Por Este Rio Acima

Há uns anos que acalentava o desejo de voltar a percorrer as 15 travessias do Tejo.

A primeira vez foi há 5 anos mas tinha faltado qualquer coisa…que importava completar: unir a foz do rio até ao ponto onde passa a ser exclusivamente português.

Assim nasceu o “POR ESTE RIO ACIMA”.

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NOTA PRÉVIA:

“POR ESTE RIO ACIMA” foi o regresso às 15 travessias do Tejo. Curiosamente, cerca de duas semanas depois, descobri que afinal há uma 16ª. Original e diferente…mas está lá! É isso que vos conto no final da crónica deste desafio.

 – A ESTRADA AGUARDAVA… –

8.30h da manhã! À minha frente, na outra margem, a Cova do Vapor. Um pouco à direita (a jusante, em linguagem de rio…) o ilhéu do Bugio. Para o outro lado (a montante), lá ao longe e ainda envolta por alguma neblina matinal, a Ponte 25 de Abril. A primeira da viagem…

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Foz do Tejo – 25 Abril lá longe

Esperavam-me mais de 400km. Não era distância que assustasse…mas o ritmo seria lento pelo tipo de estradas a percorrer e por nelas atravessar inúmeras localidades. A expectativa seria de cerca de 8 horas de condução, às quais teria que adicionar as óbvias paragens para fotografias, reabastecimento de homem e máquina, etc. No total, foram quase 12 horas. Ainda assim, por este prisma, o desafio não era assim tanto.

Desafio que é desafio tem que ter uma componente de imprevisibilidade. Não alinho na basófia que “desistir não é opção!”. Aliás, aqui só existem duas opções: é fazer ou desistir. Porque não procuro riscos que se sobreponham ao prazer de viajar e de conduzir moto. Cumprir o desafio é…fazer!

Para apimentar a coisa, a data escolhida antecipava uma das maiores canículas deste Verão. Promessa cumprida pelo S. Pedro, esse meu inimigo figadal! A partir de Santarém, o termómetro não baixou dos 40º, com um largo período nos 42º….

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42º em Vila Nova de Barquinha

E, para que a coisa ainda tivesse mais piada, nada como levar uma moto improvável. Nada de maxi-trails. Nem de turísticas preparadas para palmilhar milhares de quilómetros. Nada disso. A moto improvável foi uma Suzuki Katana! 

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Suzuki Katana

Assim já tinha condimentos para o desafio. Só não lhe antecipava a dificuldade…

Esperavam-me as 15 travessias que o Rio Tejo tem: 13 pontes e 2 barragens.

Dessas 13, 10 foram construídas para a finalidade rodoviária, sendo a mais antiga a de Abrantes – inaugurada em 1870 – e a mais recente a das Lezírias – de 2007. Outras 3 eram de inicio ferroviárias e, depois de desactivadas, passaram a servir o trânsito automóvel: a das Mouriscas de 1881, a de Constância de 1888 e a de Muge de 1904. Passaram para rodoviárias respectivamente em 1992, 1988 e 2001. No total, 5 pontes do Sec XIX, 6 do Séc XX e 2 já no novo milénio.

As barragens cujo paredão permite a passagem, as únicas do Rio Tejo em território nacional, são as de Belver e Fratel, construídas respectivamente em 1952 e 1973. 

– A CAMINHO –

Saida às 8:30, como referi, tomei o caminho mais rápido para a primeira travessia: a Ponte 25 de Abril. Podendo fazê-lo junto ao Tejo, pela Marginal, optei pela A5 junto ao Jamor. Evitava portagens (algo a que só recorri quando não havia alternativa) e também a maior densidade de trânsito que, por ser dia de semana me poderia atrasar logo ao início.

Assim foi. Passado pouco tempo estava a passar a 25 de Abril. O panorama visto do seu tabuleiro é deslumbrante. Inaugurada em 1966 – 6 de Agosto – une as duas margens no ponto do estuário chamado “gargalo do Tejo”. Obra fundamental para toda a região que antes estava limitada à travessia fluvial, desde logo se tornou um dos ex-líbris da capital. Muitos anos mais tarde (embora o previsse desde o início) tornou-se também ferroviária. Com uma extensão de 2,3km e 190m de altura é uma das maiores do mundo com a sua tipologia: ponte suspensa.

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25 Abril – margem direita
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25 de Abril – margem esquerda

Segui pela A2 até ao Casal do Marco e tomei a EN10 até à Quinta do Conde onde virei para a A33 que me conduziu até à travessia seguinte: a Ponte Vasco da Gama.

A reentrada em Lisboa valeu atravessar aquela que é a mais extensa ponte da Europa – 17km – e uma das maiores do mundo e…pagar a primeira portagem do dia. Inaugurada a tempo da Expo98, tenho o privilégio de a ver todos os dias da janela de casa. Quase faz parte da família…

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Ponte Vasco da Gama
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Ponte Vasco da Gama 

Daqui, IC2, A1 e EN10 (novamente … esta estrada tem um percurso muito sui generis) até Vila Franca de Xira.

Esperava-me a Ponte Marechal Carmona. Inaugurada em 30 de Dezembro de 1951, teve a primeira portagem em Portugal, pois o Governo de então assumiu que deveria ser paga pelos seus utilizadores. Assim que ficou paga…a portagem extinguiu-se! Estranho…. 

Tem pouco mais de 1,2km de extensão e custou, à época, o que hoje seriam 650 mil euros. Teve um papel fundamental nos acessos entre o sul e o norte do País e o acesso a Lisboa (a 25 de Abril surgiu 15 anos depois!).

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Ponte Marechal Carmona

Aqui terminou a primeira parte do percurso ao longo do Tejo. Pelas suas características, chamar-lhe-ei “Urbano”, porque na realidade, o rio banha nas suas margens parte significativa da malha urbana da área metropolitana de Lisboa.

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Rio Tejo

Atravessado o rio para a margem esquerda, iniciei o percurso que designarei “Lezírias” e que se prolonga até Constância….lá chegarei!

Em Samora Correia apanhei a EN118 que me irá acompanhar até ao final do dia de forma intermitente, pois dela sairei e depois voltarei sucessivamente. Começa no Montijo, termina em Alpalhão e acompanha a margem esquerda do Rio Tejo. Não sendo particularmente interessante do ponto de vista de condução (exceptuando as curvas do Tramagal) tem pormenores de paisagem muito bonitos.

Poucos quilómetros adiante, o acesso à A10 que me levaria até à Ponte das Lezírias, a mais recente de todas que percorri.

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Ponte das Lezírias

Com 12km de extensão é a 3ª maior da Europa e, curiosamente, faz a travessia sucessiva de 2 rios: o Tejo e o seu afluente Sorraia. Neste pequeno percurso paguei a 2ª portagem do dia.

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Ponte das Lezírias

Saí de imediato no nó do Carregado, rumo a Vila Nova da Rainha e Azambuja, e um pouco mais à frente virei em direcção a Valada do Ribatejo. O objectivo situava-se 3 km mais à frente desta simpática povoação ribeirinha: a Ponte Rainha D. Amélia. 

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Ponte Rainha D. Amélia

Também conhecida como Ponte de Muge, datada do início do século passado como ferroviária e convertida à rodovia em 2001, tem sentido único alternado e foi o primeiro exemplar típico da “Arquitectura do Ferro” que atravessei. Outras se seguiram a partir daqui.

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Ponte Rainha D. Amélia

Pouco adiante, em Muge retomei a EN118 até à A13 e à Ponte Salgueiro Maia. Com 4,3km, inaugurada em Junho de 2000, fica situada a jusante de Santarém. Tem a curiosidade de não ser iluminada para não interferir com um aeródromo nas proximidades….

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Ponte Salgueiro Maia

E assim cheguei à “Capital do Gótico”, Santarém!

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Rio Tejo e Santarém lá ao fundo

Sobranceira ao Tejo, com a vista das “Portas do Sol”, tão magnífica quanto famosa , atravessei a cidade e rumei à ponte que leva o seu nome…mas que de facto se chama Ponte D. Luis I.

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Ponte D. Luís I

Mais uma ponte de ferro. Inaugurada em 17 de Setembro de 1888, tem o comprimento de 1.263m.

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Rio Tejo em Santarém

E como gostamos muito de nos “posicionar” no mundo…cumpre dizer que à data da sua construção era a maior da Península, a 3ª da Europa e a 6ª do mundo… Esta tendência para “o melhor” ou “o maior” da nossa rua não justificaria um Livro de Recordes com marca de cerveja nacional? Fica a sugestão!

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Santarém ficou para trás

Alpiarça e Chamusca ultrapassadas, cheguei à Ponte da Chamusca (famosa por uns “achamentos” recentes…). De seu nome Ponte Dr. João Joaquim Isidro dos Reis, fica a meio caminho entre aquela vila e a Golegã.

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Ponte da Chamusca
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Ponte da Chamusca – pormenor
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Ponte da Chamusca

Na Golegã esperava-me um companheiro que simpaticamente se ofereceu para me acompanhar neste pedaço do percurso. Residente em Vila Nova da Barquinha, o António Rebelo foi o meu companheiro no almoço ligeiro, na sua terra. Umas belas bifanas, num local muito recomendável:

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E depois, foi o meu cicerone até ao espectacular Castelo de Almourol. E no final acompanhou-me até ao Tramagal.

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Castelo de Almourol

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Castelo de Almourol

Daqui seguímos para Ponte de Constância, ele na sua Africa Twin preta (algo familiar esta moto…) e eu na Katana.

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As motos…
– POR FALAR EM MOTOS –

 Neste ponto já tinha percorrido mais de 200km e faltavam 7 travessias. E ainda não falei da minha companheira.

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Quando surgiu a oportunidade de levar esta moto fiquei algo apreensivo. A sua configuração poderia ser algo dolorosa para as minhas costas que já conheceram melhores dias. Puro engano! O encaixe foi perfeito, a posição elevada do guiador transmite confiança na condução e acima de tudo, naturalidade na postura, que não castiga nem a “espinha” nem os pulsos.

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Suzuki Katana

A protecção aerodinâmica é suficiente para as velocidades praticadas. Efectivamente o pequeno deflector por cima da óptica cumpre a sua missão. A velocidades para lá dos máximos legais (em autoestrada, por exemplo)…não há milagres.

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A Katana e o Castelo de Almourol

Esta não será a moto ideal para estas viagens porque não tem capacidade de carga…e será pecado mortal adaptar-lhe malas ou caixotes. Fracamente…ela não merece que lhe estraguem a beleza das linhas. E digo isto porque ao natural é muito mais bonita do que as fotos mostram. Opinião subjectiva, eu sei!

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Suzuki Katana

O principal defeito que lhe encontrei foi a autonomia. Não porque seja esbanjadora do líquido precioso – fiz no total da experiência mais de 700km e média de 5,1l/100 – nada disso, mas sim porque o depósito é pequeno. 12 litros dizem, mas o máximo que lhe consegui meter foram 10l e tinha autonomia para 20 km nessa ocasião. Torna-se incómodo estar a fazer paragens para reabastecimento e é aconselhável planear o percurso para não haver azar.

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Um gesto frequente

Em andamento? Talvez pelo seu comprimento ou p ela diferença de largura dos pneus (atrás um ambicioso 195) a inserção nas curvas não será a mais linear mas, com o hábito, não constituiu qualquer problema. Agora à saída…meus amigos!!! Os mais de 130cv, um pneumático daqueles e um motor com binário que nunca mais acaba é absolutamente fantástico. O 4 cilindros sobe desde as 3000rpm sem qualquer hesitação até quase ao infinito, sendo que o infinito – o red line – está nas 11500! Nas mudanças superiores provoca aquela adrenalina que gostamos. E nas mudanças baixas, saímos das curvas que nem um foguete…e com uma banda sonora a sair do escape a condizer.

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A marca e o símbolo…

A análise completa à Suzuki Katana está em: SUZUKI KATANA – Por fim a lenda voltou a ser realidade

– DE VOLTA À ESTRADA –

A travessia que se seguiu foi a Ponte de Constância (ou da Praia do Ribatejo). Mais uma antiga ponte ferroviária, datada de 1888 e onde os comboios passaram até 1959. O seu mau estado de então, levou à construção de uma nova ao lado.

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Descida para a Ponte de Cosntância

Mais tarde, as autarquias de Barquinha e Constância aproveitaram-na para o trânsito rodoviário em 1988. Tem um único sentido alternado e é mais um exemplar da “Arquitectura do Ferro”.

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Ponte de Constância
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Ponte de Constância

O semáforo passou a verde e seguimos rumo ao Tramagal.

Em Constância terminou a parte do percurso que designei por “Lezírias”. A partir daqui, a orografia do terreno torna as estradas mais sinuosas e em permanente sobe e desce. Chamar-lhe-ei “Percurso Serrano”, sendo certo que não alcançamos grandes desníveis a não ser já mais perto do final.

Antes do Tramagal um pequeno aperitivo das curvas e contra curvas que depois me levaram até ao Rossio ao Sul do Tejo. As famosas curvas do Tramagal, que eram em décadas atrás, antes da era das autoestradas, o terror dos viajantes automobilizados.

À saída da cidade do Tramagal, um miradouro dá-nos uma vista magnífica do Tejo e ao longe vislumbra-se a próxima travessia. Foi tempo de despedidas.

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O Rio Tejo no Tramagal
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No Tramagal a selfie da praxe

Fiz-me a caminho, novamente a solo pois o António regressou a casa.

Muito obrigado Amigo! Até à próxima…

A verdadeira diversão começou aqui e só iria terminar (com um pequeno interregno) mesmo no final da jornada. As curvas do Tramagal fazem justiça ao nome. E com bom piso são uma delícia.

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As curvas…da estrada e do rio!

 Assim cheguei ao Rossio ao Sul do Tejo e quando parei para a foto da ponte, encontrei 2 companheiros que estavam em breve descanso. Percorriam a EN2.

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Os dois companheiros da Benedita que estavam a fazer a EN2

Já vos disse atrás que o calor era verdadeiramente tórrido. Os 42º faziam-se sentir ao parar e quando na moto, o “bafo” era diabólico. Não havia água que resistisse (agravado com o facto de não ter muito onde a levar).  

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A caminho do chuveiro…

Surpresa minha, os rapazes, oriundos da Benedita, estavam ensopados. Tive pena deles, pensei. Devem estar a levar uma sova, nos seus fatos. Engano!!! À boa maneira portuguesa, um deles tinha uma habilidade quase milagrosa: sabia ligar a rega do pequeno jardim onde estávamos. Tinham estado a tomar duche…vestidos! Segui o exemplo…2 vezes! Abençoados…

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Duche refrescante e…inesperado!

Quando à ponte de Abrantes, é a mais antiga desta viagem. Inaugurada em 1870, tem um comprimento de 339m. Foi construída por um consórcio francês que a conservou sob exploração até 1945, quando passou para o Estado.

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Ponte de Abrantes
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Ponte de Abrantes
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Ponte de Abrantes
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Abrantes vista da outra margem

Contornei Abrantes até Alferrarede e aqui, uma das surpresas do dia pois cheguei a um troço de estrada que não conhecia. A EN3 que me conduziria até Mouriscas.

 A EN3, como o nome indica, foi estabelecida pelo Plano Rodoviário de 1945 e era, neste, a terceira estrada de Portugal por ordem de importância depois da EN1 (Lisboa-Porto) e EN2 (Chaves-Faro). Começa no Carregado e termina em Castelo Branco. Percebe-se bem a lógica desta estrada projectada como sendo a principal via transversal do País (por curiosidade, a EN 4 vai de Lisboa a Elvas). As autoestradas e a falta de visão levaram a que esta estrada esteja hoje toda desmembrada e em alguns troços desapareceu mesmo (mais à frente falarei nisso).

Mas se toda a EN3 fosse como este pedaço que percorri…só vos digo: um deleite de condução!

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Ponte das Mouriscas

Em Mouriscas, tomei a EN358 e fiz a 11ª travessia da jornada: a Ponte das Mouriscas. Também apelidada de Ponte do Pêgo ou Ponte Rodoferroviária de Alvega. A ponte actual, com dois tabuleiros paralelos, rodo e ferroviário, data de 1992. Mas a ponte original, para comboios, foi construída em 1881.

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Ponte das Mouriscas

Novamente na EN118, passei Alvega (sempre a memória do famoso Major Alvega…) e Casa Branca onde virei para a primeira Barragem a atravessar: a de Belver.

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Rio Tejo. A caminho da Barragem de Belver

Construída em 1952 e, conjuntamente com a do Fratel que atravessei depois, são as únicas do Tejo em Portugal. Destinada à produção eléctrica, está dotada de uma pequena eclusa para a passagem dos peixes que irão desovar mais a montante mas que consta não ser verdadeiramente eficaz.

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Barragem de Belver
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Barragem de Belver

Na sua albufeira, num pequeno braço de rio logo a seguir ao paredão e na margem direita, está a Praia Fluvial da Ortiga. Aprazível com vegetação frondosa foi uma tentação…

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Praia Fluvial de Ortiga

Continuei em registo de curva e contra curva até chegar a Belver. O Castelo é imponente.

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Castelo de Belver

Situado num monte fronteiro à vila, dum lado, e com o Tejo aos seus pés. Magnifica paisagem.

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Belver e o seu Castelo

Belver tem a característica única de, por pertencer ao concelho de Gavião, ser a única parcela do Alentejo na margem direita do Tejo. Percorridas as ruas estreitas e em empedrado, inicia-se a descida para a Ponte de Belver. O cenário é fantástico.

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Belver
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Ponte de Belver

Inaugurada em 1907 e recentemente restaurada, tem no seu final um acesso ao passadiço em madeira que ao longo de quase 2km na margem do rio, nos leva até à Praia Fluvial do Alamal.

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Rio Tejo – Albufeira de Belver – Praia Fluvial do Alamal e passadiço
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Belver e o Tejo em contraluz

O troço de estrada que vai da Ponte de Belver até à sede de concelho, sinuoso e a subir, deixou-me novamente na EN118. O pedaço que se seguiu, ao longo de quase 20km é sempre a direito. Com rapidez encontro o IP2 perto de Arez.

Hora de decisões!

– O FINAL DA JORNADA –

Um pouco antes de Arez, a EN118 entronca no IP2. Em frente, para Nisa e a EN18, à direita rumo a Portalegre e à esquerda, para a Barragem do Fratel, a penúltima travessia. O final estava próximo.

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Barragem do Fratel

Esta Barragem, construída em 1973, é fundamental tal como a de Belver que passei antes, para o controlo do caudal do Tejo para lá da produção de electricidade. E talvez tenha sido, na época da sua construção, este o aspecto principal para o projecto ir em frente porque submergiu um núcleo importante de pinturas rupestres e ainda um troço do muro de sirga do Rio Tejo.

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Depois da Barragem do Fratel, o Tejo segue o seu curso…

É também um ponto de passagem obrigatório para quem vem de norte, Beira Alta e Beira Baixa, pela A23 e aqui inflecte rumo a sul.

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Barragem do Fratel

Neste ponto decidi reflectir sobre o caminho a seguir. O objectivo era a última travessia, a Ponte de Ródão. Tinha duas formas de lá chegar:

– a primeira, que era o caminho previsto, implicava seguir pela A23 (porque esta se sobrepôs à antiga EN3 que desapareceu em alguns troços não deixando alternativa), sair para Fratel (obviando o pagamento de portagens), retomar a EN3 até esta encontrar a EN241 perto do Cerejal e então descer em diracção a Vila Velha de Ródão  e ao rio. Seriam cerca de 30 km, não muito interessantes, diga-se.

– a segunda, subverter o principio da alternância de margens, regressar até ao cruzamento de Arez, aqui virar para Nisa e de seguida pela EN18 até à Ponte de Ródão. Percurso  por estrada, com a enorme vantagem de percorrer integralmente o troço de 18k da EN18 da Serra de Nisa (um dos bons pedaços de estrada de curvas que conheço) até à Ponte de Ródão. 34km no total, um pouco mais que a primeira opção, mas muito mais divertido.

Já perceberam, optei pela segunda. E não me arrependi como vos contarei. 

Deleitado com a EN18 cheguei ao espectacular cenário da Ponte de Ródão.

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Ponte de Ródão
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Ponte de Ródão

Inaugurada em 1888, mais uma ponte centenária e que sempre foi essencial na ligação da Beira ao Alentejo e vice-versa.

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Ponte de Ródão

Acresce ainda a magnífica vista do rio e da garganta natural que ali o aperta no seu curso: as Portas de Ródão.

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Portas de Ródão

As 15 travessias estavam concluídas!!!

Faltava apenas o troço final até ao ponto onde o Tejo é exclusivamente nosso: a Barragem de Cedillo.

A tarde ía já avançada, o cansaço atacava e somava-se também alguma desidratação. O calor, que ainda permanecia nesta altura, tinha sido violento ao longo de quase toda a jornada. O que implicava cuidados redobrados na condução pois a forma fisica já não era a melhor.

Alguns minutos de descanso, até porque tinha que atravessar a passagem de nível da Linha da Beira Baixa e esta estava fechada para o Intercidades rumo a Lisboa. 

Caminho desimpedido, regressei por onde tinha vindo: EN18. Mas desta feita apenas até metade do caminho pois virei à esquerda em direcção a Vinagra, Pé da Serra, Salavessa e Montalvão. Estradas municipais, estreitas mas em bom estado. Sinuosas, pelo meio da serra de Nisa. E sem trânsito. A desertificação do interior é uma realidade. Quase não se vê vivalma.

A partir de Montalvão, 7km a descer até à Barragem de Cedillo.

Esta é uma barragem curiosa. É totalmente espanhola, mas as suas duas extremidades estão assentes em território português. Situa-se no preciso local em que o Rio Sever desagua no Tejo, pelo que a albufeira se espraia pelas bacias dos dois rios. Estamos na fronteira com Espanha e parte do tabuleiro é atravessável, permitindo a entrada no país vizinho….mas só ao fim de semana!

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Barragem de Cedillo
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Barragem de Cedillo

Estava concluído o desafio. O POR ESTE RIO ACIMA chegava ao fim.

Eram quase 20h e ainda fazia calor. O dia tinha sido tórrido, o que tornou a jornada que no papel não era complicada, num verdadeiro desafio à minha resistência física. Se durante o dia bebi bastante água…depois de concluído, à chegada a casa (aqui ainda me faltavam 30km) bebi muito mais. estava verdadeiramente desidratado.

Mas um desafio só o é, se for difícil. E as coisas fáceis não têm o mesmo sabor.

Quando à minha fiel companheira? Pois, como se nada fosse com ela! Impávida e serena, como quem pede mais…

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A Katana junto à Barragem de Cedillo (para lá do portão é Espanha)

A Suzuki Katana foi uma belíssima opção pois o seu conforto tornou o percurso muito mais suportável. Diga-se que a maior parte do percurso teve asfalto em bom estado. Porque quando fica irregular e saltitante, a moto tem mais dificuldade pois as suspensões são bastante firmes. Um pequeno senão que é mais que compensado com a segurança e aprumo com que se lança às estradas mais sinuosas.

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A Suzuki Katana no final de Por Este Rio Acima

Quando passado uns dias a entreguei…deixou saudades!

E pronto! …Está concluído este desafio de Viagens ao Virar da Esquina!

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O Tejo e as suas travessias: POR ESTE RIO ACIMA
NOTA

Este é o texto original que, depois de editado e resumido por limitações óbvias de espaço, foi publicado a 31 de Julho na Revista Motojornal. Pode ser lido em“VVE na Imprensa”

Motojornal#1488
Motojornal #1488 – 31 de Julho 2020
– A 16ª TRAVESSIA –

Duas semanas depois do POR ESTE RIO ACIMA, descobri por mero acaso a 16ª travessia do Tejo.  Fica no sítio apropriadamente chamado Barca do Tejo, junto à aldeia de Amieira do Tejo.

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A Amieira é uma terra ancestral com muita história, com um orgulhoso castelo que desempenhou papel fundamental na defesa do Tejo e também de Portugal.

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Por ruas estreitas chegamos ao Castelo da Amieira

É monumento nacional e foi mandado construir pelo Prior do Crato no século XIV , o pai de Nuno Álvares Pereira.

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Castelo de Amieira do Tejo
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Castelo de Amieira do Tejo

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Amieira do Tejo – Igreja do Calvário

Descemos cerca de 3km de estrada asfaltada mas estreita, em que a aproximação ao Tejo tem enorme beleza.

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Rio Tejo
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A descer para o Rio Tejo
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Rio Tejo

Lá chegados a travessia faz-se…por barca!

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A nova Barca d’Amieira
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A nova Barca d’Amieira

A barca (esta é moderna pois a nova travessia, que evoca uma muito antiga, foi inaugurada em Setembro de 2019) permite o tráfego entre a Barca de Amieira e S. José das Matas, na outra margem. E a importância desta travessia é maior do que à primeira vista pode parecer: Em S- José das Matas fica o apeadeiro de Amieira do Tejo – Envendos da linha de caminho de ferro da Beira da Baixa.

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Linha da Beira Baixa (aproximação ao apeadeiro de Amieira do Tejo – Envendos)

Tenho que lá voltar numa próxima oportunidade e experimentar a travessia na barca. Mas fica o registo para quem queira aproveitar.

AGRADECIMENTOS

Para terminar, um agradecimento ao representante da Suzuki em Portugal, a MOTEO PORTUGAL, SA que me permitiu experimentar a Suzuki Katana. Foi uma espectacular companheira no “Por Este Rio Acima”!

Devo ainda referir e agradecer a simpatia do concessionário JPM Motos em Frielas.

Finalmente, muito obrigado pelo apoio e a publicação na Motojornal (revista #1488 de 31 de Julho). Pode ser lido em “VVE na Imprensa”

Suzuki Katana – Por fim a lenda voltou a ser realidade

A “Katana” é uma espada tradicional japonesa que era usada pelos samurais no ancestral Japão feudal. Caracteriza-se por ter uma lâmina curva de um só fio, com um protector e um cabo longo para acomodar as duas mãos.

Tive a oportunidade de experimentar a Suzuki Katana, versão 2020. A curiosidade era enorme, pois trata-se de um nome mítico da história do motociclismo nos últimos 50 anos.

Coincidindo com o desafio “Por Este Rio Acima”, a oportunidade foi ideal. Com sinceridade digo que estava um pouco apreensivo, pois à partida a configuração da moto não seria a indicada para uma viagem longa. Puro engano!

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Suzuki Katana

A actual tendência, a que alguns chamam neo-retro, está aqui bem evidenciada. As suas linhas agressivas e modernas não deixam, ainda assim, de nos remeter para o modelo original num trabalho de design muito bem conseguido.

O modelo ensaiado era totalmente preto e devo dizer que a primeira (não última) surpresa foi que é muito mais bonita na realidade do que podemos antever pelas fotos. Naturalmente que é uma afirmação subjectiva. Mas pelas reacções que fui presenciando, há muito quem concorde comigo.

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Um pouco de história – como nascem as lendas

Em primeiro lugar situemo-nos: a “Katana” é uma espada tradicional japonesa que era usada pelos samurais no ancestral Japão feudal. Caracteriza-se por ter uma lâmina curva de um só fio, com um protector e um cabo longo para acomodar as duas mãos. Surgiu no período do domínio do Xogunato Ashikaga, designado por Período Muromachi, que decorreu entre 1336 e 1573. A Katana era a arma típica dos samurais sendo que uma sua variante mais curta, a Wakisashi era utilizada pelos Ninjas. Normalmente a Katana era usada em campo aberto e a Wakisashi para combate no interior de edifícios.

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Katana – a espada dos Samurais

Pois bem, a Katana era uma arma de combate utilizada em campo aberto. Tem tudo a ver com o que se segue!

A indústria motociclística japonesa (e não só) gosta de atribuir designações “agressivas”, principalmente para os seus produtos mais radicais. No caso da Suzuki, para lá da Katana, recordemos também a Hayabusa – nome japonês do falcão peregrino, não só a ave mais rápida mas também um predador letal (com especial predilecção por melros – blackbirds – mas isso é outra história…).

Por isso, quando no início da década de 80 do século passado, a Suzuki lança “a moto de série mais rápida do mundo” (assim ela era designada pelo fabricante japonês), o seu nome tinha que ser igualmente acutilante. Katana foi o escolhido.

LOGOTIPO

Nesta altura ainda eu não tinha acordado para o mundo das motos. Cheguei tarde, eu sei! Por isso, vou recorrer à minha “biblioteca” e tentar contar um pouco da história que julgo interessante. Até porque se trata de uma moto lendária.

Nos últimos anos da década de 70, uma empresa alemã de seu nome Target Design tentava sobreviver no mundo motociclístico. Não com grande sucesso, diga-se. De notório, apenas um protótipo para a MV Agusta mas que não passou disso mesmo. Era composta por 3 elementos que mal sabiam que iriam ser responsáveis pelo desenho de uma moto mítica.

MVAgustaTarget
Protótipo MV Agusta por Target Design

Eram eles, Hans-Georg Kasten, Jan Fellstrom e Hans Muth. Até que o importador Suzuki na Alemanha lhes cedeu uma GSX1100. E foi sobre esta que construíram o primeiro protótipo. Saiu tão bem que o importador resolveu apresentá-la na Feira de Colónia de 1979. E tão bem correu, quer junto do público, quer principalmente junto dos representantes da casa-mãe japonesa, que resolveram avançar para o seu desenvolvimento visando a produção.

Desenho Katana
Suzuki Katana – Desenho de Target Design
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Suzuki Katana – Desenho de Target Design

Foi apresentada nos salões de 1980 e chegou ao público em 1981 mantendo-se em catálogo até final da década.

Katana by Target Design
Suzuki Katana por Target Design

Nos EUA, a gama GSXF, com a introdução dos motores refrigerados a óleo, continuou a utilizar a designação Katana até 2006. Mas tal não aconteceu na Europa. E convenhamos…não era a mesma coisa. Nem a motorização nem, muito menos, as linhas.

Tal como a Suzuki Katana AY50. Uma scooter de 50cc, produzida a partir de 1997. Um sacrilégio! Ou uma forma excelente de estragar um nome mítico…ainda bem que a coisa se manteve discreta.

Publicidade Katana
Suzuki Katana – Publicidade

A Suzuki Katana original não era revolucionária do ponto de vista mecânico (diga-se que a actual também não) aproveitava o quadro e a motorização da GSXR 1100. Mas o que foi verdadeiramente inovador para a época está no design. Foi a primeira moto cujo desenho dos seus diversos elementos – semi-carenagem frontal e óptica, depósito, banco e traseira – foi tratado de forma integrada, como um todo, e não, como até aí era prática, de forma separada que depois se procurava conjugar na montagem (o mesmo depósito ou a mesma óptica podiam servir para distintos modelos).

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Esta foi a revolução trazida pela Katana. A partir daí, o desenvolvimento de novos modelos passou a ter um novo paradigma.

Em resumo, tinha um motor tetracilíndrico de 1.074cc. refrigerado a ar com dupla arvore de cames à cabeça e 16 válvulas. Debitava 111cv às 8.500rpm e 96Nm às 6.500rpm – nada mau para a época!. A caixa era de 5 velocidades, quadro duplo berço em aço, suspensão dianteira com sistema “anti-dive” e traseira com duplo amortecedor reguláveis. A travagem estava entregue a duplo disco dianteiro e mono disco traseiro, todos com 275mm de diâmetro.

Pesava 232kg e, curioso, tinha roda de 19” à frente (17” na traseira). Faz lembrar algumas trails actuais. Só que esta…tinha avanços e bastante chegados ao centro da moto. Uma posição de condução sui generis, com o assento a 790mm. Não devia primar pelo conforto. E para justificar o qualificativo de “moto de série mais rápida do mundo”, velocidade de ponta a rondar os 222km/h.

Ao longo da década de 80, surgiram outras versões com menores cilindradas. Beneficiavam do aspecto…mas não da performance. Talvez por aí não tenham tido o sucesso da irmã maior. Estas variantes tiveram 550, 650 ou 750cc.

Catálogo Katana

A potência e a velocidade, magníficas para a época mas, principalmente, as suas linhas que nada tinham a ver com o que até aí existia, fizeram da Suzuki GSX 1100S Katana, de seu nome completo, uma moto mítica.

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Suzuki Katana – Publicidade

Foi esse misticismo – ou saudosismo – que fez com que a Suzuki pensasse aproveitar a tendência de recuperar antigas linhagens e dar-lhes uma roupagem moderna e dessa forma, recuperar o nome Katana. E desta feita sem mais nada. Simplesmente Suzuki Katana!

A Suzuki Katana do Século 21

Para um designer, a melhor encomenda é aquela que parte de uma folha em branco e um briefing pequenino: muito espaço para criatividade e poucas restrições. O ideal.

Pois. Para recuperar uma imagem mítica, fazer renascer uma lenda…e ser bem sucedido, é precisa muita imaginação para encaixar todas peças, as antigas e as novas, no novo puzzle. Na Suzuki tentaram, apesar das restrições para obedecer herança genética do modelo antigo, e conseguiram.

A primeira tentativa visível, foi em 2005 no Salão de Tóquio com o protótipo Stratosphere. Apesar do acolhimento positivo e de alguma manifestação de vontade de passar a produção, tal não aconteceu. Depois em 2017, no Salão de Milão, o protótipo Katana 3.0 Concept voltou a colher aplausos. E relevantes, porque desta feita a promessa concretizou-se: aí esta a Suzuki Katana. Chegou aos stands em 2019.

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Vamos lá falar da nova Katana! Já disse que é muito bonita? Acho que sim…

Não há qualquer dúvida que o espírito está lá. A lenda renascida. Mas também lá estão os toques de modernidade, sem exagero.

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Comecemos pelas entranhas: o motor é o 999cc da GSX-R 1000, versão de 2005-2008 (por ter maior curso e daí melhor resposta a regimes mais baixos – acho que resulta, porque a resposta é excelente), naturalmente tratado de acordo com as novas normas Euro: 150cv às 10.000rpm e 108Nm às 9.500. Não está mal para começo de conversa.

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A Suzuki optou pela simplicidade. Não carregou a moto com electrónicas sofisticadas. Apenas o controlo de tracção (3 níveis e desligado). E facilmente alterável a partir do punho esquerdo.

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A linha esguia e angulosa característica da irmã mais velha está lá. Como também o farol quadrangular. Já o quadro é um dupla trave em alumínio. O braço oscilante no mesmo material é também oriundo de uma GSX-R 1000, mas de 2016. E por falar em heranças, lá estão as pinças radiais Brembo de 4 êmbolos utilizadas na geração actual da…pois claro, GSX-R 1000!

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Os 825mm de altura do banco, associados a um guiador alto e ao correcto posicionamento das pézeiras , resultam numa posição de condução muito confortável e natural.

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O cansaço sentido no final do “Por Este Rio Acima” teve a ver com o extremo calor encontrado. Não com o efeito da Katana 400 e tal quilómetros depois. Pelo contrário. É uma excelente viajante. Com dois reparos fundamentais:

  1. O minúsculo écran, para lá de esteticamente perfeito, dá uma protecção eficaz se respeitarmos os limites legais de velocidade. Até para lá disso…mas não faz milagres. Esta não é moto para grandes tiradas em auto-estrada. Já em estradas sinuosas…a protecção é adequada, vemos tudo à nossa frente e a moto dá um gozo fantástico.
  2. A autonomia… a moto é razoavelmente económica. Se respeitarmos os tais limites, é perfeitamente plausível uma média a rondar os 5l/100, mesmo se nos entusiasmarmos um pouco nalgum troço mais sinuoso e “divertido”. Se lhe apertarmos as goelas…bem, tal como qualquer outra vai reflectir o que fizermos no punho direito na média de consumo. O problema grande é outro. A capacidade do depósito anunciada é 12 litros. O máximo que consegui meter foram 10 litros e tinha cerca de 20km de autonomia. Ou seja, em andamento normal, teremos cerca de 200km, mas…para os parâmetros actuais é curto. Acresce que o indicador de autonomia, mesmo com ela atestadinha até ao gargalo só dá cerca de 190km, mas depois podemos fazer 20 ou 30 antes que comece a reduzir…. Nada com que não se consiga viver. Pelo contrário. Basta habituarmo-nos. E se a tirada for longa, jogar com alguma cautela para não ficarmos agarrados no meio de alguma serra…

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Apontados os defeitos, tarefa despachada, vamos aos elogios:

Dá uma prazer tremendo a conduzir. Diria que a posição de condução não é relaxada mas sim tranquila. Os travões são eficazes e a embraiagem deslizante…faz o seu papel: passagens de caixa sem qualquer problema, fácil e precisa. Nem se dá por ela!

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Na condução em estrada, senti alguma necessidade de adaptação nas entradas em curva. Convém referir que 2 dias antes tinha conduzido uma super desportiva com poucos mais cavalos que esta Katana. Obviamente, a forma de conduzir é totalmente diferente e isso sente-se por exemplo, na abordagem às curva. Mas foi questão de com os quilómetros, ir mudando o chip.

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Ainda assim, julgo que a moto também tem características que contribuem para esta peculiaridade. Tal se deverá ao conjugar de 3 factores: a potência e o binário muito disponíveis na roda de trás desde baixas rotações, um gigantesco 195 na roda de trás (feito de propósito para a Katana) e o comprimento da moto. E deverá ser este comprimento associado ao facto de a roda da frente ser “normal” que necessitou de alguma aprendizagem na entrada das curvas. Mas nada de muito complicado. Apenas a necessitar de uma adaptaçãozinha (se calhar devida também à moto anteriormente conduzida…isto de mudar o chip de um dia para o outro tem que se lhe diga).

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O banco tem uma textura adequada e para a minha envergadura estava perfeito, com reflexo no tal conforto já referido. A suspensão é firme, ou seja, se o piso for demasiado irregular isso sente-se. Por outro lado, em estrada, nas mudanças de inclinação, nas acelerações ou travagens, tudo faz sem que sintamos qualquer insegurança ou reacção menos própria. Irrepreensível é o termo.

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Contrariamente à sua antecessora, não será moto muito conveniente para pendura. Além de não ter pegas o tamanho do banco também é reduzido. A vantagem é que dessa forma temos uma traseira da moto muito limpa, agressiva e com o pequeno guarda lama traseiro a sair do braço oscilante a acentuar esse toque radical.

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Apesar de não ter muitos dos gadgets da moda – acelerador ride-by-wire, unidade de inércia – IMU, modos de condução, quick-shifter, cornering ABS ou chave contactless, etc. – tem os 4 níveis de controlo de tracção já referidos, tem o sistema de apoio a baixa rotação (que visa evitar que a moto “vá abaixo” nestas condições) e ainda o sistema de apoio ao arranque (basta um pequeno toque no starter para que o motor fique a trabalhar).

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O painel de instrumentos é de fácil leitura e está bem arrumado (muito na linha do da V-Strom que experimentei algumas semanas atrás). Teria sido uma excelente ideia (na minha opinião, claro!) se tivessem feito uma réplica do da antiga Katana no LCD.

A imagem inicial, quando ligamos a moto, contém o símbolo da Katana.

A operação parte do simples comando no punho esquerdo. Um botão “Mode” e as opções “Up” e “Down”.

Clicando no “Mode” podemos regular o nível pretendido do controlo de tracção: 1 a 3 ou desligado.

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Se clicarmos no “Up”, fazemos rodar as duas primeiras linhas de informação (do lado esquerdo inferior do ecran. Obtemos alternadamente o odómetro e a autonomia ou uma escala com o consumo instantâneo.

No “down” fazemos rodar sequencialmente a informação nas duas linhas abaixo: Trip A + consumo médio, Trip B + consumo médio e indicação da carga da bateria e a escla para regulação da iluminação do écran.

Simples, não é?

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A Suzuki Katana foi uma fantástica companheira de viagem. Nunca se negou a nada, manteve a compostura em todas as circunstâncias e, meus amigos….aquele motor a sair de baixa rotação até quase ao infinito – há quem lhe chame red-line – é impressionante.

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Em mudanças baixas, sente-se um pontapé nas costas e a rapidez com que chegamos lá acima e passamos de caixa é entusiasmante.

Se for em mudanças mais altas, bem aí diria que pode assustar os mais incautos…. Não é só pela potência. É a forma como ela passa à roda de trás. E a configuração da moto (a volumetria e a posição em que estamos sentados) ajuda a amplificar estas sensações. E não é de sensações fortes que gostamos?

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Em resumo, a Suzuki Katana é uma moto que me deixou impressionado, surpreendido face à expectativa inicial e…agora, já com alguma saudade.
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Para terminar convém responder à questão: a quem se destina uma moto como esta Suzuki Katana?

Claramente a quem pretenda uma moto muito divertida, potente, com um motor redondo e sempre disponível, fiável (mecânica experimentada e pouca intervenção electrónica) e muito bonita. Com uma herança genética bem assumida, permitindo ter uma moto moderna mas com um forte apelo à história do motociclismo. E a quem serve?

– para grandes viagens? Não será a melhor;

– para o trânsito citadino? Se tiver que ser;

– é uma moto utilitária? De modo algum (e se alguém lhe meter uma top case ou malas laterais comete um grave crime!);

– para levar pendura? Pode ser…mas vão sofrer os dois;

Então a quem? Para quem a queira levar numas voltas de fim de semana, com estradas a sugerir empenhamento na condução, em que saímos de manhã cedo e chegamos já de noite, daquelas que terminamos com um sorriso de orelha a orelha, aí está a Katana no seu habitat.

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E, convenhamos, dá um grande look quando chegamos junto do nosso grupo de amigos!

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Para terminar, um agradecimento ao representante da Suzuki em Portugal, a MOTEO PORTUGAL, SA que me permitiu experimentar a Suzuki Katana. Foi uma espectacular companheira no “Por Este Rio Acima”!

E também devo referir e agradecer a simpatia do concessionário JPM Motos em Frielas.

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Coser o Rio Tejo como se um pano fosse… (final)

15 travessias do nosso maior rio, o Tejo, de Lisboa até à ponte de Ródão que une a Beira ao Alentejo com o rio como testemunha.

15 travessias de Lisboa a Ródão

4. Objectivo concluido. O regresso.

Faltava a sobremesa! Falei nela um pouco atrás…

Desde a Ponte de Ródão até Nisa, pela EN18, são cerca de 20 km do melhor que pode haver para fazer de mota. Curvas para todos os gostos, bom piso, pouco trânsito, uma paisagem com uma certa beleza agreste….foi mesmo a cereja no topo do bolo!

E assim chegámos a Nisa. Era tempo de reabastecer as montadas.

Cabe aqui fazer um intervalo na descrição. No início mencionei que se fosse hoje, complementaria o percurso e fá-lo-ia desde a foz (em Oeiras) até ao ponto em que o Tejo passa a ser integralmente português. Esse ponto fica no concelho de Nisa, na fronteira com Espanha e tem uma curiosidade adicional: a barragem de Cedillo (ou embalse de Cedillo em castelhano). Trata-se de uma barragem inteiramente espanhola, cujo paredão faz parte da fronteira e que está construído no local exacto em que o Tejo não só entra em território português (na margem norte já há alguns quilómetros que o é) como também é a foz de um dos afluentes, o Rio Sever que daí para sul separa Portugal de Espanha. É uma barragem que simultaneamente bloqueia a passagem de dois rios, daí a sua curiosidade.

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É possível atravessá-la até metade do paredão e depois tomar a estrada que leva à povoação de Cedillo e daí partir para o interior de Espanha, nomeadamente Cáceres. Todavia, nem sempre esta travessia está aberta ao público pelo que é melhor não contar com ela se o objectivo for prosseguir para Espanha.

De destacar que entre Nisa e Montalvão (EM359-3) temos mais cerca de 20 km de estrada espectacular. Estreita mas com bom piso e com algumas curvas em ângulo recto (entre outras mais ou menos pronunciadas) capazes de nos deixarem com um sorriso de orelha a orelha dentro do capacete! Aqui já se sentirá o cansaço dos quilómetros mas vale a pena. Montalvão é uma pequena povoação que tem um miradouro nas ruínas do seu castelo com uma vista deslumbrante. Podemos ver a Serra de S.Mamede a sul, Serra de Nisa a oeste, Serra da Gardunha (e eventualmente a da Estrela se a visibilidade for óptima) a norte e as serranias espanholas a leste.

De Montalvão à barragem de Cedillo, a estrada é menos interessante, com pior piso e com uma inclinação na aproximação à barragem algo significativa.

Depois, se objectivo for o regresso, é fazer o caminho inverso até Nisa e aí optar pela via mais conveniente. Ou então, em Montalvão rumar a Castelo de Vide e … mais um dia ou dois para desfrutar de tudo o que a região de S. Mamede tem para oferecer: o triângulo Castelo de Vide, Marvão e Portalegre. Asseguro que vale a pena! E que estradas tem…

Feito este pequeno intervalo, voltemos ao nosso relato. Acabámos de abastecer em Nisa e com um simples telefonema, porque não uma visitinha à família? Assim foi. Em Gáfete pudemos descansar um pouco, saborear um lanche com algumas iguarias regionais (esta é a zona do queijo de Nisa e também profícua em enchidos) e finalmente fazermo-nos à estrada de regresso a Lisboa depois de um breve descanso.

Gafete

Desde o início dissemos que iríamos evitar ao máximo as AE. Assim fizemos.

O regresso foi por Crato, Alter do Chão, Ponte de Sor, Montargil, Couço.

Aqui, foi obrigatória uma paragem. Há bastante tempo que viajávamos de noite e a certa altura comecei a ter dificuldade em algumas curvas pois, percebi depois, estava com dificuldades de visão. A estrada, nomeadamente entre Montargil e Couço era bastante escura,  bordejada de árvores e com piso bastante irregular. Algo se passava. Quando parámos e tirei o capacete percebi: a viseira estava totalmente coberta por mosquitos! Dodot em acção, limpeza efectuada, visibilidade óptima e aí vamos nós outra vez: Azervadinha, Coruche (um pouco ao lado) e Infantado. Aqui optámos por entrar por Vila Franca de Xira pelo que tomámos a EN10, pelo Porto Alto. Depois A1 e estávamos em Lisboa. Mais de 700 km depois, cansados, mas mais do que satisfeitos.

E concretizámos a nossa homenagem ao Rio Tejo. Percorremos as suas duas margens, fizémos as 15 travessias entre elas, visitámos as muitas terras que ficam no caminho, vimos paisagens espectaculares e bastante diversificadas e desfrutámos de alguns excelentes troços de estrada a pedirem uma condução um pouquinho mais empenhada. Muito bom!

É evidente que um percurso com esta dimensão, a fazer num só dia, retira a possibilidade de contactos com as muitas pessoas com que nos fomos cruzando. Para tal, seria necessário mais tempo, como é óbvio. A camaradagem entre os companheiros de viagem foi extraordinária…a pedir a repetição em outros projectos e destinos.

O que já aconteceu, obviamente.

Obrigado pela companhia e camaradagem, Filipa, Filomena, Jaime e Nuno!

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Para terminar, o resumo das travessias:

  1.  Ponte Vasco da Gama – km 2
  2. Ponte 25 de Abril – km 62
  3. Ponte Marechal Carmona – km 89
  4. Ponte da Lezíria – km 120
  5. Ponte Rainha D. Amélia – km 150
  6. Ponte Salgueiro Maia – km 172
  7. Ponte de D. Luís – km 180
  8. Ponte João Joaquim Isidro dos Reis – km 210
  9. Ponte da Praia do Ribatejo – km 228
  10. Ponte Rainha D. Leonor – km 248
  11. Ponte das Mouriscas – km 266
  12. Barragem de Belver – km 281
  13. Ponte de Belver – km 294
  14. Barragem do Fratel – Km 314
  15. Ponte das Portas de Ródão – km 341

Anterior:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(1)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(2)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(3)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse… (3)

15 travessias do nosso maior rio, o Tejo, de Lisboa até à ponte de Ródão que une a Beira ao Alentejo com o rio como testemunha.

15 travessias de Lisboa a Ródão

3 – De Alvega a Nisa. Objectivo cumprido!

Voltamos então à EN118 e logo à localidade de Alvega (sim, tem tudo a ver com o famoso Major Alvega dos livros de histórias aos quadradinhos – a saudosa colecção “O Falcão” – e da mais recente série televisiva… mas esta é uma outra história).

Depois de Alvega, cerca de 6 quilómetros mais à frente em Casa Branca, mesmo dentro da localidade e numa curva apertada à direita, temos a placa que indica a Barragem de Belver (é preciso alguma atenção porque é a única indicação, embora haja uma alternativa alguns quilómetros mais à frente, também ela parcamente sinalizada). E esta travessia será a primeira de duas que não será feita em ponte mas sim pelo paredão da barragem.

A Barragem de Belver, uma das duas situadas no Rio Tejo no seu percurso português , cuja construção foi finalizada em 1952, possui uma altura de 30 m acima do terreno natural e um comprimento de coroamento de 327,5 m. A capacidade instalada de produção de energia eléctrica é de 80,7MW. É dotada de uma pequena eclusa para passagem de peixes mas que consta ser pouco eficaz.

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Na margem norte encontramos uma pequena povoação de casas todas iguais que presumimos seriam as residências dos trabalhadores da central hidroeléctrica mas que os tempos das automações terão afastado, pois a maioria tem o aspecto de estarem desabitadas. Não vimos vivalma e aqui as primeiras hesitações. Convém referir que esta viagem foi efectuada sem qualquer recurso a GPS. E a escala dos mapas não nos dava aqui grande ajuda. Lá encontrámos alguém, montado num “potente” ciclomotor Zundapp ou similar, que nos indicou o caminho através de estradas municipais em direcção a Belver que ficava ali a meia dúzia de quilómetros.

Acercámo-nos de Belver vindos de poente e ao virar de uma curva lá estava: o Castelo de Belver, empoleirado no cimo de um monte fronteiro a outro onde se situa a vila. Lindo! E a merecer uma visita mais pormenorizada noutra ocasião.

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Vila branca, de ruas estreitas, muitas delas em empedrado, onde no alto temos uma vista deslumbrante para o Tejo e a para a ponte que leva o nome da terra e que iríamos atravessar de seguida, Belver é nome a reter.

Descemos para a ponte de Belver, na Estrada Nacional 244, que une Belver a Gavião. Foi inaugurada em 1907, é uma ponte com tabuleiro metálico e tem o comprimento de 239 metros divididos por quatro vãos. À saida da ponte existe um passadiço em madeira com cerca de 3 km que vai dar à Praia Fluvial do Alamal. Uma pérola do Rio Tejo…

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O destino agora era Gavião onde iríamos encontrar novamente a nossa “amiga” EN118. Faltavam-nos agora 2 travessias e o dia já ía longo. Este percurso entre Belver e o Gavião veio-nos alegrar um pouco pois apesar de pouco extenso, tinha alguma condução, com curvas e contra curvas bem encadeadas. Um aperitivo para a sobremesa que teríamos no final…

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Atravessámos Gavião, tomámos a EN118 até ao cruzamento onde esta encontra o IP 2, um pouco antes de Arez (cerca de 20km). Viramos a norte (direcção A23/Lisboa/Castelo Branco), em boa estrada mas que a certa altura nos apresenta uma descida inclinada, com curvas algo perigosas e o barranco à nossa direita. Começamos a ver a albufeira da Barragem do Fratel que rapidamente iremos atravessar para logo, em subida igualmente íngreme, chegarmos ao acesso à A23.

A Barragem de Fratel tem uma altura de 43 m acima do terreno natural e uma cota de coroamento de 87 m. A capacidade instalada de produção de energia eléctrica é de 130 MW.

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A construção foi finalizada em 1973. A albufeira da barragem submergiu uma boa parte dos núcleos de gravuras rupestres do Tejo e um troço do antigo muro de sirga do Tejo.

Para além da sua importância económica na produção de energia eléctrica, esta barragem bem como a de Belver que lhe fica a jusante, têm um papel muito importante na regularização do caudal do rio Tejo e na prevenção/minimização das cheias que ciclicamente ocorrem.

O único troço em AE e com portagem (pórticos) desde que passámos Vila Franca de Xira espera-nos mas que é obrigatório para chegarmos a Vila Velha de Ródão sem nos perdermos numa teia de pequenas estradas locais. Entramos no nó 16 (Gardete) e saímos no nó 18 (Fratel). A aproximação a Vila Velha de Ródão faz-se no sentido norte-sul e atravessamos a vila para nos acercarmos da ponte que une a Beira-Baixa ao Alto Alentejo e que até à recente AE era a única via de comunicação rodoviária entre as respectivas capitais: Castelo Branco e Portalegre. E uma das mais inportantes no interior do País. A A23 e o IP2 retiraram-lhe essa importância e carga rodoviária e atualmente serve praticamente para unir os dois concelhos fronteiros: Vila Velha de Ródão e Nisa.

A ponte de Vila Velha de Ródão é a 15ª travessia e praticamente o final da nossa missão!

Ródão é hoje mais tristemente célebre pelo seu presente ligado às fábricas de celulose, ao cheiro nauseabundo quase permanente e aos episódios de poluição do rio, mas o seu passado é antiquíssimo. Os mais antigos vestígios do passado de Ródão são de natureza geológica e estão datados de cerca de 600 Milhões de anos. Existem fósseis que testemunham a existência de um mar que chegava a Ródão… Muitas outras comunidades se forma estabelecendo por aqui na pré-história tendo deixado a sua marca no complexo de arte rupestre do Tejo, com cerca de 25 000 gravuras.

Os romanos por aqui andaram também, principalmente para explorarem a extração de aluvião de ouro e cobre. A navegabilidade do Tejo foi sempre fundamental para o desenvolvimento de intensa actividade económica nomeadamente pelo Porto do Tejo que dava passagem a uma estrada comercial e pastoril, fundamental para assegurar o fluxo de mercadorias do interior para o litoral e do litoral para o interior e que tinha em Ródão o seu local privilegiado. Até ao Porto do Tejo chegavam as embarcações que subiam o rio, auxiliadas pela força humana e de bestas que ajudavam a vencer os rápidos, usando para tal os muros de sirga que ladeiam as margens do rio.

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Estrategicamente, a sua localização era também fundamental. E aqui sobressai inevitavelmente o monumento natural que são as Portas de Ródão. Duas muralhas rochosas que estreitam e apertam o curso do rio e cuja vista da ponte que iremos atravessar é espectacular. Não entrando já na ponte, é possível por um caminho à sua direita encontramos um ponto onde a vista para a ponte e para as Portas de Ródão é espectacular. E ainda mais se subirmos um pouco mais, até ao castelo de Ródão, torre de vigia no alto das Portas… imperdível!

A Ponte de Portas de Ródão ou Ponte de Ródão fica na Estrada Nacional 18 em Portas de Ródão. Foi inaugurada em 1888, é uma ponte com tabuleiro metálico e tem o comprimento de 167 metros, apoiada em dois pilares centrais de granito. Foi alvo de obras de beneficiação concluídas em 1996. As vias de rodagem ocuparam o antigo espaço dos passeios e alargou-se o tabuleiro para criar novos passeios para peões com 75 cm de largura.

Atravessámos e estava concluído o nosso objectivo. 15 travessias, efectuadas alternadamente de norte para sul e vice versa, 13 pontes e 2 barragens. Nesta altura estávamos quase a perfazer 400 km, a tarde aproximava-se do seu fim e era tempo de regressar pois não pretendíamos pernoitar no caminho.

Anterior:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(1)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(2)

A seguir:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(final)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse… (2)

15 travessias do nosso maior rio, o Tejo, de Lisboa até à ponte de Ródão que une a Beira ao Alentejo com o rio como testemunha.

15 TRAVESSIAS DE LISBOA A RÓDÃO

2 – De Muge a Alvega, subindo o Tejo!

Tínhamos passado Muge. Pouco mais de uma dezenas de quilómetros adiante ficava a Ponte Salgueiro Maia. Está situada junto ao Vale de Santarém, a jusante desta cidade, no IC10 e tem um comprimento total de 4,3km (ponte e viaduto).

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O nome da ponte é uma homenagem ao Capitão de Abril. Foi inaugurada a 11 de Junho de 2000 e, curiosamente, não é iluminada porque a luz iria interferir com um aeródromo situado nas imediações!

Passada a ponte era tempo de chegarmos a Santarém, cidade antiquíssima, segundo a mitologia por ela terão passado Fenícios e Cartagineses, os Romanos chegaram a ela em 138 a.C. e antes da reconquista por D. Afonso Henriques em 1147, a cidade foi sede de um pequeno emirado independente: a Taifa de Santarém. Não nos detivémos mas passámos pelo seu centro e ao lado das famosas “Portas do Sol”. Descemos para a Ponte de Santarém, a nossa 7ª.

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A Ponte D. Luís I, também chamada Ponte de Santarém, une Santarém a Almeirim pela EN 114. Foi inaugurada em 17 de Setembro de 1881, e foi considerada na altura a maior da Península Ibérica, a terceira da Europa e a sexta do Mundo, ficando como um dos exemplares da “arquitetura do ferro”. Tinha originalmente um comprimento total de 1213 m, largura de 6 m, e altura de 22 m. Foi alargada em 1956.

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Pouco depois da saída da ponte, virámos à esquerda em direcção a Alpiarça pela EM368-1 onde iríamos tomar novamente a EN118.

O objectivo era a Chamusca onde teríamos, meia dúzia de quilómetros mais à frente, a nossa última travessia da manhã (que já ia avançada) pois o almoço aguardava-nos na Golegã. Ainda na Chamusca fizemos um pequeno desvio para podermos desfrutar da vista do vale do Tejo no Miradouro da Senhora do Pranto.

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A Ponte João Joaquim Isidro dos Reis, conhecida popularmente como Ponte da Chamusca, está localizada sobre o rio Tejo na Estrada Nacional 243 e une a vila de Chamusca com a vila da Golegã.

Esta estrutura é um exemplar emblemático da construção em ferro, muito em voga no final do século XIX e no início do século XX. Apesar de inicialmente (em 1900) prevista para ser ferroviária, fazendo parte do novo ramal de Torres Novas à Golegã, este nunca chegou a ser construído. Assim, em 1908 iniciou-se a sua construção já como ponte rodoviária e pedonal, tendo sido inaugurada em 31 de Agosto de 1909.

E assim chegámos à Golegã. 8 travessias concluídas ficavam as restantes 7 para a jornada da tarde. O nosso destino era agora a Adega do Cú da Mula onde nos desforrámos da canseira matinal saboreando algumas especialidades da casa. Tempo ainda para tomarmos um café na esplanada do Café Central em cujo interior pudemos ver muitos cartazes de touradas no qual o protagonista principal era um homem da terra: Ricardo Chibanga.

Golegã

Feitas as homenagens e restabelecidos os niveis alimentares (sólidos e líquidos, que a desidratação é perigosa para os motociclistas) era tempo de voltarmos à estrada e procurarmos a próxima travessia: a ponte de Constância. Rumámos a Vila Nova da Barquinha, rondámos Tancos e chegámos a Constância.

A Ponte da Praia do Ribatejo ou Ponte de Constância, liga as estradas nacionais EN3 e EN118, unindo Praia do Ribatejo ao município de Constância. Inaugurada em 1889, inicialmente era uma ponte ferroviária. Em 1959, devido ao mau estado da estrutura, a CP construiu outra ao lado, assente sobre os mesmos pilares. A linha abandonada foi cedida às câmaras de Vila Nova da Barquinha e Constância que a adaptaram a ponte rodoviária, inaugurada em 1988.

Em Novembro de 2007 esteve encerrada devido a um deslizamento do tabuleiro. Em 20 de Julho de 2010 foi novamente encerrada por razões de segurança, sendo de novo reaberta em dia 6 de Abril de 2011.

Ponte de via única, com trânsito alternado e gerido por cancela e semáforos, foi precisamente o local onde a embraigem da BMW deu de si. Voltámos a atravessar a ponte para tentar em Constância alguma forma de solução.

Constancia2

Depois de várias tentativas, não foi possível e os nossos companheiros regressaram a Lisboa, pela A23, na única mudança que conseguiram engrenar… Pela nossa parte, retomámos o percurso, novamente pela ponte de Constância, voltámos à nossa bem conhecida EN118 – cabe aqui dizer que fazer esta estrada de fio a pavio, o mesmo será dizer do Montijo a Alpalhão, é projecto futuro – com rumo ao Rossio ao Sul do Tejo para aqui entrarmos na cidade de Abrantes pela ponte que lhe leva o nome: a nossa 10ª travessia.

Ainda antes passámos no Tramagal, importante núcleo industrial do sector da metalo-mecânica (mais do passado que do presente) e também nas famosas “curvas do Tramagal”, terror das viagens automóveis dos anos 60 a 80 do século passado quando a EN118 era o principal eixo viário de Lisboa para as Beiras e Alto Alentejo. Agora…momentos de grande diversão… quem diria?

O Rossio ao Sul do Tejo é uma pequena povoação fronteira a Abrantes e separadas pelo Rio Tejo. Desfruta de uma localização estratégica pois é o cruzamento de duas das maiores estradas nacionais: a EN2, a maior de todas e que cruza o país de norte a sul, e a EN118 que o atravessa de forma transversal desde as proximidades de Lisboa até perto da fronteira com Espanha.

AntesRossio

A Ponte rodoviária de Abrantes sobre o rio Tejo foi inaugurada em 1870, tem o comprimento de 339 metros e liga Abrantes ao Rossio ao Sul do Tejo. Foi construída por um consórcio francês e durante 75 anos foi explorada em regime de concessão, passando para o estado em 1945. Pouco antes de perfazer 100 anos o tabuleiro foi alargado. No nosso périplo, foi a única ponte onde encontrámos restrições de trânsito devido a obras de manutenção. Em 1889 foi também inaugurada a ponte ferroviária de Abrantes.

012Abrantes

E cabe aqui uma chamada de atenção para quem resolva seguir esta nossa sugestão: é aconselhável que tente informar-se previamente das condições de circulação nestas pontes. A maioria são pontes centenárias que justificam regulares obras de manutenção. Por exemplo, já depois do nosso passeio, a ponte de Belver (onde ainda iremos passar) esteve encerrada ao trânsito durante cerca de 2 anos estando já reaberta e recentemente a ponte de Constância também. É evidente que haverá sempre a alternativa de seguir em frente e atravessar na próxima…mas não é a mesma coisa!

Atravessada lentamente a ponte, devido às obras, entrámos em Abrantes e até Alferrarede percorremos um curto trecho da EN2.

Mais antiga que a nacionalidade, Abrantes é cidade desde 1916, tendo o seu foral sido concedido por D. Afonso Henriques em 1179. Em 1807, aquando das invasões francesas, Abrantes foi ocupada pelas tropas do General Junot a quem, na ocasião, Napoleão Bonaparte concedeu o título de Duque de Abrantes. Breve honra, felizmente!

Depois de Alferrarede rumámos à localidade de Mouriscas onde tínhamos a próxima travessia.

A Ponte Rodoferroviária de Alvega ou Ponte do Pego ou ainda Ponte das Mouriscas, é uma ponte sobre o rio Tejo, unindo Alvega (EN118) e Mouriscas (CM1221). Por ela passa o Ramal do Pego da Linha da Beira Baixa, construído pela EDP para acesso dos comboios com carvão provenientes do porto de Sines que abastecem a Central Termoeléctrica do Pego.

013Mouriscas

A ponte rodoviária original foi inaugurada em 17 de Setembro de 1881. A nova ponte rodo-ferroviária foi construída em 1992. Com a construção da A23, a norte, esta ponte ganhou nova importância pois é um dos acessos principais à mesma autoestrada para quem vem do Alto Alentejo.

E, passado Alvega, era no Alto Alentejo que íamos entrar tendo deixado o Ribatejo para trás. Faltavam-nos 4 travessias…

Anterior:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(1)

A seguir:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(3)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(final)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(1)

15 travessias do nosso maior rio, o Tejo, de Lisboa até à ponte de Ródão que une a Beira ao Alentejo com o rio como testemunha.

15 travessias de Lisboa a Ródão

Viagem

I – O Início da jornada…até Muge

Porque se diz que se deve começar do início, esta é a história da minha primeira grande viagem, a minha iniciação ao moto turismo (até aí, os muitos quilómetros feitos tinham sido numa lógica mais utilitária).
A ideia surgiu casualmente de alguma leitura ou referência na internet, não sei ao certo, ao percurso do Rio Tejo e das muitas travessias que unem as suas duas margens. Sendo certo que as mais famosas são as de Lisboa, outras há que merecem ser conhecidas. E porque para as conhecer todas é necessário uni-las de forma terrestre, o objectivo estava traçado. Faltava isso sim, optimizar o percurso que seria feito alternadamente por uma margem ou por outra conforme o sentido em que cada travessia fosse utilizada. No fundo era como se estivéssemos a cozer dois panos, separados pelo Rio Tejo, em que a linha era o nosso percurso!

As estradas existentes, o interesse em minimizar a utilização de auto-estradas e o pagamento de portagens e o desejo de efectuar alguns trajectos pelo seu próprio interesse paisagístico ou de condução (a diversão é fundamental) também fizeram com que o percurso tivesse que ser este e não outro. A descrição adiante certamente trará a justificação para as opções tomadas.

Cabe aqui referir que o Rio Tejo tem no seu percurso nacional 15 travessias, das quais 13 são pontes e 2 são barragens. E o primeiro “nó” que se nos colocou tem a ver com as opções relativas às pontes lisboetas – 25 de Abril e Vasco da Gama – pois para garantir o fluxo como atrás referi (e sem percorrermos uma travessia para lá e para cá), era fundamental que a terceira ponte – a ponte Marechal Carmona em Vila Franca de Xira – fosse feita no sentido norte-sul. Afinal qual atravessar primeiro? Sair pela Vasco da Gama e entrar na 25 de Abril ou o inverso? A distância era a mesma pois acabava por ser circular e assim a opção foi entrar em Lisboa pela ponte que tivesse a portagem mais barata, ou seja, a 1ª opção.

Uma nota, porque aprendemos sempre algo: se fosse hoje, teria previsto a saída de Oeiras, junto à foz do  Rio Tejo – o simbolismo é importante – e nesse caso a opção teria sido a contrária: primeiro a 25 de Abril e depois a Vasco da Gama.

001SJulião
Em resumo, saida de Lisboa manhã cedinho (que a distância a percorrer era substancial – cerca de 700km num dia) do habitual ponto de encontro nas bombas de gasolina da 2ª circular, junto ao Ralis. Quando a marca patrocinar, poderei indicar o nome….

Motos

No início, éramos 5 em 3 motas. Duas Hondas e uma BMW. No final sobraram as duas Hondas…mas isso é história lá mais para a frente.Vasco

Começámos pela passagem pela Ponte Vasco da Gama – para inaugurar as travessias da jornada. Esta ponte, cuja inauguração ainda estará na memória da maioria, une as duas margens do Tejo entre Alcochete e Montijo a sul e Sacavém e Moscavide a norte. Tem 17 km de comprimento o que a tornam a mais extensa da Europa e uma das mais compridas do mundo.

003Vasco

Cerca de 12 km são sobre o estuário do Tejo a montante do Mar da Palha. Foi inaugurada em 1988 a tempo da Expo 98 e demorou cerca de 18 meses a ser construída. Com 155 metros de altura é também umas das mais altas construções de Portugal.

O rumo era em direcção à Ponte 25 de Abril pelo que tomámos a saída para o Montijo e entrámos na A33. Depois seguiu-se a A2 e a reentrada em Lisboa.

00425Abril

A Ponte 25 de Abril é uma ponte suspensa rodoferroviária que liga a cidade de Lisboa à cidade de Almada. A ponte atravessa o estuário do rio Tejo na parte final e mais estreita — o designado “gargalo do Tejo”. A sua construção começou em novembro de 1962 e 4 anos mais tarde, 6 meses antes do prazo limite e dentro do orçamento previsto, foi concluída tendo a inauguração ocorrido em 6 de agosto de 1966, na altura designada por Ponte Salazar. Tem uma altura de 190m e um comprimento de 2,3km. Não só é uma das maiores pontes suspensas do mundo, como o seu enquadramento privilegiado a torna, desde sempre, um dos ex-libris da capital. E resolveu um gravíssimo problema de acessibilidades a Lisboa, pois à época as alternativas eram a ponte existente em Vila Franca de Xira (25km a norte) ou a travessia de barco a partir de Cacilhas – daí os barcos que a efectuavam serem geralmente designados por cacilheiros e fazerem também eles parte do imaginário da cidade.

Atravessada a 25 de Abril e a cidade de Lisboa pelo eixo norte-sul, 2ª circular e entrada na A1 seguimos a caminho de Vila Franca de Xira. Neste momento tínhamos já feito as 2 primeiras travessias do Tejo.

Em Vila Franca saímos da A1 e rumamos à ponte Marechal Carmona – aquela que durante bastantes anos era a mais próxima da capital e que nos remete para imaginários da memória como a Recta do Cabo ou a Estalagem do Cavalo Branco na N10.

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Esta ponte começou a ser reclamada pelas populações e autarquia vilafranquense em 1924. O governo da época, já em meados dos anos 40,  resolveu avançar com o projecto, quando era ministro das obras públicas, Duarte Pacheco. Este tinha a curiosa opinião que sendo esta uma obra de interesse público, deveria ser o Estado a construí-la e suportar o respectivo custo. Outras opiniões havia no governo, que face ao elevado custo, a construção e exploração poderia ser entregue à iniciativa privada sendo esta remunerada através da cobrança de portagens. Quando o projecto finalmente arrancou, já Duarte Pacheco tinha falecido, e o seu sucessor José Ulrich avançou com a primeira iniciativa de uma ponte com portagens em Portugal! A ponte foi inaugurada em 30 de Dezembro de 1951, tem 1224m de comprimento com um tabuleiro central de 524m dividido em cinco vãos de 104m. O seu custo na época rondou os 650 mil euros (feita a conversão de escudos para a nova moeda).

Passamos Porto Alto e viramos à esquerda onde iremos percorrer pela primeira vez a N118. Esta estrada que corre paralela ao Tejo pela sua margem sul e vai do Montijo até Alpalhão, irá ser recorrente em toda a nossa viagem. O destino será o acesso à A10 que nos permitirá atravessar pela quarta vez o Tejo na  Ponte da Lezíria.

006LeziriasUma curiosidade: esta ponte, inaugurada em 8 de Julho de 2007, tem uma extensão de cerca de 12 km que a torna numa das mais extensa do mundo e a terceira da Europa depois da Ponte Vasco da Gama e da Ponte da Crimeia, na Rússia (inaugurada em 2018).
Feita a travessia é tempo de abandonar de imediato a auto-estrada e rumarmos a Vila Nova da Rainha pela N3. Depois Azambuja e aqui viramos à direita para a N3-3 em direcção a Valada do Ribatejo. Antes de Valada, passamos pelos acessos a algumas das aldeias avieiras tão típicas da lezíria do Tejo – por exemplo o Cais Palafítico da Palhota – e seguimos com o muro-dique de protecção contra as cheias do Tejo pela nossa direita.
Passamos Valada, que mereceu uma breve paragem para um cafézinho e para apreciar a sua mini-marina bem como o ameno recanto junto ao rio…

Dirigimo-nos então para Muge, depois de atravessada a nossa 5ª travessia: a ponte de Muge ou, de seu nome, Ponte Rainha D. Amélia.

É uma antiga ponte ferroviária inaugurada em 14 de Janeiro de 1904. Após a construção na década de 1980 de uma nova ponte ferroviária, que a substituiu, foi em 2001 alvo de obras e reconvertida para tráfego automóvel e pedonal ligando deste modo, Muge no concelho de Salvaterra de Magos, e Porto de Muge,no concelho do Cartaxo, bem como a localidade de Valada, que, antes desta ligação, ficava frequentemente isolada em períodos de cheia.

Em Muge retomamos a já nossa conhecida N118.

Para quem, aqui chegado, sinta já um certo vazio no estômago, as bifanas do Silas são imperdíveis. Fica só o registo, porque o nosso caminho mandava-nos seguir e o almoço estava previsto para ser mais à frente.

Ainda havia muita estrada a fazer…e 10 travessias!

A seguir:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(2)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(3)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(final)

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