprio e teste de uma nova Honda Africa Twin). Deparei-me com uma história pouco conhecida e localizada em Guimarães… e lá está! Uma daquelas terras sobre a qual é difícil falar sem recorrer ao chavão do “Berço da Nacionalidade”, às lutas de D. Afonso Henriques com sua mãe D. Teresa ou à imponência do Castelo altaneiro.

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Castelo de Guimarães

Detive-me na cidade minhota e fui à procura do Guimarães das Duas Caras. Um personagem que tem a sua estátua no topo do medieval edifício dos Paços do Concelho localizado no Largo da Oliveira.

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Largo da Oliveira – Monumento à Batalha do Salado

E a história (algo macabra…) conta-se brevemente: quando a batalha de Alcácer-Quibir se encaminhava para o seu fatal destino, alguns nobres percebendo a inevitabilidade resolveram fugir levando com eles El-Rei D.Sebastião.

Encaminharam-se para o deserto que percorreram dias a fio, sem comida nem água. A certa altura, já desesperados, resolveram tirar à sorte qual deles se sacrificaria em proveito dos restantes (a condição real já não fazia sentido nem dava privilégio) e a má sorte caiu em D.Sebastião que assim… serviu de refeição aos restantes.

Quis o destino que no dia seguinte chegassem perto do mar e um barco que por ali passava os acolhesse com a promessa de os trazer de volta (o que seria um problema e tiveram que jurar nunca contar o sucedido porque senão seriam acusados de traição!). Mas uma tempestade afundou o navio e só um sobrevivente restou: o dito Guimarães (de nome e de terra de origem).

Herói se tornou por tal feito mas o segredo ficou com ele. Não podendo mais guardar para si coisa de tal dimensão resolveu contá-lo em confissão ao Padre Inácio Laranjo.

E assim, o Guimarães viveu e morreu como herói ao ponto de a população lhe querer erigir estátua em homenagem. Não podendo revelar o segredo abjecto, restou ao padre fazer com que ela fosse o que é hoje: a figura do Guimarães mas com um segundo rosto situado na zona do abdómen. O rosto de D. Sebastião, comido pelos fugitivos da batalha perdida.

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Paços do Concelho – Estátua Guimarães Duas Caras
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O Guimarães Duas Caras

Percebem de onde vem a expressão “Ter o Rei na barriga”?

 3. “Já conhece Oriola?”

A grande vantagem das redes sociais é a capacidade de interacção com quem nos lê ou vê. Os comentários são sempre um bom feedback. E por vezes, acontecem coisas inesperadas.

Um dia, uma seguidora da minha página de Facebook, colocou o seguinte comentário numa crónica sobre o Alentejo, cujo tema em concreto já não recordo. E dizia só e simplesmente isto:

 -“Já conhece Oriola?”

Respondi ignorantemente: -“O que é Oriola? Onde fica?” (triste figura, diga-se)

Fiquei de boca aberta. Acreditem. Nunca tinha ouvido o nome de tal terra apesar de me orgulhar de conhecer bem o Alentejo onde vivi longo tempo e onde sempre regresso pois é o meu refúgio. Oriola?

Fui procurar a localização. E a história. Entretanto, a seguidora atenta enviou-me umas fotos da paisagem e restou-me prometer que lá iria logo que possível. Assim foi.

É uma pequena aldeia alentejana, entre Viana do Alentejo (onde há muito queria ir) e Portel, e que fica nas margens da barragem conhecida como do Alvito mas cujo verdadeiro nome é Barragem de Albergaria dos Fusos.

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Oriola – Monumento ao 25 Abril
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Oriola – Ruas brancas

A terra pouco mais tem do que a tipicidade do branco casario alentejano, a calma que caracteriza estas paragens e uma beleza paisagística notável.

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Oriola – Chegámos ao fim da estrada (albufeira da barragem)

Quanto à minha seguidora a quem estou grato, não cheguei a conhecê-la – ainda! – mas está combinado um encontro num destes dias. Merece relevo o facto de ter abandonado a vida citadina e hoje se dedicar a promover a sua terra – registem o nome Oriola para não fazerem a mesma figura que eu fiz – e os seus produtos típicos.

Se por caso tropeçarem na expressão tão tipicamente alentejana “Nã Te Moas!” já sabem: é de Oriola que se trata e o petisco é saboroso. Ou melhor…não tropecem e vão procurar!

4. O meu nome é Arrábida, Serra da Arrábida!
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Serra da Arrábida

Sou, desde há muito, fã incondicional dos filmes do James Bond. Vejo-os e revejo-se sempre com enorme prazer…apesar de já saber o que se vai passar ou até recitar as falas em simultâneo.

Há um filme, datado de há 50 anos, chamado “Ao Serviço de Sua Majestade” que tem algumas peculiaridades: foi o único protagonizado por George Lazenby, passa-se praticamente todo em Portugal e é nele que o agente secreto conhece a Condessa Teresa (Tracy) di Vicenzo, com ela casa…e logo fica viúvo.

O filme começa com a descida da Serra de Sintra em direcção ao Guincho, onde James Bond conhece a futura esposa, o romance e a aventura vai-se desenrolando entre o Estoril, a Baixa Lisboeta, o Ribatejo e a zona de Sesimbra e Arrábida. É precisamente aqui, na estrada da serra que percorre o seu cume e a descer já para o Convento que o carro onde o casal viajava em núpcias é baleado por uma sequaz do vilão Ernst Stavro Blofeld. E Tracy morre.

Este foi durante décadas considerado o “filme maldito” da saga Bond mas é hoje um dos que tem o epíteto de filme de culto. Escusado será referir que Ian Fleming, o criador de 007, também ele antigo espião mas na vida real, escreveu o primeiro livro em Portugal, no Estoril. Certamente inspirado pelo ambiente que aí se viveu durante a 2ª Guerra Mundial.

Bem, perguntam vocês: “o que tem isto a ver com viagens?”.

Pois outra das minhas paixões e local onde vou recorrentemente é a Serra da Arrábida. Daí a misturar as duas coisas foi um passo.

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Palácio da Comenda de Monguelas
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Palácio da Comenda- antes da reconstrução

 Depois, a crónica final foi ainda completada com a história muito curiosa e interessante do Palácio da Comenda de Monguelas (então em ruínas mas actualmente recuperado) ou do forte da 7ª Bataria de Artilharia de Costa, património deixado ao Deus dará por um Estado que muito mal cuida do que é de todos, e que tem uma vista sobre o estuário do Sado, Setúbal e Tróia de enorme beleza.

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Forte 7ª Bataria
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Vista do estuário do Sado e 7ª Bataria
A ESCOLHA DO CAMINHO

Pelos exemplos se pode ver que a escolha de um destino pode ter origem nas coisas mais variadas. Basta um detalhe que me capte a atenção e me faça ir à procura. Que me estimule a curiosidade e tenha algo para contar.

Consequência lógica é que, na minha mente, uma parte importante da história que depois contarei – seja na Andar de Moto ou nas redes sociais – já está esboçada.

Falta o segundo passo: a escolha da rota. Porque nas viagens de moto não é o caminho mais curto que interessa. Duas palavras definem o que então procuro: “sinuoso” e “montanhoso”.

Traduzindo, quero estradas com curvas e contra-curvas, com subidas e descidas. Ou seja, as nossas belas (e muito frequentemente mal tratadas) estradas nacionais e municipais.

O primeiro passo é abrir uma daquelas vetustas instituições caídas em desuso pelas novas tecnologias: o velhinho Mapa das Estradas.

O Google Maps e outras ferramentas do género são óptimas para vermos o detalhe. Mas a “big picture” só através de um belo mapa estendido na mesa da sala!

Aí se começa a esboçar a rota. Seja porque tenho o primeiro vislumbre de que estradas quero percorrer, como também quais os lugares por onde vou passar. Que também têm a sua história própria e quantas vezes tão ou mais interessante.

Quais as fontes a que recorro habitualmente, para lá dos mapas?

O Google e a Wikipédia são óptimos auxiliares para começar a delinear o roteiro.

Também a literatura portuguesa. Nos clássicos, de Ramalho Ortigão – “Pela Terra Alheia” – a José Saramago – “Viagem a Portugal – não esquecendo o “Viagens na Minha Terra” de Almeida Garrett. Ou outros autores contemporâneos, com o devido cuidado de procurar não reproduzir o que já foi feito. Revistas de viagens são também uma boa fonte de recolha de informação.

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Ferramentas para preparação de viagens – Mapas, livros, gps, computador

Mas sobretudo….estar sempre atento no dia a dia. Porque a ideia pode vir de um noticiário, de uma entrevista ou até, quem diria, de um daqueles programas “pimbas” que animam as tardes televisivas e que num momento de zapping nos podem acordar os sentidos.

Na fase em que o trajecto está esboçado, é fundamental dar-lhe um formato. Chama-se GPX e é a extensão que identifica um ficheiro pronto a ser carregado no GPS. Constrói-se passo a passo através de programas a isso destinados. No meu caso uso habitualmente o site AllTrails. No final exporto para o TomTom Rider. E pronto…

Construído o roteiro e deixando algum espaço à inspiração do momento, falta depois montar a logística: moto pronta, alojamentos se for o caso (tanto pode suceder que leve a reserva feita como fazê-la quase no momento graças às modernas tecnologias que muito facilitam neste capítulo). E a bagagem estritamente necessária, naturalmente!

A CAMINHO

Esta é a fase em que respondemos afirmativamente às três questões: sei onde quero ir, consigo fazê-lo… e nada me impede!

Como referi algures aí atrás, não gosto de surpresas. É uma questão de feitio… Por isso tento planear os timings da viagem. Sem excessos de rigor mas de forma a permitirem atingir os objectivos sem correrias.

Uma lição já aprendi: parar nos pontos de interesse, nos pré-definidos e nos que vão surgindo demora algum tempo; se lhe adicionar o tempo para fotografar (escolha de planos, da melhor luz, evitar transeuntes, etc.) a demora duplica; e se a tudo isto acrescentar filmagens, então o consumo de tempo cresce exponencialmente. Se não for devidamente antecipado…o final do dia tende a ser dramático! Falta tempo e algo vai ficar para trás….

Por outro lado, o excesso de planeamento retira espontaneidade e prejudica as interacções com as pessoas dos locais por onde passamos. E isso é demasiado prejudicial para o resultado final.

Ou seja, mais vale chegarmos ao final do dia com tempo de sobra que poderemos aproveitar para descansar ou procurarmos algo de diferente…e no fundo desfrutar também do caminho. Porque de moto, o caminho é essencial para o prazer da viagem. Por isso o escolhemos com tanto cuidado.

E DEPOIS?

Chegado a casa, “desmontada a loja”, é importante sistematizar o material recolhido – fotos, filmes, apontamentos – e passar à fase solitária da escrita. A escolha das palavras que consigam transmitir as sensações vividas. Como se o leitor tivesse viajado connosco “à pendura”…

Se se consegue? Quero acreditar que umas vezes sim e outras nem tanto. Seja como for…venham daí! Porque o importante é sair porta fora, montar a moto e seguir viagem. Pode ser só ao virar da esquina ou mais além.

O que não falta por aí são histórias, contos, lendas que nos surpreendem, paisagens que nos maravilham e pessoas com experiências de vida que nos enriquecem só por falarmos com elas.

‘Bora lá!

 

(crónica publicada originalmente na revista Andar de Moto  #42 – Novembro 2021)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MAXSYM 400

…caberá a cada um ponderar os prós e contras e, se for o caso, optar pela MAXSYM 400 com a certeza que levará uma scooter muito competente que lhe poderá dar plena satisfação quer nas deslocações rotineiras do dia-a-dia quer em escapadinhas de fim de semana sem grandes restrições de distâncias….

 

 Por volta de 1600, navegadores portugueses estabelecerem um entreposto comercial numa ilha do Mar da China. Por lá já tinham passado desde meio do século anterior e de tal forma encantados com a beleza paisagística logo lhe chamaram Formosa. O domínio português foi breve, como breves foram as permanências de espanhóis ou holandeses que vieram depois. A História atribulada chegou até aos dias de hoje.

Na actualidade, o país-ilha é designado por Taiwan, reclamado pela China como sendo parte integrante do seu território, e possui uma economia desenvolvida e com bons padrões de vida. Apesar de politicamente estar quase isolada, as suas exportações percorrem o mundo.

Um exemplo é a SYM (SYM representa as iniciais de Sanyang Motor Co., Ltd) e a Sanyang é uma das maiores fabricantes mundiais de veículos de duas rodas…

Esta marca de scooters e motociclos, está há bastante tempo presente no mercado nacional e na sua ampla oferta tem lugar de destaque a recente MAXSYM 400. É sobre ela que falaremos, até porque se trata de uma moto nova: motor, quadro, design…é tudo novo.

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Vou utilizar o método P5E já habitual em Viagens ao Virar da Esquina.

1. POSICIONAMENTO

No Marketing existe uma “ferramenta” essencial chamada Segmentação. É a forma simpática e polida de dizer “dividir para reinar”. Na realidade, não é só o Marketing que utiliza tal artifício. Todos o fazemos na nossa vida: agrupamos as coisas de acordo com as suas características por forma a ser mais fácil entendê-las, arrumá-las, encontrá-las, o que for…

20210716_152352.jpgNa minha “teoria da arrumação das coisas”, aplicada ao universo das scooters, adopto uma terminologia algo ferroviária (sem desprimor para ninguém): urbanas, suburbanas e interurbanas. Utilizo a cilindrada como factor de segmentação, apenas porque é simples e determinante nas potencialidades destas motos.

Nas primeiras, as urbanas, incluo as inúmeras 125cc que há no mercado, como também as de cilindrada até 250cc. São veículos destinados à circulação em cidade. Leves, pequenas, ágeis e económicas são as suas características dominantes.

As interurbanas (scooters de “longo curso”) serão as chamadas maxi-scooters. Aquelas cuja cilindrada está acima dos 500cc. O seu tamanho (geralmente traduzido em excelente capacidade de carga) e as performances da motorização permitem efectuar viagens com bastante conforto, de longa distância e sem constrangimentos para o eventual pendura.

No meio, as suburbanas – onde incluo a MAXSYM 400. Como a designação sugere, são ideias para as deslocações diárias casa-trabalho para que vive nos subúrbios das grandes cidades. Circulam com idêntica facilidade no meio do tráfego citadino ou nas auto-estradas e vias rápidas da periferia. Dotadas da capacidade de carga adequada ao dia-a-dia e com a possibilidade de no seu interior guardarmos o equipamento utilizado na deslocação. Serão as mais polivalentes de todas, com o que isso possa significar de prós e contras.

Como todas as simplificações, é evidente que esta arrumação não é perfeita. Mas serve para o propósito de enquadrar a MAXSYM 400. E percebermos mais facilmente quais são as suas rivais mais directas. Ainda assim, as comparações merecerão algum cuidado porque as diferenças de performance nesta faixa de cilindrada podem ter algum significado. E os preços também…

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2. ESTÉTICA

A MAXSYM é elegante e com um toque clássico q.b. A suas linhas fluídas dão-lhe um ar ligeiramente desportivo, sem exuberâncias supérfluas nem banalidades confrangedoras.

O modelo ensaiado, em tons de cinzento a contrastarem com elementos negros, reforçam essa elegância e as linhas a coincidem com os parâmetros estéticos actuais.

Se algo foge a este “bom-gosto” será o painel de instrumentos. Tem um visual antiquado e tons azuis algo berrantes. Mas honra lhe seja feita: a visibilidade da informação é boa e o que tem para nos mostrar é o essencial.

20210716_151522.jpgEm suma, tem linhas bastante consensuais, elegantes e modernas. O trabalho de design feito para este novo modelo tem nota francamente positiva.

3. ESTRUTURA

O quadro tubular foi redesenhado face à versão anterior. Um novo quadro 18,5% mais leve sem comprometer a rigidez.

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Na parte mecânica, para lá da utilização de componentes cerâmicos no motor visando diminuir atritos, torná-lo mais leve e reduzir consumos, a adopção co controlo de tracção é um elemento adicional de segurança. à partida pareceria que para uma utilização citadina seria despiciendo, mas é precisamente neste ambiente que nos confrontamos com situações de perdas de aderência momentâneas que podem valer uma queda.

A MAXSYM adopta o sistema ABL (Advanced Brake Light): a partir de 70km/h e sempre que a travagem é mais brusca, as luzes de travão acendem de forma intermitente para melhor chamarem a atenção de quem vem atrás.

As suspensões têm um excelente comportamento. Ainda assim, a traseira acusa por vezes alguma secura nas reacções que poderá ser minimizada pela possibilidade de ajuste da pré-carga das molas em 5 posições.

20210719_102903.jpgMOTOR:

  • Euro 5
  • TIPO: 1 cilindro, arrefecido por líquido, OHC, 4 válvulas
  • CILINDRADA: 399cc
  • DIÂMETRO X CURSO: Ø 83 x 73,8 mm
  • POTÊNCIA MÁXIMA: 25,0 kW (34 cv)@6.750 rpm
  • BINÁRIO MÁXIMO: 39,5 Nm @5.250 rpm
  • SISTEMA DE COMBUSTÍVEL: E.F.I.
  • TRANSMISSÃO: C.V.T.

SUSPENSÕES e TRAVÕES:

  • SUSPENSÃO DIANTEIRA: Forquilha telescópica
  • SUSPENSÃO TRASEIRA: 2 amortecedores
  • TRAVÁO DIANTEIRO: Disco duplo Ø 275 mm + ABS Bosch
  • TRAVÃO TRASEIRO: Disco Ø 275 mm + ABS Bosch

DIMENSÕES:

  • RODAS: 120 /70 15’ e 160 / 60 14’
  • COMPRIMENTO: 2,230 mm
  • LARGURA: 820 mm
  • ALTURA: 1.455 mm
  • ALTURA DO ASSENTO: 800 mm
  • CAPACIDADE DO DEPÓSITO DE COMBUSTÍVEL: 13 L

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4. EQUIPAMENTO

A MAXSYM 400 não nos disponibiliza muitos gadgets electrónicos. Mas a iluminação completamente em LED ou o sistema Keyless (que abrange não só a ignição como a abertura da mala ou do tampão da gasolina) e a ligação USB para carregamento rápido estão presentes. A ausência de um computador de bordo faz com que, por exemplo, não tenhamos informação dos consumos ou da autonomia…

20210719_102614.jpgTambém a possibilidade de regulação do ecrã em duas posições de forma manual e sem ferramenta é um ponto positivo. Merece destaque o tamanho do espaço por baixo do banco. Nele cabe à vontade um capacete integral e um jet (até mesmo um segundo integral poderá caber, dependendo do tamanho da calota). Este espaço tem luz de cortesia e fácil acesso à bateria e ao terminal OBD.

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No avental dianteiro existem ainda dois espaços bastante fundos, um deles com a tomada USB iluminada, com o senão (será defeito? outras marcas seguem a mesma política) de não terem fechadura.

20210716_151821.jpgO descanso lateral ao ser utilizado acciona o travão de estacionamento o que é um factor adicional de segurança quando paramos a moto.

O painel de instrumento tem um visual algo desactualizado. É composto por dois mostradores circulares – velocímetro e conta-rotações – onde predomina o azul. Entre eles, ao meio, um pequeno mostrador digital com o indicador de combustível, a temperatura do liquido de refrigeração e onde temos também o odómetro, a indicação da corrente da bateria e o totalizador parcial de quilómetros. No fundo a informação necessária e suficiente e com bastante boa visibilidade em todas as situações.

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Outro aspecto interessante e que revela alguma atenção aos detalhes: os espelhos retrovisores são retracteis, o que no trânsito citadino ou em estacionamentos apertados pode ser bastante útil. E têm excelente visibilidade para a retaguarda.

5. ERGONOMIA

A posição de condução é confortável…principalmente se a altura do condutor não exceder 1,80 m. A partir daí, o espaço de pernas pode ser um pouco acanhado, até porque o suporte lombar que separa o banco do condutor do do pendura impede que se procure uma posição mais recuada. Mas o banco é confortável e no que aos comandos diz respeito, as nossas mãos caem no guiador com naturalidade, o que se traduz numa condução agradável.

20210716_152118.jpg Os comandos estão bem posicionados com dois pontos que fogem ao normal e se situam ambos no punho esquerdo: a ligação dos 4 piscas que fica ao lado do comutador de médios/máximos e o botãozinho amarelo que liga/desliga o controlo de tracção (TCS) que fica por baixo da buzina. De referir que ambas as manetes são reguláveis.

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Já o referi mas não é demais realçar: o sistema Keyless é verdadeiramente confortável e prático. E evita esquecimentos da chave no canhão da ignição… (o problema é quando depois passamos para uma que não tem o sistema e aí, temos o problema ao contrário…a chavezinha vai ficar lá esquecida. Mas disso não tem a SYM qualquer culpa…).

6. EXPERIÊNCIA

O primeiro destaque vai para o motor. Cheio desde baixas rotações, com o binário logo disponível e ainda por cima acompanhado de uma banda sonora grave e um pouquinho rouca, muito agradável.

20210716_151553.jpgSe no meio do trânsito urbano o desembaraço é grande – tem um excelente arranque, diga-se – onde ela nos dá grande prazer de condução é numa estrada revirada. O motor como já referi, associado ao bom equilíbrio das suspensões, uma ciclística muito saudável e travões muito competentes, proporciona-nos momentos de condução verdadeiramente divertidos. Ainda assim uma nota: a parte inferior da moto é relativamente bojuda e não muito distante do solo – o que é reflexo da tentativa de colocar o centro de gravidade tão baixo quanto possível – o que em curvas mais empenhadas pode levar a raspar com o cavalete central no chão. É questão de fazer com que o Miguel Oliveira que há em cada um de nós não se manifeste em demasia….

20210716_152046 (2).jpgEm auto-estrada, atinge velocidades bastante para lá do limite legal o que significa também que temos sempre disponível uma margem de segurança que nos permite encarar as deslocações nestas vias com toda a confiança.

É nestes domínios que sentimos verdadeiramente a diferença para scooters mais pequenas: temos a dimensão e o peso necessários para nos darem estabilidade e confiança e o motor disponibiliza a potência necessária para sairmos de qualquer situação da melhor forma.

VIRB0701_Moment.jpgO vidro regulável dá boa protecção ao nível do tronco e da cabeça. Já os ombros ficam algo desprotegidos (porque não uns pequeninos deflectores ao lado do painel de instrumentos? Fica a sugestão…).

Os “sapatinhos” Maxxis mostraram-se bastante adequados e complementam bem a qualidade global da MAXSYM 400.

CONCLUSÃO

Atrás apontei as muitas virtudes e um ou outro ponto menos positivo desta scooter que faz jus à ancestral designação do seu país de origem: Formosa.

Falta destacar um ponto que na hora das opções poderá ter um peso significativo para o potencial comprador: a garantia é de 5 anos ou 100.000 quilómetros. Revela confiança por parte do construtor e é um factor de segurança adicional para quem a resolver adquirir.

E é aqui que poderá residir o busílis da MAXSYM 400: o preço ronda os 7.000€.

Não a destaca significativamente de alguma concorrência japonesa ou até europeia com cilindradas similares, fica algo acima de propostas ligeiramente inferiores (300 e 350cc). E, porque existem ideia preconcebidas…a origem em Taiwan pode relevar.

Acredito que quem pondera comprar uma scooter o faz da forma mais racional possível pelo carácter claramente utilitário destes veículos. Mas se comparar preços, há motos (convencionais) muito atractivas nesta gama de valores…

Expostos os factos, caberá a cada um ponderar os prós e contras e, se for o caso, optar pela MAXSYM 400 com a certeza que levará uma scooter muito competente que lhe poderá dar plena satisfação quer nas deslocações rotineiras do dia-a-dia quer em escapadinhas de fim de semana sem grandes restrições de distâncias.

E o espaço disponível até nem é problema…

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A marca refere um consumo de 3,5 l/100km…o que é outro factor muito interessante!

Uma recomendação final: antes de qualquer decisão, é sempre fundamental fazer um test-drive. para que o sim seja consciente ou o não com conhecimento de causa. As opiniões de terceiros como esta, valem o que valem…

20210716_151721 (3).jpgTermino com um agradecimento à MOTEO, SA pela cedência da moto para este ensaio e a disponibilidade e simpatia do apoio dado pela MIGTEC MOTOS, concessionário da marca no Cacém / Sintra.


VIAGENS AO VIRAR DA ESQUINA está presente nas seguintes plataformas:

Sigam Viagens ao Virar da Esquina numa destas plataforma – ou em todas! – porque é a vossa companhia que nos motiva a prosseguir.

Obrigado por estarem aí!

 

 

AFRICA TWIN OFFROAD MEDIA EXPERIENCE 2021

”…a Honda Portugal tem o prazer de formalizar o convite para o Evento Africa Twin Offroad Media Experience…”

O convite surgiu inesperado. Mesmo se já vou estando habituado às gentilezas da Honda. Uma marca que, sem qualquer dúvida, dá muita atenção aos que escrevem sobre motos, possibilitando-lhes as oportunidades de o poderem fazer com o melhor conhecimento de causa possível. É uma forma de estar no mercado que só podemos aplaudir…e agradecer!

Dizia assim:

…a Honda Portugal tem o prazer de formalizar o convite para o Evento Africa Twin Offroad Media Experience.

Este é um evento que desenhamos a pensar nos … que normalmente escrevem e falam sobre motos e que não têm uma experiência habitual em cenários Off Road.

Obviamente, este era um daqueles convites irrecusáveis!

Ainda assim, considerando que a minha experiência neste tipo de contexto era nula fiquei algo apreensivo. Afinal, começar e logo com uma Big-Trail (230kg de moto…) seria a antítese de tudo o que os “manuais do utilizador do youtube” recomendariam. E o senso comum também.

 Quando soube os detalhes fiquei mais tranquilo….e ansioso. Ia ser uma experiência interessante sem dúvida…

– O EVENTO –

O Africa Twin Offroad Media Experience 2021 foi uma organização da Honda Ibéria e como tal juntou-nos a colegas do país vizinho. Mais um pormenor que resultou muitíssimo bem.

Teve duas vertentes que se conjugaram: um curso básico de condução offroad, da responsabilidade da Escola Personal Enduro (da qual já falarei adiante) e a oportunidade de testar a versão 2022 da Africa Twin.

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Tudo se passou em Guadalajara e nas suas imediações. Ao longo de 2 dias percorremos trilhos em terra e também algumas estradas muito, mas mesmo muito divertidas (já conhecem a equação: diversão=curvas+sobe e desce).

E como “quem não é para comer, não é para andar de moto”, este capítulo foi devidamente salvaguardado. A gastronomia local foi fundamental para recuperarmos do esforço.

Uma vez que tudo se passou em casa dos nossos vizinhos, é obrigatório referir que fomos excelentemente acolhidos pelos representantes espanhóis da Honda e a composição do grupo manifestou à evidência os cuidados colocados nesta experiência.

Para os 5 convidados-alunos – 3 espanhóis e 2 portugueses, jornalistas e bloggers – tínhamos os dois instrutores e proprietários da Personal Enduro, os irmãos Rodolfo e Fabio Martinez, o responsável pelas Relações Públicas e Social Media da Honda, mais um elemento da marca que nos resolveu todos os pequenos problemas mecânicos surgidos (apenas afinações para adequar as máquinas aos seus condutores) e um carro de apoio que nos acompanhou sempre e onde vinham também uma médica traumatologista e o fotógrafo de serviço (foi ele que tirou as boas fotos que acompanham este texto…as outras fui eu!). Nada foi deixado ao acaso!

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De referir que exceptuando as 3 pessoas do carro de apoio, todas as outras faziam parte da comitiva que percorreu trilhos e estradas nas Africa Twin ao dispor.

Se a simpatia, disponibilidade e competência de todos foi inexcedível (só a nossa médica não teve oportunidade de dar um ar da sua graça…felizmente!!!), quero destacar os nossos instrutores. Excelente capacidade de transmitirem conhecimento com uma abordagem absolutamente virada para o usufruto da experiência em máxima segurança sem perder de vista a necessária componente de diversão. E se os dias foram divertidos!!!!

Obrigado Rodolfo e Fabio por partilharem não só a vossa experiência e saber como também por nos irem dando alguns banhos de humildade. As pequenas brincadeiras que de vez em quando iam fazendo com as Africa Twin mostravam-nos o quanto tínhamos, temos e teremos para aprender…

– O CURSO DE OFFROAD –

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Dia 1

O primeiro momento do curso – depois de alguns quilómetros em estrada apenas para aquecimento e chegarmos à terra – foi uma aula teórica. Num pequeno terreiro, temas como a postura, os princípios básicos da técnica de condução em offroad, a abordagem aos obstáculos, os cuidados a ter, a leitura do terreno, o equipamento. Tudo foi abordado. E exemplificado.

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Fomos aconselhados a realizar alguns exercícios cujo objectivo era começarmos a ter mais flexibilidade em cima da moto, por forma a ajustarmos os movimentos do nosso corpo às necessidades de mudanças sucessivas de peso devidas às irregularidades do terreno.

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E aqui incluída a postura em pé que é dominante em offroad. Inclinarmos para a frente ao acelerar ou para trás ao travar. Para a direita se a curva é para esquerda e vice-versa.

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Muitos dos movimentos e reacções são o oposto dos habituais numa condução em asfalto. Era necessário por o contador a zero!

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Rodolfo Martinez e o “Portuguese Dream Team” …

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Uma recomendação que foi bem vincada: o offroad é diversão pura. E assim deve ser sempre. Por isso, é bom mantê-la em níveis razoáveis porque à medida que aumenta também crescem os riscos. E um só momento que corre mal pode por em risco toda a diversão da jornada! E estragar-nos o dia e aos nossos companheiros de folia… 

Ainda neste primeiro local, alguns pinos distribuídos e começou a prática. Recordar agora esses momentos é interessante….se os compararmos com a desenvoltura atingida no final do curso!

Mais alguns quilómetros de estrada e o primeiro trilho. Estradão simples, bom piso, uma ou outra poça de água, ideal para começarmos a sentir o terreno. Alguns quilómetros percorridos e tivemos uma pequena paragem para reabastecimento e convívio.

IMG_5327.jpgLogo nesse momento fiquei com uma sensação que se viria a confirmar: o ambiente parecia ser o de um grupo de amigos que se juntaram para um passeio e desfrutar do convívio. A informalidade que caracteriza os nossos irmãos do outro lado é sempre uma boa ajuda, diga-se de passagem.

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 Regressámos ao trilho que agora começava a ter pequenas dificuldades. Troços com alguma pedra solta e ligeiras subidas ou descidas, ideais para a demonstração e prática das técnicas que iam sendo sucessivamente transmitidas.

20211104_135628.jpgÀ medida que os quilómetros passavam as sensações eram cada vez mais positivas e confiantes porque era notória a evolução da condução e do controlo em cima da máquina.

20211104_135712.jpgOutro factor fundamental para tal: os instrutores, Fábio e Rodolfo eram incansáveis nas permanentes correcções e indicações que nos davam. Se cometíamos um erro ou executávamos deficientemente algum movimento…no momento seguinte estávamos a ser ajudados a perceber o que tínhamos feito mal e como corrigir. Impecável! E sempre sem sentirmos qualquer insegurança que pudesse minar a tal confiança já adquirida.

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Nesta fase, estava a começar a reviver algumas sensações da condução em terra na prática do BTT. A leitura do terreno, a percepção do obstáculo e das suas características, as reacções inesperadas da perda de tracção, estavam lá…naturalmente amplificadas pelo tipo de veículo, como é óbvio.

IMG_5379.jpgA manhã de trabalho culminou num prolongado repasto. Era fundamental repor energias para o que aí vinha.

A tarde começou novamente com mais um percurso em terra…e iam aumentando as dificuldades, ou melhor dito, as exigências do terreno mas que eram igualmente superadas com o cada vez maior à-vontade com as nossas máquinas nestes domínios.

IMG_5402.jpgPara terminar….um bónus: um percurso bem sinuoso em asfalto, com cerca de 150km em estradas municipais – mas das que têm excelente piso como é habitual em Espanha – e no qual o ritmo rápido da comitiva se transformou em absoluta diversão!

Quase a chegar ao alojamento, motos atestadas já para o próximo dia com gasolina com idêntico poder explosivo ao da que temos por cá…. mas a preços menos proíbitivos. Afinal, melhores estradas, gasolina mais barata…é caso para perguntar onde está o paraíso?

A “reposição dos níveis” fez-se mais uma vez à mesa. O convívio prosseguiu e terminou já tarde com um mini torneio de matraquilhos – “futebolín” em espanhol – onde o “Portuguese Dream Team” não deixou os seus créditos por mãos alheias!

Dia 2

O segundo dia reservava-nos mais do mesmo…em melhor!

IMG_5346.jpgPara lá dos percursos offroad que tínhamos que percorrer, ainda teríamos uma sessão de fotos e já se sabia que teria que terminar mais cedo pois ao final da tarde era tempo de regresso.

IMG_5475.jpgCabe aqui fazer uma referência: para lá dos trilhos terem sido bem escolhidos (nos dias anteriores, lá como cá, tinha chovido substancialmente e alguns dos pontos inicialmente previstos estavam intransitáveis ou com grau de dificuldade acima do recomendável) fomos brindados com paisagens de enorme beleza.

20211105_103247.jpg20211105_103346.jpg20211105_104603.jpg

Essa é, sem dúvida, uma das principais essências do offroad: transporta-nos para locais que de outra forma não teríamos a possibilidade de desfrutar.

20211105_110254.jpg20211105_110420.jpgEm Espanha, com algumas nuances entre regiões autonómicas, é praticamente proibida a prática do offroad. Quer dizer, não se pode fazer…mas faz-se. Ou vai-se fazendo. Em Portugal somos bastante privilegiados nesse aspecto.

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Mas atenção! Não é porque cá haja legislação que o permita explicitamente. Apenas porque não há legislação que o proíba e quando há não é fiscalizada…. e esse é o ponto fundamental: se quem pratica esta actividade não assumir uma postura de cuidador do ambiente, de protecção da fauna e flora e se, pelo contrário, contribuir para a degradação dos caminhos e do ecosistema, não tenhamos dúvidas que rapidamente passaremos a ter as mesmas dificuldades que aqui ao lado. Há por aí muita gente que esfrega as mãozinhas por mais umas proibições….

Voltemos ao curso.

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Até à hora de almoço (tardia, como é da praxe por estes lados) lá andámos por montes e vales, caminhos de terra ou que em outros tempos já tinham tido um vislumbre de alcatrão e, sempre, com paisagens bonitas para nos refrescarem o olhar…quando conseguíamos fazê-lo.

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Terminámos com mais um troço daqueles divertidos em alcatrão que nos conduziu ao local do repasto.

Depois, o trajecto em marcha rápida até ao local de onde tínhamos partido ontem.

E senti que este regresso teve, no meu caso, algum simbolismo: a minha desenvoltura em cima da moto, a capacidade de a manobrar, a percepção das suas reacções – em terra ou no asfalto – alterou-se substancialmente.

Saí a conduzir da maneira habitual e regressei com uma condução totalmente diferente. Mais eficaz e, por incrível que pareça, mais confortável. O que é importante: afinal conduzo uma moto destas no dia-a-dia! E nem tinha noção de até onde ela podia ir….

– FALEMOS DA AFRICA TWIN –

No dia 25 de Janeiro de 2020 concretizei um desafio que me tinha proposto e que consistia percorrer a EN2 num só dia. Chamei-lhe “Portugal de Fio a Pavio” e foi o mote para um teste mais prolongado à então novíssima versão da Africa Twin, no caso a Adventure Sports

Os 738,5km num só dia não são propriamente distância exagerada apesar das particularidades da estrada. De tal forma, que alguns voluntários – e amigos, claro – que se dispuseram a acompanhar-me também o fizeram sem qualquer tipo de dificuldade. Em motos diversas, uma das quais uma 125cc…

Mal sabíamos nós que cerca de um mês e pouco depois iríamos ficar trancados em casa… e o mundo ía mudar!

A análise exaustiva então feita à Africa Twin – no caso a CRF1100 e às suas duas versões, a AS e a “standard” – continua perfeitamente válida e está no site de Viagens ao Virar da Esquina, aqui em “Africa Twin de Fio a Pavio

O mundo mudou mas a tradição ainda é o que era! Um chavão que aqui se aplica bem. A Honda mantém uma regularidade rigorosa no que à evolução da “Rainha” (como os seus fãs carinhosamente a tratam) diz respeito:

2016 – lançamento da CRF1000 que vinha colmatar um hiato com 13 anos. A Honda voltava a ter uma Africa Twin que agora se enquadrava no segmento da moda: as trails ou, dito de outra forma, as motos “de aventura”.

2018 – aperfeiçoamento do modelo, com novas combinações cromáticas, novo painel de instrumentos, acelerador electrónico a possibilitar os modos de condução, melhoria do DCT e outros pequenos ajustamentos. E, claro, o lançamento da versão “big tank” com a Adventure Sports.

2020 – lançamento de nova versão: novo design, cilindrada, potência e binários aumentados, estrutura diferenciada, ciclística mais evoluída (suspensões electrónicas nalgumas versões), painel TFT, novos modos de condução e mais algumas alterações importantes, entre os quais nova evolução no DCT. E agora, uma clara diferenciação entre a AdventureSports, mais vocacionada para a estrada e as longas distâncias, e a Standard mais polivalente e ligeira com uma nítida vontade de possibilitar aos seus proprietários a utilização plena em offroad.

Seguindo a regra…

2022 – aperfeiçoamentos do modelo, com novas decorações e a utilização do logo de grandes dimensões em destaque, DCT mais evoluído, e o guiador ligeiramente mais elevado para uma melhor postura de condução.

Um reparo! – Não sei quem será mais teimoso: a Honda ou eu?

Apesar da complexidade dos comandos da Africa Twin, nomeadamente o que está localizado no punho esquerdo, continuam a não ser retroiluminados. Em condução noturna, se pretendermos procurar informação no painel de instrumentos – um exemplo simples: se pretendermos alternar entre o Trip1 e o Trip 2…boa sorte! Talvez acertemos no botão certo…e eles são muitos.

Agora se considerarmos que este é o maior defeito – lacuna será o termo correcto – que encontro na moto, então diz muito sobre a excelência deste produto que a Honda comercializa.

IMG_5199.jpgSeguindo os seis vectores de análise (P5E) de Viagens ao Virar da Esquina, falemos da CRF1100L Africa Twin, modelo de 2022 que tive oportunidade de testar durante o Africa Twin Offroad Media Experience:

1. POSICIONAMENTO (no mercado)

Como atrás referi, esta é a versão mais polivalente. Tanto adequada à condução em asfalto como a sua irmã maior (a Adventure Sports) quanto à utilização fora de estrada. Ou seja, consoante o perfil do utilizador assim deverá escolher o modelo que melhor se adequará.

20211105_114356.jpgApesar desta dicotomia, convém referir que se equiparmos a versão mais ligeira com malas e demais equipamento de viagem, podemos lançar-nos por aí fora. Apenas o depósito mais pequeno nos fará parar mais vezes. Por outro lado, se colocarmos uns pneus adequados na ATAS e a libertarmos do peso e da presença de equipamento supérfluo para o fim de andar em todo o terreno, o desempenho será praticamente igual ao da sua irmã mais light. Se isto não diz muito sobre a polivalência da Africa Twin…

Vamos pois incidir sobre a versão que experimentei no evento e nas condições em que o mesmo se desenrolou.

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Em termos de mercado, e dadas as suas características, esta AT situa-se num nicho de mercado interessante: é maior e mais potente (e mais cara) do que o conjunto de concorrentes que se situam na faixa até aos 1.000cc e até aos 95cv (curiosamente onde estava colocada a versão antiga, a CRF1000L) mas fica aquém das chamadas maxi-trails. Só que aqui, com algumas atenuantes: o excedente de potência daquelas não é objectivamente necessário (e até pode ser contraproducente) numa utilização mais campestre bem como elas de facto não estão orientadas para esta finalidade (basta ver a dimensão da roda dianteira ou os cursos das suspensões).

Ou seja, situa-se entre um e outro grupo e terá apenas como companhia alternativa mais próxima uma certa marca alemã, com características sui generis e que, já agora, até é líder de mercado….

2. ESTÉTICA (análise subjectiva de acordo com o meu gosto pessoal)

Não houve alteração relativamente ao que já conhecíamos (talvez lá para 2024…), a não ser as novas opções gráficas, seja em termos cromáticos seja de design – os logótipos “Africa Twin” de grande dimensão.

20211105_104428.jpgAs opções são:

· Branco Pérola Tricolour Glare – a tradicional “tricolor”

· Vermelho Grand Prix – vermelha com fundo preto – a moto que “foi minha” no evento

· Preto Ballistic Mate – totalmente preta com acabamento mate, com o subquadro em vermelho

A máquina que me calhou no evento era a vermelha. Que aliás veio a propósito pois condizia na perfeição com o meu equipamento. Sim…que pelo facto de andarmos no mato não significa que não tenhamos cuidado com o aspecto!!!

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O fundo é preto e depois tem manchas significativas com pintura em vermelho, incluindo o subquadro. Diferencia-se de modelo idêntico de 2020 por uma zona que agora é azul e antes era em branco na zona do depósito e na traseira.

3. ESTRUTURA (quadro, motor, suspensões, electrónica, etc.)

Tudo o que conhecemos manteve-se:

  • Motor bicilindrico paralelo com 1084 cc, SOHC, 8 válvulas, 4 tempos, cambota a 270º. arrefecimento líquido
  • 75kW (100,6 cv) @ 7.500 rpm, 105 Nm @ 6.250 rpm
  • Embraiagem DCT
  • Quadro: berço semi-duplo com sub quadro em alumínio
  • Suspensão dianteira regulável Showa de 45 mm, 230 mm de curso
  • Suspensão traseira regulável Showa, 220 mm de curso
  • Pneus (F/T): 21” / 18”
  • Travões com ABS regulável para estrada/offroad (F/T): 2 x 310 mm 4 êmbolos / 1 x 256 mm 1 êmbolo
  • Luzes full LED
  • etc…..

A única novidade neste capítulo foi que a Honda prosseguiu o seu trabalho de melhorar o que já é muito bom:  a Dual Clutch Transmission, DCT para os amigos. Ficou mais progressivo (suave) nas mudanças mais baixas o que sempre facilita a condução em manobras ou em situações mais “apertadas”. No offroad também se sente a melhoria.

20211105_103128.jpgA primeira vez que experimentei o sistema DCT – que já vai a caminho dos 11 anos – foi em 2018 numa Goldwing. Pouco tempo depois pude fazê-lo numa Africa Twin e à época escrevi “um dia todas as motos serão assim”. Lá chegaremos…

4. EQUIPAMENTO (todos os atributos que vão além do que é estrutural)

Sem alterações. O painel TFT touch é uma mais valia pela quantidade de informação que nos disponibiliza e pela facilidade com que conseguimos alterar parâmetros no próprio ecrã. Já o manancial de botões no comando do lado esquerdo requer alguma prática. Mas depois de fixarmos o que cada um faz, a operação processa-se com a maior facilidade. Já a retroiluminação….

20211105_092642.jpgOutro aspecto que foi aliás alvo de crítica há 2 anos quando esta versão foi lançada: vinha sem grelha traseira para bagagem (nem pegas para o passageiro). Podia ser instalada mas era acessório… Pois a Honda ouviu! E agora já é equipamento de série. Em alumínio e pintada em preto.

5. ERGONOMIA (análise estática)

Como tenho em casa uma AT de 2018 é fácil perceber a evolução ao nível da acessibilidade – o banco está mais baixo e é muito mais afilado na zona junto ao depósito – com impacto também no conforto e na maneabilidade da moto. Estamos mais encaixados e próximos do centro de gravidade. De qualquer forma, esta alteração vem já de 2020 e não sofreu alteração.

20211105_104442.jpgA Honda refere que o guiador está mais alto 22,5 mm o que permite uma melhor pega e mais conforto. Será assim com certeza. Como nesta ocasião não cheguei a conduzir um modelo de 2020, não posso confirmar a diferença mas só posso dizer que me senti sempre instalado na perfeição e muito confortável. Também do ponto de vista da maneabilidade nada há a dizer que não possa ser elogioso.

6. EXPERIÊNCIA (análise dinâmica)

Já fiz muitos milhares de quilómetros em Africa Twin (até pelo facto de ter uma!). Conduzi todas as versões que sucessivamente foram surgindo no mercado. E um facto é que a experiência de condução, chamemos-lhe “vida a bordo” tem vindo sempre a melhorar. E faz sentido que assim seja. Se as primeiras já eram muito boas (perguntem a quem as tem!), a actuais são naturalmente melhores.

Todavia não tinha a experiência de a conduzir fora de estrada. E aqui o primeiro ponto de ordem à mesa: a máquina é a mesma, não precisamos de alterar nada a não ser acrescentar as protecções que possam acautelar prejuizos mais significativos (protecções de motor, crash-bars, protecções de punhos). E OS PNEUS!

IMG_5490.jpgEsta é a pedra de toque fundamental. Podemos passar num estradão com uns pneus mais vocacionados para o asfalto? Claro que sim. Com algum cuidado mas é pacífico. Agora se entrarmos em pisos de pedra solta ou lama, com algumas inclinações em que a tracção seja fundamental, provavelmente não vai correr bem.

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As nossas Africa Twin estavam equipadas com os Continental TKC 80.

Trata-se de um pneu polivalente mas que poderá ser definido da seguinte forma: destina-se a offroad mas porta-se muito bem em estrada. O gráfico (retirado do site da Continental reflecte isso mesmo).

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Em todas as situações fora de estrada que enfrentámos, teve um comportamento irrepreensível. Notável mesmo.

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Mas onde fiquei mesmo surpreendido foi com a forma como nos transmite confiança em asfalto.

É evidente que não tem aquele rolar “tipo alcatifa” e sente-se o efeito dos tacos, mas é mínimo e passados meia dúzia de quilómetros já ultrapassamos essa sensação e nem damos por isso. A estabilidade em recta é perfeita e em curva…surpreendente. Experimentámo-los nestas condições, nos percursos sinuosos e em velocidades bastante “animadas”….nem uma falha! Na autoestrada, em velocidade elevada (bem acima do limite….mas foi em Espanha…e já passou….), deu toda a confiança que seria desejável.

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Qual o ponto negativo, que naturalmente não pudemos comprovar, mas resulta de testemunhos credíveis (e a marca confirma-o no gráfico), é a durabilidade. Se a condução for exigente, quer no todo-o-terreno quer principalmente no asfalto…vão-se num instante!

Para concluir esta análise dinâmica devo salientar que a minha principal ansiedade antes do evento era a de ir ter a minha primeira experiência no mato com uma moto “enorme” e “pesadíssima”. Ou seja, ao contrário do que a “vox populi” recomenda: começar com motos ligeirinhas. Já me estava a ver com ela no chão e confesso que pela minha mente passaram algumas formas de como evitar levar com ela em cima: em linguagem técnica, as chamadas “estratégias de fuga”!

IMG_5461.jpgPois bem…acho que tais princípios são obviamente válidos e resultam de senso comum. Mas tudo tem a ver com o que se pretende fazer e adequar os objectivos à nossa capacidade e às características da máquina.

Se se pretender fazer hard-enduro com uma AT, se calhar para lá dos pneus e demais equipamento será aconselhável arranjar um bom kit de unhas e quiçá…um patrocinador que cubra os “investimentos e reparações”. Mas se os objectivos passam por uns passeios entre amigos por caminhos de terra, ver umas paisagens bonitas, provar uns petiscos aqui e ali….então bastam uns sapatinhos adequados, e a calma necessária para ir aprendendo a pouco a compreender o comportamento da máquina.

E acreditem que se ela não nos ensina a conduzir, pelo menos ajuda bastante. A versatilidade da Africa Twin é absoluta!

Uma nota final ainda sobre esta experiência. Deliberadamente adoptei uma AT com DCT porque era o que fazia sentido sob o ponto de vista de aprendizagem, já que a minha também o tem.

Em nenhum momento senti que fosse um constrangimento. E perdoem-me os puristas e os cépticos, mas senti que a condução em offroad com esta funcionalidade exclusiva da Honda é muito, muito mais facilitada…assim se saiba tirar partido dela, conjugada com os modos de condução e demais parametrizações que a Africa Twin tem. Aliás, estão lá mesmo para isso. Para aqueles eu utilizaria um chavão muito em voga: “não devemos desdenhar uma ciência que à partida desconhecemos…”

– 3 NOTAS FINAIS SOBRE O EVENTO –

A primeira é dedicada à Honda Iberia e aos seus representantes nos dois países: uma enorme gratidão como é óbvio.

Mas também salientar que a abordagem seguida ao permitir que quem escreve sobre as suas motos possa ter o conhecimento adequado à análise, não se limitando à disponibilização deste ou daquele modelo (e o escriba que se desenrrasque…) mas também preocupando-se que tenhamos as “ferramentas” pessoais ajustadas é uma enorme mais valia. Algo a que a Honda já nos habituou.

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Para quem utiliza as redes sociais para comunicar, a possibilidade de convivermos com elementos da comunicação social tradicional (que disto fazem profissão, respeitemo-los por isso e pelo que nos podem ensinar) é excelente. E se adicionarmos a isso, o facto de nos juntarmos a congéneres aqui tão próximos, melhor ainda.

“Chapeau” Honda! (como diriam os franciús..)

A segunda nota é dedicada aos irmãos Martinez e à sua escola Personal Enduro.

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A possibilidade que nos foi dada de aprender não só com quem sabe (temos amigos que também o fariam com facilidade) mas principalmente com quem sabe explicar o como, o porquê e até o porque não, é uma mais valia enorme. Como tudo na vida, se soubermos aprender com quem nos ensina, o progresso é mais rápido e principalmente mais consistente. Quero com isto salientar que a formação é essencial se pretendemos evoluir. Daí a minha recomendação: se pretenderem começar a alargar horizontes para ambientes mais campestres…procurem formação. E depois, então sim, peçam aos vossos amigos para irem convosco.

No caso concreto da Personal Enduro eu diria que ficariam excelentemente entregues, mas…é em Espanha… a alguns 500 km da fronteira mais próxima.

Screenshot 2021-11-17 112027E que tal aproveitarem para um cursinho de 2 dias e depois um fim de semana na capital espanhola? É que fica apenas a 45 minutos (nem precisam mudar de hotel que em Guadalajara será certamente mais barato). Passem pelo site e vejam o que lá têm em termos de cursos, até porque me parece que os preços são bastante atractivos.

Se cá em Portugal também há? Claro que sim. Mas não conheço. Mas também servem e serão por certo igualmente bons. O importante é aprender!

A nota final destina-se a todos os participantes do evento: o ambiente de sã camaradagem e de partilha de conhecimentos foi excelente. Fizeram-se conhecimentos e quem sabe… como dizia o Rick Blain (Humphrey Bogart) no final de Casablanca para o Capitão Louis Renault (Claude Rains):

Louis, I think this is a beginning of a beautifull friendship

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Uma coisa é certa no meu caso: começou uma bela amizade com o offroad.

Agora é alimentá-la…

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ESTRADAS DE MONTANHA… AO VIRAR DA ESQUINA – PARTE 2

A Serra da Estrela não se esgota nas suas subidas e descidas. Tem muito mais que ver e é possível desenhar um percurso que a contorna, utilizando as mesmas 5 pontas da estrela que desenhámos – Covilhã, Unhais da Serra, Loriga, Seia e Manteigas – mas desta feita com recurso às Estradas Nacionais.

Na crónica anterior (ESTRADAS DE MONTANHA… AO VIRAR DA ESQUINA – parte 1 ) descrevemos as alternativas para alcançar o ponto mais alto de Portugal Continental. E como aproveitá-las numa jornada de montanha que em nada perde para outras muito famosas em paragens mais longínquas.

Descontando o facto de termos que as utilizar em alguns casos para “unir as pontas”, isto é, para depois de uma descida avançarmos para a subida seguinte este pode também ser um percurso muito interessante do ponto de vista turístico. As diferentes povoações atravessadas têm, todas elas, muitos pontos que merecem a nossa atenção.

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Volta à Serra

É bom recordar que muito deste território foi ocupado desde tempos ancestrais, servindo a Serra como elemento defensivo face a invasores externos. Foi assim com os Lusitanos perante as legiões romanas, por exemplo. Mais tarde, após a Reconquista Cristã e estabelecido o Reino de Portugal, os nossos primeiros Reis fizeram uma grande esforço de povoamento nesta região como forma de garantir a ocupação e travar as ambições dos vizinhos reinos de Leão e Castela.

Por essa razão, as terras que iremos atravessar neste roteiro têm na sua maioria, forais atribuídos no Séc XII, o da independência de Portugal. É portanto um circuito também pela nossa História. Venham daí!

Começamos pela Covilhã. Tal como na crónica anterior, a escolha é puramente casuística. Até porque sendo um circuito, terminará no local que escolhermos para início.

Covilhã:

Situada na vertente sudoeste da serra, olhando de alto para o vale do Zêzere aos seus pés, a famosa Cova da Beira, foi desde tempos remotos a capital dos lanifícios. Eram inúmeras as fábricas têxteis aqui localizadas até esta indústria ter entrado em crise e quase se ter extinto (obrigado, extremo oriente!). A superação da crise obriga à procura de alternativas e ressurge agora como cidade universitária, com a dinâmica da muita juventude que procura as faculdades da Universidade da Beira Interior. Outra área é o turismo que tem sido sempre relevante nesta região mas julgo que nem sempre convenientemente explorado, como o atestam a decrepitude de algumas infraestruturas na Serra ou os vetustos estabelecimentos comerciais que nela existem.

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Covilhã na encosta da Serra

A Covilhã é a cidade natal de Pêro da Covilhã, diplomata e explorador da época dos Descobrimentos, primeiro português a pisar terras de Moçambique e que enviou novas a D. João II sobre o modo de atingir os locais onde se produziam as especiarias, preparando o Caminho Marítimo para a Índia.

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Junto à homenagem a Pêro da Covilhã

Mas a presença humana nesta região remonta à pré-história. No tempo dos Romanos chamava-se Cava Juliana ou Sília Hermínia. O foral de vila foi-lhe atribuído em 1186 por D. Sancho I. A qualidade dos tecidos aqui feitos era já famosa quando na época dos Descobrimentos a Covilhã passou a pertencer aos domínios do Infante D. Henrique e dessa forma contribuiu para essa gesta não só através de gente mas também de tributos.

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Covilhã – Igreja da Misericórdia

Duas ribeiras descem da Serra da Estrela: Carpinteira e Degoldra. Atravessam o núcleo urbano e estiveram na origem do desenvolvimento industrial. por fornecerem a energia hidráulica que permitiam o laborar das fábricas.

Junto a essas duas ribeiras deve hoje ser visto um interessante núcleo de arqueologia industrial, composto por dezenas de edifícios em ruínas. Nos dois locais são visíveis dezenas de antigas unidades, de entre as quais se referem a fábrica-escola fundada pelo Conde da Ericeira em 1681 junto à Carpinteira e a Real Fábrica dos Panos criada pelo Marquês de Pombal em 1763 junto à ribeira da Degoldra. Esta é agora a sede da Universidade da Beira Interior na qual se deve visitar o Museu de Lanifícios, considerado o melhor núcleo museológico desta indústria na Europa.

A não perder também é o Largo do Município. Pela sua arquitectura, por ser o centro da cidade e por ser aí mesmo que começa a subida à serra.

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Covilhã – Largo do Município

Da Covilhã rumamos em direcção ao Tortosendo pela EN230, a antiga Estrada da Beira, que unia a cidade serrana a Coimbra. Como se poderá constatar, não era viagem fácil…mas bonita com certeza!

Tortosendo:

Povoação ancestral, provavelmente de fundação anterior à da nacionalidade, havendo registos desde o Séc XIII. Nela predominou a indústria de tecelagem que atingiu o seu apogeu nos anos 50 do século passado. Aí existiam, em 1955, 19 fábricas de lanifícios. Depois, tal como na sede de concelho, o declínio desta indústria fez com que também a vila perdesse grande parte da sua importância.

Reza a lenda que em tempos muito antigos, uma pobre família tinha uma filha deficiente que, enquanto os pais e o irmão iam para a labuta diária, passava os dias encostada a uma oliveira chorando o facto de ter nascido “torta”. Até que certo dia, no alto da oliveira lhe apareceu uma visão de Nossa Senhora que lhe entregou uma roca para ela passar os dias a fiar, e dessa forma também ajudar os seus pais. Ela assim fez e, de tanto fiar, essa sua arte contagiou outras gentes próximas e daí ter nascido na zona a industria da fiação e tecelagem. E também a devoção a Nossa Senhora da Oliveira.

Será que o nome da terra veio de “torta+sendo”? As lendas servem para explicar o que desconhecemos, não é?

Saímos do Tortosendo e continuamos na EN230. O destino: Unhais da Serra.

Unhais da Serra:

Localizada a uma altitude de 650 metros, situa-se na base da vertente Sudoeste da Serra da Estrela, num vale de origem glaciar, onde corre a ribeira de Unhais que resulta da confluência das ribeiras da Estrela e da Alforfa.

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Unhais da Serra vista do Miradouro do Cruzeiro

O Vale Glaciário da Alforfa foi originado por um glaciar que atingiu os 5,5 km de comprimento e se dissolveu a uma altitude de 800 metros (ou seja, a escassos 150 m em altitude de Unhais).

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Vale Glaciar da Alforfa

A presença humana remonta a épocas pré-históricas. E também o lugar já é identificado nos alvores da nacionalidade. É todavia o termalismo que lhe traz fama e algum proveito.

Existem várias nascentes que, espalhadas pela Vila, brotam violenta e abundantemente por grande parte do vale de Unhais da Serra. E há também uma nascente de águas férreas.

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Unhais a olhar a Serra

A Norte de Unhais da Serra situa-se a Estância Termal e Climática, cujas águas correm a 36.000 litros/hora com uma temperatura de 37º, sendo terapeuticamente indicadas para doenças dos aparelhos circulatório e respiratório, para o reumatismo e doenças de pele.

Unhais da Serra viveu a sua grande época turístico termal nos finais do século XIX e princípios do século XX, sendo na altura conhecida como “Pérola da Beira” ou “Sintra da Covilhã”.

À época, a conversão da residência do Conde da Covilhã, pela visão do próprio, no Grande Hotel de Unhais da Serra tendo anexo o “Casino”, com espaçosos salões de dança, bilhares, e outras diversões contribuiu para o fortalecimento do turismo local, vocacionado na altura para a classe relativamente numerosa de proprietários e industriais têxteis da região.

Ainda hoje, esta riqueza é aproveitada inclusivamente com novas instalações hoteleiras.

Também aqui a lenda nos explica o que se desconhece: reza que certo dia andando à caça pela Serra da Estrela, um jovem brasonado e rico, perdeu-se no entusiasmo da caçada. Depois de andar perdido durante muito tempo sentiu-se cansado e com fome. Nestas condições chegou até perto do local onde hoje está situada “Unhais da Serra”. Aqui encontrou um pastor que o vendo com fome, logo lhe deu leite do seu rebanho, foi à ribeira e com as suas grandes “unhas”, apanhou trutas para o jovem senhor. O jovem caçador ficou admirado pela facilidade com que o pastor apanhou as trutas com as “unhas”, e chamou ao local “Unhas da Serra” ou “Unhais da Serra”.

De Unhais da Serra continuamos por mais uns quilómetros pela Estrada da Beira. Iremos abandoná-la no cruzamento das Pedras Lavradas onde viramos à direita, em estrada que nos levará até Seia, a EN231.

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Cruzamento das Pedras Lavradas

Passadas algumas aldeias cuja toponímia nos remete para alguém que desconhecemos – Vasco Esteves de Cima e Vasco Esteves de Baixo – chegamos a Alvoco da Serra. Quem terá sido o Vasco Esteves?

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Quem foi Vasco Esteves?
Alvoco da Serra:

É a povoação da Serra mais próxima da Torre (em linha recta, claro). Localidade de fortes tradições e origens muito antigas, conserva alguns vestígios da presença dos romanos, nomeadamente uma calçada onde foram encontradas moedas da época.

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Alvoco da Serra

Panoramicamente, é também de uma beleza enorme, principalmente pela encosta serrana onde se insere.

Continuamos na EN231 e alguns quilómetros depois, bem preenchidos pela beleza da paisagem, chegamos a Loriga.

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Serpenteando pela encosta serrana
Loriga:

De origem que se confunde com a antiguidade, por ela passaram os romanos (com testemunho numa calçada da época) e o seu foral é de data anterior à da nacionalidade. 

É conhecida como a “Suíça Portuguesa” devido à sua extraordinária localização geográfica. Está situada a cerca de 770 m de altitude, na sua parte urbana mais baixa, rodeada por montanhas, das quais se destacam a Penha dos Abutres (1828 m de altitude) e a Penha do Gato (1771 m), e é abraçada por dois cursos de água: a Ribeira da Nave e Ribeira de São Bento, que se unem depois para formarem a Ribeira de Loriga, um dos afluentes do Rio Alva.

Os socalcos e sua complexa rede de irrigação são um dos grandes ex-libris de Loriga, uma obra construída ao longo de centenas de anos e que transformou um vale rochoso num vale fértil.

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Loriga
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Loriga – piscinas naturais
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Loriga – piscinas naturais

Da ponte sobre a Ribeira podemos observar a pequena praia fluvial que aproveita as águas que correm desde a Serra. E também todo o vale glaciar que vindo lá de cima, tinha grande inclinação e deixou as suas marcas nos “circos glaciários”, uma espécie de escadaria onde também existe uma sucessão de lagos e covões – os designados Covões de Loriga: Boeiro, Meio, Nave e Areia.

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Loriga e o Vale Glaciar

O Bolo Negro de Loriga é a especialidade local.

Seguimos adiante, pela mesma estrada. Passamos o cruzamento da Portela do Arão e a estrada que nos levaria ao Adamastor e à Torre, e pouco depois, chegamos a Valezim.

Valezim:

Pequena freguesia do concelho de Seia, pertence à Rede de Aldeias de Montanha. Desconhece-se a origem da sua toponímia mas a hipótese mais aceite é que derive do latim “vallecinnus” que significa vale pequeno. As principais actividades económicas da população estão ligadas à agricultura e pastorícia, turismo de habitação e à construção civil.

O seu primeiro foral é atribuído em 1201, por D. João de Foyle (ou D. João Fróia), prior do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. O exemplar autógrafo deste Foral encontra-se no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

Em 1514 é renovado pelo Rei D. Manuel I de Portugal, e passa constituir um concelho formado apenas pela freguesia. Entre os anos de 1836 e 1855 pertenceu ao concelho de Loriga e depois foi integrada no de Seia.

O caminho na EN231 prossegue. Mais à frente, terra com nome e história curiosa: Lapa dos Dinheiros.

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A caminho pela EN231
Lapa dos Dinheiros:

Aldeia do concelho de Seia por onde o homem anda desde o neolítico, aqui podemos observar a natureza no seu estado mais puro. E essa é a maior riqueza desta Lapa, erguida a 700 metros de altitude sobre o rio Alva e a ribeira da Caniça. Terra de muitas belezas, como o Souto da Lapa, que – para além de único conjunto de castanheiros centenários – alberga espécies de fauna e flora raras no país. Ou da ribeira da Caniça, que banha a praia fluvial da Lapa dos Dinheiros, cercada de frondosa vegetação.

Mas a origem toponímica não vem desta riqueza natural. Explica-nos a lenda que andando El-Rei D. Dinis por estas paragens ali parou para pernoitar. A mesa rica e variada que lhe puseram à frente impressionou de tal forma o Rei que logo perguntou: “Como conseguiram um jantar tão farto?”. “Com os nossos dinheiros”, responderam os anfitriões. E o monarca fixou-lhes o nome: daí em diante, a singular aldeia da Lapa (construída sobre a rocha) passaria a chamar-se Lapa dos Dinheiros.

Estamos quase a chegar a Seia. Mas antes, a vila de S. Romão. Ponto de início de uma das nossas subidas e local de grande interesse histórico.

São Romão:

É a vila mais rica do concelho de Seia, não só em recursos naturais mas também em património arqueológico e arquitectónico.

O Castro, local onde foram encontrados objectos de olaria, mós manuais, pesos de tear, moldes de fundição e utensílios de bronze e de pedra, a Igreja Matriz, a capela do Santo Cristo e o Buraco da Moira, sítio arqueológico cuja ocupação remonta ao Calcolítico (1200 a.c.), são pontos de paragem obrigatórios.

Na Senhora do Desterro, aldeia pertencente a esta freguesia, é possível visualizar uma rocha com o formato de uma Cabeça de Velha, e doze capelas, uma das quais é a capela dos Doutores, única em Portugal. A Senhora do Desterro é banhada pelo rio Alva, onde existe uma praia fluvial.

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Senhora do Desterro

De salientar que nesta localidade foi construída a primeira central Hidroeléctrica do país, onde hoje é o Museu Natural da Electricidade.

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Central – Museu Natural da Electricidade

Chegamos finalmente a Seia. Famosa pelo Quijo da Serra (que não é exclusivo seu, note-se) tem muitos outros pontos de interesse a merecer visita atenta.

Seia:

É, a par da Covilhã, uma das duas principais portas de entrada na Serra da Estrela.

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Seia – porta de entrada na Serra da Estrela

A primitiva ocupação humana do local da actual Seia remonta à época pré-romana, quando da fundação de uma povoação pelos Túrdulos, por volta do século IV a.C., denominada como Senna.

Quando a se verificou a Invasão romana da Península Ibérica, os Lusitanos utilizaram a serra – a que chamavam Montes Hermínios – como seu quartel-general e principal obstáculo para os inimigos. O que não impediu que o general Galba massacrasse 30.000 montanheses lusitanos.

Os romanos transformaram então o castro ibérico de Nogueira na romana “Civitas Sena”, que foi fortificada. Foi posteriormente ocupada por Visigodos e por Muçulmanos, este últimos a partir do século VIII. O rei visigodo Vamba (já mencionado noutras crónicas) terá fixado os limites da diocese de Egitânia até aos domínios da cidade de Sena.

À época da Reconquista cristã da Península Ibérica, a povoação foi definitivamente conquistada aos mouros por Fernando Magno (1055), que mandou edificar (ou reedificar) a sua fortificação.

À época da formação da nacionalidade portuguesa, Bermudo Peres, cunhado de D. Teresa, iniciou uma revolta no Castelo de Seia em 1131. Não teve sucesso, uma vez que o infante D. Afonso Henriques tendo disto tido conhecimento, foi ao encontro dele com as suas forças e expulsou-o do castelo. Poucos anos mais tarde, o soberano passou o primeiro foral à povoação em 1136, designando-a por Civitatem Senam. Entre os privilégios então concedidos, destacam-se.

“Eu, infante Afonso Henriques, filho de D. Henrique, aprouve-me por boa paz de fazer este escrito de firmeza e estabilidade que firmo pelos séculos sem fim. A vós, habitantes da cidade de Seia, concedo que tenhais costumes muito melhores do que tivestes até aqui e isto tanto para vós como para os vossos filhos e toda a vossa descendência. E os homens de Seia que pagam jugada que não vão ao fossado nem ao moinho obrigados pelo senhor. E que nenhum venda o seu cavalo ou mula ou asno ou égua ou bens ao senhor da terra sem querer. Se um homem de Seia for mercar, se não for mais de duas vezes, não pague portagem.”

Outros forais se seguiram como o de D. Afonso II, em Dezembro de 1217, o de D. Duarte, em Dezembro de 1433, o de D. Afonso V, em Agosto de 1479, e, finalmente, o de D. Manuel I, em 1 de Junho de 1510. Em 1571, sob o reinado de Sebastião, foi fundada a Santa Casa de Misericórdia de Seia.

Até à actualidade, a cidade desenvolveu-se sendo hoje dominante o sector terciário. Todavia a indústria ligada aos têxteis, à produção de electricidade e aos famosos (e saborosos!) Queijos da Serra mantém importância significativa. Naturalmente que o Turismo tem também grande preponderância na zona. E recomendam-se vivamente as visitas aos Museus – do Pão, do Brinquedo e Natural da Electricidade (em S. Romão) – e também ao Centro de Interpretação da Serra da Estrela.

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Seia – Museu do Pão
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Seia – Museu do Pão – pormenor exterior
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Seia – Museu do Pão – Como fazer o pão d’A Moleirinha
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Seia – Museu do Pão – A distribuição…

Saímos de Seia pela EN339 até encontramos a EN232 que vem de Gouveia. Pouco depois, o desvio para o caminho que nos levará ao Vale do Rossim.

Vale do Rossim:

Situado a uma altitude de quase 1500 m, o Vale do Rossim é o maior vale glaciar da Europa e o espelho de água a maior altitude da Serra da Estrela. Era, antes da construção da pequena barragem que originou a lagoa, uma das melhores pastagens para os rebanhos de transumância.

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Vale do Rossim

Com um enquadramento paisagístico único, de uma beleza agreste, é um local para visitar mas também, para quem queira, permanecer graças ao eco-resort aí construído.

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Vale do Rossim – Eco Resort

No caminho para as Penhas Douradas, podemos encontrar a curiosa Casa da Fraga.

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Casa da Fraga
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Casa da Fraga
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Casa da Fraga

Uma história interessante que se conta:

“A Casa da Fraga foi construída no meio de nenhures, num ermo da Serra da Estrela, lugar que hoje tratamos por Penhas Douradas. Parece estranho mas não é: muito provavelmente, as Penhas Douradas, lá do alto dos seus 1500 metros, não seriam nada não fosse a Casa da Fraga existir. Ou pelo menos não seriam aquilo que são agora.

Tudo começou com uma expedição organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa à Serra da Estrela. O objectivo era nobre: fundar sanatórios que, como já era feito noutros países, como por exemplo a Suíça, pudessem curar doenças de foro pulmonar.

Daí se concluiu haver condições climatéricas, na encosta norte da serra, antes de chegarmos ao seu topo, para um tratamento bem sucedido às patologias.

Sousa Martins, crente nos estudos optimistas que vários cientistas davam aos ares da Serra da Estrela, enviou para lá um dos seus doentes, Alfredo César Henriques, que sofria de tísica pulmonar, que construiu uma casa lindíssima camuflada na paisagem natural que a envolvia.

Ali permaneceu dois anos e as visíveis melhorias no seu estado de saúde deram alento a outra gente, também com problemas nos pulmões, que lá foi procurar casa. E assim, de uma boa notícia, se fez aquele pedacinho encantado que hoje conhecemos como Penhas Douradas.”

in ncultura.pt/serra-da-estrela-a-incrivel-casa-da-fraga/

Saímos do Vale do Rossim, deixamos para trás a Casa da Fraga e logo retomamos a EN232, a caminho de Manteigas (esta parte do percurso está incluído no acesso 7 mencionado na crónica anterior). Antes uma paragem nas Penhas Douradas.

Penhas Douradas:

A história da Casa da Fraga fala-nos da importância antiga das Penhas Douradas. Hoje aí restam o observatório meteorológico (quase diariamente mencionado pelos “manda-chuva” das TVs), um hotel recente e algumas habitações de fim de semana.

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Penhas Douradas
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Penhas Douradas
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Penhas Douradas

Aqui a paisagem ganha, nalguns pontos novos contornos, porque se olharmos para Norte conseguimos vislumbrar uma planície a perder de vista no sentido de Gouveia ou um pouco mais longe, Celorico da Beira. A Beira Alta está à frente dos olhos!

Daqui até Manteigas temos uma das estradas mais bonitas e divertidas da Serra – a EN232 – e a oportunidade para apreciar a vista do Miradouro do Fragão do Corvo (perto das Penhas Douradas).

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EN232
Manteigas:

Localizada em pleno Vale Glaciário do Zêzere, este é um dos melhores exemplos da modelação da paisagem pelos glaciares. Com um traçado retilineo numa extensão de cerca de oito quilómetros, é o maior dos vales glaciares da Estrela, apresentando um perfil transversal em forma de U, típico destas formas de relevo. No pico da última glaciação, o glaciar do Zêzere terá atingido um comprimento de 13 quilómetros e, em alguns locais, uma espessura de 300 metros. A grande profundidade do vale é o resultado da acção fluvial durante os períodos pré e interglaciários, tendo a forma em U sido modelada pelo gelo durante a última fase glaciar.

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Manteigas e o Vale Glaciar

Também o termalismo está presente: a cerca de 775 metros de altitude, na margem esquerda do Zêzere, existe uma estância termal de águas sulfúreas, bicarbonatadas, sódicas, fluoretadas, que brotam à temperatura de máxima de 42,8ºC, indicadas para o tratamento de reumatismo, afecções das vias respiratórias e dermatoses.

Poucos vestígios subsistem da passagem por estas terras dos Romanos, dos povos bárbaros que lhes sucederam ou finalmente, dos muçulmanos. Mesmo a atribuição do primeiro foral, nos finais do Séc XII por D. Sancho I é aceite mas sem a respectiva prova testemunhal. Existe sim a sua confirmação posterior no Foral de 1514 outorgado por D. Manuel I. Mas é certo que este pedaço de território foi povoado na sequência da Reconquista Cristã.

O município de Manteigas foi, séculos mais tarde, vítima de sobressaltos administrativos, resolvidos à boa maneira portuguesa: o concelho foi extinto em 26 de Junho desse ano e anexado ao da Guarda durante cerca de ano e meio, vindo a ser restaurado em 13 de Janeiro de 1898. Para tal restauração, em tão curto espaço de tempo, muito terá contribuído o papel preponderante de Joaquim Pereira de Mattos, ilustre industrial manteiguense, que propôs adquirir e transferir para Manteigas uma importante unidade industrial de lanifícios radicada em Portalegre. Mas fortes influências ter-se-ão movido no sentido dessa transferência não se concretizar e Joaquim de Mattos impôs como condição para desistir da ideia, que o concelho de Manteigas voltasse a ser restaurado, o que veio a verificar-se a 13 de Janeiro de 1898.

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Vista de Manteigas (da estrada do Poço do Inferno)

Actualmente, a vila serrana é conhecida pelos seus têxteis, pelo Queijo da Serra e também pelos seus viveiros de trutas. Para lá da actividade turística, como é óbvio.

Merece destaque a bonita cascata do Poço do Inferno (a estrada de acesso recomenda cuidados acrescidos – estreita e com mau piso) cuja visita se recomenda na Primavera para aproveitar o maior caudal proveniente do degelo da neve.

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Poço do Inferno
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Poço do Inferno

Continuamos a contornar a Serra e agora preparamos já o regresso à Covilhã e para já, continuamos na EN232 até Belmonte. Pelo caminho, fica Valhelhas.

Valhelhas:

Freguesia que pertence ao concelho da Guarda, foi sede concelhia entre 1187 e 1855. O topónimo «Valhelhas» teve origem no latim ancestral que designava valezinho ou vale pequeno. Aliás, a formação do povoado que é hoje Valhelhas é anterior à época romana, período durante o qual se chamou Vallecula. Sobrevivem vestígios desta presença pela ponte romana, pedaços de estrada e alguns marcos miliários.

Encontramos ainda o Castelo de Valhelhas e restos da muralha, cuja origem remonta a uma fortificação romana, tendo sido conservado e remodelado pelos povos que se seguiram, até à sua destruição parcial originada pela artilharia francesa durante as invasões em 1810.

O foral de Valhelhas foi outorgado dado por D. Sancho I em 1188

O périplo está quase a chegar ao fim. A “piéce de rèsistence” é a bonita vila de Belmonte que tanto me diz.

Belmonte:

É a terra natal de Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil. Aqui está também um dos mais relevantes pilares da herança judaica em Portugal. E é de Belmonte o ramo materno da minha família. Factos que não têm qualquer relação entre si, naturalmente, excepto o de confluírem no mesmo espaço.

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Belmonte – a ladeira das minhas brincadeiras de infância nas férias

A presença humana remonta a épocas pré-históricas como atestam a Anta de Caria, os Castros de Caria e da Chandeirinha. Também os romanos deixaram a sua marca pois por aqui passava a via que ligava Mérida à Guarda. A Torre de Centum Cellas (cuja finalidade ainda hoje se discute) é um marco fundamental dessa presença.

Belmonte está situada no panorâmico Monte da Esperança (antigos Montes Crestados), em cujo morro mais rochoso foi construído nos finais do séc. XII o seu castelo. Em 1199, D. Sancho I deu-lhe foral. No século XIII, Belmonte tinha já franco desenvolvimento justificando a existência de duas Igrejas – a de São Tiago e de Santa Maria e de uma Sinagoga.

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Castelo de Belmonte

Por ser tempo de guerras contra leoneses e castelhanos, o castelo de Belmonte foi sendo melhorado nos reinados de D. Afonso III, D. Dinis e D. João I.

A bravura e a lealdade da família dos Cabrais, foi sempre lendária e temida, sobretudo a do seu primeiro Alcaide-mor – Fernão Cabral, que uma vez nomeado a título definitivo e hereditário, em 1466 por D. Afonso V, transformará o castelo numa Residência Senhorial Fortificada, onde seu filho Pedro Álvares Cabral viverá os seus primeiros anos de vida. Daí deriva a característica única do castelo ao qual foi posteriormente acrescentada curiosa janela manuelina.

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Castelo de Belmonte – pormenor da janela manuelina

Mas foi no século seguinte a época de maior destaque do Castelo e de Belmonte. Em 1510 D. Manuel I concedeu a Belmonte nova carta de foral. Nessa altura a comunidade de Belmonte era essencialmente rural, dependente da pecuária e da agricultura. A presença de Judeus favoreceu também a existência de algum comércio.

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Belmonte – Tulha

D.Manuel I renovou o foral da vila em 1510. O mesmo monarca que, em 1496, decretou a conversão forçada dos judeus ao catolicismo, sendo os que recusaram violentamente perseguidos.

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Belmonte – Torre da Igreja de Santiago, ao longe a torre da Igreja Matriz e o depósito de água

Muitos deles acabaram abandonando Portugal, por medo de represálias da Inquisição. Outros converteram-se ao cristianismo em termos oficiais, mantendo o seu culto e tradições culturais no âmbito familiar.

Um terceiro grupo de judeus, porém, tomou uma medida mais extrema. Decidiram isolar-se do mundo exterior, cortando o contacto com o resto do país e seguindo suas tradições à risca. Tais pessoas foram chamadas de Marranos, uma alusão à proibição ritual de comer carne de porco.

Durante séculos os Marranos de Belmonte mantiveram as suas tradições judaicas quase intactas, tornando-se um caso excecional de comunidade criptojudaica. Somente nos anos 70 a comunidade estabeleceu contacto com os judeus de Israel e oficializou o judaísmo como sua religião.

Só em 1989 foi criada oficialmente a comunidade judaica de Belmonte. 500 anos depois!

Passear pelas ruas da Judiaria a caminho do Castelo é imperdível. Tal como os Museus Judaico, dos Descobrimentos ou o do Azeite.

Ou recordar o achamento do Brasil na estátua de Pedro Álvares Cabral que tenho na minha memória desde sempre (até porque a casa dos meus bisavós, a dos meus avós e a que foi dos meus pais ficavam bem próximo).

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Estátua de Pedro Álvares Cabral
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Belmonte – pormenor
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De Belmonte vemos a Covilhã…lá ao fundo

Saímos de Belmonte e encontramos o Rio Zêzere, agora já no seu percurso para Oeste em direcção à foz. Desagua bastante mais à frente, no Rio Tejo, em Constância. Atravessamos a ponte e seguimos agora pela EN18 a caminho do final da volta pela Serra da Estrela.

Assim chegamos à Covilhã. Está terminado o circuito…

As estradas percorridas neste circuito são algumas das nossas mais bonitas estradas nacionais. Com os percursos genuínos. No geral estão bem cuidadas e proporcionam uma experiência de viagem diferente das escaladas que vimos na 1ª parte dedicada à Serra da Estrela. Diferente mas não menos interessante. E fica mesmo aqui pertinho!

Nota Final

Na actualidade temos inúmeras fontes de informação. Desde o omnipresente Google às agora caídas em desuso Enciclopédias. Dos roteiros que podemos encontrar por aí amiúde, das informações oficiais dos postos de Turismo locais, das memórias dos nossos amigos que por lá passaram.

Mas nenhuma substitui o conhecimento de quem lá vive e percorre aquelas estradas desde que se conhece. Por isso recomendo que se quiserem seguir as sugestões destas crónicas, a do mês passado (edição #40 da Andar de Moto) e esta, não dispensem um contacto e uma visita a quem conhece a Serra da Estrela como a palma da mão.

Foi o que fizemos: fomos conhecer o Grupo Motard “Família da Estrela” e a sua nova sede. Para lá do cafezinho matinal, que soube pela vida antes de começarmos o sobe e desce serrano, a conversa foi excelente. E o João Fonseca brindou-nos a sua amizade e alguns conselhos e sugestões fundamentais para a nossa viagem. Aqui fica expressa a nossa gratidão.

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No Grupo Motard Família da Estrela

É uma realidade que no espaço exíguo do nosso território não cabem grandes cadeias montanhosas. E por isso as procuramos lá fora. Mas é possível fazermos alguns passeios pelas nossas estradas, com tanta ou maior diversão, com paisagens que são diferentes e únicas, porque são nossas.

É só questão de as procurarmos, porque elas estão aí…AO VIRAR DA ESQUINA!

(esta crónica foi publicada originalmente na edição #41 da revista digital Andar de Moto – Outubro 2021)

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