Há alguns dias, devido a um convite da Andar de Moto sobre o qual vos contarei mais adiante, tive a oportunidade de experimentar a Versys 650. O modelo trail, do segmento médio, da Kawasaki.
Desde logo interessante, porque há algum tempo atrás (há mais de 2 anos, mas o tempo voa!) testei a irmã maior, o navio-almirante da esquadra trail da Kawasaki e, na ocasião, a versão topo de gama: a Versys 1000 Special Edition Grand Tourer.
Agora, por feliz coincidência, tive ao meu dispor também a versão mais completa da seis e meio: a Grand Tourer. Não podia deixar escapar a oportunidade pois não é fácil conseguir experimentar modelos da marca em sessões mais longas que os vulgares test-drives feitos nos concessionários.
Nota de rodapé:
A Kawasaki, tal como alguns representantes no nosso mercado de outras marcas, não parecem valorizar este tipo de experiências nas suas estratégias de marketing, ao ponto de geralmente nem responderem às solicitações. Ou então a qualidade do que é feito por quem não é profissional da comunicação mas que comunica e faz essas solicitações, não tem a qualidade que exigem (e aí o problema está do lado de cá!).
Não me cabe questionar minimamente as estratégias (como antigo profissional de marketing percebo-as mesmo que delas possa discordar) até porque cada marca saberá melhor que ninguém o que é melhor para si e para o seu negócio. Mas nem uma respostazinha a dizer “não”?….
Como referi atrás, esta oportunidade surgiu graças à revista Andar de Moto, onde tenho o privilégio de ver publicadas crónicas de viagem já lá vão mais de 2 anos. Desta feita, a revista, que irá comemorar no próximo número o seu aniversário, entendeu fazer um comparativo alargado de trails de média cilindrada, onde esta Kawa se enquadrou.
Para lá do convite para participar, coube-me em sorte poder ir buscá-la antecipadamente. Quanto ao comparativo….deixo-vos algumas fotos, só para abrir o apetite. De resto é esperar lá pelo final da terceira semana de Maio, com a edição número 36 … a do 3º aniversário!
Sobre a Kawasaki Versys 650
Como atrás referi, trata-se da versão Grand Tourer, ou seja, a que traz de origem equipamento suplementar completo:
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- protectores de mãos
- tomada de 12V (com cobertura de borracha)
- faróis auxiliares
- protector de depósito em gel-resina
- top-case de 37 litros com saco interior incluído
- malas laterais integradas e com design próprio da marca que incluem os respectivos sacos interiores.
Tudo isto a adicionar às características base do modelo:
- Motor:
Bicilindrico paralelo com refrigeração líquida
Dupla árvore de cames à cabeça, 4 válvulas por cilindro
649 cm3 – 67cv/8.500 rpm – 61 Nm/7.000 rpm
Caixa manual de 6 velocidades - Quadro:
Tubular em aço de alta resistência
Rodas 17” (F+T): 120/70 ZR17 – 160/60 ZR17 - Suspensões:
Suspensão dianteira: telescópica invertida de 41 mm com recuperação e pré carga ajustáveis – Curso: 150 mm
Suspensão traseira: Mono amortecedor de montagem assimétrica. Pré carga da mola com ajuste remoto – Curso: 145 mm - Travões:
Travões dianteiros: Duplo disco semi-flutuante de 300 mm em forma de pétala. Duas pinças de 2 êmbolos
Travão traseiro: Disco de 250 mm em forma de pétala. Pinça de 1 êmbolo - Dimensões:
Distância ao solo: 170 mm
Altura do assento: 840 mm
Capacidade do depósito: 21 l
Peso (em ordem de marcha): 217 kg - Outras características:
Ecrã misto analógico (conta rotações) + TFT (velocímetro, odómetro, combustível, médias e autonomia, indicação de mudança engrenada e relógio)
Vidro regulável em altura sem ferramentas
Escape com silenciador sob o motor – baixa o centro de gravidade, optimiza o espaço e diminui a incidência de calor para condutor e passageiro
Apoios de motor em borracha para redução de vibrações - Preço: Versão base – 8590€ Versão Grand Tourer (ensaiada) – 10.390€
A condução da Versys 650
A Kawasaki Versys 650 é um modelo que nasceu em 2007, com características que ainda hoje se mantém e fazem dela uma proposta credível e ajustada para quem pretende uma moto polivalente, que tanto se sinta à vontade nas tarefas do dia-a-dia – trânsito citadino, trajectos sub-urbanos, pequenas deslocações, a solo ou acompanhado – como depois em viagem mais ou menos longas: férias ou escapadinhas de fim-de-semana.
Ainda assim, como alerta que costumo referir, não se lhe exija mais do que aquilo que oferece. Esta Versys não está vocacionada para percursos off-road que vão além de um pequeno estradão até à praia mais próxima. Julgo também, que ao fim de algumas centenas de quilómetros a fadiga atacará…mas para este segmento até diria que a Kawa será das melhores apetrechadas.
Dito isto, é importante referir que se trata de uma pura estradista, conceito aliás introduzido pela Kawasaki com esta moto: perfil trail mas vocação claramente de estrada (como aliás o atesta a opção por rodas de 17” à frente e atrás).
De 2007 até hoje, este modelo sofreu evoluções em 2010 e 2015. Nesta última, com a introdução das linhas que actualmente são tão características das motos da marca. Linhas angulosas, muito vincadas – um pouco ao sabor do espírito “manga” tipicamente japonês – que lhe conferem uma grande agressividade e um toque de radicalismo. Finalmente, para 2021, a actualização para o Euro 5 que não prejudicou as características dinâmicas da Versys.
A moto é muito confortável, espaçosa e com uma volumetria a fazer lembrar motos de gama acima. É evidente que o pack de malas ajudam a induzir essa sensação. O que é verdade é que a condução em estrada se faz com todo o conforto, com boa protecção aerodinâmica a que não é estranha o vidro regulável em altura. E já agora….as tais malas levam toda a tralha necessária para uma viagem prolongada de vários dias!
A ergonomia é também um factor positivo da moto que faz com que nos “sintamos em casa” desde o primeiro momento. A possibilidade de regulação de ambas as manetes – travão dianteiro e embraiagem – ajuda neste capítulo. O encaixe é perfeito com os punhos à altura e distância correctas.
Sendo claramente estradista na sua vocação e nas suas características, seria de esperar que a posição de condução a aproximasse mais das motos de estrada. Mas pelo contrário, ficamos a uma altura que é sim, mais próxima das “big-trails”, o que tem inegáveis vantagens: o corpo vai mais distendido, temos mais visibilidade para a frente e possibilita uma condução descontraída e logo menos cansativa.
O motor é animado mas apenas acima das 3.500/4.000 rpm. Até lá exprime-se com alguma timidez mas nada que incomode se o objectivo for levar uma toada calma por uma qualquer estrada nacional. Se essa estrada, em determinada altura, começar a ficar sinuosa nada como “meter uma ou duas abaixo” e puxar pelo bicilíndrico.
Os 67 cv não são nenhum valor espectacular mas também não desmerecem. E, se nos deixarmos levar pelo ritmo do encadeamento das curvas em que os travões e as suspensões cumprem muito bem as suas funções, se puxarmos as mudanças para regimes mais elevados, então temos garantidos dois aspectos: divertimento e uma banda sonora agradável a acompanhar! O único aspecto menos bom é a caixa de velocidades que não tem a suavidade e precisão desejadas…ou que a Versys merecia. Os consumos situam-se entre os 4,5 e os 5 litros a cada 100 km, dependendo do ritmo imposto. Por falar em imposto, refiro-me aquele precioso líquido em que 40% é gasolina e 60%…imposto!
Na condução à noite, os faróis (que não são de LED) cumprem a sua função e os auxiliares complementam a preceito. Devo referir que ainda hei-de encontrar uma moto que me satisfaça em condução nocturna neste domínio (sem levar uma parafernália de focos e projectores à frente!), mas se calhar é mania do escriba!Em conclusão
Se a capacidade (ou sagacidade) financeira do potencial comprador o limita na aquisição de uma moto de maiores ambições, se o objectivo é ir estrada fora e fazer quilómetros a perder de vista, então a Kawasaki Versys 650 é uma excelente opção. E a Grand Tourer com o equipamento adicional corresponderá em pleno.
Mas…há sempre um mas! Que neste caso não é exclusivo desta Versys 650 mas também abrange uma outra moto recentemente ensaiada: a V-Strom 650. Ambas as motos foram concebidas já em anos longínquos. Isso significa confiança acrescida sob o ponto de vista da fiabilidade até porque foram sendo sucessivamente actualizadas. E, o facto de ainda serem competitivas neste segmento de mercado, mostra a bondade do conceito inicial e de todo o trabalho desenvolvido desde então.
Mas (lá está o mas!) o “mundo pula e avança” e novos competidores surgem a quererem rivalizar com estas marcas japonesas. Refiro-me obviamente aos vizinhos do outro lado do Mar da China que começam a chegar à Europa com modelos competitivos no capítulo do preço (recordo que as versões experimentadas destas duas motos eram as mais caras e se situam já acima dos 10 mil euros) e que trazem no seu equipamento gadgets que começam a ser norma: ecrãs TFT coloridos, aceleradores electrónicos a permitirem a disponibilização de modos de condução, controlo de tracção reguláveis (a V-Strom tem), vidros facilmente reguláveis (às vezes eléctricos), sistemas keyless, etc. E a preços inferiores aos destas duas motos.
Acresce ainda que as outras marcas japonesas – Honda e Yamaha – optam por não competir directamente mas estão presentes com estratégias diferentes, o que desde logo também abre o leque de opções dos potenciais clientes. E não falei nas europeias.
Estarão a Versys e a V-Strom ultrapassadas? Não. Ainda não. Mas….
Talvez 2022 nos traga novidades. Mas até lá, desfrutemos. E a Kawasaki Versys 650 Grand Tourer teve precisamente esse efeito: fez-me desfrutar da sua condução e não tenho dúvidas que seria uma excelente companhia numas Viagens ao Virar da Esquina!
O filme desta experiência com a Kawasaki Versys 650 Grand Tourer está no canal YouTube de Viagens ao Virar da Esquina.
Agradecimentos
Em primeiro lugar, quero agradecer à Andar de Moto. Pela consideração que têm tido comigo desde sempre, por me darem o privilégio de estar nas suas páginas e pelo convite feito para a realização do comparativo que mencionei no início e que poderão ler na próxima edição da revista, a número 36 e que é a do 3º Aniversário. Não percam!
E também pelo espectacular dia de convívio, naturalmente.
Esse convite deu-me a possibilidade de realizar este ensaio da Versys 650. E também me proporcionou a oportunidade de voltar a testemunhar a simpatia e excelente acolhimento da RameMoto, desde há algum tempo em novas e óptimas instalações que eu ainda não conhecia (um bocadinho fora de mão, mas nada que não se resolva facilmente!) . Estas qualidades são reconhecidas com inteira justiça por toda a comunidade motociclística pelo que é de inteira justiça realçar.
Muito obrigado RameMoto.
Deverá estar ligado para publicar um comentário.