Volta saloia por Montejunto e Bombarral (2)

Na Serra de Montejunto é imperdível uma visita à Real Fábrica de Gelo.

Aí percebemos como o aproveitamento das condições naturais permitia, séculos atrás, fornecer a casa real,a corte e até alguns hospitais em Lisboa, com o precioso…gelo!

2 – Real Fábrica do Gelo

Na primeira parte da descrição desta volta, abordei mais em detalhe o percurso. Para agora ficou a história da Real Fábrica do Gelo. Fica em plena Serra de Montejunto, perto do cume e é algo que vale a pena visitar. Para percebermos que muito antes da existência de algo banal como um vulgar frigorífico, já havia quem valorizasse a utilização do gelo e até desfrutasse do sabor de um refrescante gelado. Afinal como se produzia gelo se não havia frigoríficos?

Fizemos a aproximação a Montejunto por Vila Verde dos Francos. Subimos a serra e, a caminho do cume, virámos primeiro à direita e depois à esquerda (na direcção do Quartel).

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A Real Fábrica do Gelo fica logo a seguir a estas instalações militares.

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Era tempo das montadas repousarem um pouco…

No espaço, para lá de um Centro de Interpretação, de um pequeno parque de campismo em frondosa mata com alguns equipamentos adequados a umas belas churrascadas, temos o complexo que efectivamente constitui a Real Fábrica de Gelo. Note-se que não é visível da estrada mas é na Recepção (que estava encerrada para obras) ou no Centro de Interpretação que se obtém a entrada para a visita que é guiada. Atenção que são poucos os horários para tal (a visita demorará cerca de 1 hora, não pela extensão mas pela riqueza da explicação), pelo que se sugere uma busca prévia na internet para perceber qual a hora mais conveniente. A visita custa 2 € (bem empregues!).

Nós fomos uns autênticos privilegiados! Porque há muito que tinha passado a hora da visita mas a simpática senhora que lá estava, não só se disponibilizou para uma visita exclusiva, como também nos brindou com uma detalhadíssima explicação. Fabuloso!

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Da fabricação do Gelo, à animação cultural da zona passando pelo Memorial do Convento, os detalhes da explicação foram imensos

Este complexo esteve ao abandono até meados dos anos 90 do século passado, quando alguns estudantes da zona do Cadaval os “descobriram” e encontraram os edifícios em ruínas e cobertos por denso matagal. Mais tarde, a autarquia resolveu promover a recuperação destas instalações cujo interesse histórico não é só a curiosidade de um processo de fabricação de gelo (sem frigorífico!) mas também pelo facto de ser único em Portugal e muito raro por essa Europa fora.

Consta que o “fabrico de gelo” remonta ao tempo do rei Filipe I de Portugal (Filipe II de Espanha) que era um grande apreciador de gelados. À época, a matéria prima seria proveniente da Serra da Lousã, onde a neve que no inverno a cobria era aproveitada. Assim, terão existido uns silos em pedra escavados no chão onde, sempre que nevava, era acumulada a neve, compactada até formar gelo. Depois, este era transportado até à Corte pelos meios usuais da época. As percas eram substanciais. Alguns (muitos) anos mais tarde, uma nova forma de fazer o precioso gelo foi desenvolvida, neste caso na Serra de Montejunto.

A construção da Real Fábrica de Gelo remonta aos inícios do séc. XVIII, sendo que em 1782, foram realizadas importantes obras de ampliação pelo neveiro Julião Pereira de Castro. A posse dos terrenos e das instalações manteve-se na família e herdeiros deste até que a autarquia chamou a si a propriedade e a restauração, como acima referi, nos finais dos anos 90 do século XX. A fábrica produziu gelo até 1885.

Mas como se processava a fabricação do gelo?

Em primeiro lugar importa referir o clima propício da Serra de Montejunto (frio e húmido) e o facto da Fábrica ficar na encosta virada a norte (com escassa incidência solar).

O complexo divide-se em 3 áreas.

A primeira, a zona de elevação e distribuição de água, constituída por 2 poços, uma nora (movimentada a energia animal) e um tanque reservatório com 151 mil litros de capacidade e um segundo também de elevada capacidade. Nesta área, fazia-se a elevação da água dos poços para o enchimento dos reservatórios.

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No interior deste edificio ficavam os poços

Posteriormente, a partir destes, quando o clima era favorável (frio!) processava-se o enchimento dos tanques de congelação ou geleiras, que constituiam a segunda área da Fábrica.

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Tanques de congelação

Quando o frio assolava esta zona, e os tanques de congelação eram cheios, aguardava-se que a água neles contida (com uma altura máxima de cerca de 12 cm) congelasse. Invariavelmente este processo era integralmente noturno.

Quando tal sucedia, o guarda da Fábrica descia à povoação de Pragança, para chamar os moradores para virem carregar o gelo. Os primeiros a chegar, seriam os que eram contratados para a tarefa (consta que aqueles que conseguissem ficar a trabalhar nesta faina teriam os rendimentos suficientes para subsistirem durante um ano).

A terceira área era constituida pelos poços ou silos de armazenamento e zona de expedição. Ficava um pouco acima, na encosta da serra (numa zona que mesmo durante o dia ficava encoberta do sol pela própria montanha) e era necessário que o gelo produzido nos tanques fosse carregado em ombros e depositado nos silos. Estima-se que cada carga pesasse cerca de 65kg! Não era, portanto, trabalho fácil…

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Entrada da zona de armazenamento e expedição

Esta área integrava dois poços de armazenamento, onde o gelo era compactado para evitar grandes perdas, uma sala onde era cortado e embalado (em palha) e um terceiro poço onde era armazenado e se preparava a expedição.

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Interior do edificio onde era feito o armazenamento e posterior expedição
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Outra perspectiva do edifício de armazenamento e expedição

Posteriormente, o gelo já compactado e embalado em volumes superiores, era carregado por animais até ao cimo da serra e depois encosta abaixo, até ao Carregado onde os barcos estacionados na Vala com o mesmo nome aguardavam para depois o transportar até Lisboa.

Uma vez que se tratava de uma encomenda régia, tinha prioridade sobre tudo o resto que aguardasse transporte…

Nesta época, o gelo era já um bem muito apreciado (como podemos ver pelo anúncio)…

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De referir ainda, que o gelo produzido não se destinava apenas para o usufruto da corte ou das classes mais abastadas. Era também destinado aos hospitais onde era utilizado em muitas curas.

Antes do Terramoto, o Hospital de Todos os Santos era um dos principais destinos para lá da Casa Real.

Mais tarde, o gelo passou a ser também vendido, nomeadamente naquela que na altura era conhecida como Casa do Gelo (propriedade dos mesmos donos da Fábrica) e mais tarde, já perto dos nossos dias, como Martinho da Arcada.

E já agora, nunca se questionaram a razão do nome do Café Gelo situado no Rossio em Lisboa? Pois é…tem tudo a ver.

A Fábrica tem ainda no seu perímetro um Forno de Cal.

Funcionou inicialmente para a construção e manutenção da própria Fábrica e manteve-se em laboração até ao séc. XX mas apenas para fornecimento de cal às povoações mais próximas, nomeadamente Pragança.

E assim foi a nossa visita do dia. Espero ter despertado a curiosidade…

Isto de andar de mota também serve para ver e aprender. E deixo a sugestão: se tiverem filhos pequenos, levem-nos a visitar a Fábrica Real do Gelo para poderem perceber que os gelados que hoje com toda a facilidade (e deleite!) podem saborear, antigamente tinham por trás um processo complexo e sobretudo muito árduo de obter.

 

PS: Hoje falei pouco de motas…para compensar, aqui ficam elas!

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Team Honda

Em resumo, a jornada foi assim:

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E tudo estava ali…ao virar da esquina!

Leia a primeira parte deste passeio aqui!

Volta saloia por Montejunto e Bombarral (1)

A zona a norte de Lisboa, conhecida por Região Saloia é um manancial de estradas nacionais e municipais sinuosas, em razoável estado e com pouco trânsito. Ou seja, são óptimas.
E a paisagem e as referências históricas não lhe ficam atrás.

1 – A viagem

O hábito de no dia a dia circularmos pelas AEs, IPs e ICs faz-nos esquecer (pelo menos aos mais velhos) o tempo em que reclamávamos das miseráveis estradas que tínhamos nas quais se demorava uma infinidade de tempo a ir onde quer que fosse.

Hoje, quando temos uma das melhores redes rodoviárias da Europa (nem sempre bem estimada) e a esmagadora maioria do tráfego passa por ela, resta-nos o privilégio de ter inúmeras estradas meio escondidas, geralmente de boa qualidade e que são uma delicia para os amantes das 2 rodas.

Um dos exemplos é a zona a norte de Lisboa. Longe de ser plana, as estradas que unem as muitas povoações decorrem entre curvas e contra curvas, subidas e descidas ligeiras, que permitem ritmos simpáticos e diversão da condução.

Aqui falarei de uma volta que utiliza algumas destas estradas e que numa manhã e tarde domingueira, ao longo de cerca de 200km, permitiu a 5 amigos bons momentos de camaradagem e de bastante condução. Recordando a máxima que as rectas servem meramente para unir 2 curvas e que se desejam aquelas necessariamente curtas!

Eram cerca de 9h quando nos começámos a reunir num local muito habitual para os diferentes grupos que se dedicam a este “passatempo”: as bombas do Ralis na saída de Lisboa para a A1.

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Até se poderia chamar Team Honda!

Depois do obrigatório cafézinho, seguimos pela A1 até Alverca onde saímos para a N10 (objectivo: não contribuir para a Via Verde…) até Vila Franca, onde iríamos entrar de verdade no traçado previsto.

À entrada da cidade, virámos à esquerda, na mesma rotunda que permite o acesso à A1 mas depois seguimos em frente pois queríamos tomar a N248 que nos levaria até Arruda dos Vinhos e depois Sobral de Monte Agraço onde faríamos uma primeira paragem para “reabastecimento”.

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A caminho de Arruda

Esta estrada, apesar de algum trânsito e de atravessar povoações, tem excelente piso, boa sinalização e às poucas rectas sucedem-se zonas de curvas bem desenhadas que permitem uma condução muito fluída, com uma paisagem que faz uma transição dos montes que seguem paralelos ao Tejo e a planície mais a norte.

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Entre Arruda e Sobral

Chegados a Sobral de Monte Agraço, quando permitíamos algum descanso às nossas montadas, fomos surpreendidos com um desfile de “clássicas” em que a esmagadora maioria eram cinquentinhas dos tempos áureos:

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A parada de cinquentinhas…e outras tão ou mais antigas

Enquanto “as meninas” descansam, nada como uma amena cavaqueira em esplanada no centro de Sobral de Monte Agraço. Como se pode ver na imagem, não estávamos sozinhos, pois outros motociclistas também por ali paravam.

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Em repouso…

Feito o “reabastecimento” era tempo de finalmente nos dirigirmos ao nosso primeiro grande objectivo do dia: a Serra de Montejunto!

No próprio largo onde nos encontrávamos, são visíveis as placas indicadoras do rumo Alenquer. Não pretendíamos ir até lá, mas sim tomar a N115 que até determinado ponto é comum à rota que leva aquele destino.

Tomada a N115, fomos sucessivamente passando por Chãos, Freiria, Tojais, Palhacana, Corujeira, Aldeia Galega, Merceana, Cortegana, Atalaia e, embalados pela boa estrada e pela paisagem da aproximação ao vulto da Serra de Montejunto, quase não dávamos pelo cruzamento em Vila Verde dos Francos, onde obrigatoriamente virámos à direita em direcção à serra.

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Montejunto lá ao fundo

A estrada, inicialmente com pouco relevo, estreita e com piso algo irregular a exigir os devidos cuidados na condução, começa depois a subir…e aí, sobe e bem!

À nossa esquerda vemos, cada vez mais de cima, uma extensa planície.

Muita atenção pois apesar de não ter grandes dificuldades, a estrada tem poucas ou nenhumas guardas de protecção, a não ser umas pedras brancas que nos lembram que dali para o lado de lá…não!!!!

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A subir Montejunto. Do lado esquerdo…o precipício sem rede

Chegados ao cruzamento que dá, para a direita, acesso ao cimo da Serra, às antenas, ao Quartel e à Real Fábrica de Gelo, à esquerda para Pragança e onde está uma curiosa imagem de Nª Senhora, seguimos obviamente à direita.

Mais tarde voltaríamos a este cruzamento, mas então para nos dirigirmos a Pragança.

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À direita para o cimo da Serra

A caminho do cume passámos ainda pela antiquíssima (época medieval) capela de Nossa Senhora das Neves.

Lá em cima, quase nos sentimos no topo do mundo…bem, até verdade, daquele mundo que ali nos rodeia. Em dias de boa visibilidade, caso raro na zona (!), é possível alcançar toda a planura que vai até ao Tejo e mesmo mais além, a Serra da Arrábida ou, mais para sudoeste a Serra de Sintra. A nossa sorte não chegou a tanto, mas ainda assim desfrutámos da vista e do ar fresco e puro da montanha.

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No topo

Tão puro e fresco que motivou um pequeno petisco em que tomámos um “cafézinho” proveniente das vinhas da Madeira acompanhado de umas deliciosas fatias de um “bolinho” curado da Serra da Estrela!

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Uma delícia!!!!

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O Team Honda em formação

Era tempo de nos fazermos ao caminho, pois ainda havia muitos quilómetros a percorrer, uma visita a fazer e…um almocito que nos esperava no Bombarral.

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O início da descida

Essa visita, antes de descermos a Serra, era a um dos ex-libris da Serra de Montejunto: a Real Fábrica de Gelo.

Património histórico (séc. XVI) recuperado há relativamente pouco tempo, é testemunho vivo de como os nossos antepassados régios conseguiam desfrutar de algo que para nós é banal: os gelados!

Mas sobre a Real Fábrica do Gelo falaremos no próximo post onde vos contarei a sua história…

Sim porque isto de andar de mota não é só fazer quilómetros. Vemos e aprendemos!

Visitada a Real Fábrica de Gelo, onde fomos simpaticamente recebidos e tivemos o privilégio de ter uma visita guiada exclusiva, é tempo de nos fazermos à estrada.

E agora sim, a caminho do Bombarral.

A descida da Serra, a caminho de Pragança, segue vertiginosa, com um encadeado de curvas bastante divertido e com uma extensa paisagem à nossa frente.

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Descida para Pragança

Neste momento, faltava pouco para a pausa alimentar aprazada para o Bombarral. Era fundamental recompor as energias depois de uma longa manhã, com muita condução e alguns intervalos aprazíveis.

Em Pragança tomamos a N115-1, passamos por Valbom, Boiça, Chão de Sapo (os nomes de terras não deixam de nos surpreender…) e Cadaval onde deixamos esta estrada e seguimos as indicações para o Bombarral onde a dado momento apanhámos a N-361.

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Bombarral é já ali…

Aqui, uma chamada de atenção sobre algo que já detectámos em outros locais: a primazia que é dada nas indicações rodoviárias aos trajectos feitos pelas Auto-Estradas.

Geralmente, a alternativa por estradas nacionais não existe, ou só existe mais à frente (quando o condutor já teve que optar antes!), ou então não tem igual destaque gerando desnecessária confusão e hesitação!

Compreendemos a vénia feita às concessionárias, razão pela qual nos devemos precaver quando fazemos o estudo do percurso! Nomeadamente, saber sempre com a devida antecedência quais as 2 ou 3 próximas localidades a atravessar! Sempre é uma forma de não nos deixarmos enganar…

Sem mais história chegámos ao Bombarral!

Por sugestão do amigo Trip Advisor, o local escolhido foi o restaurante Os Sócios identificado por ser “bom e barato” e cuja especialidade é o frango de churrasco.

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Comprovámos, se tal fosse necessário, que o Trip é um bom companheiro de viagem e aquelas características estavam corretíssimas.

Se alguém quiser seguir a sugestão…aconselho vivamente que faça a reserva de véspera! A espera pode ser prolongada…

Repasto despachado….vamos à estrada que o caminho ainda é longo e há algumas pérolas rodoviárias a descobrir…

Para começo, a N8 – um clássico para os motards –  entre o Bombarral e Torres Vedras. Excelente piso, algum tráfego, curvas e contra curvas à descrição, que seriam uma maravilha a explorar se não existissem alguns constrangimentos: os outros parceiros da estrada, algumas povoações com os irritantes (mas, se calhar, necessários) semáforos e os limites legais de velocidade que convém acautelar…que estes pontos não dão acesso à Champions!!!

Chegados a Torres Vedras, sucedem-se as rotundas plantadas por estas estradas à velocidade de calendários eleitorais e outros… seguimos a direcção da saída sul de Torres até encontrarmos o desvio para a M533 em direcção à Serra da Vila.

Passamos esta pequena localidade, sempre por uma estrada que primeiro sobe até lá e depois, inevitavelmente desce, até reencontramos um pouco mais à frente a já conhecida N8. Passamos Freixofeira, Carrascal, Barras e um pouco mais à frente, um cruzamento à direita com a indicação Gradil e que nos vai levar pela N9-2, atravessando aquela pequena terra e em direcção a Mafra passando a dada altura pela entrada da Tapada de Mafra e durante algum tempo levaremos o muro desta à nossa esquerda

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Gradil

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Ao lado do muro da Tapada de Mafra

Esta estrada é uma preciosidade sob o ponto de vista de condução! Fabulosa!!!

Bom piso, curvas rápidas, curvas lentas, ganchos, curvas e contra-curvas, é o desfrute absoluto!

Passámos Murgeira, Paz (onde entrámos na N116) e atravessámos Mafra. O rumo agora era em direcção à Malveira, sempre pela N116.

Na Malveira, uma paragem impunha-se! As famosas trouxas da Malveira.

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Troooouuuuccchhhaaaaaasssss!!!!!!!

Há coisas que são essenciais….

Passada a Malveira, à saída desta, viragem à direita pela M539-2, em direcção à Avessada e depois, Vale de Uge e Santo Estevão das Galés.

Chegados a Santa Eulália, o engano do dia. Resolvemos virar à esquerda quando o previsto seria seguir em frente, continuando na M539-2 até Albogas. Como virámos à esquerda, pela M1205, não só viémos a entrar mais à frente na N8 (muito antes do pretendido) como apanhámos um pedaço de estrada em mau estado (nada de muito problemático mas ainda assim algo desconfortável). Em Ponte de Lousa entrámos outra vez na N8.

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Regresso a Lisboa

Sucederam-se Guerreiros, Pinheiro de Loures, Loures. Aqui optámos por seguir por Ponte de Frielas e Frielas para fazermos a entrada em Lisboa por Sacavém. O objectivo seria fazer a estrada da Apelação (as melhores curvas e contra curvas quase dentro da cidade…) e daí aquela cidade do concelho de Loures.

Todavia, algo se passava que não conseguimos identificar, razão pela qual era impossível seguir aquele rumo. Mas a estrada de Unhos (não tão interessante e com pior piso) serviu como alternativa!

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Depois de Unhos. O final estava próximo!

200 km depois chegámos! Foi tempo de despedidas e ficou desde logo o compromisso de nova volta em breve…afinal, elas estão aí, ao virar da esquina!

Continua aqui!

Birthday ride

Um passeio calmo em manhã de aniversário, pelas redondezas…

Dia de aniversário (algures em Maio)! ….Bom!

Um dia bonito! …Melhor!

A manhã livre! …Isto está a compor-se!

E um almoço com amigos, combinado algures ali na zona entre Porto Salvo e o Cacém: a escolha está feita!!!  Para uma manhã ensolarada, nada como uma volta à beira-mar.

Pensado e feito! O caminho inicialmente escolhido passou por vias rápidas (2ª Circular, IC19, A16) pois o objectivo era dispôr do máximo de tempo na zona escolhida para o passeio: a costa a oeste de Lisboa, mais concretamente, das Azenhas do Mar até ao local mítico dos motards (e não só, como veremos…): o Cabo da Roca.

Se o caminho até às Azenhas não tem muita história, lá chegados, a primeira surpresa: não havia sitio para tomar o cafézinho da manhã, pelo menos que fosse visível. Siga… até porque a vista desta pequena aldeia, a cair para o mar, é fabulosa!

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A segunda surpresa, ou talvez não, foi que depois do sol lisboeta, aqui pairava uma neblina marítima que tornava o ambiente um pouco mais baço.

Nada de anormal para a zona.

Certamente que para abrilhantar a foto que costuma ser o ex-libris da passagem pelas Azenhas do Mar, o sol teria dado algum jeito, mas o astro é soberano e a vista continua deslumbrante!

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Este miradouro, que fica a sul das Azenhas, passada a ponte e feita a subida que lhe sucede, é local de paragem obrigatória. Até porque depois seguimos por aí a estrada até à Praia das Maçãs, sempre com o mar à nossa esquerda.

Passada a Praia das Maçãs, a estrada vira para o interior rumo a Colares e seguimos ao longo da linha do Eléctrico de Sintra que desde 1904 transporta durante todo o ano (com reforço óbvio no Verão) passageiros entre a Vila de Sintra e a Praia das Maçãs, com paragens, por exemplo, em Colares, perto da Praia Grande, etc., num percurso de cerca de 13km.

Em Colares, nova paragem porque entretanto recordei-me: faltava o cafézinho! Tomado este, era tempo de continuar, até porque o tempo não era farto, havia compromissos…e dois objectivos a cumprir.

Em Colares, virar à direita (à esquerda iríamos para Sintra) e aproveitar a primeira excelente sequência de curvas até ao cruzamento para o Cabo da Roca. As curvas são boas e desenvolvem-se fluentemente a subir mas…o tráfego é sempre muito. Entre camionetas de turistas ou os transportes públicos locais, mais os muitos ciclistas que também aproveitam para desfrutar desta zona e os restantes utentes da via, leia-se motas e “enlatados”, mais vale adoptar um andamento muito calmo e sem pressas. Mais à frente teríamos a oportunidade para “limpar os carburadores (se os tivesse)”…

Passado o cruzamento em que a sinalização horizontal, a que obedecemos, nos indica o Cabo da Roca inicia-se uma descida às vezes mais íngreme, outras mais suave mas sempre ondulando entre curvas e contra curvas, até à ponta mais ocidental do continente europeu.

À aproximação, a visão do cabo a entrar mar a dentro, com o majestoso farol no cimo,  é espectacular:

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E se a vista ao longe nos encanta, lá chegados, deixa-nos um sabor misto.

Os penhascos que decoram a costa a norte e a sul transmitem-nos a noção da pequenez que a nossa condição de humanos nos reserva face à magnitude da natureza e das suas forças.

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Mas se a natureza nos avassala com o seu poder e beleza, nada há que faça temer às hordas de turistas que invadem, por estes dias, a maioria dos locais mais conhecidos de Portugal.

Efectivamente, estes heróis da selfie e da foto destemida, desafiam as regras civis (como seja não passarem para o outro lado das guardas) e por vezes as Leis de Newton, atropelam e atropelam-se por “aquela foto”, num afã como se não houvesse amanhã! E se calhar têm razão…esta malta oriental sabe umas coisas…  um passo atrás de cada vez e lá temos mais um turista a fazer parapente…sem o pente!

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Deixemos o Cabo da Roca para trás, não sem antes registarmos em foto o magnífico Farol:

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A partir daqui, era regressar pelo mesmo caminho, agora em direcção à Malveira para desfrutar da “piéce de resistence”: “fazer” a Lagoa Azul (que em dia de semana é muito mais calma que aos fins de semana) ao som da música proveniente dos escapes e do motor V4 da VFR.

Estava feita a volta do aniversário! Agora…eram horas de almoço e os amigos aguardavam (mentira! fui o primeiro a chegar, mas fica mais bonito dito assim) para um repasto de agradável convívio.

Uma manhã não é tempo de menos para desfrutar de uma boa volta de mota. No total, cerca de 85km (até ao almoço)….poucos mas bons! Como os amigos…

Aqui fica o percurso feito em mais uma viagem ao virar da esquina!

Aniversario

 

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse… (final)

15 travessias do nosso maior rio, o Tejo, de Lisboa até à ponte de Ródão que une a Beira ao Alentejo com o rio como testemunha.

15 travessias de Lisboa a Ródão

4. Objectivo concluido. O regresso.

Faltava a sobremesa! Falei nela um pouco atrás…

Desde a Ponte de Ródão até Nisa, pela EN18, são cerca de 20 km do melhor que pode haver para fazer de mota. Curvas para todos os gostos, bom piso, pouco trânsito, uma paisagem com uma certa beleza agreste….foi mesmo a cereja no topo do bolo!

E assim chegámos a Nisa. Era tempo de reabastecer as montadas.

Cabe aqui fazer um intervalo na descrição. No início mencionei que se fosse hoje, complementaria o percurso e fá-lo-ia desde a foz (em Oeiras) até ao ponto em que o Tejo passa a ser integralmente português. Esse ponto fica no concelho de Nisa, na fronteira com Espanha e tem uma curiosidade adicional: a barragem de Cedillo (ou embalse de Cedillo em castelhano). Trata-se de uma barragem inteiramente espanhola, cujo paredão faz parte da fronteira e que está construído no local exacto em que o Tejo não só entra em território português (na margem norte já há alguns quilómetros que o é) como também é a foz de um dos afluentes, o Rio Sever que daí para sul separa Portugal de Espanha. É uma barragem que simultaneamente bloqueia a passagem de dois rios, daí a sua curiosidade.

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É possível atravessá-la até metade do paredão e depois tomar a estrada que leva à povoação de Cedillo e daí partir para o interior de Espanha, nomeadamente Cáceres. Todavia, nem sempre esta travessia está aberta ao público pelo que é melhor não contar com ela se o objectivo for prosseguir para Espanha.

De destacar que entre Nisa e Montalvão (EM359-3) temos mais cerca de 20 km de estrada espectacular. Estreita mas com bom piso e com algumas curvas em ângulo recto (entre outras mais ou menos pronunciadas) capazes de nos deixarem com um sorriso de orelha a orelha dentro do capacete! Aqui já se sentirá o cansaço dos quilómetros mas vale a pena. Montalvão é uma pequena povoação que tem um miradouro nas ruínas do seu castelo com uma vista deslumbrante. Podemos ver a Serra de S.Mamede a sul, Serra de Nisa a oeste, Serra da Gardunha (e eventualmente a da Estrela se a visibilidade for óptima) a norte e as serranias espanholas a leste.

De Montalvão à barragem de Cedillo, a estrada é menos interessante, com pior piso e com uma inclinação na aproximação à barragem algo significativa.

Depois, se objectivo for o regresso, é fazer o caminho inverso até Nisa e aí optar pela via mais conveniente. Ou então, em Montalvão rumar a Castelo de Vide e … mais um dia ou dois para desfrutar de tudo o que a região de S. Mamede tem para oferecer: o triângulo Castelo de Vide, Marvão e Portalegre. Asseguro que vale a pena! E que estradas tem…

Feito este pequeno intervalo, voltemos ao nosso relato. Acabámos de abastecer em Nisa e com um simples telefonema, porque não uma visitinha à família? Assim foi. Em Gáfete pudemos descansar um pouco, saborear um lanche com algumas iguarias regionais (esta é a zona do queijo de Nisa e também profícua em enchidos) e finalmente fazermo-nos à estrada de regresso a Lisboa depois de um breve descanso.

Gafete

Desde o início dissemos que iríamos evitar ao máximo as AE. Assim fizemos.

O regresso foi por Crato, Alter do Chão, Ponte de Sor, Montargil, Couço.

Aqui, foi obrigatória uma paragem. Há bastante tempo que viajávamos de noite e a certa altura comecei a ter dificuldade em algumas curvas pois, percebi depois, estava com dificuldades de visão. A estrada, nomeadamente entre Montargil e Couço era bastante escura,  bordejada de árvores e com piso bastante irregular. Algo se passava. Quando parámos e tirei o capacete percebi: a viseira estava totalmente coberta por mosquitos! Dodot em acção, limpeza efectuada, visibilidade óptima e aí vamos nós outra vez: Azervadinha, Coruche (um pouco ao lado) e Infantado. Aqui optámos por entrar por Vila Franca de Xira pelo que tomámos a EN10, pelo Porto Alto. Depois A1 e estávamos em Lisboa. Mais de 700 km depois, cansados, mas mais do que satisfeitos.

E concretizámos a nossa homenagem ao Rio Tejo. Percorremos as suas duas margens, fizémos as 15 travessias entre elas, visitámos as muitas terras que ficam no caminho, vimos paisagens espectaculares e bastante diversificadas e desfrutámos de alguns excelentes troços de estrada a pedirem uma condução um pouquinho mais empenhada. Muito bom!

É evidente que um percurso com esta dimensão, a fazer num só dia, retira a possibilidade de contactos com as muitas pessoas com que nos fomos cruzando. Para tal, seria necessário mais tempo, como é óbvio. A camaradagem entre os companheiros de viagem foi extraordinária…a pedir a repetição em outros projectos e destinos.

O que já aconteceu, obviamente.

Obrigado pela companhia e camaradagem, Filipa, Filomena, Jaime e Nuno!

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Para terminar, o resumo das travessias:

  1.  Ponte Vasco da Gama – km 2
  2. Ponte 25 de Abril – km 62
  3. Ponte Marechal Carmona – km 89
  4. Ponte da Lezíria – km 120
  5. Ponte Rainha D. Amélia – km 150
  6. Ponte Salgueiro Maia – km 172
  7. Ponte de D. Luís – km 180
  8. Ponte João Joaquim Isidro dos Reis – km 210
  9. Ponte da Praia do Ribatejo – km 228
  10. Ponte Rainha D. Leonor – km 248
  11. Ponte das Mouriscas – km 266
  12. Barragem de Belver – km 281
  13. Ponte de Belver – km 294
  14. Barragem do Fratel – Km 314
  15. Ponte das Portas de Ródão – km 341

Anterior:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(1)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(2)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(3)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse… (3)

15 travessias do nosso maior rio, o Tejo, de Lisboa até à ponte de Ródão que une a Beira ao Alentejo com o rio como testemunha.

15 travessias de Lisboa a Ródão

3 – De Alvega a Nisa. Objectivo cumprido!

Voltamos então à EN118 e logo à localidade de Alvega (sim, tem tudo a ver com o famoso Major Alvega dos livros de histórias aos quadradinhos – a saudosa colecção “O Falcão” – e da mais recente série televisiva… mas esta é uma outra história).

Depois de Alvega, cerca de 6 quilómetros mais à frente em Casa Branca, mesmo dentro da localidade e numa curva apertada à direita, temos a placa que indica a Barragem de Belver (é preciso alguma atenção porque é a única indicação, embora haja uma alternativa alguns quilómetros mais à frente, também ela parcamente sinalizada). E esta travessia será a primeira de duas que não será feita em ponte mas sim pelo paredão da barragem.

A Barragem de Belver, uma das duas situadas no Rio Tejo no seu percurso português , cuja construção foi finalizada em 1952, possui uma altura de 30 m acima do terreno natural e um comprimento de coroamento de 327,5 m. A capacidade instalada de produção de energia eléctrica é de 80,7MW. É dotada de uma pequena eclusa para passagem de peixes mas que consta ser pouco eficaz.

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Na margem norte encontramos uma pequena povoação de casas todas iguais que presumimos seriam as residências dos trabalhadores da central hidroeléctrica mas que os tempos das automações terão afastado, pois a maioria tem o aspecto de estarem desabitadas. Não vimos vivalma e aqui as primeiras hesitações. Convém referir que esta viagem foi efectuada sem qualquer recurso a GPS. E a escala dos mapas não nos dava aqui grande ajuda. Lá encontrámos alguém, montado num “potente” ciclomotor Zundapp ou similar, que nos indicou o caminho através de estradas municipais em direcção a Belver que ficava ali a meia dúzia de quilómetros.

Acercámo-nos de Belver vindos de poente e ao virar de uma curva lá estava: o Castelo de Belver, empoleirado no cimo de um monte fronteiro a outro onde se situa a vila. Lindo! E a merecer uma visita mais pormenorizada noutra ocasião.

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Vila branca, de ruas estreitas, muitas delas em empedrado, onde no alto temos uma vista deslumbrante para o Tejo e a para a ponte que leva o nome da terra e que iríamos atravessar de seguida, Belver é nome a reter.

Descemos para a ponte de Belver, na Estrada Nacional 244, que une Belver a Gavião. Foi inaugurada em 1907, é uma ponte com tabuleiro metálico e tem o comprimento de 239 metros divididos por quatro vãos. À saida da ponte existe um passadiço em madeira com cerca de 3 km que vai dar à Praia Fluvial do Alamal. Uma pérola do Rio Tejo…

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O destino agora era Gavião onde iríamos encontrar novamente a nossa “amiga” EN118. Faltavam-nos agora 2 travessias e o dia já ía longo. Este percurso entre Belver e o Gavião veio-nos alegrar um pouco pois apesar de pouco extenso, tinha alguma condução, com curvas e contra curvas bem encadeadas. Um aperitivo para a sobremesa que teríamos no final…

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Atravessámos Gavião, tomámos a EN118 até ao cruzamento onde esta encontra o IP 2, um pouco antes de Arez (cerca de 20km). Viramos a norte (direcção A23/Lisboa/Castelo Branco), em boa estrada mas que a certa altura nos apresenta uma descida inclinada, com curvas algo perigosas e o barranco à nossa direita. Começamos a ver a albufeira da Barragem do Fratel que rapidamente iremos atravessar para logo, em subida igualmente íngreme, chegarmos ao acesso à A23.

A Barragem de Fratel tem uma altura de 43 m acima do terreno natural e uma cota de coroamento de 87 m. A capacidade instalada de produção de energia eléctrica é de 130 MW.

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A construção foi finalizada em 1973. A albufeira da barragem submergiu uma boa parte dos núcleos de gravuras rupestres do Tejo e um troço do antigo muro de sirga do Tejo.

Para além da sua importância económica na produção de energia eléctrica, esta barragem bem como a de Belver que lhe fica a jusante, têm um papel muito importante na regularização do caudal do rio Tejo e na prevenção/minimização das cheias que ciclicamente ocorrem.

O único troço em AE e com portagem (pórticos) desde que passámos Vila Franca de Xira espera-nos mas que é obrigatório para chegarmos a Vila Velha de Ródão sem nos perdermos numa teia de pequenas estradas locais. Entramos no nó 16 (Gardete) e saímos no nó 18 (Fratel). A aproximação a Vila Velha de Ródão faz-se no sentido norte-sul e atravessamos a vila para nos acercarmos da ponte que une a Beira-Baixa ao Alto Alentejo e que até à recente AE era a única via de comunicação rodoviária entre as respectivas capitais: Castelo Branco e Portalegre. E uma das mais inportantes no interior do País. A A23 e o IP2 retiraram-lhe essa importância e carga rodoviária e atualmente serve praticamente para unir os dois concelhos fronteiros: Vila Velha de Ródão e Nisa.

A ponte de Vila Velha de Ródão é a 15ª travessia e praticamente o final da nossa missão!

Ródão é hoje mais tristemente célebre pelo seu presente ligado às fábricas de celulose, ao cheiro nauseabundo quase permanente e aos episódios de poluição do rio, mas o seu passado é antiquíssimo. Os mais antigos vestígios do passado de Ródão são de natureza geológica e estão datados de cerca de 600 Milhões de anos. Existem fósseis que testemunham a existência de um mar que chegava a Ródão… Muitas outras comunidades se forma estabelecendo por aqui na pré-história tendo deixado a sua marca no complexo de arte rupestre do Tejo, com cerca de 25 000 gravuras.

Os romanos por aqui andaram também, principalmente para explorarem a extração de aluvião de ouro e cobre. A navegabilidade do Tejo foi sempre fundamental para o desenvolvimento de intensa actividade económica nomeadamente pelo Porto do Tejo que dava passagem a uma estrada comercial e pastoril, fundamental para assegurar o fluxo de mercadorias do interior para o litoral e do litoral para o interior e que tinha em Ródão o seu local privilegiado. Até ao Porto do Tejo chegavam as embarcações que subiam o rio, auxiliadas pela força humana e de bestas que ajudavam a vencer os rápidos, usando para tal os muros de sirga que ladeiam as margens do rio.

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Estrategicamente, a sua localização era também fundamental. E aqui sobressai inevitavelmente o monumento natural que são as Portas de Ródão. Duas muralhas rochosas que estreitam e apertam o curso do rio e cuja vista da ponte que iremos atravessar é espectacular. Não entrando já na ponte, é possível por um caminho à sua direita encontramos um ponto onde a vista para a ponte e para as Portas de Ródão é espectacular. E ainda mais se subirmos um pouco mais, até ao castelo de Ródão, torre de vigia no alto das Portas… imperdível!

A Ponte de Portas de Ródão ou Ponte de Ródão fica na Estrada Nacional 18 em Portas de Ródão. Foi inaugurada em 1888, é uma ponte com tabuleiro metálico e tem o comprimento de 167 metros, apoiada em dois pilares centrais de granito. Foi alvo de obras de beneficiação concluídas em 1996. As vias de rodagem ocuparam o antigo espaço dos passeios e alargou-se o tabuleiro para criar novos passeios para peões com 75 cm de largura.

Atravessámos e estava concluído o nosso objectivo. 15 travessias, efectuadas alternadamente de norte para sul e vice versa, 13 pontes e 2 barragens. Nesta altura estávamos quase a perfazer 400 km, a tarde aproximava-se do seu fim e era tempo de regressar pois não pretendíamos pernoitar no caminho.

Anterior:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(1)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(2)

A seguir:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(final)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse… (2)

15 travessias do nosso maior rio, o Tejo, de Lisboa até à ponte de Ródão que une a Beira ao Alentejo com o rio como testemunha.

15 TRAVESSIAS DE LISBOA A RÓDÃO

2 – De Muge a Alvega, subindo o Tejo!

Tínhamos passado Muge. Pouco mais de uma dezenas de quilómetros adiante ficava a Ponte Salgueiro Maia. Está situada junto ao Vale de Santarém, a jusante desta cidade, no IC10 e tem um comprimento total de 4,3km (ponte e viaduto).

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O nome da ponte é uma homenagem ao Capitão de Abril. Foi inaugurada a 11 de Junho de 2000 e, curiosamente, não é iluminada porque a luz iria interferir com um aeródromo situado nas imediações!

Passada a ponte era tempo de chegarmos a Santarém, cidade antiquíssima, segundo a mitologia por ela terão passado Fenícios e Cartagineses, os Romanos chegaram a ela em 138 a.C. e antes da reconquista por D. Afonso Henriques em 1147, a cidade foi sede de um pequeno emirado independente: a Taifa de Santarém. Não nos detivémos mas passámos pelo seu centro e ao lado das famosas “Portas do Sol”. Descemos para a Ponte de Santarém, a nossa 7ª.

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A Ponte D. Luís I, também chamada Ponte de Santarém, une Santarém a Almeirim pela EN 114. Foi inaugurada em 17 de Setembro de 1881, e foi considerada na altura a maior da Península Ibérica, a terceira da Europa e a sexta do Mundo, ficando como um dos exemplares da “arquitetura do ferro”. Tinha originalmente um comprimento total de 1213 m, largura de 6 m, e altura de 22 m. Foi alargada em 1956.

Santarem

Pouco depois da saída da ponte, virámos à esquerda em direcção a Alpiarça pela EM368-1 onde iríamos tomar novamente a EN118.

O objectivo era a Chamusca onde teríamos, meia dúzia de quilómetros mais à frente, a nossa última travessia da manhã (que já ia avançada) pois o almoço aguardava-nos na Golegã. Ainda na Chamusca fizemos um pequeno desvio para podermos desfrutar da vista do vale do Tejo no Miradouro da Senhora do Pranto.

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A Ponte João Joaquim Isidro dos Reis, conhecida popularmente como Ponte da Chamusca, está localizada sobre o rio Tejo na Estrada Nacional 243 e une a vila de Chamusca com a vila da Golegã.

Esta estrutura é um exemplar emblemático da construção em ferro, muito em voga no final do século XIX e no início do século XX. Apesar de inicialmente (em 1900) prevista para ser ferroviária, fazendo parte do novo ramal de Torres Novas à Golegã, este nunca chegou a ser construído. Assim, em 1908 iniciou-se a sua construção já como ponte rodoviária e pedonal, tendo sido inaugurada em 31 de Agosto de 1909.

E assim chegámos à Golegã. 8 travessias concluídas ficavam as restantes 7 para a jornada da tarde. O nosso destino era agora a Adega do Cú da Mula onde nos desforrámos da canseira matinal saboreando algumas especialidades da casa. Tempo ainda para tomarmos um café na esplanada do Café Central em cujo interior pudemos ver muitos cartazes de touradas no qual o protagonista principal era um homem da terra: Ricardo Chibanga.

Golegã

Feitas as homenagens e restabelecidos os niveis alimentares (sólidos e líquidos, que a desidratação é perigosa para os motociclistas) era tempo de voltarmos à estrada e procurarmos a próxima travessia: a ponte de Constância. Rumámos a Vila Nova da Barquinha, rondámos Tancos e chegámos a Constância.

A Ponte da Praia do Ribatejo ou Ponte de Constância, liga as estradas nacionais EN3 e EN118, unindo Praia do Ribatejo ao município de Constância. Inaugurada em 1889, inicialmente era uma ponte ferroviária. Em 1959, devido ao mau estado da estrutura, a CP construiu outra ao lado, assente sobre os mesmos pilares. A linha abandonada foi cedida às câmaras de Vila Nova da Barquinha e Constância que a adaptaram a ponte rodoviária, inaugurada em 1988.

Em Novembro de 2007 esteve encerrada devido a um deslizamento do tabuleiro. Em 20 de Julho de 2010 foi novamente encerrada por razões de segurança, sendo de novo reaberta em dia 6 de Abril de 2011.

Ponte de via única, com trânsito alternado e gerido por cancela e semáforos, foi precisamente o local onde a embraigem da BMW deu de si. Voltámos a atravessar a ponte para tentar em Constância alguma forma de solução.

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Depois de várias tentativas, não foi possível e os nossos companheiros regressaram a Lisboa, pela A23, na única mudança que conseguiram engrenar… Pela nossa parte, retomámos o percurso, novamente pela ponte de Constância, voltámos à nossa bem conhecida EN118 – cabe aqui dizer que fazer esta estrada de fio a pavio, o mesmo será dizer do Montijo a Alpalhão, é projecto futuro – com rumo ao Rossio ao Sul do Tejo para aqui entrarmos na cidade de Abrantes pela ponte que lhe leva o nome: a nossa 10ª travessia.

Ainda antes passámos no Tramagal, importante núcleo industrial do sector da metalo-mecânica (mais do passado que do presente) e também nas famosas “curvas do Tramagal”, terror das viagens automóveis dos anos 60 a 80 do século passado quando a EN118 era o principal eixo viário de Lisboa para as Beiras e Alto Alentejo. Agora…momentos de grande diversão… quem diria?

O Rossio ao Sul do Tejo é uma pequena povoação fronteira a Abrantes e separadas pelo Rio Tejo. Desfruta de uma localização estratégica pois é o cruzamento de duas das maiores estradas nacionais: a EN2, a maior de todas e que cruza o país de norte a sul, e a EN118 que o atravessa de forma transversal desde as proximidades de Lisboa até perto da fronteira com Espanha.

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A Ponte rodoviária de Abrantes sobre o rio Tejo foi inaugurada em 1870, tem o comprimento de 339 metros e liga Abrantes ao Rossio ao Sul do Tejo. Foi construída por um consórcio francês e durante 75 anos foi explorada em regime de concessão, passando para o estado em 1945. Pouco antes de perfazer 100 anos o tabuleiro foi alargado. No nosso périplo, foi a única ponte onde encontrámos restrições de trânsito devido a obras de manutenção. Em 1889 foi também inaugurada a ponte ferroviária de Abrantes.

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E cabe aqui uma chamada de atenção para quem resolva seguir esta nossa sugestão: é aconselhável que tente informar-se previamente das condições de circulação nestas pontes. A maioria são pontes centenárias que justificam regulares obras de manutenção. Por exemplo, já depois do nosso passeio, a ponte de Belver (onde ainda iremos passar) esteve encerrada ao trânsito durante cerca de 2 anos estando já reaberta e recentemente a ponte de Constância também. É evidente que haverá sempre a alternativa de seguir em frente e atravessar na próxima…mas não é a mesma coisa!

Atravessada lentamente a ponte, devido às obras, entrámos em Abrantes e até Alferrarede percorremos um curto trecho da EN2.

Mais antiga que a nacionalidade, Abrantes é cidade desde 1916, tendo o seu foral sido concedido por D. Afonso Henriques em 1179. Em 1807, aquando das invasões francesas, Abrantes foi ocupada pelas tropas do General Junot a quem, na ocasião, Napoleão Bonaparte concedeu o título de Duque de Abrantes. Breve honra, felizmente!

Depois de Alferrarede rumámos à localidade de Mouriscas onde tínhamos a próxima travessia.

A Ponte Rodoferroviária de Alvega ou Ponte do Pego ou ainda Ponte das Mouriscas, é uma ponte sobre o rio Tejo, unindo Alvega (EN118) e Mouriscas (CM1221). Por ela passa o Ramal do Pego da Linha da Beira Baixa, construído pela EDP para acesso dos comboios com carvão provenientes do porto de Sines que abastecem a Central Termoeléctrica do Pego.

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A ponte rodoviária original foi inaugurada em 17 de Setembro de 1881. A nova ponte rodo-ferroviária foi construída em 1992. Com a construção da A23, a norte, esta ponte ganhou nova importância pois é um dos acessos principais à mesma autoestrada para quem vem do Alto Alentejo.

E, passado Alvega, era no Alto Alentejo que íamos entrar tendo deixado o Ribatejo para trás. Faltavam-nos 4 travessias…

Anterior:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(1)

A seguir:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(3)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(final)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(1)

15 travessias do nosso maior rio, o Tejo, de Lisboa até à ponte de Ródão que une a Beira ao Alentejo com o rio como testemunha.

15 travessias de Lisboa a Ródão

Viagem

I – O Início da jornada…até Muge

Porque se diz que se deve começar do início, esta é a história da minha primeira grande viagem, a minha iniciação ao moto turismo (até aí, os muitos quilómetros feitos tinham sido numa lógica mais utilitária).
A ideia surgiu casualmente de alguma leitura ou referência na internet, não sei ao certo, ao percurso do Rio Tejo e das muitas travessias que unem as suas duas margens. Sendo certo que as mais famosas são as de Lisboa, outras há que merecem ser conhecidas. E porque para as conhecer todas é necessário uni-las de forma terrestre, o objectivo estava traçado. Faltava isso sim, optimizar o percurso que seria feito alternadamente por uma margem ou por outra conforme o sentido em que cada travessia fosse utilizada. No fundo era como se estivéssemos a cozer dois panos, separados pelo Rio Tejo, em que a linha era o nosso percurso!

As estradas existentes, o interesse em minimizar a utilização de auto-estradas e o pagamento de portagens e o desejo de efectuar alguns trajectos pelo seu próprio interesse paisagístico ou de condução (a diversão é fundamental) também fizeram com que o percurso tivesse que ser este e não outro. A descrição adiante certamente trará a justificação para as opções tomadas.

Cabe aqui referir que o Rio Tejo tem no seu percurso nacional 15 travessias, das quais 13 são pontes e 2 são barragens. E o primeiro “nó” que se nos colocou tem a ver com as opções relativas às pontes lisboetas – 25 de Abril e Vasco da Gama – pois para garantir o fluxo como atrás referi (e sem percorrermos uma travessia para lá e para cá), era fundamental que a terceira ponte – a ponte Marechal Carmona em Vila Franca de Xira – fosse feita no sentido norte-sul. Afinal qual atravessar primeiro? Sair pela Vasco da Gama e entrar na 25 de Abril ou o inverso? A distância era a mesma pois acabava por ser circular e assim a opção foi entrar em Lisboa pela ponte que tivesse a portagem mais barata, ou seja, a 1ª opção.

Uma nota, porque aprendemos sempre algo: se fosse hoje, teria previsto a saída de Oeiras, junto à foz do  Rio Tejo – o simbolismo é importante – e nesse caso a opção teria sido a contrária: primeiro a 25 de Abril e depois a Vasco da Gama.

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Em resumo, saida de Lisboa manhã cedinho (que a distância a percorrer era substancial – cerca de 700km num dia) do habitual ponto de encontro nas bombas de gasolina da 2ª circular, junto ao Ralis. Quando a marca patrocinar, poderei indicar o nome….

Motos

No início, éramos 5 em 3 motas. Duas Hondas e uma BMW. No final sobraram as duas Hondas…mas isso é história lá mais para a frente.Vasco

Começámos pela passagem pela Ponte Vasco da Gama – para inaugurar as travessias da jornada. Esta ponte, cuja inauguração ainda estará na memória da maioria, une as duas margens do Tejo entre Alcochete e Montijo a sul e Sacavém e Moscavide a norte. Tem 17 km de comprimento o que a tornam a mais extensa da Europa e uma das mais compridas do mundo.

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Cerca de 12 km são sobre o estuário do Tejo a montante do Mar da Palha. Foi inaugurada em 1988 a tempo da Expo 98 e demorou cerca de 18 meses a ser construída. Com 155 metros de altura é também umas das mais altas construções de Portugal.

O rumo era em direcção à Ponte 25 de Abril pelo que tomámos a saída para o Montijo e entrámos na A33. Depois seguiu-se a A2 e a reentrada em Lisboa.

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A Ponte 25 de Abril é uma ponte suspensa rodoferroviária que liga a cidade de Lisboa à cidade de Almada. A ponte atravessa o estuário do rio Tejo na parte final e mais estreita — o designado “gargalo do Tejo”. A sua construção começou em novembro de 1962 e 4 anos mais tarde, 6 meses antes do prazo limite e dentro do orçamento previsto, foi concluída tendo a inauguração ocorrido em 6 de agosto de 1966, na altura designada por Ponte Salazar. Tem uma altura de 190m e um comprimento de 2,3km. Não só é uma das maiores pontes suspensas do mundo, como o seu enquadramento privilegiado a torna, desde sempre, um dos ex-libris da capital. E resolveu um gravíssimo problema de acessibilidades a Lisboa, pois à época as alternativas eram a ponte existente em Vila Franca de Xira (25km a norte) ou a travessia de barco a partir de Cacilhas – daí os barcos que a efectuavam serem geralmente designados por cacilheiros e fazerem também eles parte do imaginário da cidade.

Atravessada a 25 de Abril e a cidade de Lisboa pelo eixo norte-sul, 2ª circular e entrada na A1 seguimos a caminho de Vila Franca de Xira. Neste momento tínhamos já feito as 2 primeiras travessias do Tejo.

Em Vila Franca saímos da A1 e rumamos à ponte Marechal Carmona – aquela que durante bastantes anos era a mais próxima da capital e que nos remete para imaginários da memória como a Recta do Cabo ou a Estalagem do Cavalo Branco na N10.

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Esta ponte começou a ser reclamada pelas populações e autarquia vilafranquense em 1924. O governo da época, já em meados dos anos 40,  resolveu avançar com o projecto, quando era ministro das obras públicas, Duarte Pacheco. Este tinha a curiosa opinião que sendo esta uma obra de interesse público, deveria ser o Estado a construí-la e suportar o respectivo custo. Outras opiniões havia no governo, que face ao elevado custo, a construção e exploração poderia ser entregue à iniciativa privada sendo esta remunerada através da cobrança de portagens. Quando o projecto finalmente arrancou, já Duarte Pacheco tinha falecido, e o seu sucessor José Ulrich avançou com a primeira iniciativa de uma ponte com portagens em Portugal! A ponte foi inaugurada em 30 de Dezembro de 1951, tem 1224m de comprimento com um tabuleiro central de 524m dividido em cinco vãos de 104m. O seu custo na época rondou os 650 mil euros (feita a conversão de escudos para a nova moeda).

Passamos Porto Alto e viramos à esquerda onde iremos percorrer pela primeira vez a N118. Esta estrada que corre paralela ao Tejo pela sua margem sul e vai do Montijo até Alpalhão, irá ser recorrente em toda a nossa viagem. O destino será o acesso à A10 que nos permitirá atravessar pela quarta vez o Tejo na  Ponte da Lezíria.

006LeziriasUma curiosidade: esta ponte, inaugurada em 8 de Julho de 2007, tem uma extensão de cerca de 12 km que a torna numa das mais extensa do mundo e a terceira da Europa depois da Ponte Vasco da Gama e da Ponte da Crimeia, na Rússia (inaugurada em 2018).
Feita a travessia é tempo de abandonar de imediato a auto-estrada e rumarmos a Vila Nova da Rainha pela N3. Depois Azambuja e aqui viramos à direita para a N3-3 em direcção a Valada do Ribatejo. Antes de Valada, passamos pelos acessos a algumas das aldeias avieiras tão típicas da lezíria do Tejo – por exemplo o Cais Palafítico da Palhota – e seguimos com o muro-dique de protecção contra as cheias do Tejo pela nossa direita.
Passamos Valada, que mereceu uma breve paragem para um cafézinho e para apreciar a sua mini-marina bem como o ameno recanto junto ao rio…

Dirigimo-nos então para Muge, depois de atravessada a nossa 5ª travessia: a ponte de Muge ou, de seu nome, Ponte Rainha D. Amélia.

É uma antiga ponte ferroviária inaugurada em 14 de Janeiro de 1904. Após a construção na década de 1980 de uma nova ponte ferroviária, que a substituiu, foi em 2001 alvo de obras e reconvertida para tráfego automóvel e pedonal ligando deste modo, Muge no concelho de Salvaterra de Magos, e Porto de Muge,no concelho do Cartaxo, bem como a localidade de Valada, que, antes desta ligação, ficava frequentemente isolada em períodos de cheia.

Em Muge retomamos a já nossa conhecida N118.

Para quem, aqui chegado, sinta já um certo vazio no estômago, as bifanas do Silas são imperdíveis. Fica só o registo, porque o nosso caminho mandava-nos seguir e o almoço estava previsto para ser mais à frente.

Ainda havia muita estrada a fazer…e 10 travessias!

A seguir:

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(2)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(3)

Coser o Rio Tejo como se um pano fosse…(final)

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