As estradas esquecidas da Beira Baixa

Esta é uma forma de dizer mea culpa. Vivi dois anos, já há muito, em Castelo Branco mas por falha imperdoável não conhecia os terrenos que agora pisei. Estas são as estradas esquecidas da Beira Baixa (há outras que ficarão para nova oportunidade). 

Um País tão pequeno como o nosso é estranho pois parece que está inclinado em direcção ao oceano. Como se fosse um anfiteatro em que as últimas filas ou estão desocupadas ou quem lá está … não pertencesse aquele espectáculo. 

Temos a sensação que os pedaços de território que ficam encaixados entre as principais vias de comunicação mais a leste e a linha que nos separa de Espanha acabam por ficar esquecidos. Esquecemo-nos dos que lá estão, porque só lá vai…quem lá precisa de ir. 

Comecei a jornada ainda no Alentejo mas já próximo da Beira Baixa, em Nisa. O “aquecimento” foi feito nos 18km que separam a última vila alentejana da primeira beirã, Vila Velha de Ródão, na Estrada Nacional 18 e que, numa sucessão de curvas e contra curvas em bom piso, fazem atravessar a Serra de Nisa. 

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EN18 Serra de Nisa – Casa de Cantoneiros

Quase a chegar às margens do Tejo, vemos o rio acabado de entrar em Portugal ainda envolvido em alguma névoa matinal. 

Convém dizer que este passeio ocorreu no final de Novembro, mesmo na véspera do começo dos estados de confinamento que, infelizmente, começam a ser demasiado habituais. A manhã estava fria mas o dia compôs-se. De qualquer forma, era preciso acautelar o tempo pois havia muito que percorrer e nesta altura os dias são demasiado curtos. 

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Rio Tejo manhã cedo

 A descida para a ponte de Ródão é magnífica, com o rio aos nossos pés. Lá chegados, uma visão já habitual mas sempre deslumbrante: as Portas de Ródão. As escarpas de ambas as margens abraçam o Rio Tejo num abraço bem apertado…. 

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Portas de Ródão
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Rio Tejo e Ponte de Vila Velha de Ródão
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Portas de Ródão e Marco da EN18

Logo a seguir a Vila Velha de Ródão (onde senti o “perfume” industrial que caracteriza esta terra) deixei a EN18 e rumei ao interior a caminho do Parque Natural do Tejo Internacional. De facto, alguns quilómetros a montante de Vila Velha de Ródão, fica a Barragem de Cedillo que marca o ponto onde o rio passa a ter, no seu curso, ambas as margens em território nacional. Porque para trás e durante alguns quilómetros, só a margem direita é nossa. Seria neste pedaço de território que iria começar este périplo. 

A primeira aldeia por onde passei foi Perais, uma pequena aldeia de 500 habitantes. 

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Perais
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Igreja Matriz de Perais

Continuei e a seguinte localidade deixa o registo de um nome estranho: Alfrivida…. 

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 Segui a estrada cujo destino era agora Malpica do Tejo. A dado momento, a travessia do Rio Pônsul na imponente Ponte de Lentiscais, por baixo da qual fica um pequeno parque de merendas e um ancoradouro para quem ali queira fazer passeios por este afluente do Tejo. 

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Ponte de Lentiscais
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Rio Pônsul

Quando se percorrem estas estradas temos por vezes que as partilhar com outros. Dá para todos. 

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Perto de Malpica do Tejo

Em Malpica do Tejo tinha como objectivo visitar o cais que fica na margem do Rio Tejo. Tinha curiosidade pois o terreno escarpado das margens prometia uma bonita paisagem, com Espanha defronte. Por razões que não consegui apurar… a estrada estava cortada.

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A estrada acabava ali….

20201127_112319.jpg_8.39_jpgAo fundo, Malpica do Tejo. Aqui voltei para trás…

Regressei a Malpica e à saída uma peculiar capela, com trânsito giratório à sua volta. Uma rotunda original, sem dúvida. 

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Capela (rotunda) em Malpica do Tejo

Esta região pertenceu, desde os tempos da Reconquista Cristã à Ordem dos Templários (mais tarde Ordem de Cristo), tendo-lhes sido doados em 30 de Novembro de 1165 (faria daí a 3 dias 855 anos!). O objectivo era a protecção e defesa do território bem como algum desenvolvimento agrícola, favorecido pela proximidade ao Tejo. 

Existem alguns testemunhos da presença humana em tempos pré-históricos e, mais tardios, também dos romanos.

A orografia do terreno do Parque Natural do Tejo Internacional faz com que a estrada seja sinuosa e sempre em sobe e desce, mesmo que não haja grandes declives ou variações de altimetria. Com o trânsito quase inexistente, acaba por ser bem divertida. 

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Estrada no Parque Natural do Tejo Internacional

Um pouco mais à frente, a aproximação a Monforte da Beira. Dizem as lendas que o nome da terra, Monforte, deriva dos “Montes Fortes” que a rodeia e a protegem. Em tempos antigos serviria para abrigo dos rebanhos que por aqui andavam, defendendo-os das intempéries. Diz-se “da Beira” para a diferenciar da localidade homónima situada no Alto Alentejo. 

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Monforte de Beira
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Igreja Matriz de Monforte da Beira
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Monforte da Beira – Torre do Relógio
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Monforte da Beira

Saído de Monforte, a estrada continuava com as suas características sinuosas. A descida para a Ribeira de Aravil que levava caudal apreciável foi oportunidade para apreciar a paisagem. 

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A descer para a Ribeira de Aravil
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Ribeira de Aravil

Um pouco mais à frente, outra aldeia com um nome curioso: Cegonhas! Somos bem vindos o que é sempre agradável! 

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Bem vindos a Cegonhas

Finalmente cheguei a um dos objectivos do dia. Rosmaninhal é, se olharmos para o mapa, o posto avançado nesta região. Freguesia que tem a nascente Espanha e a sul o Tejo, sendo que na margem oposta deste é também território espanhol. Tem actualmente cerca de 500 habitantes e chegou a ser sede de concelho entre 1510 e 1836. Percorri algumas das ruas desta terra com uma bonita vista. 

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Rosmaninhal – Capela de S. Roque
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Rosmaninhal – Pelourinho
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Rosmaninhal – Rua e vista para o Parque Natural do Tejo Internacional
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Rosmaninhal – Igreja Matriz e Torre do Relógio

 Deixei para trás a histórica vila, onde já não existem registos do seu ancestral castelo ou das suas muralhas, sendo certo que existem referências bem antigas à sua existência. Natural aliás, dada a posição estratégica face ao vizinho espanhol. 

Segui para norte agora, rumo às Termas de Monfortinho. De passagem, em Zebreira duas curiosidades. Uma peça de “arqueologia rodoviária” não muito bem conservada e um pormenor da bonita escola primária.

Até aqui, uma nota de profunda tristeza nas terras percorridas. Praticamente desertas, ruas vazias, não só pelos seus poucos habitantes mas também pelo facto destes tempos estranhos levarem as pessoas a fecharem-se em casa. 

Não sei se foi real ou apenas impressão, mas fiquei com a sensação que a minha passagem lá também seria, por estes motivos, dispensável. Naturalmente compreendo. E leva-me a reflectir se nestes tempos tão difíceis faz sentido impormos a nossa presença que noutras circunstâncias, seria não só desejada como bem acolhida. 

Em Zebreira, estes pensamentos quase se desvaneceram ao passar pela Escola Primária. Um bando de crianças brincava no recreio. Uma imagem de alegria e também de satisfação por ver que alguma renovação geracional se fará por aqui. 

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Zebreira – Painel de azulejos publicitário
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Zebreira – Pormenor da Escola Primária

Cheguei finalmente às Termas de Monfortinho. A fronteira está mesmo ali. Só para marcar o ponto, resolvi entrar no país vizinho e rapidamente regressei…até porque a estrada do lado de lá era pior! Os objectivos da jornada eram por cá e não havia tempo a perder porque a luz do dia terminaria bem cedo. 

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Termas de Monfortinho – Espanha é já ali

Vem de tempos ancestrais a utilização das águas termais de Monfortinho. Os romanos, grandes apreciadores terão sido os primeiros a desenvolver o seu aproveitamento. Apesar de não haver registos, sabe-se que por aqui andaram. E será desta altura a utilização das águas da Fonte Santa de Monfortinho. 

Com um largo espectro de utilização com benefícios para a saúde, foram sendo utilizadas pelas populações quer de lado português quer do lado espanhol. Até porque a fronteira é mesmo ali, com o Rio Erges a separar os dois países. 

Apesar da riqueza das suas águas, as Termas de Monfortinho nunca conheceram o desenvolvimento de outras estações termais devido aos difíceis acessos que a tornavam, até há bem pouco tempo, muito afastada e pouco apetecível como destino turístico e de saúde. 

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Termas de Monfortinho
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Termas de Monfortinho – Rio Erges – Do lado de lá é Espanha

20201127_134637.jpg_8.53_jpgTermas de Monfortinho

Depois das Termas de Monfortinho, que acredito noutros tempos e noutra altura do ano estaria a fervilhar de gente, era tempo de rumar à histórica vila de Penha Garcia. 

Alcandorada no cimo do monte, com uma ruína do seu outrora altaneiro castelo, que se supõe ter sido mandado construir por D. Sancho I, conserva ainda o casario típico nas suas ruas íngremes. 

Teve foral em 1256 recebido de D. Afonso III, tendo o município sido extinto em 1836. 

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Penha Garcia – vista panorâmica
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Penha Garcia – Rua e Castelo ao fundo
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Penha Garcia – rua típica
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Penha Garcia – Pelourinho
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Penha Garcia – Igreja Matriz
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Penha Garcia – Torre da Igreja e Castelo
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Barragem e Fragas de Penha Garcia
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Penha Garcia – Castelo

20201127_145704.jpg_8.18_jpgPenha Garcia – Estranho….

Depois de Penha Garcia, continuei. Era agora a altura de visitar a que em tempos foi designada como a “aldeia mais portuguesa de Portugal”: Monsanto. 

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Monsanto – panorâmica

À medida que subimos ao “Mons Sanctus” pelo pedaço sinuoso de estrada , começamos a ter a noção do poder e dimensão da natureza. 

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Monsanto – A natureza dá-nos a noção da nossa dimensão

Monsanto é um exemplo claro da capacidade de adaptação humana ao que a terra nos oferece – ou condiciona. O casario típico ora contorna, ora se sobrepõe aos enormes blocos graníticos dando um cunho muito próprio a esta vila original. 

Historicamente, é ancestral como provam os forais que sucessivamente lhe foram atribuídos por D.Afonso Henriques, D.Sancho I, D.Sancho II e D. Manuel I

Do Largo do Baluarte temos uma magnifica vista para as terras que se espraiam a seus pés. Depois…é sempre a subir! 

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Monsanto – Vista do Largo do Baluarte
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Monsanto – Panorama com a Torre do Lucano ao fundo
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Monsanto – Igreja da Misericórdia e Torre do Lucano.
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Monsanto – Igreja Matriz ou de S. Salvador
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Monsanto – rua
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Monsanto – pormenor
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Monsanto – rua
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Monsanto – A força da rocha

20201127_153855.jpg_8.52_jpgMonsanto – Igreja Matriz ou de S. Salvador

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Monsanto – A caminho da Torre do Lucano
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Monsanto – Beco
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Monsanto – Casa típica

Em Monsanto, para lá das construções habituais em terras antigas – as igrejas, o pelourinho, o castelo – encontramos diversos solares de famílias abastadas – o da Família Pinheiro ou da Fonte Mono, o da Família do Marquês de Graciosa, o da Família Melo ou dos Condes de Monsanto, ou ainda o dos Priores de Monsanto. Também passamos pela casa do escritor Fernando Namora e o consultório onde exercia medicina, bem como a casa onde habitou Zeca Afonso. 

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Monsanto – Solar dos Pinheiros ou Casa do Chafariz
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Monsanto – horizonte
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Monsanto – ruina e panorama

O sol avançava rapidamente para o ocaso. A luz do dia desvanecia-se mas ainda sobrou um pouco para terminar a jornada numa curta visita a Idanha a Velha. 

O seu nome poderá derivar da denominação romana “Cidade dos Igeditanos” (Civitas Igaeditanorum), terminologia que viria a tornar-se Igeditânia. O nome Egitânia só surge em documento do século VI e dele derivam a forma visigótica Egitânia e a forma árabe Idânia. 

Fundada na era do Imperador Augusto (século I a.C.), a fundação deste núcleo populacional teve para Roma uma significativa importância pela sua localização entre Guarda e Mérida. A ocupação romana desta zona está bem comprovada pela observação detalhada das muralhas edificadas entre os séculos III a IV, quando do início das Invasões Bárbaras. Segundo algumas teorias, terá sido aqui que, em 305, terá nascido o Papa Dâmaso I. 

Os primeiros sinais de prosperidade vieram com a conquista visigótica, durante a qual foram construídos a Catedral, o Palácio dos Bispos, o Paço episcopal e a Ponte de São Dâmaso. Em 713, os mouros tomaram a cidade e destruíram-na. Reconquistada pelo Rei Afonso III de Leão, foi perdida novamente, só tendo sido definitivamente tomada por D. Sancho I. 

Em 1319, D. Dinis doou-a à Ordem de Cristo e o foral só foi renovado no tempo de D. Manuel I. Os seus marcos mais importantes são o Pelourinho, a Igreja Matriz, as Capelas de São Dâmaso, de São Sebastião e do Espírito Santo. 

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Idanha a Velha – Fortaleza – Porta Norte
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Idanha a Velha – Igreja de S. Maria – Sé Catedral
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Idanha a Velha – Torre dos Templários

Em Idanha a Velha terminei a jornada pelas estradas esquecidas da Beira Baixa.

Deliberadamente porque já conhecia e porque o tempo era escasso, não visitei a fronteiriça Segura com a sua ponte romana sobre o rio Erges e, alguns quilómetros mais à frente, já em Espanha, a magnífica ponte romana de Alcântara sobre o Rio Tejo. 

Era tempo de regressar. Apesar de pouco passar das 5 da tarde, a noite tomava conta da paisagem. Depois das Termas de Monfortinho já fui vendo mais algumas pessoas nas ruas das terras visitadas. Sempre atenua a sensação atrás referida. Mas estes tempos são muito estranhos. E pouco alegres. 

Assim se fez mais uma Viagem ao Virar da Esquina, desta feita por um recanto esquecido do nosso território.

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As estradas esquecidas da Beira Baixa

Serra da Estrela…e algo mais (2)

A segunda parte do périplo pela serra maior de Portugal.
Pelo interior da Serra cheguei à Torre, depois de passar pelas Penhas da Saúde, Manteigas, Penhas Douradas, Sabugueiro e Lagoa Comprida.

Já na Serra – sobe e desce pelo lado oriental

Em Belmonte fechámos o baú das memórias.

Montada e cavaleiro reabastecidos, era tempo de por o pé na estrada que a segunda metade deste dia antevia-se longa, desafiante e cansativa. O objectivo para o final do dia era desfrutar do pôr-do-sol no ponto mais alto de Portugal continental: a Torre.

Assim, pela EN18 já habitual, dirigimo-nos para a Covilhã com o fito de subir até às Penhas da Saúde. Constatámos algo que pudemos confirmar no dia seguinte: a sinalização na Covilhã é sofrível. Algo confusa (a configuração da cidade não ajuda, é certo) e com sinais que aparentemente fogem ao que é normal e em nada ajudam, pelo contrário. Apesar de haver regras para a sinalização rodoviária, parece que sempre existem uns criativos que julgam ser capazes de fazer melhor…Fica feita a nota e assim escusamos de a repetir mais à frente.

A partir do Largo do Municipio, começa-se desde logo a subir e de forma pronunciada pela EN339. Passamos o Parque de Merendas, o Parque de Campismo do Pião e chegamos à Varanda dos Carqueijais.

Miradouro em local privilegiado com uma vista magnífica para a Covilhã logo abaixo e para toda a Cova da Beira com a Gardunha em fundo.

Varanda dos Carqueijais - Vista panorâmica

Prosseguimos a subida e passamos pelo antigo Sanatório dos Ferroviários, majestoso edifício que tendo sido no antigamente uma unidade hospitalar, esteve abandonado durante décadas e recentemente foi restaurado de forma brilhante, seguindo a traça original e mantendo-a também no interior, numa Pousada (Grupo Pestana) com muito requinte. O edifício e os jardins fronteiros merecem uma visita, até porque a vista é também espectacular.

Sanatório dos Ferroviários - Pousada Pestana

Continuando a subir, passamos por mais uma unidade hoteleira já tradicional – a Pousada da Serra da Estrela – e mais um pouco, já a 1600m de altitude chegamos às Penhas da Saúde.

Era tempo de breve paragem. Efectuar o registo, alijar carga desnecessária para o passeio, verificar as instalações, na Pousada da Juventude. Uma estreia que se revelou insuperável na relação qualidade/preço. De facto, se o objectivo for a economia, sem luxos e com o conforto estritamente necessário para quem se propõe jornadas algo cansativas, não há dúvida que é uma solução convincente. Acresce a extraordinária simpatia do pessoal, o ambiente informal a convidar ao convívio, os pequenos requisitos hoje habituais como sejam o wi-fi gratuito em todo o edificio e com boa performance. Na manhã seguinte, o pequeno almoço também muito agradável, com tudo o que é habitual numa unidade hoteleira. Excelente!

Pousada da Juventude - Serra da Estrela

Tudo tratado, seguimos viagem. Até aos Piornos, onde depois da foto da praxe para a Nave de santo antónio, virámos à direita em direcção a Manteigas pela EN338. Começava verdadeiramente a parte espectacular da viagem.

Nave de Santo António e Cântaros

O sinal para “Teste de travões” não enganava. A descida seria pronunciada. Íamos a caminho da primeira paragem, num sítio que é para mim obrigatório: o Covão da Ametade. Aqui nasce o Rio Zêzere que depois ganha força a descer o vale glaciar até Manteigas seguindo depois o seu percurso, contornando a Serra a nascente e depois, pelo lado sul na Cova da Beira até, muito mais tarde e mais longe, vir desaguar no Rio Tejo em Constância depois de encher a albufeira de Castelo do Bode.

O Covão da Ametade, situado mesmo por baixo dos três picos a que alguém chamou Cântaros – o Raso, o Gordo e o Magro – dois deles acima dos 1900m – é um local frondoso, com um parque de merendas.

Lindíssimo, não fora o facto de estar ao abandono… culpa das entidades oficiais que dele não cuidam, dizem uns, culpa dos utilizadores que o degradam e mal estimam, dizem outros. Uma pena!

Foi aqui também que tive o privilégio de encontrar e trocar algumas palavras com um simpatiquíssimo pastor serrano que cuidava do seu rebanho de cabras – o início da fileira do saboroso queijo da serra! Conhecedor profundo e muito orgulhoso da sua Serra da Estrela, numa profissão que se calhar caminha para o desaparecimento pois duvido que haja pretendentes a calcorrear os caminhos abruptos e perigosos da Serra.

À minha frente vislumbrava-se agora um dos cenários mais monumentais de Portugal: o vale glaciar de Manteigas. O antigo glaciar há muito desaparecido cavou este vale profundo por onde corre o (ainda) pequeno Zêzere a caminho, bem lá ao fundo, de Manteigas.

Vale Glaciar Zêzere

A estrada corre quase (um quase muito relativo!) rectilínea sempre a descer pela encosta sul do vale. Estrada estreita, bom piso, a convidar a algum empenho na condução…mas cuidado, que a aparente visibilidade para as curvas seguintes não iluda: a estrada não tem escapatórias!

Vale Glaciar - descida para Manteigas

Vale Glaciar - Manteigas

Entrámos em Manteigas, vila serrana conhecida pelos seus têxteis, pelo Queijo da Serra e também pelos seus viveiros de trutas. Um pouco antes, o desvio para o Poço do Inferno. Local que merece obviamente uma visita pela beleza da sua cascata. Optei por não fazer o desvio: no final do Verão, terá um caudal mínimo que lhe retira espectacularidade e também a estrada recomenda cuidados acrescidos – estreita e mau piso. Estivémos lá recentemente pelo que desta feita passámos… mas a recomendação fica: merece a visita!

Em Manteigas seguimos em direcção às Penhas Douradas (sugerimos a ajuda do GPS porque as placas de sinalização apontam para uma estrada que não é aquela que pretendemos, pois embora seja até mais curta, não tem a espectacularidade da EN232 que iríamos seguir). O que nos aguardava à saída de Manteigas era isto:

A meio da subida tínhamos agora uma perspectiva diferente do vale glaciar, com Manteigas no sopé e bem lá ao fundo, os Cântaros majestosos a contemplarem-nos.

A subida continuava, íngreme e sinuosa, sempre em regime de curva e contra curva. Um espectáculo!!! À nossa volta, arvoredo e vegetação frondosa a contrastar com a aridez que tínhamos presenciado anteriormente nas Penhas da Saúde e na descida para Manteigas.

Vale Glaciar do Zêzere e Manteigas

Cerca de 20km de de diversão depois, chegamos ao planalto onde se situam as Penhas Douradas. A altitude estava mais uma vez acima dos 1800m e voltava a paisagem agreste e rude. Quando conseguímos vislumbrar um pouco mais, desta vez para Norte, era uma nova realidade: uma planície a perder de vista no sentido de Gouveia ou um pouco mais longe, Celorico da Beira. A Beira Alta estava à frente dos olhos!

Virámos à esquerda para o Vale de Rossim.

Logo a seguir uma construção curiosa: a Casa da Fraga:

“A Casa da Fraga foi construída no meio de nenhures, num ermo da Serra da Estrela, lugar que hoje tratamos por Penhas Douradas. Parece estranho mas não é: muito provavelmente, as Penhas Douradas, lá do alto dos seus 1500 metros, não seriam nada não fosse a Casa da Fraga existir. Ou pelo menos não seriam aquilo que são agora.

Tudo começou com uma expedição organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa à Serra da Estrela. O objectivo era nobre: fundar sanatórios que, como já era feito noutros países, como por exemplo a Suíça, pudessem curar doenças de foro pulmonar.

Daí se concluiu haver condições climatéricas, na encosta norte da serra, antes de chegarmos ao seu topo, para um tratamento bem sucedido às patologias.

Sousa Martins, crente nos estudos optimistas que vários cientistas davam aos ares da Serra da Estrela, enviou para lá um dos seus doentes, Alfredo César Henriques, que sofria de tísica pulmonar, que construiu uma casa lindíssima camuflada na paisagem natural que a envolvia.

Ali permaneceu dois anos e as visíveis melhorias no seu estado de saúde deram alento a outra gente, também com problemas nos pulmões, que lá foi procurar casa. E assim, de uma boa notícia, se fez aquele pedacinho encantado que hoje conhecemos como Penhas Douradas.”

in ncultura.pt/serra-da-estrela-a-incrivel-casa-da-fraga/

No Vale do Rossim exite um eco-resort que usufrui de uma pequena barragem que tem o espelho de água a maior altitude na Serra da Estrela. Paisagem agreste mas de profunda beleza.

A tarde ía já a mais de meio e ainda havia caminho a percorrer. Retomámos a EN 232 um pouco mais à frente e cumpre salientar que este desvio que tomámos para o Vale do Rossim está num estado lamentável!

Pela primeira vez ia também ver um cenário que aqui e ali passaria a ser uma constante no resto da viagem: a desolação provocada pelos incêndios de há um ano! Uma tristeza sem fim…

Descida para o Sabugueiro

A estrada que, saindo da EN232 que segue para Seia e Gouveia, vai directamente para o Sabugueiro, o nosso destino e a aldeia a maior altitude em Portugal, é algo perigosa: estreita, piso bastante deficiente e com pouca protecção… A fazer com bastante prudência.

A caminho do Sabugueiro

Sabugueiro: aldeia transformada num centro comercial de produtos serranos, para lá dos queijos é também aqui que é possível encontrar à venda os lindos cachorros da raça típica da Serra e que lhe levam o nome!

Muito terão sofrido estas gentes com os incêndios! Tudo à volta da povoação está queimado…

Vista do Sabugueiro

No Sabugueiro tomamos a EN339, que de Seia se dirige à Torre, e que seria a nossa via até ao objectivo final. Começamos novamente a subir, umas vezes de forma mais pronunciada outras menos, até chegarmos à Lagoa Comprida, passando pelo caminho por algumas pequenas lagoas e por diversas cambiantes da paisagem.

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A Lagoa Comprida é a mais conhecida e a maior das lagoas do maciço superior da Serra da Estrela. Construída a partir de uma lagoa natural, constitui o principal reservatório de água da serra da Estrela.

Lagoa Comprida

Na vertente norte da lagoa observa-se um dos mais interessantes campos de blocos erráticos da Serra da Estrela. Estes blocos de granito foram transportados pelos glaciares e abandonados aquando da fusão e recuo do gelo.

Lagoa Comprida

Este era um antigo glaciar com um quilómetro de extensão. Aproveitando o covão, iniciou-se em 1912 a construção da barragem. Em 1914 tinha uma altura de seis metros e em 1934 atingia os 15 metros. Actualmente, desde 1965, tem uma altura de 28 metros. É uma barragem do tipo gravidade, formada por três arcos de alvenaria de granito com 1200 metros de desenvolvimento. A albufeira tem a capacidade de cerca de 12 milhões de m3 de água, e inunda uma área de 800.000 m2.

Nesta lagoa desaguam dois túneis: o do Covão do Meio, com 2354 metros que desvia a água das encostas do Planalto da Torre e o do Covão dos Conchos com 1519 metros que desvia as águas da Ribeira das Naves.

Lagoa Comprida

A partir daqui subimos mais um pouco, paisagem agreste, quase nua, na aproximação à Torre.

Sendo o ponto mais alto de Portugal Continental, não tem todavia a configuração de um pico. É um vasto planalto onde encontramos a torre que prolonga a altitude até aos 2000m, as desactivadas instalações de radar da Força Aérea, um pequeno e algo decrépito centro comercial e ainda as instalações do teleférico. de referir que tudo isto tem um aspecto de quase abandono, o que é lamentável a avaliar pela numerosa frequência turística que demanda este local.

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A Torre é o ponto mais alto de Portugal Continental (1.993 metros). Ali se encontra implantada a célebre «Torre do Cume» para completar os 2.000 metros de altitude. A actual Torre em pedra foi reedificada em 1949, datando a anterior do Reinado de D. João V (1806). A vista é magnífica: para Sul, alonga-se pela Cova da Beira até à Serra da Gardunha. A Norte, alcança as Serras do Caramulo, da Lapa e Montemuro. A Leste, atinge as Serras da Marofa e da Malcata, e para além da Meseta, as Serras da Gata e de Gredos, marcadas também pela glaciação. A Oeste, estende-se para as Serras do Açor e da Lousã, até ao oceano Atlântico. Abrange as bacias do Douro, do Mondego e do Zêzere/Tejo. No dia 04 de Agosto de 1940, para se comemorar o duplo centenário da Fundação e da Independência de Portugal foi benzida e colocada no topo da Torre uma cruz de ferro.

Vista da Torre

Mas o objectivo era um pouco mais ambicioso. Não só chegar à Torre mas assistir o pôr do astro rei!

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O espectáculo superou as expectativas. o facto de termos todo o horizonte à nossa disposição, um céu limpo e sem nuvens, proporcionou imagens inesquecíveis e de rara beleza, a que as fotos não conseguem fazer justiça.

A jornada estava a acabar em beleza.

Por do Sol na Torre

Por do Sol na Torre

Por do Sol na Torre

De facto, mais cerca de 150km feitos durante a tarde, a subir e descer as estradas da Serra da Estrela recomendavam um merecido descanso. Uma sandes de presunto serrano e queijo da serra adquirida na Torre seria o merecido jantar, já em modo de pré-repouso porque o cansaço acumulado e o facto de estarmos quase no cimo da Serra não recomendavam grandes deslocações noturnas. De qualquer modo fica uma sugestão: nas Penhas da Saúde existe um restaurante a merecer recomendação forte. Chama-se Varanda da Estrela e a especialidade característica é o delicioso arroz de zimbro, entre muitas outras iguarias.

A Serra da Estrela ao lusco-fusco

Era tempo de descanso. O dia seguinte seria também bastante exigente porque ainda havia muito a percorrer!

Anteriormente:

Serra da Estrela…e algo mais (1)

A seguir:

Serra da Estrela…e algo mais (3)

Serra da Estrela…e algo mais (1)

A primeira perte de uma volta pela Serra da Estrela, num regresso às raízes familiares.
De Nisa a Belmonte, aproximei-me da serra maior.

A aproximação: de Nisa a Belmonte

Diz-se que de manhã começa o dia. Assim é. Mas sem exageros…

Pronto para partir

Pouco passava das 9h e já depois de consultado o horóscopo na máquina Multibanco mais próxima, lançámo-nos ao caminho. Nisa é o último bastião alentejano antes de atravessarmos o Rio Tejo e entrarmos em território beirão. A jornada antecipava-se longa em tempo e distância…

Nisa

Mas até lá, tínhamos para começo de conversa, um troço de 18 km da EN18 (vejam a coincidência numérica) que é uma delícia. A estrada desenvolve-se fluente e em bom piso, seguindo e por vezes cruzando as curvas de nível da Serra de Nisa, num percurso a fazer lembrar a Serra do Caldeirão mais a sul. Sem grandes inclinações, curvas e contra curvas bem lançadas, umas mais rápidas outras a exigir alguma mudança mais baixa, mas sempre em bom ritmo. Se no início a paisagem é agreste, perto do final, os últimos 3 km são uma maravilha com uma descida pronunciada e o Rio Tejo, recém entrado em Portugal, a correr à nossa direita. Mais ao fundo vemos Vila Velha de Ródão.

Rio Tejo - Descida para Ródão

Rio Tejo - Vila Velha de Ródão

Chegados ao final da descida, temos a ponte metálica que atravessa o rio e nos dá uma perspectiva deslumbrante do monumento natural que é as Portas de Ródão.

Portas de Ródão

Ponte de Ródão e Rio Tejo

Entrámos então na Beira Baixa, passa-se Vila Velha de Ródão e seguimos pela EN18, que nos iria ser o eixo principal desta viagem, agora já com um piso algo descuidado, com destino a Castelo Branco, a primeira paragem do dia. Certamente por efeito da trepidação originada pelo piso deficiente, poucos quilómetros volvidos, o primeiro (e único, felizmente) precalço: o aperto da base do GPS desapertou-se…algo simples de resolver com uma chave Allen de tamanho adequado…que não havia! Paragem forçada numa bomba de gasolina mas sem resultado. Ainda tinham menos ferramentas que eu. Solução? Fácil, muito fácil! Segui até Castelo Branco com algum cuidado para não agravar o desaperto e…lá chegado, paragem na primeira Loja do Chinês encontrada. Problema resolvido em 5 minutos (incluindo a visita à loja!).

Em Castelo Branco, a paragem era acima de tudo sentimental. Tirar a foto da praxe em frente ao Liceu onde há muitos anos atrás vivi época feliz. À época chama-se Liceu Nun’Álvares Pereira. Hoje há-de ser algo parecido… Em breve conversa com jovem que me tirou a foto, recordei-me de mim próprio naquele sítio, com aquela idade, provavelmente com idênticos sonhos.

SE7

E não poderia faltar uma recordação da passagem pelos Jardins do Paço, um dos ex-líbris da cidade a merecerem sempre uma visita atenta, com a sua multiplicidade de estátuas (muitas delas réplicas das originais em bronze pilhadas aquando das Invasões Francesas). É evidente que Castelo Branco merece uma visita mais demorada, principalmente para quem não conheça a capital da Beira Baixa, mas o objectivo é diferente.

Castelo branco - Jardins do Paço

Deixámos para trás a cidade, sempre pela EN18 (o piso melhorou) e em direcção norte. Esperava-nos Alpedrinha e a Serra da Gardunha, de certa forma o aperitivo para o petisco final, a Serra da Estrela.

Serra da Gardunha e Castelo Novo

Se até Alpedrinha a estrada flui quase rectilínea, a subida da Serra não tem grande história, pois é relativamente curta e não muito sinuosa. E as obras de melhoria do pavimento aconselhavam também alguma cautela. Esperava no cimo da Serra poder antever a majestosa Serra da Estrela em frente e no intervalo, Fundão e a famosa (e rica) Cova da Beira. Mas a vegetação quase só deixava antever esse cenário pelo que a panorâmica ficou para depois

Serra da Gardunha - Vista para a Serra da Estrela e Covilhã

Aproximava-se o final da manhã. A próxima paragem seria em Belmonte. Minha terra materna e, pelo adiantado da hora, local ideal para um breve descanso e algum reforço alimentar, leia-se almoço! Mas ainda faltavam uns quilómetros.

Em miúdo, quando fazia o trajecto Castelo Branco – Belmonte ou vice versa, sempre questionei a razão de escolherem a estrada mais longa, pela Covilhã, em vez da alternativa mais curta por Caria. A resposta invariavelmente era: esta tem mais curvas. Bem, se assim é, de curvas é que nós gostamos!

A meio da descida, antes do Fundão, cortei à direita pela EN345 em direcção a Alcaide e mais à frente Caria. E surpresa das surpresas! Uma estrada relativamente estreita, bom piso, bem marcada, quase sempre a descer suavemente, com curvas de diferentes perfis mas sempre bem lançadas, um verdadeiro prazer de condução. A requer apenas algum cuidado extra porque, provavelmente por ter pouco trânsito (o que confirmei!) e alguns caminhos rurais a desembocar, pode apresentar terra e outros detritos nomeadamente nas curvas. O único susto (mais um aviso) destes dias foi aqui e por essa razão, mas nada de significativo. A meio caminho, lá estava enorme a Serra da Estrela. Majestosa, com a Covilhã a seus pés e a galgar encosta acima

Serra da Estrela e Covilhã

Passámos algumas terras cujo contributo para a série “localidades com nomes peculiares” é válido: Terreiro das Bruxas, Enxames (com um curioso “Bem vindos”….sim, sim!), Sra. do Fastio e Panasco! Em Caria vimos também um exemplo da arqueologia das telecomunicações ainda funcional!

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Já a seguir a Caria, a estrada bifurca com as alternativas Covilhã ou Belmonte. Mantivemo-nos na EN345 que nos levaria à terra de Pedro Álvares Cabral, mas curiosamente, a partir daqui voltava o piso algo irregular.

Cerca de 150km depois da partida, chegávamos ao primeiro objectivo do dia. Muito ainda faltava fazer, mas agora era tempo de repousar um pouco e recordar alguns dos pontos de maior interesse desta vila beirã. Com uma história riquíssima, não só por ter sido a terra natal do descobridor do Brasil, e por essa razão ter sempre mantido uma profunda ligação ao “Portugal de lá do Atlântico” mas também por ter sido um dos últimos e talvez o mais importante reduto do povo judaico quando foi expulso do nosso País pelo Marquês de Pombal. A Judiaria belíssimamente conservada e o Museu são pontos a não perder obviamente.

É evidente que não perdi a oportunidade de rever a construção/reconstrução que fizeram no que foi em tempos a casa da minha bisavó…mas com sinceridade, acho que não resultou bem. A original era bem mais bonita apesar de não ostentar uma “típica” fachada de pedra. Mas ao menos a caixilharia era de madeira…

Belmonte - Casa da Bisavó (reconstruida)

Lá ao fundo, a Serra da Estrela esperava-nos!

Belmonte - Vista da Serra da Estrela

A seguir:

Serra da Estrela…e algo mais (2)

Serra da Estrela…e algo mais (3)

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