Já conhece Oriola?

Foi assim. Desta forma simples que os meus cinco sentidos ficaram alerta.
Uma atenta seguidora de Viagens ao Virar da Esquina lançou assim, de chofre, a inquietação. Até porque fez acompanhar a interpelação com algumas fotos magnifícas.
“Oriola? O que é? Onde Fica?” – respondi, perguntando da mesma forma directa.

A expressão “Já conhece…” tem o poder mágico de me colocar a curiosidade em estado de alerta máximo. Por vezes não conheço mas já ouvi ou li algo. E acalmo. Neste caso, nada disso!

Enquanto aguardava a resposta fui à Enciclopédia Universal dos nossos dias: o Google. Oriola é uma pequena aldeia, situada a meio caminho entre Viana do Alentejo e Portel (a cujo município pertence).

A conversa prosseguiu mas o “mal” estava feito. Até porque há muito que queria também visitar Viana do Alentejo.

E os astros estavam mesmo de feição. Por esses dias tinha-me sido cedida para uma experiência de condução uma bonita Ducati Supersport 950. As estradas alentejanas seriam óptimas para tal finalidade e até para perceber se esta seria uma boa solução para viajar, tão diferente das configurações da moda.

Como disse Júlio César ao atravessar o Rubicão: “Alea Jacta Est”. Os dados estão lançados!

A viagem começa com com um cafézinho…

Sendo destino final Oriola, queria deter-me antes em Viana do Alentejo. Para lá chegar, e porque um amigo me fazia companhia desta vez, a volta tinha que ter um pouco mais de tempero.

Assim começámos por um cafézinho matinal numa esplanada em Alcácer do Sal, defronte para a tranquilidade das águas do Rio Sado e da magnífica ponte metálica, que depois de restauro recente voltou a ter a sua funcionalidade basculante perfeitamente operacional.

Ponte de Alcácer do Sal
Ponte de Alcácer do Sal

Rumámos a nordeste apenas para mais à frente tomarmos a estrada de S. Catarina. A M1071 que nos levaria até Alcáçovas, primeiro ponto de interesse da jornada.

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Planície alentejana

Para mim, era o regresso ao banco de jardim onde a tradição dos últimos anos e das diversas passagens por aqui, manda que tire uma foto (desta feita com companhia). Começou quando aqui passei a primeira vez que percorri a EN2. E pertencer à nossa estrada maior está bem sinalizado à entrada da vila.

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Foto tradicional em Alcáçovas
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Alcáçovas na EN2

Mesmo ao lado desse banco de jardim fica a imponente Igreja Matriz (em bom rigor deveria dizê-lo ao contrário por ordem de importância óbvia). Cujo rico património interior está bem protegido pelas paredes meias com o posto de GNR local (gente simpática, mas essa é outra história…).

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Igreja Matriz de Alcáçovas

Em Janeiro do ano passado, na “Opinião” da Andar de Moto #20, falei sobre Alcáçovas e sobre a importância histórica desta vila alentejana. Foi aqui que em 1479, Portugal e Espanha começaram a divisão do Mundo pelo Tratado que lhe leva o nome.

Esse tratado foi assinado no Paço dos Henriques (de Transtâmara), obra do Séc. XIII que recentemente foi alvo de importantes obras de restauro e que agora está inteiramente disponível para os visitantes.

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Paço dos Henriques

Essa divisão do Mundo foi a primeira pedra para a estratégia dos Descobrimentos de ambos os países nas décadas futuras. Foi a partir daí que ficou verdadeiramente redondo e portanto, como defendi, começou a Globalização. Convido-vos a reverem esse texto.

Mesmo ao lado fica a curiosa Capela das Conchas ou Capela de Nossa Senhora da Conceição. Construída nos séculos XVII e XVIII, apresenta a particularidade de ostentar a fachada e o altar decorados com conchas. Também adornam o jardim adjacente, onde é possível entrar através de uma torre com o interior coberto de conchas e cacos de porcelana antiga. Uma das paredes da capela, no espaço do jardim, encontra-se completamente revestida com um invulgar painel de desenhos coloridos feitos com conchas.

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Capela das Conchas
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Capela das Conchas – pormenor
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Capela das Conchas – jardim

Em Alcáçovas existe uma arte ancestral que é o fabrico de chocalhos. Desde 1 de Dezembro de 2015, que esse fabrico é considerado “Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente”, título atribuído pela UNESCO. O Museu do Chocalho é também um ponto de visita obrigatório.

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Arte Chocalheira

Foi em Alcáçovas que começou a chover. Os ameaços já tinham sucedido mas daqui até Viana, escassos 18 km, seguimos sempre abençoados pela água vinda do céu. Assim voltaria a acontecer ao longo do dia!

…e continua com chuva!

Debaixo de chuva mas bem protegidos, entrámos em Viana do Alentejo. Motos estacionadas no centro da vila, tréguas feitas com o S. Pedro (por enquanto…) e, como eram horas de repor energias, procurámos umas migas. Lá nos indicaram um sítio onde seriam boas. E digo seriam porque …não havia! Só no dia seguinte. Pois…

Lá almoçámos (quando a expectativa é elevada, o bom torna-se banal) que a hora ia adiantada e ainda faltava ver o principal.

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Rua típica de Viana do Alentejo

De Viana se diz que rivalidade regional a terá feito mudar da anterior designação, Viana a par d’Alvito ou Viana de Alvito, para a actual “do Alentejo” (certamente para a destacar de outra bem mais a norte). A razão de não terem preferido a ainda mais ancestral nomenclatura – Viana de Foxem (ou Fochem) – desconheço. E também não será relevante. Fiquemos com a mera referência histórica.

Tinha 3 pontos de referência em Viana do Alentejo: o Castelo com a Igreja Matriz no seu interior, o Santuário de Nossa Senhora d’Aires e a lenda de uma moira encantada e o Píncarinho de S. Vicente.

Começo por esta última.

Moiras encantadas e as suas lendas são inúmeras Alentejo fora. Reminiscências românticas – porque de amores desencontrados entre cristãos e mouros geralmente se tratam e com finais trágicos também amiúde – de muitos séculos de permanência mourisca no nosso território e das muitas lutas que no final lhe puseram termo. Contudo, desta não lobriguei história.

Fiquei de mãos a abanar e acabei por nem procurar o dito Píncarinho. É uma elevação relevante, 374 m no meio da planície, mas em dia cinzento e chuvoso … Apenas referir a curiosa expressão “píncarinho”, muito frequente no Alentejo (principalmente no Baixo, onde quase tudo merece este carinhoso sufixo diminutivo) quando se quer destacar um ponto de maior altitude.

A visita ao Castelo

A primeira curiosidade é o facto de esta fortaleza não ficar propriamente num alto – aqui ficaria apropriado utilizar novamente o termo “pincarinho”! – mas sim integrada em plena urbe. Lá se chega por rua estreita e quase conseguimos imaginar o carteiro a bater à porta para aí entregar uma carta. Certamente que o endereço terá nº de polícia e tudo…

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Entrada do Castelo

A fortaleza tem uma planta pentagonal, com 5 torreões cilíndricos e de telhado em bico a marcarem os 5 lados do polígono. No seu interior, um pequeno jardim, um pátio e duas igrejas: a Matriz de Nossa Senhora da Anunciação e a da Misericórdia.

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Castelo – Muralha e torreão

Diz-se sem certeza absoluta que a origem deste castelo estará no reinado de D. Dinis (1279-1325),sendo assim da mesma altura da outorga do primeiro foral da vila alentejana (1313). Alguns dados mais recentes poderão sugerir para uma construção mais tardia. Abrigou na sua disposição os primitivos Paços do Concelho, o primeiro cemitério da vila e a primitiva Igreja Matriz, consagrada a Santa Maria de Foxem.

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Castelo – pormenor do Jardim
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Castelo – Jardim, Torreão e Igreja Matriz

Sob o reinado de João II de Portugal (1481-1495), esta fortaleza foi remodelada, uma vez que o soberano, tendo reunido as Cortes em Évora a 12 de Novembro de 1481, depois as transferiu para Viana, onde vieram a encerrar-se a 7 de Abril de 1482.

Na ocasião, o soberano utilizou o Castelo de Viana como residência temporária. Fato semelhante repetiu-se em 1489, tendo a então Viana de Alvito sido escolhida como palco para as grandes festividades realizadas por ocasião das bodas de seu filho, o príncipe D. Afonso, com a infanta D. Isabel de Castela, em Janeiro e Fevereiro de 1491, para o que foram também promovidas remodelações na Igreja Matriz.

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Castelo – Pátio

Esses trabalhos prosseguiram no reinado de seu sucessor, D. Manuel I (1495-1521), com obras sob a direcção dos arquitectos Martim Lourenço, Diogo e Francisco de Arruda (o arquitecto da Torre de Belém). No castelo, destaca-se a construção de um novo pano de muralhas devidamente ameado.

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Castelo – Torreão

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Anunciação é preponderante neste conjunto pela sua matriz Manuelina, conjugando vários elementos de um gótico final e do Renascimento, despontando ainda numa clara influência mudéjar.

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Igreja Matriz
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Igreja Matriz

Na fachada principal encontramos um lindíssimo portal manuelino, exuberantemente decorado e com as divisas régias de D. Manuel: a cruz de Cristo, o escudo das quinas e as esferas armilares. Lindíssimo!

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Igreja Matriz – Portal manuelino

No interior majestoso, os fechos das abóbadas repetem as divisas do Rei. Subsistem no transepto dois belos vitrais quinhentistas representando São Pedro e São João Baptista. O altar da capela que é panteão de Vasco Godinho (m. 1525) é forrado com belos azulejos sevilhanos do séc. XVI.

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Igreja Matriz – interior
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Igreja Matriz – interior
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Igreja Matriz – interior.
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Igreja Matriz – interior
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Igreja Matriz – interior – pormenor do tecto

No recinto do castelo, um cruzeiro renascentista mostra duas comoventes figuras, uma Pietá e uma Virgem do Leite.

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Castelo – Cruzeiro renascentista
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Castelo – Cruzeiro – Pormenor

A Igreja da Misericórdia de Viana, também no estilo Manuelino, apresenta uma planta rectangular de dimensões mais recatadas, fruto de alterações arquitectónicas que o edifício sofreu ao longo do século XX. Tem um altar magnífico e a nave revestida de azulejos oriundos do século XVIII.

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Igreja da Misericórdia – Interior
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Igreja da Misericórdia – Altar

Sem dúvida que o Castelo de Viana merece uma visita. E se tiverem a mesma sorte que nós ainda melhor. O senhor do turismo local que estava na recepção, foi de uma simpatia extraordinária e brindou-nos com uma lição de História sobre aquilo que depois visitámos. E também conversámos sobre a vila e a vida. As conversas são como as cerejas (estamos quase no seu tempo) e é assim que se promove o Turismo e a riqueza da terra. Merece um aplauso!

Foi também ele que nos informou que o nosso terceiro ponto de destaque estava em fase de conclusão de obras: o Santuário de Nossa Senhora d’Aires. A sua reabertura já se terá realizado quando lerem este texto. Aprazado para 16 de Maio, veremos se os arruamentos e acessos ficam prontos, porque quanto ao edifício está terminado. E é magnífico. Imponente, destaca-se na paisagem e segundo nos foi referido, será o terceiro maior santuário mariano de Portugal (depois de Fátima e Lamego).

Santuário de Nossa Senhora d’Aires

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Santuario N S Aires

Pelo que refiro atrás, obviamente não foi possível visitar o seu interior. Ainda assim, fica o registo.

Aqui se venera a imagem em pedra de Ançã da antiga padroeira, Nossa Senhora da Piedade.

Essa imagem, em que Nossa Senhora está sentada com Jesus morto nos braços, é objecto de grande fé, pois segundo a tradição nunca deixou de socorrer os crentes, como o confirmam os inúmeros ex-votos expostos na Casa dos Milagres, uma colecção de arte popular única e singular que inclui objectos de diversas épocas como fotografias antigas, vestidos de noiva e tranças de cabelos.

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Santuário N S Aires

O santuário em estilo barroco foi construído entre 1743 e 1804, segundo o projecto do Padre João Baptista, no local onde existia uma anterior ermida quinhentista.

Na portada, uma inscrição em latim relata que após a expulsão dos mouros destas terras, um lavrador arava o campo quando encontrou dentro de um pote de barro a imagem que se vê no altar.

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Santuário N S Aires – Portada

O edifício tem uma planta de cruz latina, composta por uma única nave, com cobertura em abóbada de berço. No interior, destaca-se o altar de talha em estilo rococó.

Fazem parte do santuário também a fonte de Nossa Senhora d’Aires, situada no Terreiro dos Peregrinos e casas de romeiros.

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Fonte de N S Aires

Dois dos eventos mais emblemáticos de Viana do Alentejo estão relacionados com este local: a feira franca de Nossa Senhora D’Aires, que desde 1751 decorre no quarto fim-de-semana de Setembro; e a Romaria a Cavalo, que percorre os 120 kms da antiga canada real, entre a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita do Ribatejo, e este santuário, em Viana do Alentejo, que costuma realizar-se no quarto fim-de-semana de Abril. Por motivos dos tempos que correm, desde o início de 2020 que estão suspensas.

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Santuário N S Aires
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Santuário N S Aires – arranjos exteriores (em conclusão)
Finalmente…Oriola!

Desta terra disse José Saramago em “Viagens a Portugal” (1981):

“O viajante gosta de nomes, está no seu direito. Não tendo motivos para parar em Oriola, povoação no caminho de Viana do Alentejo, saboreou-lhe as sílabas italianíssimas ou geminalmente mais próximas da Orihuela valenciana.”

O viajante era, no texto, o próprio escritor, e a referência ainda que breve, ficou. Pouco simpática, qualidade que, julgo eu que o não conheci, também o caracterizava. Mas tinha razão. Oriola tem uma sonoridade que nos desperta.

Pequena terra que terá agora uns 200 habitantes, talvez, chegou a ter o triplo nos idos de 1800. Era então vila e sede de concelho, que o foi de 1282 e 1836. E é verdade que o seu nome derivará da palavra árabe que também está na raiz da Orihuela citada por Saramago.

O seu primeiro donatário foi João Moniz, clérigo e tesoureiro-mor do rei Afonso III, e o seu último, D. Luís Lobo da Silveira, 7º Barão de Alvito. No ano de 1282 recebeu foral dado por D. Dinis, e ampliado em 1516 por D. Manuel I.

Em 2006, Oriola recebeu a visita do primeiro-ministro da época (J. Sócrates) para comemorar o facto de a sua Escola Básica ter sido a última escola a receber banda-larga da Internet. Não sei se ser o último deve ser motivo de comemoração…mas seja como for, mais vale tarde que nunca!

O que hoje destaca verdadeiramente Oriola, para lá da sua traça genuinamente alentejana – casas térreas de branco caiado, ruas direitas, planas, perpendiculares e imaculadamente limpas – é a proximidade à barragem e albufeira de Albergaria dos Fusos (também chamada do Alvito…que fica mais longe!).

Quando seguimos na EN384 entre Viana do Alentejo e Portel, mais ou menos a meio caminho, cortamos à direita para Oriola. Uma pequena recta leva-nos à entrada e aí encaramos com um monumento ao 25 de Abril.

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Quase em Oriola

 

A escala é um pouco exagerada face à cércea dos edifícios da terra (acredito que esse sobre dimensionamento terá paralelo no sentimento da população, legítimo e justificado portanto) e hoje talvez um pouco kitsch, mas a simbologia está lá. E no final, é isso que interessa. A pomba branca com o cravo vermelho (único elemento cromático) assinala a entrada em Oriola.

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Oriola – Monumento ao 25 Abril

Logo de seguida podemos constatar que aqui se dá verdadeira importância aos detalhes…

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Oriola – a importância dos detalhes
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Oriola – Ruas brancas

Seguimos a direito, percorremos o casario e lá bem mais à frente uma placa indica-nos “barragem”. para o lado esquerdo.

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Oriola – A caminho da barragem

Viramos e uma centena de metros depois…a estrada afunda nas águas da albufeira da barragem. Logo ali!

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Oriola – Onde a estrada afunda

Essa estrada que ligava Oriola a Santana (e que curiosamente ainda hoje encontramos em mapas actuais e até no Google Maps) está completamente submersa. Como submersa também está uma ponte romana.

E aí parámos para umas fotos. Garanto-vos que a paisagem, o silêncio dos campos apenas quebrado pelo cantar dos pássaros ou o marulhar do ventos na superfície da água, tornam este local belíssimo e transmitem-nos calma. Muita calma!

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Oriola – Barragem de Albergaria dos Fusos
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Oriola – Uma Ducati na paisagem.
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Oriola – Uma Ducati na paisagem
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Oriola – Barragem – panorâmica
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Oriola – Panorâmica
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Oriola – Chegámos ao fim da estrada
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Oriola – Chegámos ao fim da estrada

E sim! Já conheço Oriola.

E a Oriola (e também a Viana) hei-de voltar em breve.

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Oriola: Até já….

No Verão…com sol e calor. Porque é a melhor forma de sentir o Alentejo. Se calhar, para muitos não será a mais agradável mas, para mim, é a mais genuína!

E a Ducati? Perguntam vocês…

A primeira impressão é notável: a Ducati Supersport 950 é muito bonita. Apesar de não ter o vermelho característico da marca, este branco pérola mate fica-lhe a matar! É linda, qualquer o ângulo em que para ela olhamos. Mas lá está….os gostos são subjectivos…

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Ducati Supersport 950

Dispenso-me de comentários mais técnicos que não têm aqui o seu lugar. Para saber tudo sobre a Ducati Supersport 950S, lerQuanto è bella questa machina!

Mas tinha muita curiosidade em perceber como se comportava uma moto do Século XXI, com todo o requinte de uma marca premium, a elegância do design italiano e um coração que herda o que de melhor a Ducati sabe fazer. Já agora, no final comparar com a memória da minha antiga CBR 600….mesma potência mas os cavalos eram de 1999!

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Ducati Supersport 950

A tendência actual – uns chamam-lhe moda… – é a de utilizarmos motos mais encorpadas, com um perfil a que o marketing chamou trail, para viagens. Postura mais direita, mais confortável e menos exigentes para outras partes da anatomia humana como sejam os pulsos (algo que me levou a optar por esta fórmula). A Supersport 950 é uma moto, neste domínio, à antiga. Será que funciona?

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Ducati Supersport 950

Direi que no final de quase 400 km de viagem, alguns deles debaixo de chuva e outros poucos no meio de engarrafamentos em Évora e Montemor (até já aqui há horas de ponta…), os meus pulsos já se queixavam. A postura, principalmente no meio do trânsito, castiga-os sobremaneira. Já em estrada livre…não há queixas! Nem os pulsos sofrem por aí além – mérito dos avanços serem em posição mais alta face à mesa de direcção – muito menos as costas que ficaram impecáveis nesse e nos dias seguintes.

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Ducati Supersport 950
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Ducati Supersport 950

Em andamento é o que se esperava. Temos máquina para andar e andar. E “chegamos lá” enquanto o diabo esfrega um olho. Uma única preocupação: os fotógrafos à la minuta que por estes tempos se dedicam ao passatempo do voyeurismo velocimétrico. As fotos não ficam nada de jeito, as carteiras mais aliviadas e o cartão de fidelização de condutor ganha rapidamente pontos adicionais.

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Ducati Supersport 950
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Ducati Supersport 950

Os diferentes modos de condução adequam-se às condições de utilização, as suspensões são magníficas – filtram as irregularidades do terreno de forma notável para o tipo de moto que é – e os travões devem ter sido extrapolados do TAV – Treno Alta Velocità (o TGV por paragens transalpinas).

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Ducati Supersport 950
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Ducati Supersport 950

Comparativamente à CBR 600? 22 anos depois até os 110 cavalos parecem diferentes (os antigos “respiravam” melhor, mas isso podemos agradecer aos Euros 5 e anteriores). Mas no resto…os 20 anos parecem 2 séculos.

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Ducati Supersport 950

Que vos posso dizer mais? A moto é linda!!!

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Ducati Supersport 950
Agradecimentos:

Em primeiro lugar, à Ducati pela cedência desta espectacular Supersport 950.

Em segundo lugar, a duas pessoas importantes para esta viagem ter acontecido:

  • a fiel seguidora que me lançou na intranquilidade de não conhecer Oriola;
  • ao meu Amigo Carlos que me acompanhou e tornou a viagem muito mais divertida!

(crónica também publicada na revista Andar de Moto #36 de Maio de 2021)

 

 

 

A demanda pela Esperança

O malfadado 2020 chegou ao fim e vamos em frente, com Esperança que o seguinte seja melhor.

Mas para isso, precisamos mesmo encontrar a Esperança! 

E como esta peste faz lembrar tempos medievais, nada como lançar uma demanda à boa maneira da Idade Média, para encontrar a Esperança! É verdade…podia ter ido ao Google. Era mais simples mas não tinha piada nenhuma…

O primeiro passo seria descobrir por onde começar. O que desejamos é segurança e felicidade. A segurança de um porto de abrigo e a alegria de sermos felizes. Portanto, com essas pistas, só podia ser Portalegre: Porto+Alegre! (para o caso, não é relevante o facto de estar lá perto).

E assim começou a demanda pela Esperança: 30 de Dezembro, com 5º de temperatura e um sol radioso, lá fui a caminho de Portalegre!

Primeira pista: Portalegre

Antes de entrar na cidade, subi à Ermida da Penha. O monte fronteiro à encosta onde se espraia o casario da cidade do Alto Alentejo dá-nos a melhor vista panorâmica e permite antecipar alguns dos locais a visitar.

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Panorama de Portalegre
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Ermida da Penha

“Tinha esta terra, quando era vila, sete freguisias, e era a mais nobre vila que havia em Além Tejo. A terra é de el-rei, e como tal a levantou por cidade el-rei Dom Joam triceiro.”

(Diogo Pereira Sotto Maior, Tratado da Cidade de Portalegre, 1619)

Esta inscrição está no pedestal da estátua que homenageia que D. João III, rei que elevou Portalegre a cidade em 23 de Maio de 1570.

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Estátua de D. João III

Desconhecem-se as origens remotas até porque durante muito tempo, prevaleceu um equívoco. Frei Amador Arrais, eleito Bispo de Portalegre em 1581 e que aí permaneceu como tal durante 15 anos, alegou nos seus estudos que já nos tempos dos romanos existia aqui uma cidade, por ter descoberto algumas pedras e ruínas que identificou como oriundas dessa época. Seriam da importante cidade de Ammaia que ficava na rota da importante estrada que levava a Emérita Augusta (hoje Mérida). E durante muito tempo se pensou que Ammaia seria a antepassada de Portalegre. 

57 - Forum.jpg_9.52_jpgAmmaia (Forum) e Marvão ao fundo

Mas quando se revelaram as verdadeiras ruínas daquela cidade romana, nas imediações de Marvão, rapidamente se concluiu que o que tinha sido descoberto em Portalegre para aí tinha sido trazido ao longo do tempo, proveniente de Ammaia. Os antigos chamavam a esta a Pedreira dos Padres, pois alguns dos conventos de Portalegre utilizaram na sua construção pedras retiradas destas ruínas romanas.

Quando se entra na cidade e nos dirigimos ao centro, chegamos a uma rotunda naturalmente designada por Rossio. Aqui desaguam 7 ruas, algumas delas entre as principais da cidade. É com inteira razão que se poderá afirmar que todos os caminhos aqui vêm dar….

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Rossio de Portalegre

Aqui começa, na colina para norte, o Jardim do Tarro. Espaço frondoso e agradável, principalmente quando a canícula aperta nos meses de Verão.

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Jardim do Tarro
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Jardim do Tarro

E também aqui fica uma árvore célebre. O Plátano do Rossio (ou de Portalegre). Árvore centenária – plantada em 1838 – tem uma copa que quase atinge os 30 metros de diâmetro, a maior da Península Ibérica. É a mais antiga árvore portuguesa classificada como de interesse público, desde 28 de Agosto de 1838. Em 2020 venceu o concurso Árvore Portuguesa do Ano 2021, sendo que nos representará no concurso Árvore Europeia do Ano. Espera-se naturalmente a vitória!

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Plátano de Portalegre
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Plátano de Portalegre em contra-luz…

 A demanda por novas pistas continua…

 Apontei à parte antiga da cidade. Subi primeiro pela rua do comércio.

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Vista para o Castelo (ao fundo). Em primeiro plano o Plátano e abaixo o Rossio
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Rua 5 de Outubro (ou do Comércio)
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Rua do Comércio

Quase deserta, fruto da época que vivemos e também de algum marasmo endémico da cidade, vamos subindo até ao Arco e a partir daí, perdi-me pelas ruas de calçada antiga, tradicional e irregular, que ora sobem ora descem, a caminho do Castelo.

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Arco da Rua do Comércio
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Ruas de Portalegre
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Ruas de Portalegre
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Ruas de Portalegre

O Castelo de Portalegre é actualmente uma ruína da qual restam algumas muralhas e quatro torres (das 12 originais). Construído nos tempos de D. Dinis, cerca de 1290, está integrado no casario que a ele se encosta. Ainda assim a sua silhueta destaca-se no panorama da urbe.

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Castelo de Portalegre
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Castelo de Portalegre
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Castelo de Portalegre

Dirigi-me à Sé. Construída entre 1556 e 1575 foi sede da Diocese de Portalegre. Hoje, partilha esse título com a Sé de Castelo Branco. A Diocese de Portalegre, mais antiga, datada de 1549 integrou a mais recente de Castelo Branco (fundada em 1771) no ano de 1881.

Edifício de estilo maneirista tem a sua fachada principal virada para o Castelo e, naturalmente, para o que seria na época o núcleo urbano da cidade.

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Sé de Portalegre
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Sé de Portalegre

Continuei o périplo pelas ruas de Portalegre. Em busca das pistas que me conduzissem à Esperança…e aproveitei a oportunidade para continuar a apreciar pormenores desta bonita cidade.

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Antigo edifício dos CTT (Correios, Telégrafos e Telefones)
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Museu das Tapeçarias de Portalegre

As tapeçarias de Portalegre são o ex-libris da cidade. Ao passar pelo Museu de Tapeçarias é fundamental recordar esta arte bem característica da região.

São tapeçarias murais decorativas. Utilizando uma técnica totalmente manual, tem como ponto de partida um original de pintores conhecidos, portugueses ou estrangeiros. Este é ampliado para a dimensão final sobre um papel quadriculado próprio, em que cada quadrícula representa um ponto (desenho de tecelagem). Cada uma é uma obra de arte original, única pelas suas qualidades intrínsecas e pela técnica usada para traduzir o cartão do pintor. Mesmo sendo reproduções de outras obras de arte, a forma como são feitas, o trabalho que lhe está associado e o resultado final transformam-nas em autênticas obras de arte (e de valor muito elevado).

Tapeçaria de Portalegre
Aclamação de D. João IV – Museu das Tapeçarias de Portalegre
Almada Negreiros - Partida de Emigrantes
Tríptico – Partidas dos Emigrantes – Almada Negreiros (Museu das Tapeçarias de Portalegre)

Esta é uma visita fundamental na cidade de Portalegre!

Continuei a caminhada. À minha frente, o edifício da antiga Real Fábrica de Lanifícios, antigo Colégio de S. Sebastião e na actualidade sede da Câmara Municipal.

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Real Fábrica de Lanifícios

Nos tempos do Marquês de Pombal, a 15 de Junho de 1771 foi expedida uma ordem régia, por aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino ao visconde da Lourinhã, Governador das Armas da Província do Alentejo, para ser estabelecida uma fábrica de lanifícios em Portalegre, de acordo com a Junta do Comércio. A Real Fábrica de Lanifícios de Portalegre passou a ser administrada pela Junta da Administração das Fábricas do Reino e Obras de Águas Livres por decreto de 25 de Janeiro de 1781. Em 29 de Março de 1788 foram estabelecidas por alvará as condições da entrega a Anselmo José da Cruz Sobral e Gerardo Venceslau Braamcamp de Almeida Castelo Branco da Real Fábrica de Lanifícios de Portalegre, para administrarem por tempo de 12 anos e sob a inspecção da Real Junta do Comércio…

Passei pelo Jardim da Corredoura e à minha frente estava o Convento de S. Bernardo.

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Convento de S. Bernardo – Pátio e Fonte de Neptuno

A instituição foi fundada em 1518 pelo bispo da diocese da Guarda, D. Jorge de Melo, com o fim de albergar “donzelas sem dote”. A sua construção prolongou-se por bastante tempo, o que se revela por ter diferentes influências arquitectónicas, desde o Manuelino do Séc XVI ao Barroco do Séc XVIII. Contém um acervo de azulejaria nas paredes dos claustros de invulgar beleza (apesar de algumas malfeitorias sofridas ao longo do tempo).

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Convento de S. Bernardo – Painel de azulejos

Ao longo dos tempos teve diferentes serventias. O convento foi extinto em 1878, nele sendo instalado no ano seguinte o seminário diocesano. Em 1911 foi convertido em quartel. Posteriormente, entre 1932 e 1961 esteve instalado na igreja o Museu Municipal de Portalegre. Após ter sido quartel da Polícia do Exército, a Escola Prática da Guarda Nacional Republicana foi instalada no convento no início da década de 1980, situação que ainda se mantém.

Ao lado, a peculiar Capela do Calvário, sobranceira à parte mais moderna da cidade.

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Capela do Calvário

A ronda por Portalegre estava quase terminada e pistas sobre a Esperança…nada!

Antes de reflectir sobre o próximo destino, ainda passei defronte do edifício da Santa Casa da Misericórdia, junto ao Jardim do Tarro onde está a estátua que homenageia os Mortos da Grande Guerra.

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Em primeiro plano, Monumento aos Mortos da I Grande Guerra. Ao fundo, edifício da Santa Casa da Misericórdia

Era tempo de prosseguir a demanda! Pois por aqui muito tinha visto mas não tinha encontrado qualquer pista…

Tendo a Esperança algo que ver com qualquer coisa de bom que desejamos que apareça, não me faria sentido deslocar para poente (onde o dia acaba…). Foi com este palpite que me dirigi para nascente!

Rumo a nascente à procura de pistas

Fiz-me à estrada no rumo escolhido. Alguns quilómetros percorridos e fui dar a Arronches. Pequena vila, com menos de 2 mil habitantes e sede de concelho que faz fronteira com terras espanholas.

Se não encontrasse aqui as pistas que procurava, a minha demanda complicava-se….

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Arronches – Panorama da vila e Rio Caia

Mas…surpresa! Assim que entrei na vila, deparei-me com a Rua da Esperança!

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Arronches – Rua da Esperança

Afinal as minhas deduções estavam certas. O caminho era mesmo por aqui.

Ainda havia tempo para conhecer um pouco desta vila alentejana. Subi um pouco mais e parei em frente à Fonte de Elvas. Por trás desta, o Convento de Nª. Sª. da Luz.

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Convento de Nossa Senhora da Luz
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Fonte de Elvas

À frente da fonte, o Castelo…ou o que dele resta.

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Castelo de Arronches…o que resta

Ao lado o curioso Museu de (a) Brincar. Talvez fruto de uma brincadeira, mas o certo é que se trata de um museu de brincadeiras. De brinquedos.

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Museu de (a) Brincar

Inaugurado em 2002 e situado no edifício da antiga fortaleza de Arronches, o Museu de (A) Brincar pretende dar a conhecer o brinquedo e o brincar através dos tempos.

Os brinquedos da coleção estão organizados de forma interessante e por temas: a memória do lugar, os mestres carpinteiros de carroças, brinquedo de cá, canto da bonecada, por terra, mar e ar, jogos e passatempos, maquetes de papel, teatro de fantoches, classe de Escola do “Estado Novo” e Portugal dos pequenitos.

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Rua de Olivença

Continuei a caminhada pelas ruas da vila e cheguei à praça principal: a Praça da República. Aqui se situa o núcleo da vila: a Câmara Municipal, a Igreja Matriz e ainda a Igreja da Misericórdia e sede da Santa Casa local.

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Igreja Matriz
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Câmara Municipal
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Igreja da Misericórdia
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3 torres – Igrejas Matriz e da Misericórdia e Câmara Municipal

No centro da Praça da República, uma bonita fonte em honra de Neptuno.

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Fonte de Neptuno
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Fonte de Neptuno

A volta por Arronches estava terminada. E também já sabia qual o rumo! Em direcção à Esperança…

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Esperança é para ali…
Encontrei a Esperança!

Finalmente! A demanda estava concluída. Encontrei a Esperança. Agora resta que esta se cumpra e que o novo ano seja efectivamente melhor que o que nos deixa. 

Mas já que viemos até aqui, vamos conhecer. Até porque ainda há uma ou duas cerejas para colocar em cima do bolo….

Esperança é uma pequena aldeia, sede de freguesia. Está encostada a Espanha e tem, seguindo esta mesma estrada e poucos quilómetros adiante, a fronteira.

A placa de entrada, original mas um pouco mal tratada. Talvez a querer dizer que, Esperança pois claro, mas não vai chegar. Temos que fazer algo por isso também. Fica a metáfora.

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Esperança!
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Entrada em Esperança

No Largo da Igreja, o centro da aldeia. A pequena igreja, em tons tipicamente alentejanos, mas com orgulhosa torre sineira. E nela, uma placa de gratidão, sentimento que fica sempre bem. Diz ela:

 “Homenagem do povo de Esperança ao Exmº. Sr. António Dias Pereira e sua Exmª Esposa D. Maria Vitória Fragata Pereira. Grandes beneméritos que se dignaram oferecer-nos esta bela torre relógio e sino grande. 7 de Maio de 1961”

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Igreja de Esperança
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Gratidão do Povo de Esperança

A aldeia estava recolhida.

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Esperança…não havia vivalma!

A Junta de Freguesia, a Sociedade Recreativa ou até a Associação de Caçadores e Pescadores estavam fechadas. E na rua, duas ou três pessoas apenas. Estranhos tempos estes….

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Junta de Freguesia
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Soc. Recreativa Esperancense
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Associação de Caçadores e Pescadores de Esperança

Estava concluida a demanda!

 Mas aqui muito pertinho, duas pérolas a visitar. Não podia falhar!

 Uma bonita fronteira e uma surpreendente ponte

 Meia dúzia de quilómetros em direcção a Espanha, por uma estreitinha estrada municipal (sem saída, já o sabia) fui dar a um pequeno aglomerado de casas chamado Marco.

Em bom rigor, chama-se Marco do lado de cá do Arroyo Abrilongo e El Marco do lado de lá. Cá é Portugal, lá é Espanha. E o dito Arroyo, não é mais que um pequeno e bonito ribeiro que na sua simplicidade só separa os dois países. Só!

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O caminho que leva à fronteira
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Arroyo Abrilongo separa Portugal de Espanha

Mas se a separação – olhando para as duas povoações e a forma como estão próximas, o termo mais correcto é união – é ditada pelo pequeno ribeiro, para o atravessar existe uma pequenina ponte mas com um significado imenso: é a mais pequena ponte internacional do mundo!

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Arroyo e ponte
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A mais pequena ponte internacional do mundo
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A ponte do Marco
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A ponte – fronteira

E se ambas as povoações têm o mesmo nome, na respectiva língua, talvez a razão seja porque ali está o marco fronteiriço que demarca o território (está na margem portuguesa):

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O marco – a face de Portugal
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O marco – a face de Espanha

O objectivo deste passeio não era Espanha, pelo que agora estava na hora de regressar. O caminho de volta foi o mesmo da ida, mas com um pequeno desvio. Antes de voltarmos a entrar em Esperança, num desvio à esquerda, a seta indicava “Pinturas Rupestres”. Segui as indicações… 

Pinturas Rupestres de Vale de Junco

 O local onde encontramos este monumento pré-histórico, também chamado Lapa dos Gaivões, consiste num abrigo natural, virado a sul, numa encosta quartzítica. E nele é possível encontrar algumas gravuras rupestres representando cenas da vida datadas do período entre 4.000 e 2.000 aC. As duas mais visíveis representam figuras antropomórficas e outros tipo de grafismos.

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Lapa dos Gaivões
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Interior da Lapa dos Gaivões
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Figura antropomórfica e conjunto de 28 barras verticais
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Figuras antromórficas e a central possivelmente com capacete com cornos

E assim terminou este passeio!

A demanda em busca da Esperança foi um sucesso. Visitámos a mais singela fronteira e ainda observámos a arte dos nossos antepassados mais remotos.

Foi mais uma Viagem ao Virar da Esquina. Com a Esperança de tempos melhores para todos!

Feliz ano de 2021!

Em demanda da Esperança!
Em demanda da Esperança!

(Passeio realizado a 30 de Dezembro de 2020, com salvaguarda de todas as precauções sanitárias e em estrito respeito pelas normas de circulação vigentes à data. Publicado na revista Andar de Moto, edição de Janeiro).

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