Para lá do virar da esquina….a lenda das duas chaves!

Uma lenda do tempo dos romanos que chega até nós pelo nome de uma cidade!

Entro em Chaves vindo de sul.

Pela segunda vez em menos de 2 anos. De ambas as vezes, para no dia seguinte me lançar estrada fora e percorrer a Estrada Nacional 2.

Tinha saído 2 horas antes de Guimarães e segui o percurso por auto-estrada. A 7 primeiro e depois a 24. Se na viagem anterior, tinha passado por Braga e depois pela lindíssima e divertida N103 até Montalegre e daqui por estradas municipais, onde foi possível apreciar a rudeza da paisagem do planalto transmontano, desta feita percebi claramente que era oriundo do lado de cá dos montes.

Desde Guimarães, por bom piso, começamos a subir….a subir paulatinamente…e vamos ganhando altitude. A serra do Alvão, que a A7 atravessa dá-nos a cada passo um alcance visual mais amplo, com vales profundos e verdejantes. A tranquilidade do pouco trânsito permite-nos até breves momentos de algumas desconcentração da condução e desfrutar das vistas (quase que uma visão estrábica em que o olho esquerdo aponta ao asfalto e o direito à paisagem).

Esta serra ultrapassa os 1200m de altitude e creio que não terei passado longe de tal. Magnífico sim, mas estou certo que explorar as estradas da região será ainda melhor. A ver no futuro….

Em Acqua Flaviae!

Chegado à cidade atravessada pelo Rio Tâmega renovei a sensação que já tinha. Não é cidade de excepcional beleza, talvez porque aqueles que desde há muitos séculos a habitam sempre terão preferido que ela lhes sirva em função das suas necessidades e das duras condições de vida, em detrimento de alguma beleza “para inglês ver”. Atenção! Não é uma cidade feia. Muito menos hostil. Nada disso, como tentarei descrever.

É quase plana, na maior parte arejada e com um rio ao seus pés, o que é sinal de frescura. Senti como se um espírito me dissesse: “nós estamos cá, vieste porque quiseste, ninguém te pediu que o fizesses. Mas és bem vindo, enquanto cá estiveres és dos nossos, desfruta e quando fores, não te esqueças de nós!”.

Chaves é uma terra que tem qualquer coisa…um carácter. Personalidade. Carisma!

E voltarei sempre que puder.

É bom lembrar que a Acqua Flaviae do tempo dos romanos é muito mais antiga que a nossa própria nacionalidade e tem um dos monumentos em Portugal de que mais gosto. Remete precisamente para essa era: a Ponte de Trajano. Traz-nos o imaginário das legiões conquistadoras, da ordem imperial e da magnífica civilização, cuja queda posterior se transformou em séculos de retrocesso. E…vagamente também, a ironia dos lápis de Uderzo e Goscinny e os seus Astérix e Obélix…vagamente, porque isso é história de outras paragens.

A Ponte de Trajano, que não me canso de apreciar pela sua inegável beleza, o desenho e o equilíbrio simétrico dos seus arcos de volta redonda, foi aqui construída nos finais do Século I da era cristã. Sim, esta notável obra de engenharia tem 2 mil anos! Com cerca de 150m de comprimento, tem visíveis 12 arcos e mais 6 soterrados pelas construções que aqui ladeiam o Rio Tâmega. No meio dois marcos com inscrições da época que referem as autoridades romanas de então e o tributo às gentes (aos povos) que a ajudaram a erigir. De realçar que este foi até cerca de 1950 o principal acesso à Cidade!

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Ponte de Trajano
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Ponte de Trajano e a Africa Twin desta viagem
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Marco na Ponte de Trajano

A construção desta ponte foi a forma de atravessar o caudaloso Rio Tâmega na importante estrada romana, a Via Romana XVII do Itinerário de Antonino, que unia duas das mais importantes cidades do norte da Península à época do Império Romano: Astorga (Asturica Augusta) e Braga (Bracara Augusta). Veja-se a importância de ambas pois este era apenas um dos 4 itinerários que uniam essas cidades.

O outro legado desses tempos em Chaves, remete-nos para a sua designação então: Acqua Flaviae. refiro-me às termas e ao reconhecimento da valia das fontes de águas de Chaves (o termalismo era algo que os romanos conheciam e prezavam).

E uma pequena nota: A coincidência da EN2 se iniciar em Chaves (sendo que alguns percursos desta estrada recorrem a traçados da era romana também, nomeadamente o traçado por Vidago e que se destinaria à travessia do Douro na zona da Régua e depois a Lamego – Lamecum) e da sua homóloga do lado de lá da fronteira, a Ruta de la Plata, terminar precisamente em Astorga (originalmente esta Ruta vinha desde Mérida – Emérita Augusta – outra importante cidade romana. Na actualidade, por questões de marketing turístico certamente, a estrada é moderna (N-630) e vai de Sevilha a Gijon, passando por Mérida mas esquecendo Astorga…).

Sendo uma cidade ancestral, naturalmente Chaves tem muita história e património edificado que merece referência.

Depois da era romana, dos bárbaros que os substituiram (visigodos, suevos, havendo registo de ser sede de um bispado cristão) e do domínio árabe que lhes sucedeu, Chaves regressa à influência cristã no séc IX, quando o Conde Odoário a toma ao serviço dos reis das Astúrias. Em 1093, a vila de Chaves é incluída no dote de casamento de D. Teresa com o Conde D. Henrique. O seu castelo terá começado a ser edificado no Séc XIII. D. Afonso III passou-lhe foral em 1258 e a Torre de Menagem que é o que hoje resta dessa fortificação medieval terá sido concluída já no reinado de D. Dinis.

Torre de Menagem
Torre de Menagem

Os Paços do Concelho, localizados na Praça de Camões, são um bonito e elegante edifício construído na primeira metade do Séc XIX para residência do Morgado de Vilar de Perdizes. Em 1861, ainda inacabado, foi adquirido pela Câmara Municipal que termina as obras e o adequa à sua nova função.

À sua frente, na praça, está uma estátua de D. Afonso, filho legitimado de D. João I. Este veio a casar em 8/11/1401 com D. Brites, filha de D. Nuno Álvares Pereira, que como dote terá levado todas as terras a norte do Douro. O casal terá escolhido Chaves como seu local de residência e aí nasceram os seus 3 filhos. Entretanto, 11 anos mais tarde, D. Brites falece e D. Afonso retira-se para Barcelos.

Em 1419, D. João I temendo invasão castelhana pelo norte, encarrega o filho de ir para Bragança e acautelar a defesa do reino. É então, já em 1442, que vem a nascer a Casa de Bragança, tão relevante na nossa História e que permanece até aos dias de hoje. D. Afonso foi assim o 1º Duque de Bragança (para lá de 8º Conde de Barcelos). Mais tarde regressou a Chaves onde viveu os últimos anos, tendo falecido em 1461.

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Paços do Concelho e estátua de D. Afonso III

Ainda na Praça de Camões, do outro lado dos Paços do Concelho fica a Igreja da Misericórdia. Pequena e com uma só nave, apresenta uma fachada toda em granito e tem a seus pés uma pequena escadaria.

No frontão de pedra que encima a fachada existe um nicho com uma pequena estátua da Senhora do Manto, símbolo da maior devoção para as Misericórdias, pois segundo elas “alberga sobre o seu manto todos os necessitados”.

No interior, para lá de um magnífico altar-mor em talha dourada, tem a suas paredes totalmente revestidas com painéis de azulejos do Séc XVIII que evocam passagens bíblicas.

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Igreja da Misericórdia

A Igreja Matriz de Santa Maria Maior terá sido na sua origem, no Séc XII, um templo românico do qual ainda mantém a torre sineira e o portal com estrutura medieval. Mais tarde, no tempo de D. João III, foram acrescentados dois portais de traça renascentista.

O interior de 3 naves e grossos pilares tem um tecto de madeira (Séc. XIX). A capela-mor bem como as capelas laterais, do Santíssimo e de Santa Maria, datam do Séc XVI.

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Igreja Matriz e de Santa Maria Maior

A Igreja de S. João de Deus, do outro lado do rio, foi construída na época de D. João V, em estilo barroco, cujo projecto é atribuído ao coronel Tomé de Távora e Abreu, engenheiro militar flaviense do primeiro quartel do século XVIII.

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Igreja de S. João de Deus

Existem ainda as termas romanas, o Forte e Convento de S. Francisco, o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso. E naturalmente as ruas estreitas do centro histórico, bem conservadas e com casas varandadas com linha arquitectónica muito característica.

Obviamente, não poderia faltar a foto junto ao marco do km0 da Estrada Nacional 2.

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Adiante voltarei a Chaves e à explicação da origem do nome. Também já referi que o objectivo da vinda até esta ponta do País é a de iniciar o percurso da Estrada Nacional 2 e portanto importava cuidar do necessário descanso.

Quinta da Mata: Um enquadramento luxuriante serve de moldura à dureza do granito e ao requinte do interior

Mais uma vez, iríamos ficar num dos alojamentos incluídos nos Solares de Portugal. Neste caso, a Quinta da Mata.

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Vista do Miradouro

Situada a 3km da cidade, a meio caminho do Miradouro que, a nascente, nos proporciona uma magnífica vista sobre a cidade e todo o vale onde se situa, é uma verdejante propriedade onde a casa principal, toda em granito e originária do Séc. XVII foi estupendamente recuperada das ruínas pelos seus actuais proprietários.

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Quinta da Mata
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Quinta da Mata – pormenor da piscina e vista de Chaves, ao fundo

A quinta fornece ainda muitos dos géneros alimentares que ali poderão ser degustados. Não foi o nosso caso. Para lá de tarde termos chegado e de madrugada partido, na altura a casa estava encerrada tendo sido um acto de cortesia e generosidade que nos tocou, o facto de abrir especificamente para esta ocasião.

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Quinta da Mata – pormenor do interior
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Quinta da Mata – pormenor do interior
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Quinta da Mata – pormenor do interior
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Quinta da Mata – pormenor do interior
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Quinta da Mata – pormenor do interior
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Quinta da Mata – pormenor do interior
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Quinta da Mata – pormenor do interior

Espero que as imagens lhe façam a justiça que merece. E se linda é vista do exterior, com um enquadramento espectacular, que dizer do interior?

Quanto aos anfitriões, a simpatia e disponibilidade cativou-nos. Fomos acolhidos como amigos e isso é inesquecível. Não é demais dizê-lo: a obra de reconstrução da Quinta da Mata é notável!

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Chaves – Vista noturna

E então? Qual a origem do nome da cidade de Chaves

Já aqui mencionei o nome romano de Chaves: Acqua Flaviae. Mas, e como se terá chegado ao actual nome, que para mais tem reflexo na heráldica da cidade?

Olhemos para o brasão da Cidade de Chaves: nele estão as águas (talvez o Rio Tâmega, talvez a evocação das águas termais), o ex-líbris da cidade, a Ponte de Trajano, o escudo de Portugal e…2 chaves.

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Há uma explicação mais científica: que o nome “Chaves” será a evolução ao longo dos muitos séculos do “Flaviae” do nome romano. Poderá até ser. Mas nada como uma boa lenda, que para mais até explica o porquê dos dois nomes: o romano e o actual: a lenda das duas chaves.

A história passa-se na época remota do poderio romano na Península.

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Painel evocativo da era romana – construção da Ponte de Trajano
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Painel evocativo da era romana – construção da Ponte de Trajano

Nos tempos em que em Roma imperava Tito Flávio Vespasiano, as suas legiões chegaram a esta região. E aqui se foram fixando. A terra era fértil e começaram a trazer a sua civilização. Construíram estradas, pontes.

Quando aqui descobriram as “águas quentes que jorram da terra”, com a devoção que tinham pela água, logo construíram aquedutos e um grande tanque para se banharem. E com rapidez descobriram os poderes curativos dessas águas.

A cidade aqui nasceu. Chamaram-lhe “Acquae” em preito a essas águas maravilhosas e “Flaviae” em homenagem ao Imperador reinante.

A importância crescente e a fama atravessaram o Império Romano e de tal forma que Tito Flávio Vespasiano nomeou seu procurador em Acqua Flaviae um seu jovem primo, Décio Flávio, que era até aí o comandante da Legião VII.

Mas, ao partir para a Península Ibérica, este deixou em Roma a sua paixão. Uma linda rapariga chamada Lúcia, filha do Cônsul Cornélio Máximo, que também lhe retribuía esse amor.

Todavia, a jovem tinha grave doença que não só lhe afectava o corpo como também lhe tinha retirado a beleza do rosto.

Décio Flávio não a esqueceu. Quando se convenceu que as águas flavienses tinham poderes curativos milagroso, enviou um mensageiro a Cornélio Máximo. Levava uma breve mensagem e uma pequena caixa. Esta continha 2 chaves. O escrito era um convite para que o Cônsul e sua filha Lúcia, fossem para Acqua Flaviae, onde as águas fariam o milagre da cura. E cada uma das chaves tinha o seu significado: uma representava a saúde e a outra o amor.

Apesar de renitentes ao início, finalmente aceitaram o convite e demandaram as terras do norte da Península e a cidade que tinha umas águas milagrosas.

Em pouco tempo, o tratamento com os banhos nas águas fizeram o seu efeito e Lúcia recuperou a sua saúde e a sua beleza. E, já agora, também a proximidade e a possibilidade de estar perto do seu amor, contribuíram para a desejada cura.

Décio Flávio, conseguiu também assim ter ao pé de si a sua amada.

De tal forma que se comprometeram a casar quando Lúcia estivesse finalmente livre desse mal que a afligia. E assim foi!

Conservaram sempre as duas chaves, da Saúde e do Amor, e como sempre acontece nestas histórias…viveram felizes para sempre!

O significado de ambas ficou perpetuado na toponímia da cidade. A Acqua Flaviae viria muito mais tarde a chamar-se Chaves!

Fonte Biblio MARQUES, Gentil Lendas de Portugal Lisboa, Círculo de Leitores, 1997 [1962] , p.Volume V, pp. 229-234

Não tenho dúvida nenhuma que esta história é bem mais interessante e bonita que uma qualquer evolução fonética….e explica tudo! Portanto, acreditemos nela…só porque sim!

Como disse no início, voltarei sempre que puder!

Mas era tempo de despedida. A bruma da madrugada acompanhou-nos na jornada que agora se ia iniciar.

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A despedida de Chaves…

Para trás ficava a Acqua Flaviae… ao Virar da Esquina!

Agradecimentos

A moto utilizada nesta viagem foi uma Honda CRF 1100L Africa Twin Adventure Sports, sobre a qual já escrevi a respectiva análise, publicada aqui. A minha gratidão à Honda Portugal pela sua cedência.

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Um enorme obrigado também aos Solares de Portugal, companhia de primeira hora neste projecto em que vos dou a conhecer algum do riquíssimo património histórico e arquitectónico dos muitos solares e mansões familiares do nosso País.

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E obviamente, a minha gratidão aos anfitriões desta excelente visita à Quinta da Mata em Chaves.

Que recomendo…até porque fica logo ali, ao Virar da Esquina!

P’rós Amigos

Disclaimer

A partir de 18/06/2020 e durante os próximos 30 dias, os Solares de Portugal oferecem um desconto de 10% nas reservas efectuadas para este destino sendo que nesse acto deverá ser indicada a referência 6F0BD582 e mencionar que a casa visitada foi a Quinta da Mata em Chaves.

Este desconto não é cumulativo com campanhas em vigor e a reserva da estadia terá que ser feita através da CENTER promo@center.pt e tel 258 743 965 e não directamente à casa.

Outros benefícios podem ser consultados na página P’rós Amigos!

EN2 – Portugal de Fio a Pavio

O desafio: percorrer a EN2 num só dia, de Chaves a Faro!
O objectivo: experimentar a nova Honda Africa Twin
O resultado: muita camaradagem numa viagem espectacular
O bónus: um Manual Prático para quem quiser fazer a EN2

Uma estrada, um dia, uma moto

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No km 0 da Estrada Nacional 2
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A novíssima Africa Twin e a ancestral Ponte de Trajano em Chaves

O mote estava dado. 25 de Janeiro, antes das 7.30h da manhã, ainda noite escura, fria e com nevoeiro, as motos começaram a chegar ao km 0 da EN2 em Chaves.

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Na noite escura, o grupo juntava-se no km 0
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A Red Bull deu-nos asas e muita energia!

O objectivo era conduzir a novíssima Honda CRF1100L, a Africa Twin na versão Adventure Sports, com que a marca japonesa enfrenta a nova década e a concorrência, para poder partilhar essa experiência no Viagens ao Virar da Esquina. A Estrada Nacional 2 foi o cenário ideal.

Nas semanas anteriores, a expectativa tinha crescido, graças às redes sociais. As muitas intenções saldaram-se em 9 motos que me iriam acompanhar neste desafio: percorrer a EN2, de Chaves a Faro, numa única jornada.

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Os aventureiros no km 0

Para lá da tricolor que conduzi vieram 5 da geração anterior: as duas do Tiago e do Manel que com o Luis e a sua Varadero compunham o trio de amigos que fizeram questão de me acompanhar desde a primeira hora e as do João, do Luís e do Carlos. Ainda uma GS1200 do Nuno. E uma palavra especial para o Ernesto com a sua KTM Duke125 e o casal Nuno e Paula que saíram de Paços de Ferreira com a sua Yamaha R6 para chegarem a Chaves e de seguida rumarem a Faro. As origens deste pessoal eram as mais variadas: Lisboa, Évora, Lagoa, Barreiro, Penafiel, Olhos d’Água. O País bem representado!

Ainda de noite, fizemo-nos à estrada…
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À saida de Chaves. O dia começava com nevoeiro.

Saídos de Chaves, o dia acordou connosco já na estrada e o nevoeiro levantou. Os socalcos do Douro e a bonita estrada que nos levou até à Régua foram feitos já de dia.

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Peso da Régua

À frente, em Lamego o primeiro encontro: aguardavam-nos 9 Africa Twin que nos iriam acompanhar até Penacova, numa recepção calorosa por iniciativa da Honda de Viseu – a Ondavis.

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Em Lamego. Ao fundo o Santuário de Nª Sª dos Remédios. Em destaque, muitas Africa Twin….15!!!
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No Alto de Bigorne, ponto mais alto da EN2.

E foi nesta cidade que teríamos a paragem mais prolongada de toda a viagem (com efeitos que mais adiante descrevo…). A desculpa foi uma foto no centro…mas o pessoal precisava de tomar café!

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Em Viseu, no Rossio. Com os nossos amigos da Ondavis.

1 hora depois saímos em direcção ao primeiro troço complicado do traçado”original” da EN2. A albufeira da barragem da Aguieira submergiu parte da estrada, pelo que de Santa Comba Dão até pouco após o paredão da barragem, seguimos pelo que sobrou com recurso a alguns pedaços de outras estradas. Visitámos o ponto onde o alcatrão desaparece na água. A partir de Oliveira do Mondego retoma-se a estrada que segue pela margem esquerda do Mondego.

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Barragem da Aguieira: onde a albufeira submergiu a EN2
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Barragem da Aguieira: onde a albufeira submergiu a EN2

Reabastecimento das máquinas em Penacova e despedida dos companheiros viseenses. Mais à frente, em Poiares, a paragem prometida para uma “bucha”. É de saudar o espírito de iniciativa de quem aproveita a oportunidade gerada pela EN2 para combater o abandono do interior.

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No Café Central em V. Nova de Poiares – km 248

Daqui e até à Sertã, puro divertimento. Estrada em bom estado, sobe e desce, curva e contra-curva constantes, deixámos ficar para trás Góis e Pedrogão Grande.

Na Sertã começa a segunda parte complicada do percurso. porque abandonamos aquela que hoje é chamada de EN2, uma via rápida e sem interesse excepto para quem quer chegar rápido, para tomarmos o antigo traçado, estreito, sinuoso e nem sempre em bom estado.

O paragem seguinte foi no Centro Geodésico no Picoto da Melriça em Vila de Rei. Local simbólico onde nos aguardavam alguns companheiros por iniciativa do concessionário Honda de Tomar – Masterbike.

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No Picoto da Melriça, centro geodésico de Portugal (com os nossos amigos da Masterbike)

Alguns minutos de convívio, as fotos da praxe e seguimos viagem, novamente pela antiga e sinuosa EN2 até Abrantes, que entre minúsculas aldeias passa no Penedo Furado. Um recanto de beleza e tranquilidade.

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No Miradouro do Penedo Furado

Aqui e relativamente ao plano inicial (que não contemplava a necessidade das paragens prolongadas que aconteceram) o atraso era de 2 horas. Nada que comprometesse o objectivo final de percorrermos a EN2 num só dia. Longe disso. Mas acabou por inviabilizar o que seria outro dos pontos altos da jornada.

A Motodiana de Évora preparou um dia de convívio com os seus clientes. Que iria culminar com o nosso encontro a meio da tarde em Mora. Todavia, o atraso acumulado que trazíamos e o aproximar da noite fez com que o grupo de 3 dezenas de Africa Twin compreensivelmente desmobilizasse antes da nossa passagem. Foi pena! E frustrante para todos…

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No km 500 – Ciborro

Depois da foto ao km 500 no Ciborro, nova paragem para atestar em Montemor-o-Novo. A noite já caía – as viagens no Inverno têm esta contingência, que também fazia parte do desafio – pelo que a decisão foi seguirmos até Faro sem mais delongas. De noite pouco havia para ver na paisagem e a condução iria exigir toda a atenção: alguns troços no Alentejo estão em estado deplorável e no final, as 365 curvas da Serra do Caldeirão tinham o condimento adicional de o piso estar molhado…

Já passava das 22 horas quando chegámos a Faro, os mesmos que 15 horas antes tínhamos saído de Chaves. É evidente que a celebração da jornada aconteceu junto das placas que nos queriam dizer para voltarmos a Chaves. Só faltavam 738,5km!

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A Africa Twin e o marco final
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Desafio concluído (e com direito a troféu…)
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15 horas e picos depois, os mesmos que saíram de Chaves chegaram a Faro. Excelentes companheiros e amigos!!!

Uma viagem que correu de forma espectacular, com companheiros extraordinários, sem azares ou percalços que estragassem a boa disposição e em que a única nota negativa foi o desencontro com os nossos amigos de Évora. Algo a compensar no futuro…

Os apoios:

A nova Africa Twin

A aposta da Honda foi já muito escalpelizada na imprensa por quem sabe. Como motociclista comum apenas posso dizer que cheguei a Faro sem marcas de cansaço.

A moto revelou-se sempre muito segura em todas as condições – mau piso, estrada molhada, condução nocturna, traçado sinuoso – e algumas das inovações e melhorias introduzidas provaram a sua eficácia: novas suspensões, nova ciclística e melhorada ergonomia, faróis com função “cornering”, novo painel TFT com excelente leitura em quaisquer condições e que simultâneamente permite a personalização da moto nos mais ínfimos detalhes. O novo motor, mais “redondo”, tem uma utilização linear em toda a faixa de rotação, o que se traduz em melhor agradabilidade de condução.

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A CRF1100L Africa Twin Adventure Sports que me acompanhou no Portugal de Fio a Pavio

Ler aqui: “Africa Twin – de fio a pavio

Sem dúvida uma aposta ganha com esta CRF1100L Africa Twin Adventure Sports!

E sobre a Estrada Nacional 2?

Em 2020 faz 75 anos que foi publicado o Plano Rodoviário que criou e classificou as Estradas Nacionais.

A esta, que na altura não existia na sua totalidade (nem hoje, diga-se em abono da verdade), foi atribuído o número que à época traduzia a importância que lhe estava destinada. Era a segunda, logo a seguir à estrada Lisboa-Porto. Isto denotava o relevo que era dado ao desenvolvimento do interior do País…

Só nos anos 70 a estrada ficou realmente completa com o asfaltamento dos últimos troços que ainda faltavam. Pouco tempo lhe restou. Os Planos Rodoviários de 1985 e 2000, retiraram-lhe importância (induzidos pela desertificação do interior e pelo novo paradigma das auto-estradas) e acabaram por a retalhar. Alguns pedaços estão entregues a responsabilidades municipais, outros centralizados e outros…quase parecem abandonados.

O potencial turístico da Estrada Nacional 2 vive mais da imagem mítica daqueles que a percorrem, por vezes sem saberem bem se nela estão ou não, porque a sinalização é fraca ou inexistente. Por outro lado, sem uma identidade claramente definida (que leva alguns a procurarem semelhanças com outras estradas e rotas estrangeiras) e sem um plano de desenvolvimento integrado entre quem deverá ter a responsabilidade de gerir a estrada e todo os operadores turísticos e comerciais nas suas margens, a EN2 continuará a ter esse lado semi-aventureiro mas também se irá degradando. A estrada e a sua imagem!

Merece muito mais porque percorrê-la é ter numa única via o mais perfeito retrato da diversidade do nosso País. Diria mesmo, a imagem mais completa de Portugal de Fio a Pavio.

(este texto foi editado e publicado na MOTOJORNAL #1476 de 14 de Fevereiro de 2020)

Estrada Nacional 2 – o percurso

O percurso feito seguiu o mais possível o trajecto original da EN2. E aqui surge a primeira nota:

Começamos em Chaves na EN2 e seguimo-la até à Barragem da Aguieira (em Castro Daire tivemos que fazer um pequeno desvio pela A24 uma vez que um deslizamento de terras cortou a nossa estrada…esperemos que a reparação seja breve…). Depois do paredão da barragem vamos utilizar um pequeno troço da EN228.

Mais à frente, entre Vila de Rei e o Sardoal, seguimos pela EM2. Depois novamente EN2 até Montemor-o-Novo. Daqui até Castro Verde seguimos pela ER2. E finalmente, daqui até Faro, novamente EN2.

Em Faro, nova dificuldade. O marco dos 738km foi removido para a construção de uma rotunda no cruzamento da Rua do Alportel com a Av. Calouste Gulbenkian. Para chegarmos às setas que nos indicam que para regressarmos a Chaves faltam 738,5km temos que fazer um desvio por ruas laterais uma vez que a Rua do Alportel no cruzamento com a Rua Aboim Ascensão tem o sentido inverso. No guia “Estrada Nacional 2” editado pela Papa-Figos (excelente, diga-se) referem que o final se situa junto à marina de Faro e ao Arco da Vila, na Praça D. Francisco Gomes junto à Av. da República…

Sempre que possível, o percurso faz-se pelo interior das principais localidades, como ocorria antigamente. As variantes às povoações vieram muito depois do nascimento da EN2…

Para quem o queira seguir, aqui fica o link para download do trajecto em formato GPX, utilizável na maioria dos GPS:

EN2 – Chaves – Faro (Viagens ao Virar da Esquina – versão oficial) – Fev2020

Manual Prático da Estrada Nacional 2

(publicado em Março de 2019 na Andar de Moto)

A Estrada Nacional 2, EN2 para os amigos, foi instituída no Plano Rodoviário Nacional de 1945. Tinha o objectivo de unir Portugal de cima abaixo, atravessando o seu interior, por oposição à EN1 que o fazia pelo litoral, de Lisboa ao Porto.

À época, existiam já construídos alguns troços desta estrada e outros foram-no sendo ao longo do tempo. No fundo, aquela que hoje tendemos a ver de forma algo romântica como “a” EN2 sempre foi uma amálgama de estradas. Tal como hoje, em que alguns troços foram reclassificados e até renomeados (no Alentejo, foi classificada como “estrada regional” daí a designação ER2…). Outros foram absorvidos por vias mais ou menos rápidas, que até lhe subtraíram a designação (o troço entre Sertã e Abrantes ou as muitas variantes às localidades entretanto construídas). Para não falar nos que desapareceram (na Barragem da Aguieira alguns pedaços ficaram submersos).

Tudo isto para dizer que, por incrível que pareça, encontrar o traçado mais fiel a um suposto original é mais difícil que o esperado. Isso tem consequências no trajecto mas também no planeamento das etapas. Já veremos porquê!

Todas as considerações adiante realizadas partem do pressuposto da realização da viagem desde o quilómetro 0 em Chaves até ao 738,5 em Faro. Se a opção for a inversa, pouco ou nada se altera, a não ser a divisão dos tempos para cada etapa. E já que falamos nisso…

Quantas etapas?

Esta é a pergunta que mais vezes é feita. E a resposta é muito simples: depende!

DO NÚMERO DE DIAS DISPONÍVEL. Um detalhe prévio: ao planear a viagem, independentemente do número de dias destinados à EN2, deverá reservar-se pelo menos 1 dia para o trajecto complementar. Isto é, para a ida até Chaves e para o regresso de Faro. Este trajecto terá comprimento idêntico no mínimo! Como se pode fazer, depende do ponto de partida/chegada de cada um e do tempo para (mais ou menos quilómetros de auto-estrada);

DO GRAU DE DETALHE. Isto significa que quanto mais paragens mais tempo se demora (seja pessimista quanto à alocação de tempo para cada visita. Demoram sempre mais que o previsto). E algumas, são efectivamente demoradas. Por exemplo, se em Vila Real pretenderem visitar um dos ex-libris, a Casa de Mateus, atentem no seguinte: a visita merece ser longa. Porque a Casa e os jardins assim o justificam, mas também o preço: 8,5€ só para os jardins e 12,5€ para Casa e jardins. Por este preço, justifica-se uma visita atenta…e demorada!

DO RITMO DA VIAGEM. Madrugadores tenderão a tirar mais partido do que os mais preguiçosos. Até porque o pôr do sol é à mesma hora para ambos e viajar de noite não se justifica, pois para ver as estrelas, é melhor sentado numa qualquer esplanada no final da etapa. Também os tempos dedicados à gastronomia são importantes. Há que ajustar os almoços ao tempo disponível para não andar a recuperar tempo na estrada, com os riscos que isso acarreta…e de barriga cheia!

DA ESTRADA. Este É o único elemento fixo da equação. O trajecto não tem todo as mesmas características.

De Chaves até Vila Real flui bem e em boa estrada com algumas localidades pelo caminho. Daí para Lamego, o percurso torna-se muito mais sinuoso – e bonito! Estamos a falar da descida para Peso da Régua e da subida na margem esquerda (passa-se aliás pelo ponto mais alto de toda a EN2 um pouco à frente do desvio para Lazarim – e esta pode ser uma das localidades a visitar, afamada pela sua celebração do Entrudo mas cuja estrada de acesso é íngreme e estreita).

De Lamego a Viseu, torna a fluir bem e em boa estrada. De Viseu até ao Rio Tejo é que a porca torce o rabo. Falaremos especificamente deste troço, mais adiante. Mas adiante-se que é sinuoso, nem sempre evidente e nunca a permitir ritmos elevados, pelo contrário.

De Abrantes para baixo, entramos no Alentejo. As planícies geralmente com boas estradas (uma ou outra excepção) permitem bons andamentos até porque o número de povoações atravessadas diminui drasticamente.

A partir de Almodôvar, com a entrada no Algarve, temos a cereja no topo do bolo: a Serra do Caldeirão com as suas 365 curvas. Uma por cada dia do ano e capazes de satisfazerem os gostos de qualquer motociclista, mesmo os mais exigentes.
A última dificuldade do percurso: encontrar as placas do quilómetro final da EN2 em Faro. O marco dos 738km e as placas direccionais que indicam “Chaves 738,5km”.

Então, e afinal quantas etapas?

Se possível for, diria que 3 etapas até Abrantes, mais uma até Castro Verde/Almodôvar e uma meia etapa daqui até Faro.

Comecemos pelo fim: porquê esta meia etapa? Porque é muito mais saboroso (e seguro!) fazer o Caldeirão pela manhã, fresquinhos, do que no final do dia já com alguns centos de quilómetros em cima. Por outro lado, o alojamento e a alimentação serão muito mais económicos no Alentejo do que no Algarve. Sendo possível, a outra metade do último dia pode ser dedicada ao regresso.

Resumindo 4 dias e meio.

Uma primeira etapa até Lamego ou Castro Daire. Uma segunda, daí até Góis ou Pedrógão Grande. A terceira até Abrantes ou Montargil. As restantes já falámos atrás. É evidente que se tiver mais tempo disponível….excelente. É disfrutar do muito que a EN2 tem para oferecer.

Sabemos todavia que o óptimo é inimigo do bom!

Com motociclistas madrugadores, diria que é perfeitamente viável cortar 1 dia ao que acima referi. Por exemplo, terminar o primeiro dia em Viseu e o segundo em Abrantes ou algo antes. Daí para baixo seria o mesmo.
E aqui chegamos ao ponto fulcral. Os percursos entre Santa Comba e Penacova e, mais à frente, da Sertã a Abrantes.

No primeiro caso, a construção da Barragem da Aguieira levou a que uma parte da EN2 fosse submersa e a posterior construção do IP3 nalguns pontos sobrepôs-se. E a sinalização tende a remeter a EN2 precisamente para o IP3!

Seguir um trajecto o mais próximo possível do original, leva-nos a, depois de Vimieiro, seguir na proximidade de Chamadouro, passar em Oliveira do Mondego e Porto da Raiva. Finalmente a partir de Penacova o trajecto é mais claro. Mais à frente, uma pequena armadilha na entrada de Pedrógão Grande.

Depois da Sertã, aquilo que hoje é chamado de EN2 é uma variante, estrada bem larga e rápida que, depois de passar perto do Centro Geodésico em Vila de Rei, desagua em Abrantes (Alferrarede). Mas a original é bem mais complexa, sinuosa e…muitíssimo mais bonita e interessante. Saliento apenas a passagem pelo Penedo Furado.

Ambos os troços atrás referidos são lentos. Daí a questão da divisão das etapas dever levar este aspecto em consideração, sob pena de a dada altura se estar a viajar de noite. No mínimo desinteressante!

Mais duas curiosidades: lembram-se os menos jovens, que antigamente as estradas seguiam pelo centro das localidades. Hoje em dia, existem variantes. É uma opção a tomar. Por exemplo, à entrada de Tondela, as placas a indicar EN2 fazem seguir pela variante. E merece a pena atravessar pelo centro.

A segunda curiosidade tem a ver com Viseu. Não é à toa que lhe chamam a capital da rotundas. O percurso que sugerimos (o mais próximo possível do original) passa por não menos que 24 redondéis!

Tudo isto serve para uma última recomendação. Se afastarem alguns pruridos tradicionalistas, façam-se acompanhar de um GPS.

O ficheiro GPX que “Viagens ao Virar da Esquina” disponibiliza – façam o download no link acima – tem no mínimo a vantagem de vos prevenir para todas estas armadilhas. Ou em alternativa, utilizem-no em casa, na preparação de um travel-book que vos auxilie ao longo do caminho.

A última nota: existem duas óptimas publicações sobre a EN2. Complementam-se e servirão certamente de excelentes roteiros. Uma delas, editada pela Papa Figos andará pelas livrarias. A outra, “A mítica estrada nacional 2”, foi publicada por defunta editora e só com muita sorte poderá ser encontrada. A não ser que algum amigo a tenha…

Independentemente de tudo o que foi dito, façam a EN2. De espírito aberto e do modo que quiserem.

Verão que será uma experiência inolvidável!

EMEL000
Chaves, Km 0 na EN2
VVE(58)
Em Faro….para chegar a Chaves, já só faltam 738,5km
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No marco do km 738 (que agora não está lá!) – Abril 2018

Estrada Nacional 2 – de cima a baixo (5)

Um sonho antigo e a oportunidade para percorrer o País de norte a sul, pela sua maior estrada e desfrutar da camaradagem e do espírito motociclístico.
5ª e última parte – A quarta etapa de Castro Verde a Faro e o regresso a casa.

4ª etapa – de Castro Verde a Faro e o Regresso a casa

O 5º dia chegou. Com ele, o final da odisseia e depois, o já ansiado regresso a casa.

Para esta etapa final estava destinada a “piéce de resistance” da EN2 (de cima a baixo, claro): as 365 curvas da Serra do Caldeirão!  Que maneira de terminar esta fantástica viagem!

Depois de lauto pequeno almoço (nosso) e atestadela (nas motas) o troço final da EN2 aguardava-nos- Éramos agora 4, pois o nosso amigo Alex fez esta última parte connosco. Ou seja, começámos 3 e acabámos 4, como nos 3 Mosqueteiros do Alexander Dumas.

Foto164

A rota apontava em primeiro lugar a Almodôvar, onde iriam “começar as hostilidades”.

Logo à saída, o painel evocativo da classificação da EN2 como Estrada Património, no troço Almodôvar – S. Brás de Alportel (o tal das 365 curvas!)

Foto151

E aí vamos nós para um pouco mais de 1 hora de diversão, com tudo a que tivemos direito: curvas rápidas, lentas ou assim-assim; curvas a subir, a descer ou em plano; curva, contra-curva e contra-contra-curva e assim sucessivamente. Curvas de toda a maneira e feitio, para todos os gostos…excepto para os que só gostam de andar a direito.

Caldeirao2

17 quilómetros depois de Almodôvar, entrávamos oficialmente no Algarve e apenas mais 8 à frente e, no Ameixial, o Monumento aos Camionistas da EN2. Homenagem certamente merecida. Quando não existiam auto-estradas e este troço fazia parte do principal acesso à capital algarvia, aquilo que para nós é diversão e fonte de prazer, para os camionistas devia ser um tormento: em final de viagem fazer todas estas curvas era obra. Que muitos deixaram inacabada, infelizmente… Justa homenagem à qual nos associámos:

Prosseguimos a subida da Serra e a paragem seguinte seria no miradouro da Serra do Caldeirão.

Tempo ainda para fotografar a última das muitas antigas Casas de Cantoneiros. Umas em razoável estado de conservação, outras quase em ruínas. Incrivel como com um trajecto com a dimensão, a história, a diversidade de paisagens e gentes, com tanto para mostrar, e estes edificios simples não são recuperados para postos de apoio aos viajantes. Para poderem comer, refrescar-se ou só descansar, mas acima de tudo para poderem apreciar o que de melhor as terras das redondezas têm para quem as visita! Não tenho dúvidas que, devidamente identificadas, não faltaria quem fizesse até questão de as visitar a todas e, porque não, até carimbar os passaportes… E fariam negócio de certeza!

Foto155

O Miradouro é um ponto obrigatório e onde é possivel desfrutar de uma ampla vista. A partir daí, sempre em curva, era a descer até Faro.

3 km depois, em Barranco do Velho, o cruzamento com a EN124 – Via Algaraviana, sem dúvida a fazer num futuro próximo.

Depois, Alportel e S.Brás de Alportel onde vimos mais um exemplar da azulejaria publicitária que era tão tradicional nas nossas estradas antigamente. Desta feita promovia-se a marca de pneus nacional: Mabor General.

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Quase a chegar a Faro, o cruzamento com a famigerada EN125!

Julgo que nas anteriores crónicas referi a grande anomalia da EN2: a sinalização! É miserável!!! De norte a sul, principalmente nas vilas e cidades! Chaves é sintomático (mas pelo menos colocaram o marco do km 0 no centro de uma praça) e em Faro, o marco está colocado no meio de uma Alameda, perfeitamente despercebido, não fora a ajuda…da PSP! E quanto às placas com as setas…nem vê-las (nem quem nos desse essa indicação)! É absolutamente lamentável…

Mas deixemo-nos de lamúrias! O objectivo tinha sido atingido e, naturalmente, ficou registado para a posteridade:

Foto161

E a equipa maravilha, cuja alegria era francamente maior do que aquela que mesmo assim consegue transparecer.

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ESTRADA NACIONAL 2: FEITO!!!!

Duas notas finais:

  • a primeira sobre a opção de não terminarmos a etapa iniciada em Abrantes em Castro Verde e não em Faro como pareceria mais lógico. Afinal eram só 100kms que poderiam ter sido perfeitamente feitos na véspera. Tal implicaria a pernoita em Faro (ou um regresso nocturno depois de centenas de quilómetros que era de todo desaconselhável), fazermos a Serra do Caldeirão ao anoitecer, e com o cansaço já acumulado. Ou não correria bem ou não usufruíriamos na plenitude daquele paraíso da condução. Se fosse hoje, estou certo que repetiríamos a opção: fazer a serra pela fresquinha foi uma opção 100% acertada! Acredito que para quem faça a viagem de automóvel, preferirá resolver logo “o petisco” e descansar depois. Mas de mota…é um desperdício se não estivermos no máximo do nosso potencial (e não me refiro a fazer curvas a velocidades estratosféricas…mas sim a tirar todo o proveito de fazer as curvas, aprimorar as trajectórias ou as distâncias de travagem, sentir a potência na roda de trás, sempre sem exageros, claro!)
  • a segunda sobre o que representou para nós esta viagem. A EN2 não é uma viagem qualquer. Não me refiro à distância apenas. É uma viagem de imensos contrastes culturais, paisagisticos, gastronómicos, urbanísticos, mas acima de tudo é um filme a 4 dimensões (às habituais adicionaria o cheiro, pois os aromas vão variando à medida que descemos o País e em função da sua arborização) e em altíssima definição!  E é também uma viagem que reforça os laços de amizade e camaradagem. Todos e cada um de nós ficou mais rico pessoalmente.

Dito isto, só uma sugestão fica: façam a EN2. Não importa o veiculo ou em quanto tempo (quanto mais melhor). Mas façam!

E pronto. Faltava o regresso a casa. Por estrada nacional, pelo IC1 ou como antigamente era conhecida, a Estrada do Algarve. A expectativa era a de uma paragem em Canal Caveira para uma sopa do cozido. A decadência provocada pela auto-estrada que tirou imenso tráfego aquela via e consequentemente os milhares de fregueses do Cozido à Portuguesa do Canal Caveira esteve patente: não havia! Enganámos a desilução com umas tostas em pão alentejano (valha ao menos isso!) e ala que se faz tarde.

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O excesso de caminho no pouco asfalto da EN120 até Alcácer do Sal (e a pressa de chegar a casa) fizeram-nos optar pela A2. E pronto, foi voar baixinho até à capital.

Estrada Nacional 2 . Uma experiência inolvidável!

Um abraço e obrigado pela camaradagem e pela companhia ao Zé, ao Jaime e ao Alex! Até à próxima.

BOAS CURVAS! E se forem as da EN2, melhor…

Como recompensa por terem tido a paciência de chegar ao fim, aqui fica o filme da viagem:

N2 – O Filme

E para aqueles que querem uma ajuda adicional para o percurso, aqui fica o link para a página deste blogue onde estão os nossos roadbooks:

Caixa de Ferramentas

Antes (parte 4)

Estrada Nacional 2 – de cima a baixo (4)

Um sonho antigo e a oportunidade para percorrer o País de norte a sul, pela sua maior estrada e desfrutar da camaradagem e do espírito motociclístico.
4ª parte – A terceira etapa – de Abrantes a Castro Verde

3ª etapa – de Abrantes a Castro Verde

E ao 4º dia de viagem, acordámos cedinho em Vale de Zebrinho. A 3ª etapa aguardava-nos.

A manhã estava soalheira e apenas ouvíamos os barulhos da natureza. Depois da estafa da véspera, do lauto jantar e do são convívio posterior, a noite passou muito rápida. Consta que naquela noite, em pleno Alentejo só se ouvia o barulho das corujas e os potentes roncos das nossas motas…em sonhos (alguém ousou mencionar o vocábulo “ressonar” mas foi prontamente aniquilado!).

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Os nossos anfitriões presentearam-nos com o melhor pequeno almoço da viagem.

Depois, as despedidas e … ala que se faz tarde!

Regressámos ao Rossio ao Sul do Tejo para entrarmos novamente na nossa EN2. A primeira paragem aconteceu pouco depois em Bemposta. Era necessário atestar as montadas que a véspera tinha sido exigente também em combustível. Depois, um cafézinho, uma visita ao Multibanco para consultar o horóscopo e…continuámos Alentejo dentro.

Abrantes marca uma fronteira determinante no tipo de paisagem que atravessamos. Até lá, e depois do planalto transmontano até Vila Real, passámos em sobe e desce, curva e contra-curva, o vale vinhateiro do Alto Douro, a aproximação à base da Serra da Estrela até Viseu, depois toda a zona central com a predominante Serra da Lousã e a chegada à margem direita do Rio Tejo. Um autêntico carrossel (um divertimento permanente em termos de condução!) que de súbito, atravessada a ponte, desemboca na planície. Portugal, um país pequeno mas tão marcado por contrastes…o que também faz a nossa riqueza.

Passámos lateralmente por Ponte de Sôr, seguimos em paralelo à pista de aviação que serve de apoio ao pólo da indústria aeronáutica desta cidade e pouco depois começámos a bordejar as margens da albufeira da Barragem de Montargil. Parámos no meio do paredão para as fotos da praxe (também para estender as pernas…) e, quando demos por isso, uma moto preta, com um motard vestido de preto, com capacete preto, estaciona atrás de nós. Não seria o Batman (até porque era de dia…) mas afinal quem era aquele companheiro?

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Tratava-se de um irmão motociclista do país vizinho chamado Alex. Também estava a fazer a EN2 (começou nesse dia) mas apenas a partir de Abrantes para sul. Natural de Málaga, tinha na véspera feito a travessia da sua terra natal e dirigia-se agora para Almodôvar. Mas estava com um problema…não conseguia a confirmação da reserva para essa noite. Rapidamente resolvemos a situação. Com 2 telefonemas, passámos a reserva para o nosso hotel em Castro Verde…onde ainda por cima nos esperava uma belíssima piscina. Depois do calor dos últimos dias e o que se esperava para este, era quase uma miragem!

Era este o panorama em cima da barragem:

Desde já ficou acordado um encontro à beira da piscina, ao final da tarde e depois uma sessão copofónica para a noite. Cada qual seguiu depois ao seu ritmo…o nosso, pensávamos nós, mais rápido. Depois veríamos quanto estávamos equivocados…

Depois de Montargil, passámos em Mora. Terra famosa pelo seu Fluviário mas, desta vez, tínhamos muitos quilómetros pela frente que não se compadeciam com visitas demoradas. Ainda assim, tempo para uma foto:

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Para lá do lamentável tratamento dado pela autarquia a um dos elementos sinaléticos tradicionais da EN2, convém referir que o engraçadinho que está em 2º plano foi imediatamente doado ao Fluviário para utilização em experiências científicas. Ficaram gratos!

Seguimos viagem em direcção a Montemor o Novo onde pretendíamos almoçar. Pelo caminho, ficou Brotas com um elemento característicos das povoações na planície alentejana: o depósito de água.Foto116

Ainda em Brotas, observámos um semáforo que é elemento fundamental no ordenamento de tráfego desta “buliçosa” povoação:

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E o caminho continuava plano e a direito

Antes da próxima paragem, mesmo à beira da estrada, vestígios pré-históricos, no caso, uma anta:

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Assim chegámos a um marco simbólico da EN2 e também ao local que mais destaque dá, ao longo de toda estrada, à via de comunicação que a atravessa no seu percurso de sul a norte: Ciborro e o marco do quilómetro 500!

Marcado o simbolismo do local, mais uns poucos quilómetros e o ansiado almoço estava à nossa espera em Montemor. Salvo uma ou outra excepção, a nossa viagem não tinha intuitos gastronómicos. Por razões óbvias: são normalmente demoradas e conduzir longas quilometragens, com bastante calor, após lautas refeições não parece ser o mais aconselhável. Por essa razão, sem fugir à típicidade da região, abastecemo-nos com umas belas bifanas para depois seguirmos caminho. No meio do Alentejo, com bastante calor, uma casa da especialidade denominada Pólo Norte tinha tudo a ver….

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Rumo a sul continuámos. seguiu-se Santiago do Escoural, onde existem umas grutas com pinturas rupestres. Situadas em terrenos privados e carecendo de reserva prévia para poderem ser visitadas. Ainda assim tentámos, mas sem sucesso. não se via vivalma!

Aproximávamo-nos de um dos momentos de toda a viagem. Alguns quilómetros volvidos, uma patrulha da GNR faz-nos sinal de paragem. Gente simpática, correctíssimos, no exercício do seu dever, perguntaram-nos naturalmente pela documentação. Azar! Um de nós não tinha a versão actualizada da carta verde do seguro. Com alguma benevolência deixaram-nos seguir sem uma multazita…mas com a recomendação de na primeira localidade tentarmos contactar a seguradora para obter uma 2ª via do documento. Foram dizendo que mais à frente, outros colegas poderiam ão ser tão simpáticos…

A povoação seguinte era Alcáçovas. Vila com história muito antiga, foi nela que portugueses e espanhóis começaram a dividir o mundo na época dos Descobrimentos, no tratado que antecipou o de Tordesilhas. É também a capital do chocalho, com algumas oficinas de fabrica completamente artesanal daqueles artefactos.

Estávamos nós a desmontar, a preparar a fotografia à imponente Igreja Matriz quando aparece o jipe da Guarda com os elementos que já conhecíamos. Ofereceram os seus préstimos para conseguirmos resolver o nosso problema. Telefonema para lá, e-mail para cá, computador e impressora “emprestada” e saímos do posto com o papelinho mágico. Desde esse momento, a nossa gratidão a estes agentes da ordem que, sem repressão mas com muita compreensão, nos ajudaram a continuar uma fantástica viagem. Bem hajam!

Ainda em Alcáçovas, visitámos o recém recuperado Paço dos Henriques onde pudemos apreciar alguns objectos tradicionais expostos e assistir a um filme sobre a fabricação dos chocalhos típicos da terra. Não esquecer o marco simbólico dos 551 quilómetros (todas as localidades atravessadas pela EN2 deveriam ter, em lugar de destaque, um marco similar). E mais uma vez, com a maior simpatia da senhora que nos recebeu e fez de cicerone. Alcáçovas deixou-nos boas recordações, de facto!

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Todavia, com as aventuras legais e a visita cultural, o tempo passou e urgia fazermo-nos à estrada pois já não tínhamos muitas horas de sol. O destino era, como já referido, Castro Verde.

Passámos de seguida Torrão, Odivelas, Ferreira do Alentejo, Ervidel, Aljustrel e, finalmente, Castro Verde. Iríamos pernoitar no Hotel A Esteva…mas o que mais desejávamos naquele momento era a possibilidade de dar um mergulho na piscina!!!

Assim foi. Quando chegámos, surpresa! O Alex já lá estava, a banhos, há cerca de 1 hora. Com o tempo que demorámos em Alcáçovas ele ultrapassou-nos…e com a vantagem de já não ter apanhado a brigada na estrada.

O dia não tinha ainda acabado!

Banhos tomados (na piscina e depois no duche), roupinha de sair à noite vestida, lá estávamos preparados para a “movida” castroverdense!

Primeiro fomos tratar do estômago e da sede a uma típica taberna alentejana, onde desfrutámos de uma carne de porco preto excelente entre outros petiscos e tudo bem regado.

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Depois, uma volta pela vila onde deparámos com bastante movimento. Era noite de véspera do 25 de Abril e as celebrações começariam com um fogo de artifício muito bem organizado pois o foguetório decorreu com acompanhamento de um medley de músicas da época da revolução com Zeca Afonso à cabeça. Cerca de 15 minutos de espectáculo, que foi sendo regado com umas imperiais para nos manter atentos!

E pronto! a 3ª etapa estava concluída. Como todas as anteriores, tinha as suas histórias que foram contribuindo para a riqueza do périplo!

Para o dia seguinte, restavam cerca de 100 quilómetros da EN2 (e depois o regresso a Lisboa). Mas esta centena tinha muito que dizer…as 365 curvas da Serra do Caldeirão!

Convém referir que a paragem em Castro Verde e deixarmos para a manhã do dia seguinte o percurso da Serra foi deliberado. Estes quilómetros são um dos santuários para os motards portugueses. Tinha muito mais interesse fazê-los, melhor dizendo, desfrutá-los logo pela fresquinha do que num final de tarde, provavelmente já com pouca luminosidade e com o cansaço acumulado de muitos quilómetros. Pareceu-nos a melhor opção e depois assim o confirmámos…mas isso é amanhã! Boa noite e bons sonhos…daqueles com potentes motores a roncar noite fora!

Antes (parte 3)

Continua (parte 5)

Estrada Nacional 2 – de cima a baixo (3)

Um sonho antigo e a oportunidade para percorrer o País de norte a sul, pela sua maior estrada e desfrutar da camaradagem e do espírito motociclístico.
3ª parte – A segunda etapa – de Viseu a Abrantes

Etapa 2 – De Viseu a Abrantes

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Manhã cedo e com tempo agradável, fizemo-nos à estrada pois o pequeno almoço estava combinado para Viseu (pernoitámos perto de Alcafache) e o menú incluía um dos ex-libris da terra: os Viriatos da Confeitaria Amaral!

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Depois do pitéu (do qual me exclui voluntariamente devido a alguma incompatibilidade com coco) e com as motas recentemente atestadas, voltámos ao nosso caminho. O dia antecipava-se complicado com a previsão de algumas armadilhas no percurso. Mas nunca pensámos que a primeira seria logo na Capital das Rotundas. Efectivamente, graças a algum complô estranho, todas as indicações que íamos vendo nas placas apontavam sempre para alguma auto-estrada ou IP. Da EN2…nem vê-la! Fomos seguindo o rumo Lisboa/Coimbra esperando que o mesmo nalgum momento pudessemos vislumbrar a desejada EN2. Assim foi! Várias rotundas depois…uma placa indicava EN2 – Fail. Aleluia! A partir daqui seguimos em direcção aquela localidade e depois a Tondela.

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Aqui, também outra chamada de atenção: a original EN2, como se fazia na época da sua construção passava pelo centro das localidades. Hoje, se a seguirmos iremos percorrer as variantes criadas precisamente para retirar o trânsito desse mesmo centro. No caso de Tondela, corrigimos e fomos até ao centro.

 

O próximo ponto de referência era Santa Comba Dão. E era o início da zona mais complexa para conseguirmos fazer a EN2. De facto, parte dela ficou submersa pela albufeira da Barragem da Agueira (onde passaríamos) e outra parte foi sobreposta pelo IP3. Muito trabalho na fase de preparação, com a leitura de bastantes testemunhos que conseguímos obter, com pesquisa detalhada via Google Earth/Google Maps, resultaram num roadbook específico para o trajecto entre Santa Coma e Penacova. Demorou mais a preparação do que o tempo que demorámos a percorrer. Mas valeu a pena. Se valeu!

O ponto de partida para este troço era este painel de azulejos à entrada de Santa Comba, Depois seria contar rotundas, cruzamentos, distâncias percorridas, etc.

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Atravessada Santa Comba, utilizámos a ponte do IP3 para atravessar o Rio Dão e de imediato saímos para o Vimieiro (terra de Salazar…).

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Aqui, os nossos caminhos cruzaram-se com os de Nacho, personagem curioso, cidadão espanhol (e do mundo, diria eu) que no seu artefacto remotamente parecido com o cruzamento de uma Harley com uma bicicleta, tinha já feito os Caminhos de Santiago (do País Basco), estava a fazer a EN2 até Faro, depois iria rumar a norte pela Ruta de la Plata e novamente os Caminhos em sentido inverso. 4 meses e 3 mil quilómetros. É obra!

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Depois seguimos por estrada paralela ao IP3 até um cruzamento onde momentaneamente deixaríamos o nosso caminho. Virámos à esquerda e fomos dar ao ponto onde a EN2 original ficou submersa. Ponto verdadeiramente simbólico!

 

Foi também aqui que registei a única foto sobre os efeitos da tragédia dos incêndios de 2017. Mais à frente já não fui capaz, tal a desolação.

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Voltámos ao cruzamento anterior e um pouco mais à frente voltámos a entrar e sair de imediato do IP3, novamente para passarmos de margem. Seguimos por estrada junto à albufeira da barragem até ao paredão da mesma, onde parámos.

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Do outro lado, a estrada que iríamos seguir em direcção a Penacova. A albufeira vista deste ponto é uma imagem a recordar (apesar da desolação das margens…):

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Daqui passámos por Oliveira do Mondego, Porto da Raiva (muito bonita esta aldeia mesmo junto ao rio) e finalmente a Livraria do Mondego – curiosa formação geológica que com alguma dose de imaginação poderemos comparar com os livros de uma estante.

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E assim chegámos a Penacova. O objectivo era almoçarmos (já a manhã ía muito comprida e o calor também já tinha provocado algum desgaste) e seguirmos pois ainda havia muita estrada pela frente. Mas ficou a curiosidade de num futuro próximo, merecer uma visita mais atenta.

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Uma referência gastronómica: O Cortiço! Arroz de lampreia, ensopado de enguias, secretos de porco. Tudo excelente! Foi um repasto de luxo.

Saídos de Penacova, retomámos a EN2, agora num percurso mais para o interior e que nos iria levar a atravessar uma das regiões mais devassadas pelos incêndios de 2017. Aquela que deveria ter sido (e voltará a ser, estou certo) uma paisagem deslumbrante era uma desolação completa.

Passámos Vila Nova de Poiares e um pouco mais à frente, uma paragem em Olho Marinho. Queríamos visitar uma olaria de barro negro mas não foi fácil. Acabámos por entrar num quintal, atraídos por uma placa de “artesanato” … afinal era uma artesão que fabricava…mós! Mas vimos as mós e recebemos as indicações para chegar à olaria.

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Fomos muitissimo bem recebidos, e o que se previa uma visita breve…prolongou-se por mais de uma hora. Foi-nos explicado o processo de fabricação das peças de barro preto (as peças ficam pretas por efeitos da cozedura, não porque o barro tenha essa cor…), comprámos algumas lembranças e depois…a caminho!

Seguiu-se Góis, onde fizemos uma visita ao Motoclube local…que estava fechado. Ficou o simbolismo…

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Saímos de Góis, e se até aqui a estrada tinha sido bem agradável com uma boa dose de curvas para animar o pessoal, então a seguir a Góis tivemos mais um festim de curvas e contra curvas com a travessia desta parte da serra da Lousã, que curiosamente (e ainda bem!) apresentava arboredo frondoso para contrastar com o que tínhamos visto antes e ainda iríamos ver depois. Foi também aqui que apanhámos uma pequena chuvada que soube muito bem: o calor tinha raiado o insuportável durante grande parte do dia! Para quem vinha à espera de apanhar umas boas chuvadas, não estava nada mal…

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Mais um exemplo da arqueologia rodoviário que fomos encontrando ao longo do caminho e que merecia melhor atenção de quem de direito:

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Ainda não era o meio da viagem mas estava quase…

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Antes de chegarmos a Pedrogão Grande ainda tínhamos de passar em dois locais emblemáticos da EN2 e da toponímia portuguesa:

 

Depois de ligeira hesitação na entrada, atravessámos Pedrogão Grande e seguimos caminho. A tarde já ia adiantada em ainda nos faltavam quase 100 quilómetros…

Passámos a Barragem do Cabril (mais uma das muitas com que nos cruzámos) e seguiu-se a Sertã, onde iríamos viver um dos episódios mais caricatos da viagem. Importa explicar que soubemos depois, a actual EN2 é uma boa estrada, recente que une a Sertã a Vila de Rei, passando ao lado do Picoito da Melriça, mas não corresponde ao traçado original…. Pois bem, parámos num semáforo quase à saída da Sertã e entretanto um dos nossos companheiros foi interpelado por um condutor que parou ou lado e simpaticamente o esclareceu que a EN2 não era por onde pretendíamos ir (pelos piscas percebeu qual o caminho que íamos tomar) mas sim pela antiga estrada. Enquanto dava estas explicações, nós que não nos tínhamos apercebido, arrancámos e como a estrada fluia larga, em bom piso com curvas encadeadas só cerca de 10 quilómetros adiante verificámos que faltava um! Esperámos…e nada. Preocupados, ligámos…nada! Voltámos para trás, já apreensivos, até que finalmente conseguimos contactar. No afã de nos apanhar, enganou-se e seguiu não para Vila de Rei…mas para Proença a Nova! Ou seja, alguns quilómetros, bastantes…. a mais!. Enquanto o elemento perdido retomava o o caminho certo, fomos andando até ao Picoito da Melriça, onde esperávamos fosse o reencontro. Cabe dizer que neste momento, já o sol se punha e ainda nos faltavam bastantes quilómetros para o jantar onde amigos que nos iriam acolher nessa noite, nos esperavam (mais ou menos por essa mesma hora!). Um telefonema com as desculpas dos atrasados, fotografámos o Centro Geodésico de Portugal e o nosso companheiro não aparecia…

 

A vista a 360º é verdadeiramente deslumbrante!!!

Descemos ao cruzamento na EN2 e esperámos. Mas como a hora ia adiantada e não queríamos preocupar os nossos anfitriões, resolvemos que eu seguiria já e entretanto o outro companheiro, o Jaime, esperaria pelo Zé, o desaparecido!

Fiz-me ao caminho pois tinha pela frente cerca de 60 quilómetros, passei em andamento rápido por Vila de Rei, não me apercebi do ponto central da EN2, segui no Sardoal em direcção a Alferrarede e Abrantes. Passei o Rio Tejo para a margem esquerda, no Rossio ao Sul do Tejo e depois dirigi-me a casa dos nossos amigos e anfitriões onde já nos esperavam com outros dois amigos, para um lauto repasto que seria aproveitado para um proveitoso debate sobre como podem estas zonas do interior do País potenciar a existência de fenómenos como por exemplo, a EN2 e a procura que actualmente tem (e virá a ter), baseados também na nossa experiência vivida nesse preciso momento.

Convém referir que não demos inicio “aos trabalhos na ordem do dia” sem que antes os elementos restantes do grupo chegassem. E ainda esperámos 1 hora. (aqui para nós…ele disse que estava em Proença..mas desconfiamos que estaria já perto de Espanha…).

Fica o registo dos convivas e o profundo agradecimento à Ana e ao Zé Rafael pelo espectacular acolhimento que nos proporcionaram. E também o prazer de conhecer a Sónia e o António josé. Memorável, sem dúvida!

E que bem soube o descanso nessa noite, num lugar (quase) longe de tudo, onde os únicos ruídos eram mesmo os da natureza!

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Assim chegámos ao final da etapa mais dura desta viagem. O calor e os muitos quilómetros, as hesitações no caminho fruto da muito deficiente sinalização, que na zona centro é bem pior do que a que encontrámos na 1ª etapa ou do que iríamos encontrar no Alentejo e Algarve e das próprias “aventuras” da jornada, justificaram uma noite de sono profundo…onde apenas se ouviam os roncos das nossas potentes motas nos sonhos que povoaram os nossos espíritos!

 

Antes (parte 2)

Continua (parte 4)

Estrada Nacional 2 – de cima a baixo (2)

Um sonho antigo e a oportunidade para percorrer o País de norte a sul, pela sua maior estrada e desfrutar da camaradagem e do espírito motociclístico.
2ª parte – A primeira etapa – de Chaves a Viseu

Etapa 1 – De Chaves a Viseu

Manhã cedo, pequeno almoço despachado, era tempo de iniciarmos a odisseia. Bagagem nas motas e lá fomos para o quilómetro 0.

Despachada a foto da praxe, iniciámos a Estrada Nacional 2!

Alguns quilómetros e primeira paragem: Vidago. Mais precisamente o Vidago Palace Hotel. Edificio impressionante, inserido em frondoso jardim, num cenário de beleza exuberante.

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Tivemos ainda a oportunidade de provar a original água de Vidago na sua primeira fonte-nascente:

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Seguimos viagem e segunda paragem: Pedras Salgadas, obviamente. Mas aqui não visitámos nenhuma nascente. Apenas registámos a passagem:

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Um dos objectivos ao fazermos a EN2 era também sentir as povoações que iam desfilando no nosso percurso. Se possível interagindo com quem nos cruzávamos. Tivemos bastantes exemplos e o primeiro em Vila Pouca de Aguiar. As motas são sempre um elemento de atracção (e então dos mais novos, nem se fala) e quando parávamos para tomarmos um cafézito…uns pequenotes que passeavam com o Pai ficaram encantados com as nossas montadas…e enquanto não se sentaram em todas não descansaram. Ficaram felizes. Objectivo cumprido!

Voltámos ao caminho para a segunda “paragem temática”. Mas antes ainda, uma nota para algo que iríamos ver durante o caminho e que já faz parte da nossa arqueologia rodoviária. A publicidade em painéis de azulejo:

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A segunda paragem implicou um pequeno desvio para visitarmos Vilarinho da Samardã e observarmos um conjunto de Espigueiros, construções que são pequenos celeiros onde os lavradores guardam as espigas dos seus cereais.

 

Regressámos à estrada. Próxima paragem: Vila Real, capital de Trás os Montes. E aqui tínhamos marcado 2 referências: a Casa de Mateus e algumas partes do percurso do Circuito Automóvel (até porque para irmos ate à primeira percorreríamos um pouco do segundo). Assim fizemos mas…primeira surpresa desagradável. Apesar da beleza do edifício e dos jardins, que todos conhecemos de fotos que surgem amiúde, o valor que nos foi pedido para a visita…era uma exorbitância. Tanto mais que o tempo disponível para a visita, era reduzido porque ainda tínhamos muito pela frente. Ficará para outra oportunidade com maior disponibilidade de tempo. Mas ficou o registo:

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Tínhamos a rota traçada para atravessar Vila Real mas festejos inesperados para nós que levaram a ruas bloqueadas obrigaram-nos a tentar perceber onde era a saída. Pela primeira vez fomos confrontados com algo que se iria repetir estrada fora: as deficiências de sinalização em geral e relativas à EN2 em especial (geralmente é fácil encontrar indicações para as auto estradas ou IPs/ICs…mas para a EN2, nem por isso!).

Agora, o destino era Peso da Régua…e o primeiro troço de muita condução, onde o alcatrão da estrada segue por entre as vinhas em socalcos, num cenário de inegável beleza.

 

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Descemos para o Douro onde nos encontraríamos com Peso da Régua. A manhã ia tão longa que já tinha entrado tarde dentro. Impunha-se um local para nos recompormos mas que não nos tomasse demasiado tempo. Optámos por um restaurante com um alpendre onde se divisava o rio, onde comemos mais ou menos, por um preço mais ou menos, com um serviço mais ou menos mas…com uma banda sonora do melhor que é possível encontrar (…ou não!): Quim Barreiros em todo o seu esplendor! Se soubesse escrever música tentaria reproduzir aqui alguns acordes só para tentar ilustrar o ambiente…

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Depois, sessão fotográfica junto ao rio e ala que se estava a fazer tarde e ainda havia muito que ver até chegarmos a Viseu.

Se de Vila Real para Peso da Régua viemos em registo curva- contra curva descendente agora continuávamos no mesmo registo mas a subir. Retomámos a “nossa” EN2 e o destino era Lamego. A única diocese portuguesa que não está numa capital de distrito (como se estes ainda existissem..) o que desde logo atesta a sua importância quer para a fé católica quer para a História de Portugal, de tão antiga que é. Era obrigatório visitarmos o Santuario de N. Sra. dos Remédios de onde pudemos desfrutar de uma vista magnífica para a cidade.

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Passámos depois pela Sé de Lamego, cuja traça revela a sua antiguidade quase milenar.Foto61

Deixámos Lamego para trás e a caminho do ponto mais alto da EN2 tínhamos ainda um desvio a fazer logo a seguir a uma ponte sobre o rio Balsemão.

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E para um dos pontos altos deste nosso percurso. Alto é forma de dizer, porque descemos cerca de 4 quilómetros por uma estrada íngreme de piso incerto e bastante estreita para chegarmos a Lazarim – a capital do Entrudo, famosa pelos seus caretos e senhorinhas. Rodeada de altos montes e no fundo de uma vale paradisíaco, ficámos impressionados com a beleza da povoação e a simpatia de duas senhoras que quase se engalfinhavam por nossa causa: afinal, para chegarmos ao Centro de Interpretação do Entrudo havia dois caminhos e elas não concordavam qual o melhor! Uma maravilha! Pena foi que o Centro já estivesse encerrado e apenas pelos vidros da frontaria tivemos um vislumbre do seu interior.

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Voltámos à EN2 pelo mesmo caminho (o único…) e logo de seguida o ponto com maior cota da Estrada no Alto de Bigorne.

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A tarde avançava e ainda nos faltava caminho até ao final da etapa em Viseu. Pelo caminho constatámos a criatividade toponímica portuguesa, passámos em Castro Daire (a nossa tentativa de provar o Bolo Podre esbarrou na dimensão do mesmo…) e finalmente chegámos a Viseu.

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Era tempo de procurar o nosso alojamento (a cerca de 15 quilómetros da cidade) e depois regressar ao centro onde amigos nos esperavam para o já desejado jantar. O final da noite passou-se numa esplanada viseense, já horas adiantadas..mas não muito que o dia seguinte seria também longo!

 

Antes (parte 1)

Continua (parte 3)

Estrada Nacional 2 – de cima a baixo (1)

Um sonho antigo e a oportunidade para percorrer o País de norte a sul, pela sua maior estrada e desfrutar da camaradagem e do espírito motociclístico .
1ª parte – a preparação e a chegada a Chaves

A preparação e a viagem até ao quilómetro 0 – Chaves

O desejo de fazer a Estrada Nacional 2 era velho de 2 anos. Aliás, esteve previsto para Abril ou Maio de 2017 mas as conjugações astrais não se mostraram favoráveis na altura. Voltámos à carga em Abril de 2018 aproveitando o feriado de 25 de Abril para minimizar os “estragos” em termos de dias de férias consumidos.

Definidas as datas, passámos a fase final do planeamento. É possível fazer a EN2 de improviso, tentando seguir placas, marcos e outras indicações (quando existem…o que não é frequente!), pelo velho método do “quem tem boca vai a Roma”. É possível, mas não eficaz. Principalmente quando o tempo disponível é finito, não pretendíamos viajar à noite e queríamos “ver coisas” e não só fazer alcatrão.

Foram elementos preciosos 2 publicações: uma, editada há cerca de 2 anos pela desaparecida revista Auto Hoje e outra, bastante mais recente, pela Editora Papa Figos.

Preparaçao

Também o recurso a um velhinho mapa do ACP de 1961 foi útil (apesar de nessa altura alguns troços da EN2 ainda não existirem) e, principalmente, as muitas leituras que a internet nos proporcionou. Foi um processo moroso…

Depois, seguiu-se a elaboração do roadbook que nos serviria de guia durante a viagem. A utilização daquelas publicações não seria prática, pelo que era fundamental fazer um resumo que contemplasse não só o trajecto como também alguns pontos de interesse que pretendíamos ver ao longo do percurso. Daí também o termos optado por não utilizar GPS. Desse trabalho, mais fácil nalgumas regiões (principalmente abaixo de Abrantes quer pelo conhecimento pessoal quer porque o traçado original pouco alterou ao longo do tempo) substancialmente mais complicado noutras, resultou o guia (não isento de erros) que nos acompanhou de principio a fim com muito bons resultados.

Roadbook

Destaco duas zonas mais complexas por motivos diferentes:  a primeira, o percurso entre Santa Comba Dão e Penacova pois a maior parte da EN2 ou ficou submersa pela albufeira da Barragem da Aguieira ou foi sobreposta pelo IP3; acabámos por fazer um roadbook específico para esta zona, bastante mais detalhado e que se revelou determinante. Demorou mais tempo a fazer do que o que gastámos a percorrê-lo. Mas valeu a pena…e percurso é muito bonito. A segunda consiste na zona que vai da Sertã até quase a Abrantes. Neste caso, continua identificada como EN2 mas trata-se de uma variante moderna. Só mais tarde soubemos que o percurso verdadeiramente original não era esse. De qualquer forma, este que fizemos já está institucionalizado e permite passar no Picoto da Melriça que é um ex-líbris da EN2.

Definidas as etapas, até por conveniências de alojamento – Chaves-Viseu, Viseu-Abrantes – pois tínhamos dormida gratuita em Viseu (casa de família de um dos membros do grupo) e em Abrantes onde amigos nos proporcionaram uma recepção épica – Ana e Zé, um enorme bem haja! – faltava encontrar o ponto óptimo para o início da última parte da viagem. A opção lógica seria dormirmos em Faro reservando o ultimo dia para o regresso. Tal obrigaria a que a última parte da viagem, e claramente uma das mais divertidas, fosse feita em final de dia e já com muito cansaço acumulado: a Serra do Caldeirão. Resolvemos pernoitar antes e guardar essa parte para a manhãzinha do dia seguinte. Assim, fizemos Abrantes-Castro Verde e aqui brindamo-nos com um belo banho na piscina do hotel ao final da jornada. Mais tarde, fomos surpreendidos com o início das festividades do 25 de Abril e um espectacular fogo de artifício o que provou o acerto da opção.

Outro aspecto decisivo na parte final do planeamento foi o acompanhamento diário, na quinzena que antecedeu a partida, das previsões meteorológicas. Delas dependia inclusivamente a hipótese de adiamento. De facto, até à última hora as perspectivas eram sombrias pois previa-se uma autêntica tormenta para aqueles dias. Aliás, a data e hora inicialmente previstas coincidiam com uma intempérie quase épica. Na véspera da partida, consulta detalhada aos sites de previsões (e aqui destaco pelo elevado grau de acerto o meteo.ist.utl.pt) permitiu concluir que se antecipássemos a saída cerca de uma hora, conseguiríamos sair de Lisboa antes do vendaval e ir sempre à frente dele enquanto marchávamos para norte. E bateu certo!

Clima

Só já bastante depois de Braga nos deparámos com uns chuviscos breves. Para o resto dos dias, as perspectivas iniciais também acabaram por não se cumprir e beneficiámos geralmente de dias quentes (mais quentes do que o nosso equipamento antecipava…) e apenas uma chuva ligeira na zona de Góis.

Se o planeamento se veio a revelar fundamental para o sucesso, destacar aqui a camaradagem e amizade entre os três motociclistas viajantes que tornou todos estes dias uma verdadeira diversão.

Foto1

Sábado, 21 de Abril, cerca das 7.30 da manhã, era tempo de nos fazermos à estrada. Assim foi. Auto-estrada até à saída de Braga, com uma pequena paragem na área de serviço da Mealhada para reabastecimento de montadas e cavaleiros.

Foto2

À saída de Braga tomámos a EN 103. E que surpresa! Estrada maravilhosa, das mais bonitas que já percorremos. Logo no início, paragem para almoço e depois…uma chuvinha para animar o caminho. Mas até desviarmos para Montalegre, foi um deleite de condução só superado pela paisagem.

Ora o Gerês a norte, ora as barragens e suas albufeiras com destaque para a do Alto Rabagão. A EN 103 merece por si só uma visita mais detalhada.

Montalegre mostrou-se uma bonita vila, com um castelo altaneiro a fazer frente aos vizinhos espanhóis lá ao longe.

Daí até Chaves seguimos por uma estreita estrada municipal, sem trânsito, onde sentimos mesmo a dureza (também bela) do planalto transmontano. Memorável!

Jpeg

E assim chegámos à cidade de Trajano, que visitámos depois de um jantar bem comido e bem bebido (antes ainda tínhamos dado um salto a Espanha para atestar as Hondas que bem carentes estavam), numa noite muito agradável de temperatura amena. Depois…descansar que no dia seguinte começava a Estrada Nacional 2!

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