À procura de uma estrada…para a Multistrada!

Quando projectamos o olhar para o horizonte temos tendência a não ver…onde pomos os pés! Quero com isto dizer que, ao procurarmos o longínquo, esquecemos por vezes o que está perto. Foi o caso…

Precisava de uma estrada sinuosa, não muito longe porque o tempo disponível era escasso, que me permitisse explorar algumas das imensas capacidades da Ducati Multistrada V4S. E ao mesmo tempo fugir ao habitual…

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Ducati Multistrada V4S

Nada como recorrer ao velhinho (velhos são so trapos!) mapa das estradas. E recordar que aquela que costumamos chamar de região saloia é tudo menos plana. Apesar de não ter características montanhosas (a altitude mal chega aos 400 m) a morfologia do terreno é um permanente sobe e desce, com alguns declives pronunciados.

Como muito bem souberam aproveitar os resistentes exércitos portugueses e ingleses, quando as tropas napoleónicas resolveram vir até cá… As famosas Linhas de Torres, 3 perímetros quase concêntricos de defesa da cidade de Lisboa, compostos por mais de uma centena de fortificações que têm pouco de engenharia de construção mas têm imenso de estratégia militar e aproveitamento daquilo que o próprio terreno oferece. Mas já lá iremos.

Se o terreno é acidentado estão reunidas as condições para encontrarmos estradas sinuosas. Foi isso que procurei…e encontrei. A Estrada Nacional 116! 

Descrição da EN116

Quando o Plano Rodoviário de 1945 estruturou aquilo que viria a ser a rede viária nacional e “criou” as Estradas Nacionais, definiu a necessidade de uma estrada que fosse uma via circular de Lisboa, a norte, tal como a EN10 a sul, cuja história vos contei há algum tempo. É a Estrada Nacional 116 que principia na Ericeira e termina em Alverca.

E neste caso, o termo rede aplica-se com toda a propriedade. O seu início situa-se hoje numa rotunda na Ericeira, onde entronca com a EN247. (Peniche-Cascais), cruza sucessivamente a EN9 (Cascais-Alenquer) com a qual se sobrepõe durante todo o atravessamento de Mafra e até a Carapinheira.

Mais à frente encontra a EN8 (Lisboa-Alcobaça) com a qual também se sobrepõe entre Malveira e Freixieira, Pouco mais adiante, cruza a EN374 (Carvoeira-Loures) que passou pouco antes pelo Cabeço de Montachique.

Em Bucelas, é a vez da EN115 (Caldas da Rainha-Lisboa) e durante cerca de 100 m os seus trajectos coincidem. E finalmente chegamos a Alverca, onde termina na EN10 (Lisboa(Cacilhas)-Setúbal-Vila Franca de Xira; também já vos contei a história desta inclusivamente a história do seu prolongamento até Sacavém).

E durante todo este trajecto, cruza várias auto-estradas que são mais recentes como sabemos e não estavam contempladas no PNR já idoso de 76 anos: A21, A8, A9 e A1.

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Mapa EN116

O número que a designa está explicado: 1 passeio, 1 estrada e 6 cruzamentos. EN116!

Uma jornada na EN116
1. De Alverca a Bucelas

A extensão desta estrada é curta. Pouco mais de 40 km. Insignificante, pensarão. A rolar, sem pressas, demora-se cerca de 1 hora…um pouco mais porque tem algum trânsito e as travessias das localidades são lentas. Mas se lhe acrescentarmos alguns pontos de interesse que estão nas proximidades, este poderá ser um agradável passeio de 1 dia. Com tempo para uma paragem para almoço … locais não faltam e esta é zona onde se come bem (em Portugal, qual não é?).

Por conveniência e porque é mais agradável terminar o passeio de frente para o mar, fiz o percurso “ao contrário”. Afinal, a estrada tem 2 sentidos pelo que o começo ou o final é mero formalismo. Sabemos que o quilómetro 0 é na Ericeira. E chega.

Chegado a Alverca, começo a percorrer a EN116 na rotunda que também dá acesso à Base Aérea e ao pólo do Museu do Ar. Cruzo a EN10 apenas para aceder às vias que levam aos nós da A1. Aí, mais uma rotunda na qual foi inserido um avião caça em posição de flic-flac à retaguarda, homenagem às OGMA – Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, aqui situadas e um exemplo de excelência na manutenção aeronáutica.

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Monumento OGMA

 Nessa rotunda sigo em frente e passo por cima do viaduto sobre a auto-estrada. Entrei definitivamente na EN116.

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Início da jornada na EN116

Para começo de conversa, não está nada mal. Uma subida com algumas curvas em cotovelo, boas para fazer o aquecimento. É a zona de A-dos-Potes (mais uma curiosa toponímia). Para trás ficou a zona ribeirinha do Tejo, que de vez em quando se vislumbra pelos espelhos retrovisores, lá ao longe.

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Curva e contra curva

Até Bucelas, o percurso continua sempre muito sinuoso, bom piso e rodeado de arvoredo frondoso. Esta freguesia do concelho de Loures, é terra muito antiga, tendo sido há alguns anos identificados vestígios da presença romana junto à Igreja Matriz, situada no centro da vila e que originaram escavações arqueológicas no local.

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Centro de Bucelas – Igreja Matriz

Mas o principal factor de notoriedade de Bucelas tem a ver com a excelência da produção de vinhos, sendo região demarcada. Foi essa aliás umas das principais razões para a sua promoção a vila em 4 de Dezembro de 1927.

Também em Bucelas, temos um Centro de Interpretação das Linhas de Torres. Importante para conhecermos um pouco mais sobre estas fortificações que tão importantes foram em dado momento da nossa História.

A EN116 entra na vila de Bucelas pelo lado nascente. No centro, junta-se à EN115 que tem o rumo sul-norte, por cerca de 100 m. Aí, num semáforo que ordena o tráfego num cruzamento estreito e assimétrico, voltamos à esquerda. Abandonamos a EN115 e retomamos a nossa rota rumo a oeste.

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Bucelas – voltamos à EN116
2. De Bucelas à Malveira

A estrada mantém a toada sinuosa até que chegamos ao Freixial. É aqui que vamos (por um pedaço) sair da nossa estrada.

Viramos à esquerda, seguindo a placa que indica “Cabeço de Montachique” e Ribas. A estrada chama-se precisamente Estrada de Ribas.

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À esquerda para a Estrada de Ribas

Bom piso, predominantemente a subir, é por aí que vamos. A diversão está garantida, com curvas bem lançadas, ora à direita, ora à esquerda, mas com os necessários cuidados porque estamos em zonas com alguma população.

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Estrada de Ribas

A ideia é fazermos toda a Estrada das Ribas, passando por Ribas de Baixo e, inevitavelmente, Ribas de Cima (como disse, a estrada é a subir, neste sentido). São cerca de 4 km até ao cruzamento onde termina. Antes do final, à direita, o acesso ao Parque Municipal do Cabeço de Montachique, local muito aprazível e bem arranjado.

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Estrada de Ribas

Mesmo antes do final, um caminho de terra leva-nos até ao Forte ou Reduto do Mosqueiro (“Obra Militar n.º 57”). Esta fortificação (a 57ª a ser construída) inseria-se na 2.ª Linha do sistema defensivo das Linhas de Torres Vedras. Cobria o lado direito do desfiladeiro de Montachique, controlando os desfiladeiros de Montachique, Ribas e São Gião.

Terminada a Estrada de Ribas (no cruzamento com a EN374) era imperioso subirmos ao Cabeço de Montachique. É o ponto mais alto do concelho de Loures, com 409 m de altitude. Dali temos uma vista espectacular a 360º, com todo o estuário do Tejo e ao fundo o recorte da Arrábida. Olhando para norte, conseguimos vislumbrar Montejunto e para oeste a orla marítima.

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Cabeço de Montachique

 

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Cabeço de Montachique – Baloiço

Quando descemos observa-se curiosa construção em estado de ruína avançada. É o Sanatório Grandella….cuja obra, do início do Séc XX, nunca foi concluída! O Sanatório Albergaria – era este o nome que Francisco de Almeida Grandella pretendia dar ao hospital que idealizou – começou a ser construído em 1919, mas não chegou a ser acabado. Na altura, a tuberculose atingia proporções epidémicas em toda Europa e Portugal não era excepção, pelo que o próprio Estado tomou a seu cargo a criação de uma rede de infraestruturas de tratamento que inviabilizaram a rendibilidade daquele investimento.

Tornei à Estrada das Ribas. À entrada de Ribas de Cima, viro à direita. Descida pronunciada e sinuosa leva-me a uma pequena ponte. Do outro lado, subida igualmente íngreme. Vislumbro as pás de algumas eólicas e quase no cimo da subida, está um bonito miradouro com um dos elementos da actual moda ecológica: o Baloiço das Portelas.

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A caminho do Baloiço das Portelas

 

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Baloiço das Portelas

Voltei para trás porque o objectivo se mantinha. Mas, se tivesse prosseguido, iria passar em Fanhões e Pintéus. Também vale a pena fazer este pequeno troço, principalmente se o objectivo for regressar pois deixa-nos perto de Loures.

Feita a Estrada de Ribas e o que está à sua volta, regressei à EN116 para prosseguir a jornada. Daqui até à Malveira, o trajecto é maioritariamente sinuoso. Passa-se por Chamboeira e Vale de S.Gião.

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Cruzamento com EN374

Continuamos a desfrutar da condução numa estrada razoável e com encadeamento de curvas bastante interessante. Até que, antes de entrarmos na Venda do Pinheiro….a estrada está interrompida! (Convém dizer que anteriormente havia sinalização a avisar e a indicar um desvio, mas que nos levaria para fora da EN116, razão pela qual resolvi seguir e tentar perceber como resolver).

A solução é fácil: no local da interrupção vira-se à direita por umas ruelas e 200 m à frente encontro a EN8. Viro à esquerda, entro na Venda do Pinheiro e vejo o local onde a estrada está interrompida deste lado. Estou novamente na EN116! Problema resolvido.

A partir daqui entro em área urbana, porque a Malveira surge logo que termina Venda do Pinheiro. Todo este percurso sobrepõe-se à EN8 até ao final da Malveira.

A Malveira é uma vila tradicional, uma das principais referências da dita “Região Saloia”, com um rico património cultural e histórico. Tem uma das mais famosas feiras do país – a Feira da Malveira – cujo início remonta a finais do século XVIII e à feira anual, a primeira “livre de direitos”, por foral de D. Maria I.

Outro destaque, muito saboroso diga-se, está na doçaria: as famosas Trouxas da Malveira, uma receita que tem mais de um século de existência, e que consiste numa pequena torta recheada com um creme delicioso.

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Fábrica das Trouxas da Malveira
3) Da Malveira a Mafra

À saída da Malveira, podia ter optado por uma variante para chegar à Ericeira: pela EM549 (seguir pela estrada que passa em frente à Fábrica das Trouxas) em direcção a Gorcinhos, Quintal e Zambujal. Estradinha municipal. muito bonita.

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Malveira – EN116 e EN8

No Zambujal merece visita o Forte. Mais uma obra das Linhas de Torres – a Obra Militar nº 95 – mas esta bastante mais imponente que a maioria das restantes, o que atesta a sua importância

Situa-se na extremidade Oeste da segunda linha, na Serra Gorda, em posição sobranceira ao rio Lisandro e à sua afluente, a ribeira da Vidigueira. Aproveitando uma elevação do terreno, dominava a região envolvente e a estrada que ligava Ericeira a Belas, passando pela Carvoeira.

Tinha como função a defesa das praias da foz do rio Lisandro e de São Julião apoiando a frota inglesa e o controlo da estrada entre Ericeira e Sintra. Em articulação com os restantes redutos da Carvoeira, deveria cobrir uma eventual retirada luso-britânica pela foz do Lisandro e a estrada da Carvoeira.

Como o objectivo era a EN116, desta vez não passei pelo Zambujal mas fica a sugestão. Merece visita (quem sabe, no regresso da Ericeira). Sigamos para Mafra. São só 10 km que, diga-se, não têm grande interesse e a minha atenção prende-se mais com o trânsito que é aqui mais intenso.

Em Mafra, a sucessão de rotundas e vias rápidas fazem jus ao nome. Rapidamente estou no centro da vila e perante a dimensão gigantesca do Convento.

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Palácio Nacional de Mafra

Retirei este resumo do site oficial:

 “O Convento de Mafra (ou Palácio Nacional de Mafra), uma obra monumental, com uma escala assombrosa, é um Convento franciscano, um Palácio do Rei, um Palácio da Rainha, uma Biblioteca, uma Basílica e uma Tapada. Incorporam este património um complexo Hospitalar do século XVIII, dois Carrilhões monumentais do século XVIII, um conjunto (único) de Seis Órgãos de tubos e uma das que, por muitos, é considerada como sendo a mais bonita Biblioteca histórica do mundo.

O Paço Real ocupa todo o andar nobre do edifício de Mafra e os dois torreões, sendo o do Norte destinado a Palácio do Rei e o do Sul à Rainha, ligados por uma longa galeria de 232 m – o maior corredor palaciano na Europa – usada para o “passeio” da corte, tão ao gosto do séc. XVIII. Aqui se esperavam as audiências reais, se exibiam as joias e os vestidos ou se teciam as intrigas políticas e amorosas…

Concebido inicialmente como um pequeno convento para 13 frades, o projecto para o Real Convento de Mafra foi sofrendo sucessivos alargamentos, acabando num imenso edifício de cerca de 40.000 m2, com todas as dependências e pertences necessários à vida quotidiana de 300 frades da Ordem de S. Francisco.

A Basílica ocupa a parte central do edifício, ladeada pelas torres sineiras. Foi feita segundo o desenho de João Frederico Ludovici ourives de origem alemã que, após a sua longa permanência em Itália, a concebeu ao estilo barroco italiano.

A Biblioteca Monástico-Real do Palácio Nacional de Mafra é uma das mais importantes bibliotecas europeias, com um valioso acervo de c. de 36.000 volumes, um “ex libris” da ilustração esclarecida do séc. XVIII.

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Palácio Nacional de Mafra

O Real Convento de Mafra possui um conjunto de dois carrilhões ou seja uma série de sinos afinados musicalmente entre si. No caso de Mafra são noventa e oito sinos, o que os torna uns dos maiores carrilhões históricos do mundo.

O acervo do Palácio Nacional de Mafra integra peças provenientes do Convento de Nossa Senhora e Santo António e peças originárias do Paço Real.

As primeiras, predominantemente do século XVIII, incluem pintura, escultura, metais, paramentos etc., encomenda de D. João V nos principais centros artísticos europeus

As peças de origem palaciana são essencialmente do século XIX, e reflectem a funcionalidade que o palácio tinha como residência de descanso ligada à prática da caça.”

Segui caminho…

4) De Mafra à Ericeira

À saída de Mafra (mais uma rotunda…) surge a opção de seguir para Paz. A Paz é sempre um bom destino. Neste caso também, porque é por ali que se segue para a Tapada Real. Essa estrada, que passa no Gradil e termina mais à frente na EN8 foi em tempos o troço do Gradil do Rali de Portugal….não é preciso dizer mais nada, pois não? (e ali nas imediações há mais umas estradas bem giras!).

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Rumo à Ericeira

Mas não segui para Paz. Segui a indicação Ericeira que fica a 9 km. Os últimos quilómetros da EN116.

À medida que me aproximo do litoral, o cheiro a mar invade-nos. O trânsito é intenso e atravessamos uma zona de Olarias.

Na povoação de Sobreiro, encontro a Aldeia Típica de José Franco. Nascido em 1920, desde miúdo que José Franco conviveu com a arte da olaria que foi também a sua. Nos anos 60 do século passado deu corpo ao sonho de retratar uma aldeia típica saloia, que fosse simultaneamente uma reprodução da vida das gentes dessa época e uma homenagem à sua terra. Merece a paragem e uma visita atenta, porque a riqueza de pormenores que podemos encontrar é magnífica.

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Aldeia Típica José Franco

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Aldeia Típica José Franco

Finalmente, cheguei à Ericeira. À minha frente, o mar. Para a direita e esquerda, a EN247. Se seguisse para sul, chegaria à Foz do Lisandro e iria a caminho de Sintra e depois Cascais.. Se virasse para norte, passaria em Ribeira d’Ílhas, a capital do Surf, e iria até Peniche.

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Chegamos ao fim da EN116

Fiquei na Ericeira.

Presume-se que tenha sido porto do tempo dos Fenícios. O seu nome julgou-se que derivaria de “ouriço” e teria origem nos muitos ouriços-do-mar que por ali apareciam na praia. Mais tarde se provou, quando se descobriu o antigo selo-brasão da vila, que a origem estava correcta…mas derivava sim dos ouriços-cacheiros.

Foi, desde sempre importante porto, não só de pesca mas também de mercadorias, tendo chegado a ser, no Séc. XIX, o mais importante da Estremadura, inclusivamente dotado de Alfândega.

O primeiro foral remonta a 1229 e foi confirmado novamente em 1513 por D. Manuel I. Por herança, chegou a Ericeira à posse de D. António Prior do Crato. E foi aqui que ele tentou, sem resultado, um desembarque militar na luta contra o domínio da coroa espanhola.

Muito mais tarde, às 15h do dia 5 de Outubro de 1910, que chegaram à Praia dos Pescadores os veículos que transportavam a Família Real. Foi aqui que embarcaram no iate real D. Amélia a caminho do exílio. Era o final do Regime Monárquico em Portugal.

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Ericeira – Praia dos Pescadores

 

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Ericeira

Actualmente, para lá da pesca, é o Turismo que anima e contribui para a riqueza da vila da Ericeira. E para o seu cosmopolitismo.

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Ericeira – Turismo

 

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Ericeira – Cosmopolita

A jornada estava terminada. Concluí a Estrada Nacional 116. Pequena é certo, mas ainda assim muito interessante. E com alguns pedaços de condução divertida.

Faltava só um pequeno detalhe. Tinha que ir saborear os pastéis típicos da terra – os Ouriços da Ericeira.

Especialidade da “Casa da Fernanda”…que estava fechada! Era terça-feira.

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Ericeira – Ouriços…não havia

Já sabem…não vão lá nesse dia da semana. Porque os Ouriços são imperdíveis!

Referi no início que quando olhamos para longe, se nos escapa o que está perto. É verdade. Esta EN116 está perto. E porque é que não a estava a ver? Porque estava a olhar para mais longe. E essas são as histórias que vos contarei nos próximos tempos! Não percam…

E sobre a Ducati Multistrada 1250 V4S não há nada a dizer?

Na realidade, considerando tudo o que tem sido dito nas revistas da especialidade, nacionais e estrangeiras, e tem sido bastante, pouco mais poderei acrescentar.

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Ducati Multistrada V4S

Esta Ducati é, provavelmente, a moto (de série) com a maior concentração de tecnologia existente no mercado. E sendo discutível dizê-lo, talvez a melhor do segmento.

Ao referir tecnologia, não estou só a pensar no motor V4 Granturismo que nos entrega sem qualquer hesitação 170 cv e um binário de 125 Nm.

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Motor V4S Granturismo

Nem nos 4 modos de condução parametrizados mas completamente personalizáveis – Urban, Touring, Sport ou Enduro – que gerem a entrega de potência, o controlo de tracção, o ABS, o anti-cavalinho, a regulação da suspensão electrónica (frente e traseira separadas) e da pré-carga, o quick-shift.

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Modos de Condução

Ou até no ecrã TFT colorido onde tudo se passa através dos comandos do punho esquerdo de fácil utilização, o botão específico que acerta a suspensão consoante vou sozinho, com pendura, com carga…ou se deixo isso a cargo da “inteligência” da moto.

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Regulação electrónica da suspensão

Estou a pensar também em dois dos aspectos mais inovadores:

a) se muitas motos têm hoje cruise-control (para quem viaja e é obrigado a longas sessões de auto-estrada, é utilíssimo), esta Ducati tem controlo adaptativo. Isto é, em função de regulação prévia da distância a que queremos que actue, o sistema reduz automática e progressivamente a nossa velocidade em função da velocidade do veículo da frente. Em termos de segurança, julgo ser um avanço significativo. Carece todavia de alguma habituação, para que não fiquemos a dado momento a olhar para a moto sem perceber porque razão “não desenvolve”…

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Cruise Control Adaptativo em funcionamento

b) os avisadores de ângulo morto são umas luzes laranja, uma em cada espelho retrovisor, que nos alertam para a presença de um qualquer veículo naquele ângulo de visão em que nem nós nem o espelho o vemos.

Achei fantástico e o que posso dizer é que deveria ser obrigatório em todos os veículos motorizados (com a possibilidade de ser desligado se circularmos numa via engarrafada, pois aí então estaria sempre acesso e não produziria o efeito pretendido). Fiquei rendido a este elemento que é verdadeiramente de segurança. Parabéns e obrigado, Ducati!

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Detector de ângulo morto

Em andamento, sem ser brusca, esta moto é um foguete. Tem potência e força para dar e vender, suspensões e travões de excelência, um comportamento excepcional em todas as circunstâncias.

Provavelmente por ter o centro de gravidade algo alto, “sente-se” o seu peso. Os duzentos e muitos quilos estão lá e impõem respeito. Mas depois de habituados, a moto assenta que nem uma luva.

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Multistrada V4S

Encontrei-lhe 2 defeitos: um, o já habitual confronto com o algoritmo de gestão da autonomia e consumo de combustível. Quando nos aproximamos das últimas gotas…é um susto. No curto espaço de um percurso com 20 km, vi surgir 117 km de autonomia, 63 km e 32 km….

O segundo defeito, não é bem…. defeito. É feitio!

Um tal concentrado de tecnologia, para mais com a qualidade que a Ducati põe nos seus produtos, nunca poderia ser barato. A Ducati Multistrada 1250 V4S não será para todos os bolsos.

Mas é pena…porque esta Ducati é fantástica!


Para ler a análise completa de Viagens ao Virar da Esquina à Ducati Multistrada V4S: Experimentei a Ducati Multistrada V4S…. Sport!”

E o filme deste passeio pela EN116: “À procura de uma estrada…”

(Este texto foi originalmente publicado no número 37 da revista Andar de Moto – Edição de Junho 2021)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Experimentei a Ducati Multistrada V4S…. Sport!

Esta é a moto mais completa que tive a oportunidade de conduzir.
A versão topo de gama, completamente equipada com todos os “mimos” que a tornam numa referência no mercado actual.

A Ducati colocou a fasquia bem lá no alto!

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Mas para isso teve que fazer cedências face à tradição: o motor tem 4 cilindros em vez de 2 (mas manteve o V…valha ao menos isso!), o comando das válvulas deixou de ser desmodrómico e o quadro passou a ser um dupla trave em alumínio em vez da treliça.

Sacrilégio para os mais puristas? Pode até ser….mas esqueçam lá isso!

Sobre a Multistrada

A primeira Multistrada foi apresentada há 18 anos, em 2003.

Sete anos depois surgiu a segunda geração e foi preciso esperar mais 5 anos para aparecer a que agora termina o seu serviço. Esta V4 é a quarta geração Multistrada. E que evolução!

0018Hell'sGateO sucesso está evidente nas mais de 110 mil unidades vendidas nestes 18 anos. A maioridade do modelo é celebrada de forma efusiva: esta nova Multistrada já ultrapassou as 5 mil unidades vendidas, só em 6 meses (começou a ser apresentada à imprensa no final do ano passado e chegou aos concessionários no início de Janeiro)!

Em relação à versão anterior, como é?

Referi atrás as questões do motor e do quadro. Efectivamente, passou do V2 em L desmodrómico para este V4 a 90º (em L portanto) com menor cilindrada.

Este motor, que a Ducati baptizou de Granturismo, diverge do da Panigale precisamente pelo tipo de distribuição (comando das válvulas) e ainda porque ao aumentar o diâmetro dos cilindros a sua capacidade passou para 1158 cc (em vez dos 1103).

0027Hell'sGateOutros aspectos relevantes são o duplo braço oscilante e a jante de 19” na roda dianteira. E também acabou a duplicidade de versões: a Standard e a Enduro.

Fora estes detalhes, a geometria, o design, o resto é….tudo diferente! Esta é, na sua essência uma moto nova. E é assim que deveremos olhar para ela.

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Em tempos tive oportunidade de conduzir por poucos quilómetros a versão anterior. Não tenho pontos de referência para a comparação mas recordo que na época gostei bastante da ergonomia da moto.

Pois esta não lhe fica atrás, pelo contrário. Sentamo-nos e as nossas mãos assentam naturalmente nos punhos e tudo parece no seu sítio. Mas, quando tirei os pés do chão, senti-lhe o peso.

Características da Multistrada V4S ensaiada

Convém referir que se trata da versão mais equipada da Multistrada: a V4S com toda a tecnologia que adiante abordarei e ainda o silenciador da Akrapovic e o guarda-lamas dianteiro em carbono. Ou seja, a versão V4S Sport…com “tudo a que temos direito”!

1. Falemos da parte técnica

Melhor do que descrever uma a uma, ficam os quadros com as características técnicas. Adiante destacarei o que me parece mais relevante:

dados tecnicos multistrada V4S0001

dados tecnicos multistrada V4S0002

O novo motor tetracilindrico Granturismo, que mantém o V a 90º (em L) face à anterior versão V2, deriva do da Panigale ou Streetfighter. Perde o comando desmodrómico das válvulas e vê o diâmetro aumentado, ou seja um ligeiro aumento de cilindrada.

O objectivo foi tornar o motor mais redondo, menos explosivo e mais adequado ao perfil de moto, com grande elasticidade e resposta pronta mas de forma progressiva.

Ao principio,  comporta-se de forma muito tranquila e civilizada. À medida que as rotações sobem, a vivacidade aumenta e a partir de cerca de metade da gama de rotações….o carácter dos genes de MotoGP vêm ao de cima. A resposta é magnífica, entusiasmante, a adrenalina sobe na mesma proporção…e a banda sonora tem uma melodia digna de uma orquestra sinfónica! A Ducati sabe o que faz nesta matéria.

Mas há que ter atenção: nunca sabemos se não estará à nossa espera um daqueles fotógrafos voyeuristas escondido atrás de uma moita, à beira da estrada…

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Face ao motor da geração anterior há um ganho de 1,2 kg. Ainda assim…a Ducati deixou ficar (bastante atenuados) aqueles barulhos iniciais em que dá a ideia que andam por ali algumas peças soltas. Não é defeito. É feitio…e com muito charme!

A potência que debita, 170 cv, torna a Multistrada no modelo mais potente do segmento (mais 10 cv que a KTM 1290 Superadventure e mais 35 cv do que a BMW GS1250). E é mais leve que ambas… às 5.000 rpm a moto circula a cerca de 130 km/h. Ao red-line – 10.000 rpm -atingirá o dobro. Teoricamente, claro.

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O quick-shift é muito eficaz. Todavia, talvez pela própria inércia da moto e as características do motor, pareceu-me mais lento do que na Supersport 950S recentemente ensaiada. Convenhamos que mantenho a opinião que o quick-shift faz mais falta a modelos de características desportivas que poderão até fazer a suas incursões em pista, do que em motos trail. Julgo que para estas há uma solução melhor mas disso falarei no final.

0009Hell'sGateA ciclística da moto é irrepreensível. O quadro, as suspensões electrónicas Marzocchi e os travões Brembo dão toda a confiança na abordagem às curvas, independentemente da qualidade do piso. Para tal, julgo que a roda dianteira de 19” é um melhoramento significativo em terrenos mais irregulares (mesmo sabendo-se que em estradas rápidas e em bom estado, a roda 17 dá outro conforto). E a electrónica completíssima dá a este conjunto um comportamento quase imbatível.

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Há um aspecto que merece destaque especial: para lá das melhorias na acessibilidade à mecânica e ao motor menos complexo (o desmo acrescenta alguma complexidade), a Ducati prevê intervalos de manutenção muito espaçados (quase ao nível do que se faz na indústria automóvel) o que representa economia significativa para os proprietários. Mas, visto de outro prisma, esses intervalos associados à garantia de 4 anos sem limite de quilómetros prova a elevadíssima confiança que a marca tem na fiabilidade da nova máquina. Muito bem!

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Não há bela sem senão! A moto apresenta consumos médios mais elevados do que a concorrência – a marca anuncia 6,5 l/100km e neste teste obtive 6,9 l/100km. Julgo que este valor, ainda assim, está sub avaliado pois pouco circulei a velocidades mais elevadas em auto-estrada…e estas já sabemos o que provocam – para lá dos acréscimos de pontos no cartão de fidelização de condutor!

Convém ainda destacar que, quando a moto está ao ralenti, os dois cilindros traseiros ficam adormecidos, com benefício no ruído, no menor calor transmitido às pernas do condutor e reflexos na economia. E mesmo assim, andamos na zona dos 7 litros aos cem.

Talvez por isso (ou consequência disso) o valor das emissões seja substancialmente mais elevado aos da concorrência (confesso que fiquei surpreendido com o valor, que admito possa trazer alguns problemas aos proprietários em futuro mais ou menos próximo). A marca anuncia 162 g/kg, o que face aos 134 da KTM e aos 110 da BMW ou da Africa Twin CRF1100, é um valor algo exagerado! Felizmente, o nosso IUC aplicado aos motociclos não leva em consideração as emissões, contrariamente ao que sucede com os automóveis.

2. E os mimos tecnológicos?

Em primeiro lugar, os modos de condução. A central inercial de 6 eixos, o acelerador ride-by-wire e toda a parafernália de ajudas electrónicas, combinam-se em 4 diferentes modos de condução: Urban, Enduro, Touring e Sport. O condutor pode mudar de modo de condução em andamento, bastando aliviar o acelerador para o sistema assumir o novo modo.

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As variáveis em jogo vão desde a entrega da potência (nos modos Urban e Enduro, o motor só entrega 115 cv…”só”!) , ao controlo de tracção, ao ABS com função cornering, ao controlo anti-cavalinho, ao acerto das suspensões (de forma separada entre a dianteira e a traseira), ao ajuste da pré-carga do amortecedor traseiro e à operacionalidade do quick-shift. Todas estas variáveis vêm parametrizadas de fábrica (e supõe-se que optimizadas).

Mas o feliz proprietário da Ducati Multistrada pode alterar tudo isto…à sua medida. Os diferentes níveis de ajuste de cada uma destas variáveis permitem, se combinados diferentemente, obter mais de 400 mil combinações possíveis! Fica a sugestão: sempre que mexerem nestas afinações…tirem uma foto à situação de partida, sob pena de ficarem à nora! (Não é piada, é a sério…)

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Em segundo lugar, o que é verdadeiramente inovador:

A moto tem radar à frente e atrás… Atenção, não é daqueles que andam por aí nas estradas a tirar fotografias aos distraídos. Este radar existe mesmo para proporcionar mais segurança aos utilizadores desta moto. E o que faz ele?

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À frente, serve para o Cruise-Control adaptativo. Este sistema, desde que accionado juntamente com a parametrização da velocidade de cruzeiro desejada – funciona entre os 30 e os 160 km/h -, vai fazer a moto reduzir essa sua velocidade em função da dos veículos que circulem à frente.

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Se essa redução for muito brusca, os piscas de emergência são automaticamente accionados (não testei esta última função, por motivos óbvios…e felizmente!). A distância ao veículo da frente, a partir da qual este sistema actua, é também parametrizável. Afinal, o que é que não é personalizável nesta moto?

Atrás, o dito radar, faz actuar o BSD – Blind Spot Detection, ou seja, é um detector da presença de veiculo no chamado ângulo morto de visão. Aquele espaço que nem a nossa visão periférica nem o alcance dos espelhos retrovisores alcança. Devo dizer e sublinhar o seguinte: este sistema funciona! E é de enorme utilidade. É verdadeiramente um sistema de segurança activa que, perdoem-me o radicalismo, deveria passar a ser obrigatório (nas motos e nos automóveis). Fiquei rendido!

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Esqueçam os radares fotográficos. Querem segurança rodoviária? Então promovam a utilização destes sistemas. São caros? Se a sua utilização se massificar, rapidamente atingirão preços acessíveis a todos. Pelo valor de quaisquer duas multas de excesso de velocidade, qualquer moto poderia ter estes sistemas de segurança. Bem…o Estado perdia a receita, mas salvava vidas.

Dito isto, quer a BMW na RT1250 quer a KTM na já mencionada 1290 Superadventure, têm o cruise control adaptativo (e já tinham anunciado muito antes da Ducati o fazer). Mas curiosamente, ambas rejeitaram a introdução do alerta de ângulo morto! Gostaria saber quais as razões, porque acho tal muito estranho. Experimentei na Ducati, funciona e é útil!

Mais ”coisinhas boas”:

– A iluminação é totalmente em LED, com luzes de nevoeiro e o sistema DCL – Ducati Cornering Lights. Ou seja, com iluminação automática do interior das curvas. Os piscas desligam-se automaticamente e as luzes de emergência (4 piscas) acendem em caso de travagem brusca;

0020Hell'sGate– Os comandos nos punhos são retro iluminados. Algo simples, mas fundamental e que é incrível como algumas marcas não o fazem, atendendo à complexidade cada vez maior dos comandos associados aos punhos. No caso da Ducati, é uma suave iluminação em vermelho…what else?

0004Hell'sGate– O ecrã TFT colorido tem 6,5” (na versão standard é só de 5”), com excelente leitura e a operacionalidade de todas as parametrizações com os comandos dos punhos é bastante simples e intuitiva, mesmo em andamento.

0148Hell'sGate– Utiliza o sistema keyless. Ou seja, basta-nos manter a chave no bolso. Prático e simples.

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– Tal como o pequeno compartimento na zona do depósito junto ao assento, onde podemos carregar o telemóvel graças à tomada USB incorporada. Tem espaço também para guardarmos o cartão de pagamento ou o ticket da auto-estrada. Tem o senão de a sua abertura – por pressão – ser demasiado simples e poder, inadvertidamente, abrir-se em andamento. Mas é estanque e revestido a borracha, para conforto e segurança do nosso amigo inseparável.

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– A moto teve um desenvolvimento aerodinâmico muito cuidado (como não poderia deixar de ser). Saltam à vista os ailerons laterais à la MotoGP. Aqui, a função não é a de manter a moto agarrada ao chão (tem lá outros componentes para isso) mas sim ajudar a dissipar o ar do motor e ao mesmo tempo, ajudar a refrigerar as pernas do condutor.

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Também as protecções de mão foram convenientemente estudadas, não só como elemento de protecção, mas também para garantirem a optimização da circulação de ar. E, naturalmente, os punhos são aquecidos. Finalmente, mas não menos importante, o vidro. Não só é ajustável….como tal acontece com uma simplicidade e facilidade absolutamente notáveis. Com uma mão, em andamento, ajustamos a altura que queremos, de forma contínua.

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– Os banco são aquecidos. De forma separada entre o banco do condutor e o do pendura. Sendo que este tem um comando ao seu alcance (situado no próprio banco, na zona entre pernas) que lhe permite ser autónomo nessa regulação.

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– No comando do punho do lado esquerdo, há um botão que permite acertar facilmente os parâmetros da suspensão em função da carga: condutor, condutor+bagagem, condutor+pendura, condutor+pendura+bagagem e automática (a moto ajusta automaticamente em função do peso e do tipo de piso).

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– Apesar do peso, tem um bom raio de viragem o que se traduz em boa manobrabilidade. Para essa manobrabilidade contribui também a assistência ao arranque em subidas (hill assist).

Uma nota que já vai sendo habitual nos ensaios a motos Ducati: o algoritmo de consumo de combustível e respectiva autonomia. Julgo que a variável mais predominante no cálculo será o consumo num determinado espaço (tempo ou distância ou ambos), porque a autonomia não varia à medida que andamos mas sim em intervalos (não consegui ainda perceber se será de x em x tempo ou de y em y metros percorridos).

Ora, se nesse espaço tivermos uma circunstância de condução que se traduza por exemplo em consumo excessivo – um fila de trânsito, uma subida com paragens sucessivas, etc. – a autonomia vai-se ressentir de forma exagerada.

Dito assim parece complexo. Vou explicar com um exemplo: da minha casa ao local onde entreguei a moto são cerca de 24 km. Quando saí, a autonomia era de 83 km. Meia dúzia de quilómetros à frente, e porque ia em via rápida sem trânsito e a cerca de 80 km/h, a autonomia saltou para os 117 km. Segui caminho e percorridos cerca de 20 km onde a velocidade foi de cerca de 100 km/h estabilizada, a autonomia passou para 63 km (o que faria sentido face ao valor inicial). Os últimos dois quilómetros foram em fila, a subir, com paragens sucessivas. Quando cheguei ao destino, a autonomia marcava 32 km! Este aspecto requer habituação. Depois, facilmente se gere a situação, estou em crer.

Finalmente, algo que não experimentei. A conectividade Bluetooth. De qualquer forma, fica a referência porque julgo ser importante.

Na Ducati Multistrada V4S é possível ter GPS no ecrã desde que com o telemóvel ligado (e com o respectivo ecrã activo, pelo que se percebe a utilidade do atrás referido compartimento no depósito, com tomada USB). Mas…para tal necessitamos da App Ducati Conect (aplicação proprietária da Ducati e que carece de um código entregue ao proprietário para a activar) e da aplicação de GPS Sygic. Não seria mais fácil o Apple Carplay e o Android Auto? De qualquer forma, é possível ter o mapa no TFT da moto, bem como a conectividade para a função telefonica ou para o controlo da música nos intercomunicadores.

Convém referir que, a este nível, me parece estranho que os construtores ainda não tenham conseguido incorporar nos modernos TFT a opção de GPS (se exceptuarmos as grandes estradistas tipo GoldWing ou BMW K, entre outras de dimensão similar), para mais sendo estas motos big-trail tipicamente destinadas a irem à procura do horizonte mais longínquo. Actualmente, até o “enlatado” mais pelintra (sem ofensa, claro) já traz estas coisas…e de série. Adiante…

O que é que a versão Standard não tem?

Já referi que a Ducati tem 3 versões desta V4. Em bom rigor, a S e a S Sport diferenciam-se por que esta tem um silenciador Akrapovic e guarda lamas dianteiro em carbono. E foi esta S Sport que ensaiei.

0016Hell'sGateJá a versão standard:

  • os discos de travão dianteiros são de 320 mm em vez de 330 mm;
  • as pinças de travão são M4-32 em vez das M50;
  • não tem as suspensões electrónicas semi-activas
  • não tem as Ducati Cornering Lights
  • não tem a função hill assist
  • não tem quick shifter
  • não tem o cruise control adaptativo
  • não tem o sistema keyless
  • a iluminação é mista e não totalmente em LED
  • o ecrã TFT é mais pequeno: 5” em vez de 6,5” e não tem a função de sistema de navegação 
Aos comandos da Ducati Multistrada V4S

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Sigamos a lógica dos modos de condução.

– Na cidade

 Duas notas: circulei pouco em ambiente urbano (leia-se congestionado) e, talvez por isso, também pouco utilizei o modo de condução Urban. Quero dizer com isto que no modo Touring – estou certo que será aquele que o feliz possuidor desta máquina utilizará na grande maioria dos seus percursos – o comportamento é perfeitamente adequado à circulação nas vias mais rápidas, tudo porque o comportamento da Multistrada é são e sem “impulsividades” desnecessárias. 

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Mas se nos embrenharmos nas ruas mais estreitas, com mais para/arranca, a utilização do modo Urban é de todo conveniente. A redução de potência facilita a condução – convenhamos, 115 cv em cidade chega e sobra! -,  ajuda na economia de combustível e torna-se mais confortável porque tenderá a aquecer menos. E esse é um aspecto a considerar: a baixa velocidade as aletas aerodinâmicas não resultam e as pernas começam a sofrer a influência dos cilindros traseiros (mesmo se estes de desligam quando ao ralenti).

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A manobrabilidade da Multistrada é, considerando o seu peso, muito aceitável.  O seu raio de viragem é de 5,40 m que comparam muito bem com os 5,80 m da BMW R1250GS ou os 6 m da KTM 1290 Superadventure.

– Circulação em estrada

O conforto, a correctíssima ergonomia, os “mimos” de auxílio à condução e à “vida a bordo” tornam esta Ducati uma excelente companheira de viagem.

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Adicionando a isso um motor potente: 170 cv no punho direito completamente disponíveis no modo Touring, perfeitamente domesticados sem com isso perderem o seu carácter, fazem com que qualquer deslocação, mais curta ou a perder de vista, seja um prazer.

O aprumo das suspensões, adaptáveis facilmente às condições de carga, os travões de referência e as ajudas em termos de segurança , farão com que viajar seja mais que um prazer.

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Com uma moto destas em casa…o mais difícil vais ser parar em casa! Apenas temos que nos conservar vigilantes face às regras de excesso de velocidade…porque o conceito de “velocidade excessiva” nesta moto está muito, mas mesmo muito para lá daqueles.

– Desportivamente

 Presumindo que não não irmos levar a moto até a um circuito e que a via pública não será o local indicado para explorar os “duzentos e muitos” que ela permite, o melhor terreno para explorar o modo Sport é, sem dúvida uma estrada revirada e, de preferência inclinada, onde podemos sentir, aí sim, a potência e, essencialmente, o binário disponível.

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À suspensão fica mais rija (mais pré-carga) para melhor nos agarrarmos ao asfalto, a entrega de potência é (ainda) mais imediata, o controlo de tracção, o anti-cavalinho e o ABS tornam-se ligeiramente menos interventivos para que a moto possa passar mais informação ao piloto (aqui já foi promovido de condutor…) e o quick-shift ajuda à rapidez do conjunto.

Relativamente a este, mantém o elevado padrão de eficácia que já tinha experimentado anteriormente nas Panigale V2 e Supersport 950S. Mesmo assim, a memória recente da Supersport é superior na eficácia das mudanças de caixa. Acredito que tal não se deva a demérito do sistema da Multistrada mas sim às características do motor e à sua maior inércia.

Quer uma moto polivalente, com uma imagem única, que lhe ponha a adrenalina nos píncaros? Esta serve às mil maravilhas!

– Off-road

 Este é o aspecto em que opino com mais dificuldade. Não é a minha praia… Ainda assim, não podia deixar de experimentar a máquina em terrenos de terra. Uma pequena incursão foi suficiente para verificar o comportamento são, a excelente capacidade da suspensão em absorver todas as irregularidades do terreno e mantendo sempre a tracção que necessitamos.

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A posição de pé não apresenta qualquer dificuldade. Esta versão ensaiada não dispunha das jantes de raios mais adequadas às incursões em todo o terreno nem, principalmente, de pneus para tal. Cuidado, portanto.

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A utilização do modo de condução Enduro revela-se acertada porque os 115 cv disponibilizados são mais que suficiente (principalmente quando o condutor não tem o kit de unhas apropriado às circunstâncias). E a verdade é que se sente a diferença. Afinal…está lá, por alguma razão é. Use-se!

0032Hell'sGateConclusão

Esta é a moto, no seu segmento, mais potente, mais tecnológica e mais cara!

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E aqui o caro tem verdadeira importância. Os preços (sem despesas incluídas) anunciados pela marca são:

  • Multistrada V4 – 19.395€
  • Multistrada V4S – 22.195€
  • E ficamos a saber que o Akrapovic e o guarda lamas em carbono custam mais 1.600€, ou seja, a Multistrada V4S Sport custa 23.795€.

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Este é um valor que não está ao alcance de todas as bolsas. Aliás, está ao alcance de poucas bolsas, considerando o nível de vida em Portugal.

Pensemos que é possível, por exemplo (para não saírmos do mesmo grupo ao qual pertence a Ducati) comprar um Skoda Octavia modelo já de 2021. Ou que um crédito a 5 anos (sem considerar juros) dá uma prestação mensal de 400€. E as famílias têm que tomar opções….

Como tristezas não pagam dívidas, vamos às apreciações finais.

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Comecei por afirmar que esta foi a moto mais completa que tive a oportunidade de conduzir. Pela descrição até aqui, facilmente se conclui a razão de o ter dito…

De forma resumida, esta Ducati Multistrada V4S Sport será também, provavelmente,  a melhor moto que já conduzi. Significa isto que a moto é perfeita? Nada disso. É bom que a perfeição nunca seja alcançada para que haja progresso. Até porque a exigência também aumenta na mesma proporção…

0039Hell'sGateDito desta forma, como fica a concorrência?

Fica bem, muito obrigado! (desde que dêem corda aos sapatinhos, ou aos pneus, melhor dizendo).

Deixo um pequeno resumo dos principais competidores e para efeitos comparativos, recordo os dados técnicos principais da Ducati Multistrada V4S: Motor V4, 1158 cc, 170 cv, 125 Nm, 243 km (em marcha)

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Começo pela ordem inversa (critério meu):

  • A novíssima Harley Davidson Pan America: também traz pormenores tecnológicos muito interessantes, a estética – muito discutível – é diferenciadora, os testes já publicados dão-lhe muito boa nota e o preço parece ser bastante competitivo. De todas é a única que não experimentei…aliás nem nunca vi ao vivo. Mas gostava…. A Harley “pensou fora da caixa” e isso é meritório. Dados técnicos: Motor V2, 1252 cc, 150 cv, 127 Nm, 228 kg (em marcha)

As seguintes motos, apesar de características muito diferentes (arquitectura dos motores, potências e binários, particularidades técnicas, ciclísticas) têm, nas versões mais completas preços que não andam longe do da Ducati. Portanto, admito que a este nível, não será aí que se fazem as opções.

  • Honda Africa Twin CRF1100L Adventure Sports: Com todos os extras, o preço aproxima-se do da Ducati. Todavia, comparativamente é a “mais pequena” – cilindrada, potência, binário – e a mais pesada (com todos os plenos feitos). Ainda assim é uma opção a considerar porque tecnologicamente não fica atrás (suspensões electrónicas semi-activas, ecrã TFT touch, conectividade Apple Carplay e Android Auto, etc) e tem algo que para mim é uma vantagem enorme: a caixa de velocidades DCT (recordam-se de atrás ter comentado que havia, na minha opinião, uma alternativa melhor ao quick-shift, neste tipo de motos?). Dados técnicos: Motor 2L, 1064 cc, 102 cv, 105 Nm, 250 Kg (em marcha).

Ver ensaio “Africa Twin de fio a pavio” em  Viagens ao Virar da Esquina.

  • KTM 1290 SuperAdventure S: pelas características técnicas e performance (tem mais cerca de 10% de binário…), é a rival directa da Ducati. Tive a oportunidade de a testar brevemente (espero em breve poder fazer um ensaio mais prolongado) e sintetizei as minhas impressões no título da peça que escrevi: “Uma moto superlativa”. Efectivamente assim é. Em performances pede meças à italiana e em sofisticação tecnológica também. A estética (frontal) é discutível, mas gostos não se discutem. Ao fim de “meia dúzia” de metros parecia que tinha conduzido a moto há longo tempo, tal a facilidade de adaptação. Será que o efeito Miguel Oliveira pode alavancar as vendas? A moto merece-o. Dados técnicos: Motor V2, 1301 cc, 160 cv, 138 Nm, 220 kg (em vazio).

      Ver ensaio “Uma moto superlativa” em  Viagens ao Virar da Esquina

  • BMW R1250 GS: Testei esta moto já há 2 anos. Todavia como tecnologicamente não sofreu alterações significativas desde então, vou assumir que as minhas impressões se manterão válidas. Infelizmente, o contacto com os representantes da marca alemã que me proporcionaram a experiência que relatei, perdeu-se (e provavelmente não verão com interesse estas análises). É a líder de mercado destacada há bastantes anos e isso diz muito sobre as qualidades da moto. Se há motos que são fáceis de conduzir (inclusive em meio urbano) esta é uma delas. Aliás, a GS ensina a conduzir…se tal for necessário, tal a facilidade com que perdoa erros. Mais que os factores moda e status (que são reais mas nada representam sobre as qualidades da moto), as facilidades de crédito para aquisição (quase imbatíveis), o que ressalta é a verdadeira qualidade, as performances (é a que tem mais binário) e a agradabilidade de condução. Acresce que é a mais económica de todas! Dados técnicos: Motor 2Boxer, 1254 cc, 1354 cv, 143 Nm, 249 kg (em marcha).

       Ver ensaio “BMW R1250GS vs BMW F850GS” em Viagens ao Virar da Esquina.

Dir-me-ão que faltará aqui mencionar as Yamaha e Triumph. É verdade. Os seus modelos Super Teneré 1200 e Tiger 1200 poderiam aqui ter cabimento. Mas não posso falar do que não conheço e os representantes destas marcas não terão interesse nestas análises.

Finalizo com esta conclusão: a Ducati Multistrada V4 na sua versão S (a Sport acaba por ser um preciosismo….mas provavelmente será a mais vendida!) é o novo paradigma do segmento de topo das motos de aventura.

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Cabe aos gabinetes de desenvolvimento e inovação acompanharem o ritmo e, se conseguirem, ultrapassá-la.

E com isso ganham os motociclistas.

Que somos nós!

Um grande obrigado à Ducati Portugal pela cedência desta máquina extraordinária, que tão bem representa a marca italiana, no segmento mais procurado no mundo das motos. As 5.000 motos já vendidas desde o lançamento atestam o sucesso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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