Uma volta pelos nossos terrenos de caça

Virámos a Esquina e fomos para a região saloia…

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Nas velhinhas histórias do oeste (americano, claro) os Indios referiam-se sempre aos seus territórios de influência como os “terrenos de caça”.

Quais Sioux, Cheyennes ou Apaches, fomos até ao nosso oeste e vagueámos pelos nossos terrenos de caça. Aqueles a que, por nos serem próximos, voltamos sempre que a oportunidade de conquistar novos territórios não surge.

E mesmo assim, sempre descobrimos novos caminhos… ou redescobrimos o prazer de percorrer outros já feitos noutras investidas. Assim foi!

Sábado cedinho, num dia que se previa excelente para a prática do mototurismo – leia-se passear de mota desfrutando da paisagem, do vicio da condução das “nossas meninas” e do prazer do convívio e camaradagem – rumámos a norte. A primeira paragem era próxima e, segundo dizem, está na moda.

No alto do Cabeço de Montachique

Não sei se é verdade, mas um monte que ultrapassa os 400m de altitude, a pouco mais de uma dezena de quilómetros de Lisboa só pode proporcionar vistas deslumbrantes. Mesmo rodeado de outros mas de menor “protagonismo”, não desiludiu. A paisagem que surge à frente dos olhos é verdadeiramente espectacular.

Com a vista a 360º do Cabeço de Montachique dominamos o horizonte. Para norte, vê-se distintamente o Montejunto. Para sul, apesar de alguma neblina que só realça a sua grandiosidade, a Arrábida. No meio, toda a zona urbana da grande Lisboa! Espectacular…já tinha dito, não tinha?

A propósito das Invasões Francesas

Dali, por estradas onde qualquer pequena recta é corpo estranho – N374, M530-1, N115 e N115-4 – fomos andando até Arruda dos Vinhos, não sem antes fazermos uma paragem para a História de Portugal. Falo do Forte da Carvalha (obra nº 10) um dos mais de cem elementos fortificados que constituiram as Linhas de Torres.

Lá pelas alturas de 1810, Napoleão andava frustrado porque uns caramelos esquecidos no canto ocidental da Península Ibérica não só o desafiaram desobedecendo ao Bloqueio Continental, como ainda por cima, não se deixavam conquistar. Pelo contrário, as suas tropas entravam, pilhavam, levavam no toutiço e voltavam para casa com o saque…mas derrotadas. À terceira vez, chateado que nem um perú (atendendo à nacionalidade do ditador, talvez fosse mais apropriado um galo…), mandou um exército de 65 mil soldados comandados pelo invencível Massena, o “filho da vitória” como era conhecido até então…

Só que do outro lado, com menos efectivos, mas utilizando a inteligência, estavam as tropas portuguesas e inglesas, lideradas pelo Duque de Wellington. Inspirado pela ideia de um engenheiro indígena que achou que a morfologia do terreno servia às mil maravilhas para construir uma linha de defesa intransponível, mandou construir pequenos elementos fortificados no topo dos muitos montes que circundam Lisboa, dominando assim todos os desfiladeiros e vales por onde o exército francês poderia caminhar rumo a Lisboa. Construiu assim 3 linhas de fortificações concêntricas – as Linhas de Torres – à mais afastada das quais pertencia o forte no qual parámos. Lá do alto, uma vista fantástica para a quase planicie que se estende para noroeste e tem de um lado o Montejunto e do outro o Rio Tejo.

Em Julho de 1810, Massena e as suas tropas entram em território português. Vão avançando apesar de no caminho irem sendo “desbastados” pela resistência do exército luso-britânico e das gentes que não achavam piada aquela invasão das suas terras. No Buçaco, a 27 de Setembro, levaram a primeira grande lição. Ainda assim persistiram.  Chegaram à zona onde nós agora estávamos, Arruda dos Vinhos, em 11 de Outubro.

Fácil se torna perceber o que aconteceu: o Massena deparou com aquilo à frente, viu que a coisa não ia correr bem para o lado dele até que…numa certa noite de 6 de Março de 1811, substituiu os sentinelas por bonecos de palha e cavou no silêncio da noite de tal forma que nunca mais ninguém o viu cá pelo pedaço. Nem a ele nem ao Napoleão…

Paragem na Arruda dos Vinhos

Quanto a nós, feita a visita era tempo de descer à Arruda onde nos esperava um cafézinho para abrir a pestana. A primeira parte da volta estava concluida!

Restabelecidas as energias e nunca esgotada a conversa, retomámos a marcha. Agora o sentido era nascente-poente e iríamo-nos aproximar do mar. Mas antes ainda havia muito para curvar. Diversão assegurada!

Em regime de curva e contracurva, até ao mar

N248, M533, N115, M530, N374, N9-2….umas melhores que outras (é curioso quando mudamos de um concelho para o vizinho, verificar o maior ou menor cuidado que devotam aos pisos das suas estradas…), mas sempre em registo de curva-contracurva. Passámos Enxara do Bispo e eis que chegávamos a um sítio já conhecido: Gradil! Mais propriamente à estrada que nos conduz até cerca da Tapada de Mafra (e até esta localidade se a seguíssemos até ao fim, o que não aconteceu). O facto de ser um antigo troço do Rali de Portugal diz tudo, não diz? Apesar de conhecido, é daqueles sítios em que é absoluto prazer regressar (assim haja sorte para não apanharmos uns lentos pelo caminho…não que o objectivo seja acelerar que nem loucos, até porque o perigo NÃO é a nossa profissão). Desenhar aqueles encadeamentos de curvas, com uma vegetação luxuriante à nossa volta é espectacular.

Depois de pequena paragem para retomar o fôlego, seguimos viagem. Em Murgeira virámos à direita a caminho da N9. Direcção norte até à Encarnação e depois, por S.Domingos e Galiza até tomarmos a N247.

Mar à vista!

Chegámos à costa atlântica! Depois das serranias, agora era tempo de irmos às praias. E começámos pela Praia da Calada. Descida íngreme até lá abaixo. O tempo estava espectacular, a praia linda e sentiamo-nos esmagados pelos dois promontórios que nos rodeavam. Magnífica!

Agora iríamos com rumo sul, acompanhando a linha de costa. O poiso seguinte foi a Praia dos Coxos. Do alto do parque de estacionamento tínhamos uma vista magnífica para a praia e para o mar que apresentava alguma ondulação, o suficiente para lhe aumentar a beleza.

Ericeira e as especialidades locais

Aproximava-se a Ericeira…e o já ansiado almocito.

Ainda uma paragem no caminho: no miradouro que da estrada nos permite ver em todo o esplendor a Praia de Ribeira d’Ilhas. Linda!

Na Ericeira esperava-nos um belo peixinho na brasa que estava mesmo delicioso. Robalo e Besugo, a gosto e com aquele travo a mar do peixe bem fresco e pescado (não criado!). Depois, ainda a oportunidade de provar uns Ouriços…sabem o que é? Uma especialidade local! Não sabem? ….pois!!!

Azenhas do Mar!

O trajecto planeado levou-nos junto à costa até às Azenhas do Mar. Até aqui perfeito. A vista desta pequena vila construída na arriba é espectacular.PS23

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O regresso…atribulado!

E agora, o regresso a casa mas naturalmente com muito percurso ainda para fazer. E aqui, dar nota de algo que é fundamental quando se planeia uma viagem (grande ou pequena como esta): definimos o “por onde”, sabemos bem o “como” e escolhemos o “quando”. E este quando deve levar em consideração alguns pormenores que lá mais para a frente podem ser pormaiores. Foi o caso!

A partir das Azenhas… Disse no início que era sábado e estava um tempo óptimo. Pois! Aquela zona estava infestada de pessoal que, tal como nós, desfrutava de um dia espectacular. De “enlatado” e a velocidades dignas de qualquer bicicleta a pedal (sem assistência eléctrica!). As estradas são estreitas pelo que as ultrapassagens em segurança eram quase impossíveis, principalmente à medida que nos aproximávamos de Sintra e depois até ao Cabo da Roca. Subir de Colares atrás de 3 carros, que iam atrás de um autocarro, que ia atrás de um Tuc-tuc é…..

Chegados ao Cabo da Roca, foi sem surpresa que verificámos que estava cheio. O turismo que faz maravilhas pela nossa economia, deixa-nos quase obrigados a deixarmos para quem nos visita o desfrute das nossas belezas naturais (pelo menos as mais famosas).

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Entretanto, a jornada aproximava-se do seu termo. Faltava a cerejinha no topo do bolo (mas também com algum trânsito): a Lagoa Azul da Malveira até à Estrada do Autódromo. Ainda assim, magnífica.

Depois…despedidas e a promessa de em breve partirmos novamente para a estrada. Fizemos cerca de 200km, deliciámo-nos com paisagens espectaculares, belas estradas (umas desertas, outras nem tanto…) e a camaradagem habitual nestes eventos.

E assim foi…mais uma VIAGEM AO VIRAR DA ESQUINA!

Birthday ride

Um passeio calmo em manhã de aniversário, pelas redondezas…

Dia de aniversário (algures em Maio)! ….Bom!

Um dia bonito! …Melhor!

A manhã livre! …Isto está a compor-se!

E um almoço com amigos, combinado algures ali na zona entre Porto Salvo e o Cacém: a escolha está feita!!!  Para uma manhã ensolarada, nada como uma volta à beira-mar.

Pensado e feito! O caminho inicialmente escolhido passou por vias rápidas (2ª Circular, IC19, A16) pois o objectivo era dispôr do máximo de tempo na zona escolhida para o passeio: a costa a oeste de Lisboa, mais concretamente, das Azenhas do Mar até ao local mítico dos motards (e não só, como veremos…): o Cabo da Roca.

Se o caminho até às Azenhas não tem muita história, lá chegados, a primeira surpresa: não havia sitio para tomar o cafézinho da manhã, pelo menos que fosse visível. Siga… até porque a vista desta pequena aldeia, a cair para o mar, é fabulosa!

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A segunda surpresa, ou talvez não, foi que depois do sol lisboeta, aqui pairava uma neblina marítima que tornava o ambiente um pouco mais baço.

Nada de anormal para a zona.

Certamente que para abrilhantar a foto que costuma ser o ex-libris da passagem pelas Azenhas do Mar, o sol teria dado algum jeito, mas o astro é soberano e a vista continua deslumbrante!

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Este miradouro, que fica a sul das Azenhas, passada a ponte e feita a subida que lhe sucede, é local de paragem obrigatória. Até porque depois seguimos por aí a estrada até à Praia das Maçãs, sempre com o mar à nossa esquerda.

Passada a Praia das Maçãs, a estrada vira para o interior rumo a Colares e seguimos ao longo da linha do Eléctrico de Sintra que desde 1904 transporta durante todo o ano (com reforço óbvio no Verão) passageiros entre a Vila de Sintra e a Praia das Maçãs, com paragens, por exemplo, em Colares, perto da Praia Grande, etc., num percurso de cerca de 13km.

Em Colares, nova paragem porque entretanto recordei-me: faltava o cafézinho! Tomado este, era tempo de continuar, até porque o tempo não era farto, havia compromissos…e dois objectivos a cumprir.

Em Colares, virar à direita (à esquerda iríamos para Sintra) e aproveitar a primeira excelente sequência de curvas até ao cruzamento para o Cabo da Roca. As curvas são boas e desenvolvem-se fluentemente a subir mas…o tráfego é sempre muito. Entre camionetas de turistas ou os transportes públicos locais, mais os muitos ciclistas que também aproveitam para desfrutar desta zona e os restantes utentes da via, leia-se motas e “enlatados”, mais vale adoptar um andamento muito calmo e sem pressas. Mais à frente teríamos a oportunidade para “limpar os carburadores (se os tivesse)”…

Passado o cruzamento em que a sinalização horizontal, a que obedecemos, nos indica o Cabo da Roca inicia-se uma descida às vezes mais íngreme, outras mais suave mas sempre ondulando entre curvas e contra curvas, até à ponta mais ocidental do continente europeu.

À aproximação, a visão do cabo a entrar mar a dentro, com o majestoso farol no cimo,  é espectacular:

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E se a vista ao longe nos encanta, lá chegados, deixa-nos um sabor misto.

Os penhascos que decoram a costa a norte e a sul transmitem-nos a noção da pequenez que a nossa condição de humanos nos reserva face à magnitude da natureza e das suas forças.

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Mas se a natureza nos avassala com o seu poder e beleza, nada há que faça temer às hordas de turistas que invadem, por estes dias, a maioria dos locais mais conhecidos de Portugal.

Efectivamente, estes heróis da selfie e da foto destemida, desafiam as regras civis (como seja não passarem para o outro lado das guardas) e por vezes as Leis de Newton, atropelam e atropelam-se por “aquela foto”, num afã como se não houvesse amanhã! E se calhar têm razão…esta malta oriental sabe umas coisas…  um passo atrás de cada vez e lá temos mais um turista a fazer parapente…sem o pente!

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Deixemos o Cabo da Roca para trás, não sem antes registarmos em foto o magnífico Farol:

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A partir daqui, era regressar pelo mesmo caminho, agora em direcção à Malveira para desfrutar da “piéce de resistence”: “fazer” a Lagoa Azul (que em dia de semana é muito mais calma que aos fins de semana) ao som da música proveniente dos escapes e do motor V4 da VFR.

Estava feita a volta do aniversário! Agora…eram horas de almoço e os amigos aguardavam (mentira! fui o primeiro a chegar, mas fica mais bonito dito assim) para um repasto de agradável convívio.

Uma manhã não é tempo de menos para desfrutar de uma boa volta de mota. No total, cerca de 85km (até ao almoço)….poucos mas bons! Como os amigos…

Aqui fica o percurso feito em mais uma viagem ao virar da esquina!

Aniversario

 

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