Certo, certo…é o tempo incerto!

Saído da Atouguia, em direcção a Óbidos e depois à Estrada Atlântica. O tempo continuava sombrio, impróprio para o Verão que era.
Na Nazaré resolvi procurar o calor, até porque o destino era Ourém…

2ª parte: De Tauria a Abdegas, do nevoeiro ao sol caloroso, das praias à memória de Aljubarrota

Saí da ancestral Tauria, actual Atouguia da Baleia, cuja história já contei (1ª parte) em direcção a norte.

Desejei que o nevoeiro da véspera tivesse desaparecido mas…não só se manteve como apareceu uma morrinha irritante. O objectivo era seguir a linha da costa até à Praia do Osso da Baleia e então inflectir para o interior em direcção a Ourém. Mas o clima não ajudou e bem mais cedo alterei o programa resultando uma segunda parte de viagem com uma forte presença da História de Portugal. Viajar é também sabermos adaptar-nos ao que a natureza nos oferece.

Para esta jornada recordo as palavras de Miguel Torga, no seu livro “Portugal” (de 1950):

“Terra onde a História não quis morrer, a Estremadura é no corpo de Portugal a figuração da sua própria alma. Na ondulação do grande Pinhal do Rei, no marulhar das ondas da Nazaré, na ressonância dos passos que percorrem a nave de Alcobaça, no silêncio contido da Batalha, na intimidade do baixo-relevo de Atouguia, na melancolia castelã de Porto de Mós, na graça triangular e cintada de Óbidos ou no sorriso aberto dos horizontes de Palmela há qualquer coisa de imponderável e profundo que está para além da simples coreografia orgânica.”

Foi este o terreno que percorri (sem todavia descer até Palmela…)!

A minha companheira de viagem continuou a ser a Honda X-ADV gentilmente cedida pela Honda Portugal. E se no primeiro dia se tinha revelado uma agradável surpresa, nomeadamente nas curtas incursões por estradas de terra batida, desta vez a confirmação veio da sua divertida atitude em estradas mais reviradas de montanha (Candeeiros e Montejunto) onde cumpriu brilhantemente a sua missão. Fácil na inserção em curva, enérgica na saída, confortável em todas as circunstâncias e, nada despiciendo, bastante económica pois numa condução sem grandes preocupações, uma média de 4l/100 nestes trajectos é francamente positiva. Contei tudo em “Honda X-ADV”.

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Honda X-ADV

Ourém, Auren (ou Portus Auren no seu termo latino) ou ainda Abdegas, se formos caminhando para trás na História é o meu destino de hoje. E a Quinta da Alcaidaria-Mór o meu porto de abrigo.

Ourém tem foral concelhio desde 1180, outorgado pela infante D. Teresa, Filha de D. Afonso Henriques e D. Mafalda. Afirma-se aliás no documento correspondente que o local onde o castelo foi construído se chamava anteriormente Abdegas. Por outro lado, no foral de Leiria (de 1142) era referida a designação Portus de Auren (Porto de Ourém) e referir-se-á a um curso de água, provavelmente a Ribeira de Seiça .

Mas a lenda conta-nos outra história: a “Lenda de Oureana” foi divulgada por Frei Bernardo de Brito na “Crónica da Ordem de Cister” (Livro VI, Cap. I). Assim conta-se que num ataque surpresa a Alcácer do Sal, no dia de São João de 1158, o cristão Gonçalo Hermigues, com alguns companheiros, raptou uma princesa moura chamada Fátima e trouxe-a para o lugar na Serra de Aire que depois se veio a chamar pelo nome da princesa. Mais tarde, no seu cativeiro, a moura apaixonou-se pelo cristão e resolveu baptizar-se para poder casar com o seu amado. Para seu nome de baptismo escolheu Oureana. Daqui, segundo a lenda, teria tido origem o nome da vila de Ourém.

Seja esta ou aquela a origem, o núcleo histórico desenvolveu-se em torno do Castelo de Ourém, que teve no tempo de D. Afonso de Bragança, 4.º Conde de Ourém (e filho de D. Nuno Álvares Pereira), um período de grande desenvolvimento. Fortemente atingida pelo Terramoto de 1755, a cabeça do concelho mudou-se para a Vila Nova (mais abaixo, na planície vizinha). Esta foi incendiada pelo Exército Francês durante a Terceira Invasão Francesa no final de 1810, tendo sobrado, apenas, algumas casas. Em 1841 a sede do concelho passou da zona histórica do castelo para o vale onde se encontra actualmente, para a Vila Nova. Desde a primeira metade do século XIX até à sua elevação a cidade em 20 de Junho de 1991, era conhecida como Vila Nova de Ourém. Hoje, o seu nome oficial é apenas Ourém. É sede do concelho que alberga também Fátima, um dos mais famosos locais de peregrinação do Cristianismo, devotada ao culto Mariano. E foi também nas terras de Fátima e Ourém que ocorreram em Agosto de 1917, as aparições de Nossa Senhora aos 3 pastorinhos, Jacinta, Francisco e Lúcia.

Passado Ourém, mais propriamente dois quilómetros para nascente, onde na EN113 podemos optar por seguir o caminho até Tomar ou virar à esquerda para Seiça, fica a Quinta da Alcaidaria-Mór. Aqui cheguei no final de um dia de muitos quilómetros e onde passei do frio húmido da costa para o calor abrasador do interior. Quinta cuja história aqui contarei e que se confunde com a História de Portugal que viveu momentos de esplendor e tragédia por estas terras. Mas antecipo desde já a sua surpreendente beleza. Se o objectivo for uns descansados e retemperadores dias de férias, este é o sitio ideal.

Quinta da Alcaidaria-Mór

A Quinta da Alcaidaria-Mór recebe-me com uma alameda frondosa e ao chegar ao pátio principal sou surpreendido: a beleza do seu edifício principal, a curiosidade pela pequena capela à nossa esquerda ou a convidativa piscina defronte. A tarde ia avançada, senão….

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Quinta da Alcaidaria-Mór
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Quinta da Alcaidaria-Mór – pátio exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – pátio exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – alameda de entrada

Consegui também ver, desde logo, que as antigas instalações dedicadas à faina agrícola estão agora bem aproveitadas para a finalidade turística que até aqui nos conduziu. Sendo esta uma das primeiras unidades de turismo de turismo de habitação no País e a primeira na região centro, está aberta ao público desde 1984.

A história da Quinta cruza-se com a história da região. E esta claramente com a de Portugal. Conta-se que aqui, na capela, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira terá ajoelhado e pedido a protecção divina a Santa Luzia, quando a caminho de Aljubarrota. Em 1385…

A propriedade está na posse da família de Nuno Vasconcelos – que tão bem nos acolheu, mostrando os mais pequenos recantos, contando a história e referindo também os seus projectos – desde o Séc XIX, quando o seu antepassado foi agraciado com o título de 1º Barão de Alvaiázere pela excelência da assistência médica prestada a El-Rei D. João VI, inclusivamente acompanhando-o no exílio brasileiro devido às invasões napoleónicas.

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É no edifício principal que ficam os quartos principais, bem como a magnífica e imponente Sala de Jantar. As escadarias, as paredes que exibem a pedra que lhes dá forma, os recantos, os tectos em madeira, as óbvias referências monárquicas e à Casa de Malta, tudo contribui para a extraordinária beleza do edifício e para o ambiente que, apesar de impregnado de História, não deixa de ser acolhedor. Muito acolhedor mesmo.

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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior – recepção
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior (quarto)
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – Monarquia e Cruz de Malta
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – interior – sala de jantar

Ao lado, nas antigas instalações agrícolas, fica uma esplêndida sala de convívio e lazer, bem como alguns apartamentos que garantem aos seus ocupantes a tranquilidade tão ansiada por quem aqui resolva passar uns dias. E ainda há espaço e edificação para crescer. Um pouco acima, um pavilhão que permite assegurar a realização de alguns eventos contribui para aumentar a polivalência e a pluralidade da oferta.

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Quinta da Alcaidaria-Mór – sala de convívio
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Quinta da Alcaidaria-Mór – sala de convívio

E tudo isto, rodeado de um bucólico ambiente campestre que a extensão da Quinta garante, onde predomina o verde e impera a frescura.

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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór -apartamento exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – apartamento exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior
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Quinta da Alcaidaria-Mór – pormenor do exterior

Se o objectivo for aproveitar uns dias para um repouso absoluto, num ambiente de grande tranquilidade, rodeados de História e de histórias, com o máximo conforto e requinte, então a Quinta da Alcaidaria-Mór cumpre todos estes requisitos. Até porque merece que a estadia se prolongue para se poder absorver todo o ambiente que a rodeia. E, como esta crónica tenta demonstrar, a zona que a rodeia merece incontestavelmente uma visita detalhada.

 Recuando ao início do dia…

Saí da Atouguia da Baleia, não sem antes ter percorrido as ruas da vila com o meu anfitrião e cicerone. A primeira paragem foi logo ali em Serra d’El-Rei. Tudo contado na 1ª parte.

Segui viagem mas logo a seguir uma paragem mais demorada se impunha: Óbidos era já ali.

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Óbidos é já ali

Óbidos é local onde a presença humana é ancestral, desde a pré-história até hoje. O seu castelo, que observa imponente o território adjacente que se prolonga até ao mar e onde predomina a bonita Lagoa de Óbidos, foi baluarte importante ao longo da História. Desde logo, à época da Reconquista Cristão, pela forte oposição feita às forças de D. Afonso Henriques e cuja conquista acabou por resultar de um ardil que iludiu os mouros ocupantes. Conta-se então que:

Em Novembro de 1147, e após conquista de Lisboa aos mouros, D. Afonso Henriques decide-se pela conquista de Óbidos por saber que esta era uma praça muito mais forte que outras como Torres Vedras ou Alenquer. Assim, liderados por Gonçalo Mendes da Maia, “O Lidador”, um grupo de cavaleiros investiu durante a noite pela parte nascente da terra enquanto os restantes militares portugueses chamavam a atenção dos Árabes na porta do Castelo a poente, hoje chamada “Porta da Vila”.

Desta forma, puderam os cavaleiros deslocar-se na parte nascente do Castelo, cobertos de arbustos e moitas, tendo apenas sido descobertos pela filha de Ismael, o Alcaide moiro, que suspeitou das moitas andantes. O Alcaide ao ver que estava a ser invadido, julgando que para ali conseguirem os portugueses chegar só poderia ter sido traído por algum dos seus, gritou como sinal de alarme as palavras “traição, traição”, pelo que esta porta, que se encontra na base da torre D. Diniz, ficou conhecida como a “Porta da Traição”.

De acordo com a história, foi valente a batalha, quer pelos cavaleiros quer pelos restantes militares que, sabendo da entrada dos cavaleiros por norte, se dispuseram a entrar pela porta da frente, permitindo a conquista do Castelo de Óbidos aos Mouros em 10 de Janeiro de 1148.”

In https://obidosvilaliteraria.com/historia-de-obidos/

A beleza da vila vem do seu excelente estado de conservação, com as estreitas ruas de empedrado que percorrem o interior das muralhas e o casario branco bem arranjado. O Castelo, hoje Pousada Josefa d’Óbidos, está também bem arranjado e recuperado (sendo de gosto discutível a solução encontrada para a principal janela da fachada norte…). Peca talvez por excesso de exposição turística, que se traz a prosperidade que muito ajuda à preservação também lhe retira a calma e tranquilidade que seria de esperar.  Vila literária também lhe chamam. E não podemos esquecer a deliciosa Ginjinha de Óbidos! Vim encontrar a Feira Medieval mas felizmente cheguei cedo…e de feira e feirantes apenas as ruas engalanadas!

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Óbidos – Porta da Vila
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Óbidos – Igreja de S. Pedro
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Óbidos – Igreja de Santa Maria (Matriz)
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Óbidos – Igreja de Santiago
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Óbidos – Muralha
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Óbidos – Rua Direita
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Óbidos – Interior da Igreja de Santiago (biblioteca)
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Óbidos – pormenor

Foi aqui, junto à Porta da Vila, que encontrei um companheiro devidamente equipado com a sua armadura de segurança, certamente o antepassado do equipamento motard dos cavaleiros de agora…

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Óbidos – 900 anos separam estes equipamentos de segurança!

Percorrida rapidamente de uma ponta à outra, tomado um cafézinho retemperador, segui viagem. Esperava-me a Lagoa de Óbidos (já vista na véspera) mas agora pelo seu lado norte, na Foz do Arelho. À saída de Óbidos, tempo para uma foto junto do Santuário do Senhor Jesus da Pedra. Exemplar de arquitectura religiosa em estilo barroco, o templo inacabado, destaca-se pela originalidade da articulação da sua planta hexagonal.

Diversas lendas na região, pretendem justificar a origem do Santuário. Possuem em comum a acção milagrosa de uma antiga cruz de pedra com a imagem esculpida de Cristo crucificado, hoje exposta no altar-mor da igreja. A mais popular afirma que na década de 1730, vivendo a região uma prolongada seca com grandes prejuízos para a agricultura, um lavrador foi chamado pela imagem, que se encontrava escondida no meio de silvados, em terreno da Colegiada de Santa Maria de Óbidos, junto à estrada que ligava esta vila a Caldas da Rainha. A imagem exigiu a veneração do agricultor o que ele veio a cumpriu com o concurso de alguns outros populares. E o milagre ocorreu: as chuvas voltaram!

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Óbidos – Santuário do Senhor Jesus da Pedra

De caminho, passei pelas Caldas da Rainha. Percorri as ruas principais sem paragem. Não é fácil encontrar lugar adequado para parar a moto, quando os parquímetros invadem os centros das cidades e não há lugares reservados aos veículos de 2 rodas…(em terras estranhas evito soluções de desenrrascanço como seja parar em cima do passeio, pois desconheço os hábitos locais). Não parar foi a minha “vingança do chinês”…mas também digo que as Caldas da Rainha justificam uma visita demorada. Seja pela história, pela riqueza termal ou ainda pela iconográfica loiça típica.

E assim cheguei à Foz do Arelho. Recordei férias de há quase meio século. E pude constatar que, apesar do tempo nublado, muita gente se dedicava à actividade balnear. O ser humano adapta-se com facilidade ao que a natureza lhe oferece….que remédio!

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Foz do Arelho
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Foz do Arelho

A Foz do Arelho tem um enquadramento paisagístico espectacular. Mesmo com o dia cinzento! Sendo conhecida e povoada desde há muito, o seu nome tem uma particularidade curiosa: sendo Foz do Arelho, presumir-se-ia a existência de um curso de água denominado Arelho que por aí desaguaria.

Errado! Não existe nenhum rio ou ribeiro de nome Arelho…

As características balneares, com mar aberto ou águas tranquilas da Lagoa, são desde há muito reconhecidas. Era a estância de férias de Francisco de Almeida Grandella (o fundador dos célebres Armazéns Grandella que se localizavam no Chiado em Lisboa e arderam completamente no incêndio de 25 de Agosto de 1988 que neles teve o seu início), benfeitor da terra a quem se deve a edificação da escola primária – que ainda hoje funciona – e as instalações hoje pertencentes ao INATEL, uma das maiores unidades hoteleiras do país, resultante da remodelação do magnífico palácio outrora ali implantado.

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Foz do Arelho
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Foz do Arelho

Daqui rumei até S. Martinho do Porto. A estrada atlântica reservava-me um nevoeiro cerrado, frio e húmido. A travessia da Serra do Bouro não foi agradável…

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Serra de Bouro – Nevoeiro

Em Salir do Porto, do miradouro que com outro tempo tem uma magnífica vista para a circular baía de S. Martinho, a paisagem era….nada!

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Salir do Porto – Miradouro

Lá em baixo, a visibilidade era um pouco melhor. E deixou ver a Duna de Salir, antigamente a maior da Europa.

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Duna de Salir

Depois, já em S. Martinho, um breve passeio pela marginal permitiu que a neblina levantasse e depois fosse possível trazer algumas recordações fotográficas da passagem por esta praia com características tão peculiares.

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S. Martinho do Porto

S. Martinho do Porto é terra antiga. Há registo documental de 1257 e foi sede concelhia até 1855. Lugar privilegiado de veraneio da nobreza e alta burguesia desde o Séc. XIX, era à época “carinhosamente” apelidada de “bidé das marquesas”. Não me parece que o epíteto fosse do agrado das gentes da terra…nem dos frequentadores. Más línguas!

Ainda assim, as características próprias com a protecção que a estreita ligação ao mar oferece, um vasto areal e águas muito calmas, tornam esta uma excelente praia principalmente para quem tem crianças.

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S. Martinho do Porto

Do alto do Morro de Santo António é possível observar o formato em concha da baía de S. Martinho bem como a estreita abertura que a liga ao Oceano.

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S. Martinho do Porto – Morro de S. António
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S. Martinho do Porto – Morro de S. António
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S. Martinho do Porto – Morro de S. António

S. Martinho ficou para trás. Seguiu-se a Praia do Salgado. Uma praia excelente mas…o tempo não convidava a banhos e estava quase deserta. Ficou o registo fotográfico.

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Praia do Salgado

Protegida pela Serra da Pescaria (a norte) e pela Serra dos Mangues (a sul), a Praia do Salgado é um destino muito procurado por quem gosta de tranquilidade. Devido às suas condições naturais, é, igualmente, um destino muito procurado por praticantes de desportos de aventura, como Asa Delta ou Parapente.

E quase a chegar à Nazaré….digamos que se aproximava a hora das decisões. O clima estava definitivamente “avariado” junto à costa. Olhava para o céu na direcção do interior e aparentemente estava limpo. Depois de visitar o Sítio iria decidir: ou seguia para norte como previsto e continuava o périplo das praias ou dava um novo rumo à viagem, em direcção a caminhos mais quentes e solarengos. Até lá tinha tempo para pensar nas alternativas. Viajar de moto é bom para pensar… a tal “solidão do capacete”!

Na Nazaré! Sem ondas gigantes mas com mudança de planos

Cheguei à Nazaré vindo de sul e entrei pela zona da barra do porto de pesca. Daqui tive uma boa visão do amplo areal, do casario à beira mar e, lá ao fundo do morro e o Sítio.

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Nazaré

A vila da Nazaré resulta do agregado de 3 povoados: Pederneira, Sítio da Nazaré e Praia da Nazaré. A eles se foram juntando novos bairros com o crescimento dos três núcleos primitivos. Na realidade, o concelho designava-se Pederneira até 1912 (teve foral, em 1514, dado por D. Manuel I), quando lei mandou alterar o topónimo para Nazaré. É evidente que a nova designação estava intrinsecamente ligada à Lenda de Nossa Senhora da Nazaré que já recordarei adiante!

Ao longo do século XX, a Nazaré evoluiu progressivamente de uma vila piscatória para uma vila dedicada ao turismo, tendo sido um dos primeiros pontos de interesse turístico internacional em Portugal. A indústria do turismo é hoje um dos principais empregadoras da vila.

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Nazaré

E foi o turismo que popularizou os trajes típicos da Nazaré. As sete saias das mulheres e a camisa de flanela e barrete preto dos homens atraíram, durante os anos 50 e 60, do século passado, nomes como Lino António, Jorge Barradas, Stanley Kubrick ou Cartier-Bresson, que documentaram, em pintura e fotografia, o dia-a-dia do povo nazareno.

Actualmente, a Nazaré tem importância turística renovada. Uma segunda vida, de projecção mundial, garantida pelas ondas gigantes do Canhão da Nazaré e celebrizadas por Garrett McNamara, surfista que nelas bateu em 2011, o recorde da maior onda já surfada. A partir daí, a Nazaré tornou-se a meca dos surfistas das ondas gigantes e dos muitos milhares que se juntam no Sítio e na Praia do Norte para os admirarem.

Percorrida a marginal a olhar para o mar e para o extenso areal, neste dia pouco populado pois o tempo era pouco convidativo, era tempo de subir até ao Sítio.

Local impressionante pela beleza da paisagem, significativo pois é nele que nasce a Lenda da Senhora da Nazaré e importante actualmente pois é daí, e do Forte de S. Miguel Arcanjo que se observam os heróis das ondas gigantes.

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Nazaré

O Forte de S. Miguel Arcanjo viu iniciada a sua construção em 1577, no reinado de D. Sebastião. Mas foi já com D. João IV, em 1644, que o Forte se viu remodelado e ampliado com a configuração que hoje conhecemos. Importante local de conflito entre absolutistas e liberais já no Séc. XIX, foi em 1904 e a pedido da comunidade piscatória que nele foi instalada um farol para apoio e segurança da navegação costeira.

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Forte S. Miguel Arcanjo
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Forte S. Miguel Arcanjo
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Nazaré vista do Forte S. Miguel Arcanjo

E a Praia do Norte, que daqui a vemos bem de cima, mostra o longo areal onde, no seu extremo junto ao promontório encimado pelo Forte de S. Miguel Arcanjo, se juntam os surfistas que demandam estas paragens em busca da onda gigante…e da glória dos recordes!

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Praia do Norte

É impossível dissociarmos o Sítio da Nazaré da Lenda de Nossa Senhora. Vamos contá-la…

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Sítio da Nazaré
A Lenda da Senhora da Nazaré

Conta a Lenda da Nazaré que ao nascer do dia 14 de Setembro de 1182, D. Fuas Roupinho, alcaide do castelo de Porto de Mós, caçava junto ao litoral, envolto por um denso nevoeiro, perto das suas terras, quando avistou um veado que de imediato começou a perseguir. O veado dirigiu-se para o cimo de uma falésia. D. Fuas, no meio do nevoeiro, isolou-se dos seus companheiros. Quando se deu conta de estar no topo da falésia, à beira do precipício, em perigo de morte, reconheceu o local. Estava mesmo ao lado de uma gruta onde se venerava uma imagem da Virgem Maria com o Menino Jesus. Rogou então, em voz alta: Senhora, Valei-me!. De imediato, miraculosamente o cavalo estacou, fincando as patas no penedo rochoso suspenso sobre o vazio, o Bico do Milagre, salvando-se assim o cavaleiro e a sua montada da morte certa que adviria de uma queda de mais de cem metros.

D. Fuas desmontou e desceu à gruta para rezar e agradecer o milagre. De seguida mandou os seus companheiros chamar pedreiros para construírem uma capela sobre a gruta, em memória do milagre, a Ermida da Memória, para aí ser exposta à veneração dos fiéis a milagrosa imagem.

Até hoje, a tradição aponta aos visitantes a marca deixada pela ferradura de uma das mãos do cavalo de D. Fuas, no extremo do Bico do Milagre, ao lado da Capela da Memória, no Sítio da Nazaré.

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Sítio da Nazaré – Bico do Milagre

Antes de entaipar a gruta os pedreiros desfizeram o altar ali existente e entre as pedras, inesperadamente, encontraram um cofre em marfim contendo algumas relíquias e um pergaminho, no qual se identificavam as relíquias como sendo de São Brás e São Bartolomeu e se relatava a história da pequena imagem esculpida em madeira, policromada, representando a Santíssima Virgem Maria sentada num banco baixo a amamentar o Menino Jesus. Segundo o pergaminho, a imagem terá sido venerada desde os primeiros tempos do Cristianismo em Nazaré, na Galileia, terra natal da Virgem Maria. No Séc V, um monge grego tê-la-á transportado para a Península Ibérica , para a zona de Mérida. Com a invasão muçulmana, em 711, um monge fugitivo trouxe-a até ao litoral acabando por se tornar um eremita e instalou-se numa pequena gruta no topo de uma falésia sobre o mar. Frei Romano, assim se chamava, continuou a viver no eremitério subterrâneo até à sua morte. A sagrada imagem de Nossa Senhora da Nazaré continuou sobre o altar onde o monge a colocou, até 1182 quando foi mudada para a capela que D. Fuas mandou construir sobre a gruta. A imagem permanece pois, desde 711-712, no mesmo sítio, o Sítio da Nazaré.

Em 1377, o rei D. Fernando (1367-1383), devido à significativa afluência de peregrinos, mandou construir, perto da capela, uma igreja para a qual foi transferida a imagem de Nossa Senhora da Nazaré, decorrendo esta denominação, do seu lugar de origem, a aldeia de Nazaré na Galileia.

A popularidade desta devoção na época dos Descobrimentos era tamanha entre as gentes do mar, que tanto Vasco da Gama, antes e depois da sua primeira viagem à Índia, quanto Pedro Álvares Cabral, vieram em peregrinação ao Sítio da Nazaré. Entre os muitos peregrinos da família Real destacamos, a rainha D. Leonor de Áustria, terceira mulher do rei D. Manuel I, irmã do imperador Carlos V, futura rainha de França, que permaneceu no Sítio alguns dias, em 1519, num alojamento de madeira construído especialmente para esta ocasião. Também S. Francisco Xavier, padre jesuíta, o Apóstolo do Oriente, veio em peregrinação à Nazaré antes de partir para Goa. Foram aliás os Jesuítas portugueses os grandes propagadores deste culto em todos os continentes.

Nos séculos dezassete e dezoito ocorreu a grande divulgação do culto de Nossa Senhora da Nazaré em Portugal e no Império Português. Ainda hoje se veneram algumas réplicas da verdadeira imagem e existem várias igrejas e capelas dedicadas a esta invocação espalhadas pelo Mundo. É de destacar a imagem de Nossa Senhora da Nazaré que se venera em Belém do Pará, no Brasil, cuja festa anual recebeu o nome de Círio de Nazaré e é uma das maiores romarias do mundo atingindo os dois milhões de peregrinos em um só dia.

O Santuário de Nossa Senhora da Nazaré fundado por D. Fernando, foi sendo sucessivamente reconstruído e aumentado ao longo do tempo, tendo as obras sido prolongadas por várias empreitadas até finais do século dezanove. O edifício actual é o resultado destas obras sucessivas. E é na sua capela mor que está exposta a imagem da Senhora da Nazaré e poderá ser a mais antiga imagem venerada por cristãos.”

In Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Lenda_da_Nazaré)

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Santuário de Nossa Senhora da Nazaré
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Santuário de Nossa Senhora da Nazaré
Mudança de Planos!

O tempo atraiçoou o planeamento. Tinha pensado percorrer a costa até à Praia do Osso da Baleia, bem mais a norte. Todavia, não havia já qualquer esperança que a nebulosidade levantasse e até tenderia a agravar com o aproximar do final da tarde. Fica para ocasião futura. A decisão não foi difícil. Era altura de rumar para o interior e, de caminho, fazer um roteiro por cenários muito importantes da História de Portugal: Aljubarrota e os Mosteiros de Alcobaça e da Batalha. No final chegaria a Ourém e à Quinta da Alcaidaria-Mór.

Meia dúzia de quilómetros “para dentro” e… o sol e o calor aí estão!!! Decisão acertada, portanto.

Alcobaça

Elevada a cidade em 1995, Alcobaça cresceu nos vales dos rios Alcoa e Baça. E a sua toponímia daí deriva com toda a evidência. Tendo esta área sido povoada pelos Romanos, a denominação ficou-lhe dos Árabes.

O Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, também conhecido como Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça ou simplesmente como Mosteiro de Alcobaça, é a primeira obra plenamente gótica erguida em solo português. Foi a ele que me dirigi. O adiantado da hora não permitia visita mais prolongada pela cidade e portanto cingi-me ao Mosteiro, de longe o seu maior ex-líbris.

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Mosteiro de Alcobaça

Segundo a lenda, no contexto da Reconquista, à época da formação da nacionalidade portuguesa, D. Afonso Henriques prometeu a Santa Maria erguer um mosteiro em sua homenagem, caso ele conseguisse conquistar aos mouros o importante Castelo de Santarém. Com a conquista do mesmo em 1147, o monarca cumpriu o prometido, doando e coutando, em 1153, o território de Alcobaça. Como agradecimento pela ajuda dada na conquista e, principalmente, visando o apoio nas aspirações de independência, este território foi doado aos Monges de Cister.

Esta doação continha a obrigação de essas terras serem arroteadas. Ao longo do tempo, com sucessivas doações, as designadas Terras de Alcobaça, atingiram dimensão territorial significativa.

A doação aos Monges de Cister, na pessoa de Bernardo de Claraval, um dos clérigos mais influentes do seu tempo e abade e fundador da abadia cisterciense de Claraval, foi o testemunho da sagacidade política de D. Afonso Henriques. A independência de Portugal carecia do reconhecimento papal para a sua legitimação. Bernardo de Claraval foi eleito em 1145 como Papa Eugénio III, o primeiro Papa cisterciense. E apesar da bula papal que reconheceu Portugal já ser posterior, é óbvia a influência.

Os monges de Alcobaça, além da sua actividade religiosa e cultural – promoveram aulas públicas desde 1269 e nelas, além de Humanidades, Lógica e Teologia, ensinavam técnicas agrícolas – desenvolveram uma acção colonizadora notável e perdurável, pondo em prática as inovações agrícolas experimentadas noutros mosteiros e graças às quais arrotearam as terras, secaram pauis, introduziram culturas adequadas a cada terreno e organizaram explorações ou quintas, a que chamavam granjas, criando praticamente a partir do nada uma região agrícola que se manteve até aos nossos dias como uma das mais produtivas de Portugal. Há quem se refira aos monges de Alcobaça, como os monges-agrónomos.

O Mosteiro foi começado a construir em 1178. Com a vitória dos liberais na guerra civil que os opôs aos miguelistas (absolutistas), os monges foram forçados a abandonar o mosteiro em 1834, na sequência do decreto de supressão de todas as ordens religiosas de Portugal, promulgado por Joaquim António de Aguiar, ministro dos negócios eclesiásticos e da justiça do governo da regência de D. Pedro, Duque de Bragança.

Para lá da riqueza arquitectónica, dos diferentes estilos que estão presentes e que denotam a sua evolução ao longo dos séculos, da dimensão verdadeiramente impressionante da sua Igreja, é nesta que ficam os túmulos de D. Pedro e D. Inês a recordarem-nos esta trágica história da nossa História.

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Onde volto a falar da história de D. Pedro e D. Inês de Castro

O príncipe D. Pedro (1320-1367), casado com D. Constança Manuel, perde-se de amores por uma das aias de sua mulher, a castelhana Inês de Castro. Este romance real tinha já sido abordado na primeira parte desta viagem, quando falei sobre as origens da Atouguia da Baleia e da presença de D. Pedro na vizinha povoação que depois foi chamada de Serra d’El-Rei (ler aqui)

Após a morte de D. Constança, o rei assume publicamente o seu amor por D. Inês, passando a viver maritalmente com esta, nascendo desta relação três filhos. A relação foi condenada pelo pai de D. Pedro, o rei D. Afonso IV, condenando à morte, em 1335, D. Inês, por alegada traição ao reino.

Após subir ao trono D. Pedro I levou a cabo a missão de vingança, condenando com violência todos os culpados e envolvidos na morte da sua amada, decretando também D. Inês como rainha de Portugal.

D. Pedro ordenou a construção do seu túmulo e do da sua amada, transladando os restos mortais de D. Inês para o Mosteiro de Alcobaça, constituindo hoje uma das maiores esculturas tumulares da Idade Média no País.

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Túmulos de D. Pedro e D. Inês

O Rei determinou no seu testamento que, aquando a sua morte, os túmulos deveriam ser colocados de modo a que no dia do juízo final, quando os dois apaixonados ressuscitassem, se olhassem olhos nos olhos. E assim se encontram os dois túmulos no transepto da igreja do Mosteiro de Alcobaça.

De Alcobaça à Batalha, do nascimento de Portugal à preservação da independência

Se Alcobaça está ligada à independência de Portugal, a Batalha remete-nos para a luta pela sua manutenção. Por isso, de caminho passei por Aljubarrota.

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Aljubarrota – Homenagem a D. Nuno Álvares Pereira

Efectivamente, a crise dinástica surgida nos meados do Séc XIV pôs em causa a independência arduamente conquistada dois séculos antes. As aspirações ao trono de Portugal por parte de D. João I de Castela levaram-no a invadir o nosso país com um poderoso exército. Por outro lado, D. João, Mestre de Avis, filho ilegítimo de D. Pedro I, coadjuvado por D. Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino, procurou defender a independência nacional. O confronto inevitável deu-se nos campos de Aljubarrota (a meio caminho de Alcobaça e Porto de Mós), um vale que tem de um dos lados os contrafortes da Serra dos Candeeiros. Terreno ideal para, como muita imaginação, armadilhar o caminho ao exército castelhano muito superior em número de efectivos.

A Batalha de Aljubarrota decorreu no final da tarde de 14 de Agosto de 1385 entre tropas portuguesas com aliados ingleses e o exército castelhano. A batalha deu-se no campo de São Jorge e o resultado foi uma derrota definitiva dos castelhanos, o fim da crise de 1383-1385 e a consolidação de D. João I, anteriormente o mestre de Avis, no início da rebelião, como rei de Portugal, o primeiro da Dinastia de Avis. A aliança Luso-Britânica saiu reforçada desta batalha e seria selada um ano depois, com a assinatura do Tratado de Windsor e o casamento do rei D. João I com D. Filipa de Lencastre.

Desta luta saíram dois factos que se vieram a tornar basilares em toda a História de Portugal, daí para a frente: a secular aliança com Inglaterra que ainda perdura e é a mais antiga no mundo e a “Ínclita Geração” – os filhos de D. João e D. Filipa, D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique, D. João, D. Isabel e D. Fernando – que teve papel fundamental no lançamento da Epopeia dos Descobrimentos.

Como agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota, D. João I mandou edificar o Mosteiro da Batalha.

O Mosteiro da Batalha, de seu nome Mosteiro de Santa Maria da Vitória

O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, exemplo da arquitectura gótica tardia portuguesa, ou estilo manuelino,  situa-se na que hoje é a vila de Batalha e foi mandado edificar em 1386 pelo rei D. João I de Portugal como agradecimento à Virgem Maria pela vitória contra os rivais castelhanos na batalha de Aljubarrota. Este mosteiro da Ordem de São Domingos foi construído ao longo de dois séculos até cerca de 1563, durante o reinado de sete reis de Portugal, embora desde 1388 já ali vivessem os primeiros frades dominicanos.

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Mosteiro da Batalha

Afonso Domingues (1330-1402) foi o mestre arquitecto a quem se ficou a dever a traça original do Mosteiro da Batalha, tendo dirigido as obras desde 1388 até 1402. Com cerca de século e meio para ser construído, o mosteiro inevitavelmente sofreu a influência de vários mestres e, por consequência, de vários estilos.

Reza a lenda que a abóbada do Mosteiro da Batalha, tal como projectada por Mestre Afonso Domingues não era possível de ser construída pelos métodos e técnicas da época. E assim parecia ser!

Afonso Domingues cegou durante a construção do Mosteiro e a obra foi então entregue a David Huguet um arquitecto Irlandês que resolveu alterar os planos iniciais. E a dita abóbada colapsou pelo menos uma vez. Após este dramático acontecimento a abóbada foi feita segundo os estudos iniciais do arquitecto Português.

Após terminarem a abóbada, Afonso Domingues fez o voto de jejuar e permanecer durante três dias e três noites sob a abóbada para provar que a mesma não voltaria a cair. Já com uma idade avançada para a época, acabou por morrer ao fim desses dias. Antes de falecer proferiu a tão profética frase que chega aos nossos dias: “A abóbada não caiu, a abóbada não cairá!”

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Mosteiro da Batalha
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Mosteiro da Batalha
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Mosteiro da Batalha
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Mosteiro da Batalha
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Mosteiro da Batalha

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Mosteiro da Batalha
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Mosteiro da Batalha
A caminho de Ourém

A tarde ia avançada e era altura de rumar ao nosso destino. Para o dia seguinte, ficaria uma visita ao Castelo de Ourém, conhecer um pouco mais sobre esta terra e depois o regresso. A Quinta da Alcaidaria-Mór esperava-me!

No dia seguinte, o regresso: Castelo de Ourém e as Serras dos Candeeiros e Montejunto

Ourém tem características peculiares: a que veio a ser chamada Vila Nova (de Ourém) e cuja designação caiu com a elevação a cidade em 1991, é plana e arejada. Já a vila original, situa-se logo ali, nas encostas íngremes que nos levam até ao Castelo. A mudança deveu-se essencialmente à destruição provocada pelo Terramoto de 1755 e que levou a que a população procurasse terras mais planas.

Subindo ao Castelo podemos constatar duas coisas desde logo: a espectacular vista que se prolonga por longos quilómetros e nos deixa ver em toda a extensão a Vila Nova e as obras de recuperação e restauração do Castelo que apenas deixa antever a sua configuração original.

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Castelo de Ourém

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Castelo de Ourém
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Castelo de Ourém
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Castelo de Ourém
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Castelo de Ourém

O Castelo, também designado Paço dos Condes de Ourém, contém nas suas muralhas não só as estruturas militares defensivas como também a Cidadela, residência dos Condes. Presume-se que a sua construção, contemporânea da fundação da nacionalidade, tenha sido feita sobre antigas estruturas mouras. Sob o ponto de vista estratégico e militar, esta localização é privilegiada, razão da sua ocupação milenar. A sua história cruza-se ao longo dos tempos com a História de Portugal. Duas vicissitudes afectaram-no gravemente. Em primeiro lugar, o Terramoto de 1755 e depois, em 1810 quando a zona foi ocupada pelas tropas napoleónicas do General Massena que lhe infligiram danos consideráveis para lá do saque efectuado no território.

Na encosta, pouco antes de chegarmos ao Castelo e em pleno antigo núcleo urbano de ruas estreitas e de inclinados empedrados, fica a Igreja da Colegiada de Nossa Senhora das Misericórdias. O templo inicial foi fundado por D. Afonso Henriques. O Conde D. Afonso (4.º Conde de Ourém) remodelou e ampliou a igreja (1445), instituindo nela a Colegiada de Nossa Senhora das Misericórdias. O terramoto de 1755 destruiu a igreja na sua quase totalidade, tendo sobrevivido apenas a parte posterior da abside e a cripta, uma notável sala subterrânea (localizada sob a Capela-Mor) que apresenta semelhanças estruturais com a Sinagoga de Tomar.

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Igreja da Colegiada de Nossa Senhora das Misericórdias

Feita a visita, desci novamente a Vila Nova. Era tempo de me despedir de Ourém e iniciar o regresso.

Serra dos Candeeiros

Já em ocasião anterior percorri estas estradas da Serra dos Candeeiros. A descrição e toda a história em “A Fórnea, o Polje de Minde e o final nos Olhos d’Água”.

Vindo de Ourém, Fátima ficou para trás e em Minde iniciei a subida, mais propriamente à Serra de Santo António. Quase a chegar ao alto, oportunidade para rever a vista para norte, com Minde, Mira d’Aire e nos espaço que as separa, o Polje de Minde.

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Minde à direita e Mira d’Aire à esquerda. No meio, o Polje de Minde

Depois, um quilómetro à frente, a vista para sul. Quase toda a planície ribatejana lá em baixo e ao fundo, a Serra de Montejunto. Foi para lá que me dirigi.

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Do alto da Serra de S. António, até onde a vista alcança
Serra de Montejunto

Mais uma vez, oportunidade para rever as estradas da Serra de Montejunto. Já aqui estive várias vezes, sempre com renovado prazer. E está em “Volta saloia por Montejunto e Bombarral” onde também conto a sempre curiosa e interessante história da Real Fábrica do Gelo.

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No alto de Montejunto

A deslumbrante vista a partir do topo da Serra (pejada de antenas) de toda a zona norte de Lisboa, a tal região saloia, com o Tejo lá ao fundo e a sudoeste o vulto da Serra de Sintra. E também a passagem pela Igreja de Nossa Senhora das Neves.

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Igreja de Nossa Senhora das Neves

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Desci a serra em direcção a Vila Verde dos Francos, apontei a Sobral de Monte Agraço, que desta vez estava repleta de sol e calor e repeti, agora em sentido contrário, a EN115 (tinha-a feito na primeira parte desta viagem). Bucelas, Loures foram rapidamente ultrapassadas e era o final de mais uma…. Viagem ao Virar da Esquina.

Agradecimentos

A moto utilizada nesta viagem foi uma Honda X-ADV, sobre a qual já escrevi a respectiva análise, publicada aqui. A minha gratidão à Honda Portugal pela sua cedência.

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Um enorme obrigado também aos Solares de Portugal, companhia de primeira hora neste projecto em que vos dou a conhecer algum do riquíssimo património histórico e arquitectónico dos muitos solares e mansões familiares do nosso País.

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E obviamente, a minha gratidão ao anfitrião desta excelente visita à Quinta da Alcaidaria-Mór em Ourém.

Que recomendo…até porque fica logo ali, ao Virar da Esquina!

P’rós Amigos

Disclaimer

A partir de 04/10/2019 e durante os próximos 30 dias, os Solares de Portugal oferecem um desconto de 10% nas reservas efectuadas para este destino sendo que nesse acto deverá ser indicada a referência 6F0BD582 e mencionar que a casa visitada foi a  Quinta da Alcaidaria-Mór em Ourém.

Este desconto não é cumulativo com campanhas em vigor e a reserva da estadia terá que ser feita através da CENTER promo@center.pt e tel 258 743 965 e não directamente à casa.

Outros benefícios podem ser consultados na página P’rós Amigos!

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