Honda X-ADV

A curiosidade, a forma, o conteúdo…e o valor de ser diferente!

Usamos acrónimos para nos simplificarem a vida. A utilização de uma sigla desde que o seu significado seja por todos entendido poupa-nos as palavras e as explicações. Mas também envolve generalizações por vezes incorrectas ou injustas.

A Honda X-ADV é vitima de uma dessas injustiças, quando pelas tais simplificações, alguém diz que é como um SUV… das motos. Não creio que seja assim tão simples!

Se bem me recordo, o conceito de SUV surgiu algures em meados do século passado associado a um certo american way of life. Significava “Sub Urban Vehicle” e referia-se aquelas carrinhas familiares com suspensões mais altas e por vezes tracção às 4 rodas, que tanto serviam para levar os filhos à escola ou ao futebol, para a dona de casa ir fazer as suas compras ao Mall mais próximo, para os passeios de fim de semana com algumas incursões em caminhos florestais ou ainda para transportar a família e todas as traquitanas nas longas viagens de férias.

Mais tarde, alguém se lembrou que poderia significar “Sport Utility Vehicle” e traduzir uma imagem mais activa e moderna sem com isso perder a maioria das características do conceito inicial: a polivalência (ainda que essa seja hoje a capacidade de circular em meio urbano sem receio de subir um ou outro passeio ou apenas transmitir uma sensação de maior segurança devido à sua maior altura para condutor e passageiros).

Recordo ainda que em tempos alguém se terá lembrado de algo mais abrangente, mas que curiosamente não “pegou”: o “All Purpose Vehicle” ou APV.

Tudo isto para dizer o quê? Que passadas algumas centenas de quilómetros, a definição que melhor serve ao conceito inovador criado pela marca japonesa com esta X-ADV é precisamente a de um veículo destinado a todas as utilizações. A polivalência absoluta.

Apostaria assim em dizer que a X-ADV é um excelente APV! Mais que um SUV…

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A CURIOSIDADE

Quando a Honda lançou a X-ADV, em 2017, para lá das formas diferentes e inovadoras, muito se questionou sobre qual o mercado-alvo deste novo produto. Quem, vindo das scooters quer evoluir para algo mais radical e divertido sem correr o risco de uma adaptação a uma nova forma de conduzir? Quem, pertencendo ao universo das motos (configuração clássica) pretende algo mais polivalente e prático nos trajectos urbanos sem todavia perder performance? Quem….

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Ao olhar para a X-ADV e depois de ler alguns artigos sobre ela, tudo aponta para que ela vá ao encontro de todos estes “Quem”. E daí a enorme curiosidade em verificar se assim é.

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Afinal…é uma moto? Uma scooter? Sempre tem capacidades “enduristas”? O que ganha – ou perde – com toda esta ambição de polivalência? Será o motor oriundo da NC750, com o seu 7 e meio de 55cv adequado a satisfazer todas estas ambições?

Estas as questões a que pretendo responder de seguida.

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E principalmente, aquela questão fundamental no Viagens ao Virar da Esquina: dá para viajar?

A FORMA

Ao olhar mais distraído, a X-ADV é uma scooter. A sua configuração é de uma scooter com o formato de assento típico, as plataformas para os pés em posição avançada, o espaço debaixo do banco para o capacete…

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Mas, olhando com atenção…o motor está na posição normal numa moto, a transmissão faz-se por corrente, para mais associado à DCT (a excelente caixa automática da Honda da qual sou fã assumido mas que continua a ser algo controversa no meio, do género “ou se ama, ou se odeia”) e não a uma transmissão de variação continua, o guiador veio direitinho da Africa Twin assim como o painel de informação. A altura ao solo e uma roda de 17” à frente (atrás uma de 15”) dão-lhe o ar – e o comportamento – adequado para as incursões em todo-terreno que são o principal factor diferenciador.

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Também as suspensões inspiradas na “irmã maior” dão o seu contributo a esta faceta onde se destaca a invertida de 41mm de diâmetro e 153,5mm de curso à frente e o mono amortecedor traseiro Pro-Link com ajuste de pré-carga na traseira.

Em termos de ergonomia deve-se destacar que a partir do momento que nos sentamos (apesar da altura do assento e da largura das plataformas para os pés) conseguimos colocar os dois pés no chão, as mãos caem naturalmente no guiador e todos os comandos estão no lugar certo. Feita a adaptação à posição de condução… tudo sai com a maior das naturalidades.

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Aqui um pequeno reparo: ao termos no punho esquerdo o travão traseiro e os shifters da DCT, acontece por vezes os dedos procurarem o travão e encontrarem o shifter de subida de mudança, logo…algo ao contrário do pretendido. Admito que com a prática esta tendência se esbata, mas aconteceu um bom par de vezes. Por exemplo, na Africa Twin tal não sucede porque o travão traseiro está no pé direito e a manete, que é do travão de estacionamento, está bem afastada para não ser accionada em andamento. Questão de adaptação, certamente.

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O écran é ajustável manualmente e dá uma boa protecção em andamento. Apenas a velocidades acima das legais se poderá sentir alguma turbulência ao nível dos ombros e braços, mas nada de muito significativo. A leitura do painel é adequada e reúne toda a informação necessária.

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Finalmente um comentário para a estética. Este é um comentário completamente subjectivo. O esquema cromático da X-ADV ensaiada – em tons de cinzento – é discreto e muito clássico (de “classe” e não de “antigo”). Outras escolhas cromáticas poderão dar maior “alegria” visual ou maior destaque na paisagem. Ainda assim, as opiniões dividiram-se entre aqueles que a acharam bonita e os que a “estranharam”… Confesso que não pertencendo à partida aos primeiros, com o hábito e, principalmente depois de a conduzir, gosto…mesmo muito! Mas já lá vamos..

O CONTEÚDO

O motor com 55cv pode à partida presumir-se ser curto para as ambições da X-ADV. Não é! De todo. O binário surge logo desde muito baixo o que faz com que as recuperações sejam surpreendentes, principalmente se nessas circunstâncias sobrepusermos a nossa vontade à da caixa automática. Ou seja, “uma abaixo” e aí vai ela….as ultrapassagens parecem de uma moto maior! E a banda sonora que sai do escape…muito adequada.

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Teoricamente, a velocidade máxima deverá aproximar-se dos 185 reais. Na realidade, às 4.000rpm em 6ª vai a cerca de 117 reais pelo que com o red-line nas 6.300rpm obtemos aquele valor. Naturalmente, são valores teóricos que não experimentei na prática. Posso apenas referir que é perfeitamente natural uma velocidade de cruzeiro em auto-estrada um pouco acima do limite legal e com todo o conforto e segurança, sem se sentir qualquer tipo de vibração nem demasiada perturbação aerodinâmica.

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A DCT é muito similar à da Africa Twin (falei sobre ela aqui).

4 modos de condução: D – Drive onde as passagens de caixa se fazem a baixo regime para uma condução tranquila e mais económica e depois 3 níveis de S-Sport em que as mudanças vão sendo efectuadas em cada um, a rotações cada vez mais elevadas, sendo assim o S3 o mais agressivo. O controlo de tracção tem 2 níveis ou pode ser totalmente desactivado…o que não acontece com o ABS. E ainda temos o botão da transformação: o G-Gravel que se destina exclusivamente ao off-road e maximiza a gestão da mecânica (controlo de tracção e regime do motor)  de forma a garantir o máximo de tracção. O que esta caixa não permite na X-ADV é o funcionamento exclusivamente manual.

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Onde a X-ADV me tocou o coração foi em estradas reviradas. A inserção em curva sempre correcta, a permitir inclinações excelentes que me levavam a questionar onde acabaria o pneu, e a saída em potência (lá está o tal binário a “baixas” e a gestão “manual” pelo utilizador da caixa) em que se sente claramente a roda de trás a “empurrar” o veículo – sensação que não deve ser estranha ao facto de a moto ser mesmo comprida –  tornam a condução nestas estradas verdadeiramente divertida. A permitir até alguma agressividade…de meter inveja a outras motos mais radicais…

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A este comportamento acresce o facto das suspensões que em boa estrada são firmes, em piso mais irregular têm um comportamento exemplar. O que se traduz em confiança, conforto e excelente agradabilidade na condução.

E, a propósito, a experiência em terra não foi prolongada. Alguns pequenos trajectos mas o comportamento é, considerando as suas características, irrepreensível. Não sou expert neste tipo de terrenos, mas depois de ganhar alguma confiança e de lhe perceber o comportamento, estes caminhos fazem-se de forma muito fácil e com elevados índices de divertimento. Onde numa estradista iria com todo o cuidado, lentamente, com a X-ADV…foi como se aquele caminho fosse o seu terreno natural. E até é!

Apenas um reparo. Quem queira utilizar a moto nestes terrenos com frequência, deles queira tirar prazer e fazer uma condução adequada, é fundamental introduzir um acessório: pézeiras de enduro que permitam conduzir de pé. As “prateleiras” não são o mais indicado para o fazer pois não só a posição fica demasiado à frente como, principalmente, não garantem a necessária aderência às botas.

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A X-ADV é mesmo muito divertida de conduzir. E confortável numa utilização quotidiana. Se o trajecto se aproximar das 2 centenas de quilómetros, aí, talvez pela posição tipicamente “scooter” que leva a arquear as costas, o cansaço surge. Ou seja, trajectos em viagem sim mas sem tiradas demasiado longas.

O espaço debaixo do banco é suficiente para guardar um capacete integral desde que o mesmo não tenha apêndices aerodinâmicos. No meu caso, optei por utilizar esse espaço (21 litros) para transportar a bagagem para uma viagem de 3 dias. Coube tudo e ainda mais uma ou outra coisa…com a tranquilidade de não andar com sacos exteriores ou mochila às costas. O capacete ficava convenientemente agarrado à mota com um cadeado (não é a solução ideal mas durante o percurso, como o afastamento e a duração das paragens não eram significativos, servia perfeitamente).

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Ainda a propósito de conforto…o sistema keyless (a “chave” vai no bolso e a moto detecta a nossa aproximação ou afastamento) é superlativo. É chegar e andar…ou desandar, conforme o caso. Prático, simples e cómodo. Um senão apenas…quando mudamos para uma moto sem este sistema, a tendência para deixar a chave esquecida na ignição é enorme…portanto, cuidado!

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Finalmente, o consumo. Fiz uma média de cerca de 4l/100km (ou seja, perfeitamente dentro do valor oficial de 3,7, considerando que não tive preocupações excessivas na economia do fluido que pagamos a peso de ouro), que julgo ser excelente para as características da moto e para o tipo de utilização que lhe dei.

Foi precisamente neste domínio que encontrei o maior defeito da moto (pelo menos para mim que gosto de controlar os consumos e a autonomia em função dos quilómetros percorridos): a certa altura (no alto de Montejunto) a moto entrou na reserva. Estava mais ou menos à espera que tal ocorresse por ali. O que não estava à espera foi que o odómetro fosse substitudo pela expressão “—FUEL –” a piscar e que o indicador do nível de combustível fosse substituído pela indicação 0,1l (que depois mais à frente foi aumentando até chegar a 0,4l). Ou seja, como dizem os brasileiros, “fiquei no mato sem cachorro”. Presumi que a reserva desse para pelo menos 15 a 20km mas sem certezas. E muito menos sem a noção dos quilómetros percorridos o que seria importante considerando que a próxima bomba não estava à mão de semear. Felizmente, algum conhecimento do território minimizou o stresse de poder ficar pendurado…mas não gostei mesmo!

O VALOR DE SER DIFERENTE

A X-ADV custa cerca de 12.000€. Mais 3.500 do que a NC750X DCT que lhe dá o coração e menos 2.500 que a mais barata das Africa Twin que lhe dá a alma. Ou seja, em termos de posicionamento estamos esclarecidos.

Resta saber se, com o que a X-ADV tem para oferecer, a maior parte dos potenciais compradores não preferirá poupar uns euros significativos, por um lado, ou noutros casos, fazer um sacrificiozinho e partir para “algo mais”?

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Ainda assim, julgo que o valor a pagar poderá ter alguma justificação. O equipamento é topo de gama. A ciclística, a mecânica, a caixa automática única no mercado estão lá. A qualidade e fiabilidade Honda estão presentes. A polivalência é real e indiscutível. A X-ADV vai mesmo a todo o lado: o tal “All purpose vehicule” que referi no início. O design e a imagem que transmite são únicas e exclusivas.

E o ser diferente tem um preço! Até porque não existe nenhuma outra moto com estas características no mercado.

O que levanta a questão final:

Para um modelo lançado há 2 anos, poderá querer dizer algo ainda não ter surgido uma rival no mercado?

  • Incapacidade da concorrência em fazer parecido?
  • Ou descrença no conceito inovador?

O tempo, apenas o tempo, nos dará resposta (o mesmo se passa geralmente com conceitos inovadores…primeiro estranha-se, depois….).

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Uma coisa é certa: a X-ADV é uma Honda! Com tudo o que isso representa em qualidade, fiabilidade, performance e adequação perfeita à finalidade para a qual foi concebida.

CONCLUSÃO

Sim! Dá para viajar.

Fiz cerca de 750km durante 5 dias.

Fui ao Autódromo ver as corridas

Percorri o litoral oeste até à Nazaré – com um tempo miserável para o final de Julho.

Virei para o interior, com sol e calor, e visitei algum do rico património da zona centro: Mosteiros de Alcobaça e Batalha. Passei em Aljubarrota e percorri o Castelo de Ourém.

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Já no regresso, diverti-me à grande nas estradas (algumas em estado sofrível mas que fizeram realçar a qualidade das suspensões da X-ADV) das Serras de Santo António – Candeeiros e do Montejunto.

E a cereja no topo do bolo foi percorrer de novo (já o tinha feito à ida) a EN115 entre  Sobral de Monte Agraço e Loures. Ai se ela tivesse bom piso….

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A X-ADV deixa saudades. É uma moto divertida com um conceito original a que ninguém fica indiferente. Motorização q.b. muito bem aproveitada por uma transmissão única no mercado com disponibilidade de binário desde baixas rotações que lhe dá uma genica inesperada . Dotada de uma ciclística excelente e muito bem equipada, transforma-se numa excelente moto em qualquer dos ambientes em que com ela circulemos: urbano, estrada, auto-estrada, off-road.

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É cara, é certo, mas a qualidade e a exclusividade têm o seu preço!

Cada um fará o seu juízo e tomará a melhor opção, certamente.

Uma última palavra: um enorme agradecimento à HONDA PORTUGAL pela cedência desta excelente Honda X-ADV.

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O que é (Estrada) Nacional é bom!

O título soa a cliché mas o aproveitamento da célebre frase publicitária das bolachas e massas revela-se aqui bem verdadeiro.

A paixão assolapada pelo asfalto de um número significativo dos governantes das últimas décadas levou-os a plantar por todo o território dezenas de auto-estradas. Como as estradas que antigamente “faziam o serviço” eram vetustas e construídas debaixo de outros paradigmas, aconteceu aqui um salto qualitativo (na lógica do automóvel, claro) em que passámos de caminhos estreitos, ladeados de árvores e em ritmo de curva e contra-curva para amplas auto-estradas, do melhor que há por esse mundo fora e…regiamente pagas.

As tais estradas, que o Plano Rodoviário de 1945 classificou (e muitas surgiram depois com base nessa lei) como Estradas Nacionais, numerou e apontou origem e destino, foram sendo sucessivamente esquecidas – umas mais que outras em função das necessidades locais. Algumas desclassificadas para Municipais (ou pelo menos a sua conservação ficou na alçada dos municípios) outras “promovidas” a Regionais (sabe-se lá quem manda nelas…).

Mas elas estão aí. Umas mais bem cuidadas que outras. Com mais ou menos trânsito (geralmente menos) ao dispor dos motociclistas que gostam de descobrir o que o País tem para oferecer de mais genuíno e ao mesmo tempo, proporcionar momentos de condução inesquecíveis.

Duas destas estradas povoavam o meu caderno de encargos e por razões diversas:

–  A EN120 que começa em Alcácer do Sal e termina em Lagos, por ser a estrada que atravessa a terra onde vivi até à adolescência e que tem a carga nostálgica de tantas vezes a ter percorrido e

– A EN124 que começa em Portimão e se esgota perto de Alcoutim, atravessando quase todo o interior algarvio, nomeadamente as serranias da zona do barrocal e que há muito tinha a curiosidade de conhecer.

Um convite para ir ao Algarve foi o mote para percorrer estas duas estradas…e mais algumas de bónus!

Dia 1 – Estrada Nacional 120

O dia amanheceu chuvoso (olha a novidade…) e assim permaneceu até cerca de metade da viagem. Nada de relevante e até a proporcionar condições para umas boas fotos ao longo do percurso.

Convém aqui destacar a companheira infatigável para os próximos dias: a Africa Twin DCT (gentilmente cedida pela Honda Portugal) que se veio a revelar uma fantástica máquina para este tipo de percursos com uma polivalência a toda a prova (ver a análise desta experiência aqui).

A primeira paragem foi naturalmente em Alcácer do Sal para marcarmos o início do percurso que me levaria, no final do dia até Lagos. A ponte metálica que une as duas margens do Sado (e que figura nas memórias de muitas gerações que rumavam às paragens algarvias) é o ex-líbris da terra e tem características únicas. Recordando a tipologia de construção “à Eiffel” e inaugurada em 1945, é constituída por 3 tramos dos quais o central é móvel (sobe e desce longitudinalmente) para permitir a passagem de embarcações. Recuperada por alturas de 2007, manteve esta sua característica mas agora com objectivos mais turísticos: para que os galeões do sal característicos da zona possam fazer os seus passeios com os turistas que demandam estas paragens.

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Ponte de Alcácer do Sal
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O início da EN120 com Alcácer em 2º plano

Daqui, parti para os 22km que unem a cidade de Alcácer a Grândola, terra da minha infância e oportunidade para rever um velho amigo. Paragem para café que se prolongou por mais de 2 horas. Tempo suficiente para a intempérie amainar. Estes 22km, outrora a maior recta em Portugal, estavam a ser reasfaltados, obra tão necessária como reclamada há muito mas muito tempo.

De Grândola, rumo a Santiago do Cacém atravessando a Serra a que aquela dá nome. E nada como começar por visitar a Ermida da Srª da Penha, local de romaria grandolense em Domingo de Pascoela e que proporciona uma bela vista para a planície a norte.

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Ermida da Sª da Penha – Vista panorâmica – Lá ao fundo, Grândola

A estrada até Santiago faz-se de forma retorcida cujas curvas ainda perduram na minha memória de tantas vezes a ter feito ao lado dos meus pais. O piso é mediano a recomendar alguma cautela, mas o traçado é a gosto!

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EN120 – Serra de Grândola

Santiago do Cacém passa a correr, apenas o tempo de uma foto e mantenho o rumo a sul.

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Santiago do Cacém

O registo sinuoso continua, agora aproveitando o relevo da Serra do Cercal. Antes da vila do Cercal do Alentejo, na Tanganheira, o primeiro desvio do dia. Não sendo objectivo, seria ainda assim imperdoável não visitar Porto Côvo e vislumbrar a Ilha do Pessegueiro, que conheci muito antes de um tal de Rui Veloso tornar famosos. A paisagem é deliciosa. E os restos do temporal ainda se faziam sentir no mar…

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No Porto Côvo
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Ilha do Pessegueiro

Regressei à EN120 no mesmo ponto e pouco depois passei Cercal do Alentejo. Recordo-me de há muitos anos atrás lá haver uma pastelaria com uns pastéis de nata deliciosos. Fiquei com a recordação, não parei e segui viagem. A partir daqui, a estrada em bom estado, segue num registo mais plano o que não significa que as rectas abundem. Mas tornam-se mais frequentes.

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Casa de Cantoneiros – A caminho de Odeceixe

Passados São Luis, Odemira e São Teotónio, chego a Odeceixe e segundo desvio. A linda praia que leva o nome desta vila aguardava-me para mais uns “bonecos” que o enquadramento paisagístico valoriza.

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Praia de Odeceixe

De novo, regresso à nossa EN120 em Odeceixe. Fica o registo fotográfico junto de um típico moinho altivo e sobranceiro às ruas estreitas e íngremes da vila.

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Odeceixe – Moinho tradicional

Sul era o rumo! E entrámos no Algarve.

Pouco mais abaixo…Aljezur. Terra ancestral, povoada pelos Mouros e conquistada pelos Cristão no Séc. XIII. E 1280 recebe o foral concedido por D. Dinis. Visita ao castelo e oportunidade para testemunhar os efeitos do terramoto de 1755. Na altura, a povoação foi completamente devastada. Então, o Bispo do Algarve, D. Francisco Gomes de Avelar mandou construir a Igreja de Nª. Srª d’Alva num local em frente da antiga vila por forma a que os locais para aí se transferissem e abandonassem os terrenos destruídos nas encostas do Castelo. Assim é possivel hoje vislumbrar os dois aglomerados urbanos que constituem esta vila algarvia.

Daqui, o terceiro e último desvio ao rumo traçado: a praia de Monte Clérigo. Linda!

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Praia de Monte Clérigo

Regresso a Aljezur e à EN120. Pouco à frente o cruzamento que, à direita segue a EN268 até Vila do Bispo e Sagres ou, à esquerda, continua a EN120 rumo a Lagos, atravessando a Serra do Espinhaço de Cão. Por aqui segui.

Esta Serra foi uma agradável surpresa. Recordava-me da má fama de antigamente. Cheia de curvas, estreita…à antiga. Desta vez encontrei uma estrada renovada, mantendo o traçado sinuoso mas com excelente piso, boas bermas e bem sinalizada. Diversão assegurada com curvas muito bem lançadas a possibilitarem uma condução rápida q.b., muito fluída e sempre segura. Muito bom para fim de festa pois Lagos era já ali.

Para um dia que começou molhado, a tarde esteve aprazível…e ainda era muito de dia quando fiz o check in no hotel. Se o objectivo da jornada estava completado, a proximidade do Cabo de S.Vicente era tentadora. Havia tempo para lá ir antes do sol se pôr. E o primeiro e breve contacto com a EN125….autocaravanas e traços contínuos não combinam bem…mas lá cheguei.

As fotos da praxe junto à fortaleza e depois junto ao Cabo…”onde a terra acaba e o mar começa”!

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Fortaleza de Sagres
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Sagres – ao fundo o Cabo de São Vicente
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Farol do Cabo de São Vicente
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Cabo de São Vicente
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Cabo de São Vicente – Farol
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Cabo de São Vicente – Farol
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Cabo de São Vicente
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Cabo de São Vicente

Regresso a Lagos, a hora de jantar estava aí…mas mesmo antes que o sol desaparecesse, uma visita à Ponta da Piedade. Que foi o fecho em beleza deste dia!

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Lagos – Ponta da Piedade
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Lagos – Ponta da Piedade

No dia seguinte….EN124!

Dia 2 – Estrada Nacional 124

Quando falamos em estradas algarvias, logo nos vem à mente a famigerada EN125. Perigosa, congestionada, mais uma via urbana pejada de turistas do que uma verdadeira estrada. Para lá da Via do Infante, uma outra estrada atravessa o Algarve. A EN124 que a partir de Silves toma o rumo Poente-Nascente, vai desaguar perto de Alcoutim e com vistas para o Guadiana. Esse era o objectivo principal deste segundo dia.

Saí de Lagos e até Portimão, uma volta pela Meia-Praia. Depois, mais um pouquinho da EN125 e chegada a Portimão. Que se atravessa rapidamente até à Praia da Rocha. Aqui seria a saída simbólica para a “outra estrada algarvia”: a EN124!

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Praia da Rocha
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Praia da Rocha

A Praia da Rocha, que há muito não visitava, está tão diferente relativamente ao que tinha em memória. Significa que não passava por lá há muito, mesmo muito tempo!

Depois, para norte e à saída de Portimão, aí está a EN124. Que me levaria até Silves, passando porto Porto de Lagos onde inflecti para nascente.

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EN124
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Silves

A seguir, até S. Bartolomeu de Messines onde rapidamente cruzo com a A6 e a antiga “estrada do Algarve” hoje chamada IC1. Até aqui, a estrada em bom estado segue sem grande interesse que não seja a paisagem e algumas pequenas povoações do interior que nada têm a ver com as imagens estereotipadas do Algarve….

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EN124 – Para trás ficou Silves…
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Aqui hesitei! Sigo em frente ou vou directo para a Califórnia?

A partir daqui, mas principalmente depois de Alte, começa a diversão. A Serra do Caldeirão que iria atravessar longitudinalmente estava aí! À espera!

Salir passa rápido e, curvas e contra-curvas sucessivas, chego a um ponto fundamental deste dia: o cruzamento da EN124 com a EN2 no Barranco do Velho.

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Cruzamento da EN124 com a EN2

Com uma nota muito curiosa: fazia precisamente um ano que por lá tinha passado, vindo de Chaves e quase a chegar a Faro, cumprindo os 738,5km da EN2. E mais ainda, praticamente à mesma hora. Celebrada a efeméride…segue viagem!

Se até aqui já tinha havido diversão, a seguir seria um festim até à aldeia do Pereiro onde uma surpresa me aguardava.

Até lá, paisagens deslumbrantes, vistas a perder de vista pelo barrocal algarvio. Estrada sinuosa e muito divertida, com bom piso, tráfego quase inexistente e a Africa Twin a portar-se maravilhosamente. Um regalo!

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Barrocal algarvio
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Barrocal algarvio
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Arqueologia rodoviária…
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Barrocal algarvio

Ao chegar ao Pereiro…uma movimentação estranha e a estrada pejada de gente. Uma feira, daquelas tradicionais, com as inúmeras barracas que vendem desde atoalhados, sapatos, utilidades domésticas ou fatiotas mais ou menos domingueiras, até aos produtos típicos da região e não só – os cheiros dos queijos e enchidos andavam pelo ar – bordejavam a estrada aqui feita rua principal. Até um daqueles vendedores de banha-da-cobra que anunciam aos seus potenciais compradores que “não levam um, não levam dois…mas levam 3 belíssimos cobertores…ou toalhas… ou o que for…”, sempre com inegáveis vantagens pela beleza e qualidade do produto! Já para não falar no preço. Quase dado… Era a Feira de S. Rafael (curiosamente o santo padroeiro dos motociclistas!).

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Pereiro – Feira de S. Rafael

O GPS antecipou algum desejo e mandou-me para uma rua lateral…onde 2 ou 3 rulotes de bifanas e cachorros abasteciam os mais esfomeados. O meu caso, portanto…

As surpresas não tinham terminado. O simpático proprietário de uma delas também é motociclista. E preparava-se para, alguns dias depois, se abalançar à EN2. Adivinhem lá qual foi o tema de conversa…

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Companheiro motociclista…

Ainda havia alguns quilómetros a fazer, pelo que avancei. Uma paragem para sinalizar o final da EN124.

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Final da EN124

8 km depois, Alcoutim. O Rio Guadiana é aqui rei. Navegável até bem mais a montante, permite que a paisagem seja enfeitada com alguns barcos de recreio. E defronte a Alcoutim, debruçada num anfiteatro natural sobre o rio, a espanhola Sanlúcar de Guadiana.

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Alcoutim
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Castelo de Alcoutim
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Sanlúcar de Guadiana

Casario branco, ruas estreitas encimadas por um nobre e altaneiro castelo a recordar a má vizinhança em algumas épocas passadas, com o pessoal da outra margem.

De Alcoutim, e concluida a EN124, principal objectivo do dia, o destino era agora Monte Gordo onde um belo quarto de hotel me aguardava para o necessário descanso. Mas até lá…

Em vez de recorrer à EN122 que me conduziria directamente a Vila Real de Santo António, optei pela M507, a Marginal do Guadiana. Esta estrada, com piso regular e muitas curvas, acompanha o curso do rio e a própria orografia do terreno. Ora sobe, ora desce, umas vezes junto à margem, outras um pouco mais afastada. Linda esta estrada! A convidar a um ritmo de passeio para assim desfrutar das diversas cambiantes da paisagem.

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Marginal do Guadiana
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Marginal do Guadiana

No Montinho das Laranjeiras, passo por umas escavações arqueológicas que bem atestam a antiguidade da presença da civilização por estas paragens. Depois Guerreiros do Rio e Foz do Odeleite onde a estrada inflecte para o interior. Ainda vislumbrei a Barragem de Odeleite.

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Barragem de Odeleite
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Barragem de Odeleite

Em Odeleite, aí sim, a EN122 até Castro Marim e depois até Vila Real de Santo António. Estava concluída a jornada. Não sem antes fotografar o farol mais oriental do Algarve…depois de na véspera ter estado junto do mais ocidental.

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Vila Real de Santo António – Farol

Dia 3  – Pelo Sotavento Algarvio

O dia amanheceu bem cedo. A insónia atacou….e  às 6:42h a oportunidade para ver o nascer do sol na praia. Lindíssimo!

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Monte Gordo – Nascer do Sol
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Monte Gordo – Nascer do Sol

Depois…fazer tempo para arrancar. A Africa Twin tem uma característica muito própria: o seu trabalhar não é discreto! Nada discreto…e assim, resolvi não acordar a vizinhança do hotel e só por volta das 9 retomar a estrada.  Fui percorrendo as praias que bem conheço da época balnear mas agora tão diferentes sem a parafernália de artefactos para banhistas nem os mares de gente habituais do Verão.

Sucederam-se Praia Verde, Altura e Manta Rota. 

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Praia Verde
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Altura
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Manta Rota

Depois, visita um pouco mais demorada a uma das pérolas desta zona: Cacela Velha.

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A caminho de Cacela Velha
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Cacela Velha
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Cacela Velha
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Cacela Velha
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Cacela Velha
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Cacela Velha – Fábrica
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Cacela Velha – Fábrica

Finalmente, Tavira percorrida sem paragem e uma ida até ao embarcadouro dos barcos para a Ilha de Tavira.

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Tavira
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Tavira
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Tavira – Arraial Ferreira Neto
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Tavira – Forte
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Tavira – Salinas

No regresso, ainda uma paragem em Cabanas de Tavira.

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Cabanas de Tavira

Não estava terminado o périplo…Castro Marim aguardava-nos, com as suas duas fortalezas, o Castelo e o Forte de S. Sebastião. E a vista magnífica para a foz do Guadiana, em baixo Vila Real e defronte, a espanhola Ayamonte.

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Castro Marim
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Castro Marim
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Castro Marim
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Castro Marim

O ponto final seria na Ponta da Areia em Vila Real de Santo António. Uma língua de areia que acompanha a foz do rio e entra mar adentro e que é, fisicamente, o ponto final de Portugal a sudeste. Dali para a frente…ou Guadiana ou Oceano Atlântico!

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VRSA – Ponta da Areia
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VRSA – Ponta da Areia

Uma boa forma, simbólica de terminar este dia. O que faltava…passou-se na praia…e foi aqui que, 14 horas depois de uma magnífico despontar do astro-rei, resolvi que o pôr do sol também deveria ter honras de registo. Aqui fica:

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Monte Gordo – Pôr do Sol

Em 3 dias, percorri 2 estradas que eram há muito desejadas. E superaram as expectativas. Visitei ainda algumas paragens conhecidas em alturas mais veraneantes.

Percurso
EN120 / EN124

Afinal…uma Viagem ao Virar da Esquina!

Pyrenaeos 2019 – parte 2

Na 2ª parte da travessia dos Pirenéus chegámos ao Cap de Créus e ao Mediterrâneo.
Em Figueres vivemos o mundo de Salvador Dali e no regresso, Vic, Lerida e Saragoça foram local de paragem. Sem esquecer o Museu de la Moto em Bassella.

2 MOTOS.  7 DIAS.  3.400KM.  MILHARES DE CURVAS.

SOL E CHUVA.  CALOR E FRIO.  MAR E MONTANHA!

Pirenéus é o nome da cordilheira de montanhas que desde o Golfo de Biscaia até ao Mediterrâneo separa a Península Ibérica do resto da Europa Continental. A sua altitude máxima é superior a 3.400m mas existem cerca de 200 picos acima dos 3.000 metros. Daí aquele aspecto de verdadeira muralha que começamos a vislumbrar a mais de 100km de lá chegar. E se mete respeito…

O nome deriva do latim Pyrenaeos (que escolhemos para mote da nossa viagem) e terá nascido do termo clássico grego Pyrenaia.

Pyrenaeos logo

Em Andorra-a-Velha começámos a segunda parte da nossa viagem. Que seria bem diferente….só que ainda não sabíamos!!!!

PYRENAEOS 2019
11 Junho – Dia 4

E ao 4° dia…tudo mudou!

Antecipámos intempérie a norte de Andorra, virámos agulha para sul….
…e apanhámos com um dia “fantástico”!

A acreditar na TV catalã, foi o 3° dia com mais chuva esta ano! E nevou por todo o lado, nalguns casos a partir dos 1.200m.

Se tivéssemos ido para Norte, tinha corrido mal de certeza!

Assim, fizemos 200km debaixo de chuva intensa e contínua. Percorremos uma estrada de montanha com mais de 40km de extensão e andámos pelos 1.800m. Com a temperatura a 3°!!! E não…não apanhámos neve. Por um triz!

Para ajudar à festa, a protecção que julgava ter não funcionou…as calças pareciam de fazenda, as botas alagaram, as luvas tiveram que ser torcidas para escorrer a água acumulada!

Por tudo isto…foram cerca de 3h e meia de condução ininterrupta com temperaturas sempre abaixo dos 10°. O risco de hipotermia foi real. E as falhas de concentração na condução também…

Em resumo, o meu pior dia em cima de uma moto! Já passou….

E afinal o que fizemos hoje?

Saídos de Andorra, apanhámos a N260 da véspera e iríamo-nos divertir imenso em La Collada de Toses. Mais de 40km de sobe e desce, curvas de toda a maneira e feitio…

Pois…o S.Pedro virou costas e lixou a diversão.

Ou seja, 3h e meia depois chegámos a Figueres, terra do Salvador Dali.

O resto da tarde serviu para reconhecer o terreno e tirar algumas fotos.

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Figueres: terra de Salvador Dali – Arte urbana

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Amanhã é dia de “descanso”. Antecipa-se a visita ao Museu Dali e formalizarmos a conclusão da travessia dos Pirenéus na ponta mais oriental da Península ibérica: no Cabo Créus! E descansar ….e secar o equipamento, porque na 5a. feira iniciamos o rumo a ocidente e o regresso a Portugal.

Hoje, a colheita fotográfica foi mais pobre…

(PV) – Por muito programadas que as viagens sejam, há sempre o risco do imprevisto. E aqui, o entrosamento entre os viajantes é fundamental para se tomarem as decisões (as decisões são tomadas no momento…se são as melhores ou não, é avaliação a fazer no final).

A primeira grande decisão foi alterarmos o plano inicial que previa a saida de Andorra em direcção a norte, para entrarmos em França em Pas de la Casa. Tal implicava passarmos perto do Col d’Envalira e de seguida também pelo Col de Puymorens. Andaríamos a rondar os 2.000m senão mais. As previsões atmosféricas não eram famosas: 100% de probabilidade de chuva e temperaturas mínimas a rondar os 2 ou 3⁰. Ou seja, alta probabilidade de neve e de gelo na estrada. Perigoso…

Decidimos assim regressar a Seu d’Urgell e retomar a N260, na expectativa que as condições meteorológicas fossem mais amenas.

Amanheceu chuvoso, ainda fizemos uma compra ou outra sempre debaixo de chuviscos persistentes mas nada de muita aflição. Seguimos viagem e, no meu caso confiante que o fato seria pelo menos suficiente.

Subestimámos o clima.

Sobrestimei o fato!

À saída de Andorra senti alguma humidade nas pernas e mais à frente confirmei…as calças já tinham sido impermeáveis! Agora não. As botas…já anteriormente tinha tido uma má experiência com entrada de água mas não supunha que fosse uma costura envelhecida. Também as segundas luvas (as primeiras eram de Verão), eram boas para o frio…se se mantivessem secas. Não foi o caso. Salvou-se o blusão porque milagrosamente tinha um corta-vento escondido debaixo do banco da moto. A ordem era para seguir e nunca se nos colocou a hipótese de abortar a etapa e antecipar o dia de descanso. Mas o que aí vinha…

51km debaixo de chuva ininterrupta, como aconteceria até ao final do percurso, e com a temperatura bem abaixo dos 10⁰. O equipamento ia ensopando e a velocidade não ajudava nada… Pouco depois de Puigcerdá, os 48km da Collada de Toses. Quando começamos a subir, dois sinais me alertaram que a coisa ia doer! Primeiro um que dizia “Carretera de Alta Montaña” (o resto não consegui ler…e ainda bem!) e um segundo que indicava a altitude a 1.400m (e era só o primeiro). Pois bem, 48km, temperatura nos 3⁰ e 4⁰, chuva intensa e estrada bem sinuosa, revirada, até cerca dos 1.800m, que subimos e descemos! Gelei ao ponto de temer entrar em hipotermia. E sempre com a máxima atenção à estrada pois nestas condições não permitia brincadeiras.

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Collada de Toses – 11/6/19 – Inesquecível! 3º C Chuva persistente
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Collada de Toses – 11/6/19 – Uma lição… … e uma dívida a pagar em futura viagem!

A certa altura passámos por um carro da Proteccão Civil local parado à beira da estrada. E pouco depois cruzámo-nos com outro que vinha em sentido contrário ao nosso. Provavelmente preparavam-se para fechar a estrada… E este facto merece registo! A atenção ao detalhe e à segurança. Vigilância permanente! E outro ainda…o cuidado com a manutenção das estradas. Uma equipa ainda numerosa e com bastante equipamento, fazia reparações na estrada, apesar da intempérie. Vá lá que estavam adequadamente vestidos…não como certo incauto motociclista!

Quando tivemos que parar junto a essas obras, os dedos da mão esquerda doíam com o frio. Uma paragem providencial, em que coloquei a mão em cima da cabeça do motor da moto do Jaime! Recuperei alguma temperatura e a mão voltou a funcionar. Acabada a Collada de Toses, faltavam mais cerca de 100km até Figueres. Ainda ponderámos parar antes. Mas perdido por dez, perdido por mil, lá chegámos depois da mais difícil e sacrificada jornada em cima de uma moto que já tive.

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Depois de descalçar as luvas (ensopadas!) o resultado era este…

A nota obrigatória: hoje rimo-nos deste dia. As mais de 3 horas consecutivas em cima da moto foram desagradáveis e uma provação. Mas acima de tudo uma lição! E que lição!!! Com equipamento adequado, alguma diversão teria tido (embora deteste conduzir moto com chuva) e a coisa teria corrido melhor certamente!

A chegada ao Hotel teve tanto de salvadora e providencial como de anedótica: passado quase uma hora, quando já restabelecidos e secos saímos para uma volta pela cidade…ainda estava na recepção a poça de água que lá tinha deixado à chegada!!!

Teria sido melhor tomar a decisão de antecipar e  fazer o dia de descanso em Andorra? Porque os dias seguintes foram solarengos. Não conseguiremos saber. Porque afinal…as coisas até correram bem. Mas correcta a decisão de não rumar a norte. Teria sido bem pior…

Para terminar, referir que à noite, os noticiários da TV abriram todos com a noticia da verdadeira intempérie que assolou os Pirenéus e zonas adjacentes. Nevou em alguns sitios acima dos 1200m, num local a temperatura desceu abaixo de zero e am Barcelona foi o 3º dia mais chuvoso do ano…em Junho. Nos dias seguintes iríamos deleitar-nos com a visão dos picos dos Pirenéus cobertos pelo branco da neve deste dia!

Apesar de tudo isto pudemos ainda constatar que esta zona da Catalunha, ainda inserida nos contrafortes dos Pirenéus mostra alguns sinais de um antigo esplendor industrial (a que não será estranho os inúmeros rios que provêem da cordilheira e que forneciam a água necessária para as máquinas a carvão e as vias para o escoamento dos produtos) hoje quase ou totalmente ao abandono, nas principais localidades que atravessámos. Também os campos não têm o esplendor do lado mais ocidental das montanhas, com uma ruralidade mais agreste a fazer lembrar alguns pedaços do nosso país. Tal como alguma sonoridade, fonética ou vocabulário da língua…

Outro aspecto: o espirito nacionalista está mesmo muito acirrado na Catalunha. Sem fazer quaisquer juízos de valor, é impossível não deixar de perceber o pulsar da vontade de autonomia/independência, seja por graffitis, seja pelas inúmeras bandeiras e outros símbolos em janelas, varandas e outros locais onde seja possível pendurá-los. Há aqui certamente um problema por resolver…

PYRENAEOS 2019
12 Junho – Dia 5

Depois do dilúvio da véspera, o dia de “descanso” surgiu solarengo e risonho. A provar que o S. Pedro anda armado em cão com pulgas. É que não havia necessidade…

Adiante!

Ontem chegámos a Figueres (ensopado, ja comentei? Na recepção do hotel, passado algum tempo ainda lá estava a poça de água que deixei quando fiz o check in…).

Figueres, terra natal de Salvador Dali. Por isso, a manhã foi dedicada ao Museu Dali. Onde pudemos apreciar a genialidade e a criatividade desta figura tão excêntrica quanto racional.

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Teatro Museu Dali
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Teatro Museu Dali – Pormenor da fachada
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Pintura em estereograma: nesta perspectiva, o busto de Abraham Lincoln…
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….mas aqui, um corpo feminino.
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Tudo depende do ponto de onde se olha… A genialidade de Dali, logo à entrada no museu!

Depois de cerca de 2 horas de visita (algum excesso de visitantes, diga-se) e deslumbrados, foi tempo de almoço. E depois, acertar algumas contas:

– irmos ao quilómetro 0 da N260 para fecharmos este capítulo de uma estrada que tem tudo, mas tudo mesmo, para ser uma das rotas míticas do pessoal das motos. É fantástica! Diversão absoluta entre Sabiñanigo e Portbou junto à fronteira com França.

– visitarmos o Cabo Créus. A ponta mais oriental da Península e também escolhida para ser o nosso fecho da travessia dos Pirenéus, que recordo, começou simbolicamente no Cabo Higuer, em Hondarribia no mar Cantábrico. Unimos o Atlântico ao Mediterrâneo.

Finalmente, para fecharmos a jornada, conhecer Cadaqués. Estância turística por onde passaram figuras como Dali ou Picasso. E lindíssima! Uma pequena baía de um mar azul forte e com o casario branco disposto em anfiteatro à sua volta.

No meio disto tudo, acabámos por ainda fazer 129km…e convém salientar que a esmagadora maioria foram daqueles bem divertidos…não esteve mal para “descanso”!!!!

No total levamos já 2.023km.

Amanhã começa a viagem de regresso!

(PV) – O dia de descanso tem menos que contar. Até porque o prato forte – o Teatro  Museu Salvador Dali – não é possível descrever por palavras.

Mas enquanto esperávamos pela entrada, oportunidade para visitar a vizinha Igreja do Santo Padre:

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Quanto ao Teatro Museu Dali, tendo sido inaugurado na década de 70 do Séc.XX presumimos que a sua concepção se deve ao genial e excêntrico criador. E a forma como o próprio edifício está estruturado e o seu design são ilustrativos da criatividade de Dali. Tudo está feito de forma a realçar todas as vertentes criativas e de exploração das diferentes técnicas artísticas. As palavras são insuficientes. E o espaço disponível para colocar todas as fotos tiradas também… Fica a recomendação. Vale a pena visitar Figuéres. É fundamental visitar a obra do genial criador. Até eu que não sou (era) propriamente um conhecedor ou admirador fervoroso saí de lá completamente estarrecido. Fantástico!!!

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Mais de 2 horas de lenta visita, pois entrámos por volta das 11h e nessa altura estava pejado de excursionistas o que tornou o início da visita algo penoso. Mais perto da hora de almoço estava muito mais tranquilo. Talvez o ideal seja programar a visita para as 12.30 e passar lá esse período. Fica a sugestão…

Quem queira ver a colecção completa de fotos (exterior, interior e espólio em exposição – 326 fotos) é seguir o link:

TEATRO MUSEO DALI – FIGUERES – CATALUNHA

De seguida fomos almoçar numa aprazível esplanada no centro da cidade. Quem diria o suplício 24 horas antes!

Depois…fechar alguns temas em aberto.

Desde logo, sair em direcção a norte para alcançarmos o quilómetro 0 da N260. Era a “homenagem” que queríamos fazer a uma estrada que verdadeiramente nos apaixonou. Assim, fomos até à fronteira com França, em Portbou. E, surpresa….tivemos diversão até mesmo à fronteira. Com o beneficio adicional de à nossa esquerda, em baías sucessivas, termos o azul forte do Mediterrâneo. Lindo!

Voltámos atrás cerca de 20km e virámos à esquerda em direcção a Cadaqués. Mais uma atestadela, ligeira paragem junto à praia em El Port de la Selva para a foto da praxe e ao chegarmos à entrada de Cadaqués …

…rumo ao Cabo de Créus.

A ponta mais oriental da Península Ibérica e o final simbólico da nossa trans-pirenaica. Até aqui, a estrada tinha continuado a dar-nos a luta que gostamos. Pirenéus até ao fim!!!

Os 12km até ao Cabo justificavam algum cuidado. Apesar de alcatroada, a estrada não é boa, sem marcações e nalguns casos a requerer atenção. Mas que linda é a aproximação ao Cabo. Selvagem. Agreste. Quase lunar… fora deste mundo!

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A caminho do Cabo de Créus

Encerrámos aqui a travessia dos Pirenéus. Mas não a viagem. Nem as estradas reviradas e desafiantes.

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Cabo de Créus O final da travessia transpirenaica iniciada no já longínquo Cabo de Higuer em Hondarribia
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Viagens ao Virar da Esquina na ponta mais oriental da Península Ibérica

Passámos o resto da tarde e início da noite em Cadaqués. O nosso festejo de Santo António…

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Cadaqués
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Cadaqués
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Cadaqués
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Cadaqués

É uma vila paradisíaca onde, talvez por isso, passaram visitantes famosos: o já referido Salvador Dali, mas também Pablo Picasso, entre outros que vão sendo registados na memória das placas colocadas nas paredes das casas onde viveram.

Uma baía com um mar azul forte e ligeira ondulação, populado de pequenas embarcações (maioritariamente de recreio) e com o casario branco de um ou dois pisos disposto em anfiteatro. Uma marginal de uma ponta à outra a possibilitar um ameno passeio e saborear a calma de uma estância de veraneio fora de época (a apetitosa gelataria…fechou antes das 21h…quando lá chegámos, nada!).

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Sem gelado, a sobremesa foi outra. Mais uma quinzena de quilómetros de curvas e contra curvas até nos começarmos a aproximar de Figuéres. Não foi menos saborosa…explorar o conta-rotações e a aderência dos pneus ao lusco-fusco…delicioso!

No dia seguinte começava o regresso. Muito ainda para ver, mas …sempre o regresso.

PYRENAEOS 2019
13 Junho – Dia 6

Depois de ontem termos fechado o capítulo Pirenéus (achávamos nós…) hoje era tempo de começar a traçar o caminho de regresso.

Saímos de Figuéres com ligeiro atraso devido a um quid pro quo entre o despertador e o fuso horário. Nada de preocupante e perfeitamente recuperável…

A primeira paragem para pequeno almoço e visita demorada foi em Girona. A Catedral e as muralhas do castelo bem como o bairro judeu mereceram a nossa atenção. A Catedral é lindíssima.

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Feito o périplo, rumámos a Vic onde tínhamos como objectivo ver o centro desta antiquíssima cidade. A Praça Central onde às terças e sábados se realiza uma feira cujas origens remontam ao século XII e o Templo Romano praticamente intacto e construído há 2.000 anos foram alvo da nossa atenção.

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Depois o prato forte da jornada: em Bassella (localidade a uma distância razoável de nenhures) fica situado um dos maiores museus de motos da Europa. E lá investimos cerca de 2 horas do nosso tempo. Não foi necessário correrem connosco mas…quase!

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Museu de la Moto – Bassella
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Museu de la Moto – Bassella
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Museu de la Moto – Bassella
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Museu de la Moto – Bassella

Disse no início que pensávamos já ter fechado o capítulo dedicado aos Pirenéus. Mas não! Todo o dia, mas principalmente quando saímos de Vic em direcção a Bassella, fomos tendo ao nosso lado direito a companhia dessas imponentes montanhas…agora com os cumes pintados de branco graças à malfadada intempérie de há 2 dias! Chegámos a estar a menos de 100km de Andorra…e a tentação foi forte…

Finalmente chegámos ao final da etapa: Lérida. E à noite um pequeno passeio apenas para ficarmos deslumbrados com a espantosa catedral. Que domina imponente a cidade. Património da Humanidade perfeitamente justificado.

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Lérida: Catedral
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Lérida
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Lérida: Catedral
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Lérida: Catedral
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Lérida: Catedral
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Lérida: Catedral

Hoje foram mais 308km. No total já levamos 2.331km desde a saída da Capital do Império (como alguns invejosos lhe chamam).

Amanhã, continuaremos a aproximar-nos de Portugal. Uma visita atenta a Saragoça e depois….quilómetros….quilómetros e quilómetros. Que isto de atravessar os 5/6 da Península que não nos pertencem têm muita mão de obra!!!

Amanhã vos contarei como foi.

(PV) – A viagem até Girona não teve história. Já o centro desta cidade catalã tem. E muita. A mais recente diz respeito ao facto de ter oferecido os cenários para as 5ª, 6ª e 7ª temporadas da série Guerra dos Tronos (como não acompanho, não consigo fazer o paralelismo…mas fica a indispensável referência).

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Para lá da visita ao seu Castelo e muralhas que nos permitiram ter uma visão panorâmica da cidade, de todo o espaço que a rodeia e lá ao fundo, a presença dominante dos Pirenéus, de percorrermos as ruas estreitas e empedradas do centro histórico, é evidente que sobressai a Catedral. Imponente e majestosa, possui a maior nave gótica do mundo, o que bem atesta a sua dimensão.

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Girona: Catedral
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Girona: Estátua dos primórdios da cristandade
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Girona: vielas
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Girona: escadaria da catedral
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Girona. pormenor da fachada da catedral
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Girona: vielas
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Girona: vielas
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Girona
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Girona: vielas
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Girona
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Girona: e a Catedral à mão de semear!

De Girona, um pequeno salto até Vic. Demorámos a encontrar o centro. As principais ruas em obras dificultaram a tarefa apesar de a cidade não ser grande. Sobressai, atestando a sua muita antiguidade, um templo romano do Séc I em excelente estado de conservação bem como a praça central onde desde o século XIII se fazem regularmente feiras.

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Vic: Plaza Mayor
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Vic: Templo Romano (Séc I)
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Vic: ruinas
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Vic
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Vic

Visita feita, almoço despachado lá nos lançámos novamente à estrada. O destino ficava a cerca de 100km e teríamos que nos desviar em direcção a noroeste. O que desde logo nos levou a reaproximarmo-nos dos Pirenéus (Andorra chegou a estar a cerca de 80km….e a tentação surgiu…) e a vislumbrarmos os altos cumes da cordilheira agora bem coloridos de branco. E a intempérie tinha sido apenas na antevéspera!

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Pirinéus cobertos de neve. E por ali andámos…

Onde íamos? Visitar o Museo de la Moto, localizado em Bassella. Onde? Isso mesmo! Bassella…algures no meio de nenhures! Mas atenção…o Museu vale a pena a deslocação. E o tempo lá passado é uma visita ao historial do mundo motociclista. É uma peça fundamental na nossa cultura motociclista. Logo à entrada, uma VFR cortada ao meio para conseguirmos perceber as suas entranhas. E depois, por ordem cronológica, inúmeras marcas e modelos que fizeram a história deste mundo e as paixões de motociclistas desde os finais do Séc. XIX.

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Museu de la Moto – Bassella
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Museu de la Moto – Bassella
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Museu de la Moto – Bassella
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Museu de la Moto – Bassella
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Museu de la Moto – Bassella

Onde ficou a retina? Na Norton Manx…por exemplo!

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Museu de la Moto – Bassella Norton Manx – mítica!

A reportagem fotográfica completa (131 fotos) está no seguinte link:

MUSEU DE LA MOTO – BASSELLA (LÉRIDA) – CATALUNHA

Visita feita e digerida, rumo a Lérida para aquela que ainda não sabíamos ir ser a nossa última noite da PYRENAEOS 2019…

EM Lérida, cidade antiquíssima,ainda houve tempo para uma visita.

A Catedral de la Seo Vieja (Sé Velha) inserida no vasto espaço fortificado do Castelo de Gardeny  e situada no cimo de uma colina sobranceira à plana cidade, é imponente. Lindíssima…e a iluminação adequada a somar à luz natural do lusco fusco, ainda acentuou mais a majestosidade daquela construção, cujo inicio remonta ao início do Séc XIII e assenta nas ruinas de antiga mesquita árabe. Depois, descemos pelas estreitas ruas que conduzem à avenida que margina o Rio Segre. Algo sujas, com população predominantemente magrebina…pelo menos aquela hora não nos cativou.

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Lérida
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Lérida: Catedral
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Lérida: Catedral
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Lérida: Catedral
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Lérida

Nesta altura, algum cansaço já nos dominava. E a tradicional “saudade”, conceito tão lusitano, também. Havia que tomar opções para o ou os dias seguintes. Estava assente a visita a Saragoça. Até porque sempre por lá passaríamos. Mas o resto dos planos – Cuenca, Aranjuez e Toledo – estava em dúvida. No dia seguinte decidiríamos…

 

PYRENAEOS 2019
14 Junho – Dia 7
E foi o último dia!

Querem um conselho? Nunca deixem algo de Espanha para ver na viagem de regresso…porque quando começamos a pensar na travessia do “deserto”, os quilómetros que faltam e o território (quase) inóspito, só apetece terminar o mais rapidamente possível.

Foi o que se passou connosco. Depois de tomada a decisão de regresso e deixar algumas coisas (Cuenca, Aranjuez, Toledo) para uma outra oportunidade pela Meseta Castelhana (não é possível ir a tudo na mesma viagem…lição aprendida!) ainda pensámos dividir o regresso em 2 etapas…mas com a preciosa ajuda do Google Maps percebemos que era viável fazer a tirada directa e chegarmos a horas decentes.

Recordo que na véspera tínhamos ficado em Lérida. Cidade monumental mas que nos deixou ideias contraditórias: Zona monumental espectacular e uma zona ribeirinha sempre interessante. Mas “perdemo-nos” pelo seu interior e…não tão bonita…

E para este dia, para lá da estrada (estávamos quase a 1.100km de Lisboa) ainda tínhamos programado visitar Saragoça.

Cidade de grande dimensão, cosmopolita e com uma vida nas ruas absolutamente notável. Dava a sensação que as pessoas andavam nas ruas bem dispostas e com um sorriso no rosto…

Quanto à parte monumental….é mesmo monumental!

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Saragoça: Basílica de Nuestra Señora del Pilar
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Saragoça: ruinas romanas
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César Augusto, Imperador Romano fundador de Saragoça
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Saragoça monumental
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Saragoça monumental (arte mudejar)
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Saragoça monumental
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Saragoça monumental
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Saragoça monumental – Ayuntamiento
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Saragoça monumental (arte mudejar)
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Saragoça monumental
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Saragoça monumental (arte mudejar)
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Saragoça monumental
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Saragoça monumental – ruinas da muralha
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Saragoça: Puente de Piedra
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Saragoça – Basílica
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Saragoça monumental
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Saragoça: Catedral
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Saragoça: Basílica

Sendo um dos principais (senão o principal) pontos de intersecção de diversas culturas – foi fundada pelo Imperador Romano César Augusto, foi importante centro à época do domínio árabe e é um ponto de referência do cristianismo (é aqui o primeiro local onde surge o culto mariano, no séc I da nossa era) – isso transparece na arquitectura de diversos monumentos nomeadamente na impressionante e imponente Basílica de Nossa Senhora do Pilar, a chamada arquitectura mudejar.

No final ainda desfrutámos de uma feira medieval que neste dia se iniciava.

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Saragoça: Feira Medieval
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Saragoça: Feira Medieval
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Saragoça: Feira Medieval

Também não perdemos um olhar pela Saragoça castiça…a prometer uma futura visita mas por horas mais tardias…bem mais tardias!

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Saragoça tipica (…e a servir os Clientes há mais de 100 anos…)
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Saragoça tipica: publicidade mural
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Saragoça tipica: bares e tascas
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Saragoça tipica: bares e tascas
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Saragoça tipica: bares e tascas
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Saragoça tipica: bares e tascas
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Saragoça tipica: bares e tascas

Feita a visita…apontámos a ocidente. Nesta altura, ainda pensávamos vir pernoitar algures depois de Madrid. Quando nos aproximámos dessa meta, consultámos o Google Maps e vímos quanto tempo ainda faltaria para Lisboa. Nem foi preciso dizer nada! Motores a roncar…e ala que é caminho!!!

Paragens diversas para atestar e esticar as pernas…reabastecimento alimentar perto da fronteira em Badajoz e…cerca da meia noite entrávamos na Ponte Vasco da Gama. Chegávamos e terminávamos esta espectacular viagem.

Camaradagem e amizade.

Paisagens espectaculares e o mais diversificadas possíveis- mar, montanha, sol, calor, chuva, frio extremo.

E estradas….FANTÁSTICAS!!!! Verdadeiras lições de condução e diversão até mais não! Cada vez que revejo mentalmente o Col de Bonaigua (perto de Baqueira-Beret) ou outros que percorremos só dá vontade de….voltar já! E na Collada de Toses….ficou uma dívida que tem que ser paga em futura viagem!

Registem o seguinte: estrada N260! Mítica! Imperdível!!! De Portbou no Mediterrâneo até Sabiñanigo nos Pirenéus. Ou ao contrário….ou para lá e para cá…não interessa. É diversão absoluta! Façam-na….

Em resumo, nesta jornada entre Lérida e Lisboa foram 1.092km para um total da viagem de 3.423km. De sexta 7 a sexta 14 de Junho.

E assim foi o PYRENAEOS 2019! Memorável!

(PV) – A descrição de Saragoça está feita atrás. Nada mais a relevar que não seja a viva recomendação que esta cidade justifica paragem e visita demorada. Desde as margens do Rio Ebro a todo o património monumental, a visita a pé pode ser longa mas inteiramente justificada e recompensadora. Imperdível.

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Saragoça: Basílica de Nuestra Señora del Pilar
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Saragoça: Puente de Piedra
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Saragoça: Basílica de Nuestra Señora del Pilar
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Saragoça: Feira Medieval

À saída estava assente: o rumo era directo a Portugal. Sobrava a dúvida: directo ou com uma paragem intermédia que prolongaria a viagem por mais um dia.

Saídos às 14h (locais) reservámos a decisão para depois de passarmos Madrid pois nessa altura já seria possível prever tempos de viagem. Madrid passou-se com tranquilidade apesar de um engarrafamento devido a um acidente que nos fez perder cerca de 15 minutos. Nada de relevante. Na paragem para reabastecimento seguinte…vimos que era possível chegar a Lisboa cerca da meia-noite. Decisão tomada!

Andamento tão rápido quanto possível – era sexta feira à tarde e o trânsito na Carretera de Portugal (a A5) muito intenso até Talavera de La Reina exigia atenção redobrada – e lá fomos andando. Pouco passava das 21h (de Espanha) quando chegámos a Badajoz e até deu tempo para jantarmos. Afinal, em Portugal era uma hora mais cedo.

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A ultima refeição! E um brinde (sem alcool…que ainda faltavam muitos quilómetros e a jornada já ia longa!)

Faltavam 230km na nossa EN4. Cerca da meia noite percorremos a Ponte Vasco da Gama e encerrámos a nossa espectacular viagem.

Uma nota final para as estradas espanholas. Não para as curvas ou contra curvas. Mas sim para o seu estado. Em geral muito bom. Bem conservadas, sinalizadas, com bermas adequadas. Refiro-me às estradas nacionais (para comparar com as nossas…). Quanto às autoestradas…fizemos cerca de 2.000km nestas estradas (Ciudad Rodrigo-San Sebastian e Lérida-Badajoz) e nem um singelo euro em portagens!

CONCLUSÕES

Referi no início a questão de sermos apenas 2 e do equilíbrio de andamentos. É evidente que com um grupo maior, a diversão seria multiplicada e a experiência mais rica. Mas em estradas com as características das que percorremos e a forma como as fizemos (tentando desfrutar da condução e dos traçados…sem prejuízo das paisagens, claro) com alguma rapidez, poderia levar a diferenças de andamento significativas e com o avolumar de alguns tempos de espera mais substanciais. Será uma factor a levar em conta antecipadamente e que deverá ser muito bem alinhado entre todos os membros de um eventual grupo para evitar depois algumas questões que possam surgir e toldar o ambiente de camaradagem desejável. Fica a nota…até porque a regra costuma ser a de seguir o andamento do mais lento (o que pode ser frustrante para alguns mais…afoitos).

 Ir para PYRENAEOS 2019 – parte 1

PYRENAEOS 2019 – Uma viagem inesquecível!

E afinal, quanto custou esta viagem (per capita, valores aproximados)?

Combustível ……………………………………………….  300,00€

Alojamentos ……………………………………………….  160,00€

Alimentação ……………………………………………….. 100,00€

Despesas diversas (entradas, portagens, etc.)…..   40,00€

TOTAL                                                                            600,00€

Quanto aos souvenirs……cada um sabe de si!

O PERCURSO:

Para seguir o trajecto que percorremos, de uma ponta a outra dos Pirenéus e mais um pouco, antes e depois – os mais de 1.500km de Burgos a Saragoça –  aqui fica o link para o download (clicar no mapa ou utilizar directamente o link abaixo para os ficheiros gpx), cortesia Viagens ao Virar da Esquina (sem esquecer os “direitos de autor” do Jaime Fernandes!)

Mapa da viagem

FICHEIROS gpx PARA UTILIZAÇÃO EM GPS

HOTEIS QUE NOS AGRADARAM (e que recomendamos):

– Final da 1ª etapa – Hostal Rural Onbordi (perto de Lasaka, aprox. a 40km de San Sebastian)

– Final da 2ª etapa – Hotel Bujaruelo – Torla

– Final da 3ª etapa – Hotel L’Isard – Andorra-a-Velha

– Final da 4ª e 5ª etapa – Hotel Ronda – Figueres

O custo médio rondou os 55€ por noite em quarto duplo.

Pyrenaeos 2019 – parte 1

Primeira parte da travessia dos Pirenéus, numa viagem que nos levou até San Sebastian e daí partimos rumo ao Mediterrâneo….em permanente sobe e desce!

Pyrenaeos logo

2 MOTOS.  7 DIAS.  3.400KM.  MILHARES DE CURVAS.

SOL E CHUVA.  CALOR E FRIO.  MAR E MONTANHA!

Pirinéus é o nome da cordilheira de montanhas que desde o Golfo de Biscaia até ao Mediterrâneo separa a Península Ibérica do resto da Europa Continental. A sua altitude máxima é superior a 3.400m mas existem cerca de 200 picos acima dos 3.000 metros. Daí aquele aspecto de verdadeira muralha que começamos a vislumbrar a mais de 100km de lá chegar. E se mete respeito…

O nome deriva do latim Pyrenaeos (que escolhemos para mote da nossa viagem) e terá nascido do termo clássico grego Pyrenaia.

Reza a lenda que teve como origem o nome de uma personagem da mitologia grega, Pirene (Πυρήνη), amante de Hércules, filha de Bébrix: Hércules, após a morte de Pirene, teria erguido uma tumba à altura de seu amor, isto é…. a cordilheira, onde repousa sua amada.

Assim o nosso destino foi os Pirinéus e o objectivo percorrê-los no sentido poente-nascente, do Atlântico ao Mediterrâneo.

Sabíamos que as paisagens iriam ser espectaculares e que as estradas prometiam sensações fantásticas. Mas nunca esperámos que superasse tanto as expectativas. E esta a razão para a nossa primeira admiração: não nos cruzámos (que o tivéssemos percebido!) com motociclistas lusos. É verdade que existem outros destinos míticos por essa Europa fora…mas os Pirinéus estão mais próximos que a maioria deles…

Para contar a história da viagem, nada melhor que aproveitar o diário que ao longo dos dias fui publicando no Facebook. E que agora complemento com alguns comentários post-viagem (PV).

Cumpre aqui fazer uma referência: a viagem foi a duo com um companheiro de longa data. A amizade e camaradagem bem como algum equilíbrio de andamentos garantia o sucesso da empreitada.

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“Gentlemen, start your engines!”

Mas o Jaime ainda fez mais: foi ele o arquitecto do percurso (introduzi algumas sugestões que depois acabámos por deixar cair devido principalmente ao agravar das condições climatéricas…o que gerou desde logo a necessidade de lá voltar para fazer o que falta…).

E que percurso! As muitas horas dedicadas ao planeamento fez com que quase não existissem momentos mortos ao longo do trajecto: ou paisagens espectaculares ou estradas reviradas e desafiantes até mais não. E melhor….geralmente as duas coisas coincidiam!!!

É evidente que me refiro ao percurso nos Pirinéus e, já no regresso, até Lérida. Porque as travessias de Espanha…são um castigo! O preço a pagar pela diversão…

Obrigado Jaime Fernandes!

PYRENAEOS 2019
7 Junho – Dia 0

Prólogo da grande viagem apenas para nos aproximarmos da travessia de Espanha.
Viagem sem grande história, por AE, IP e outros Is, a terminar perto de Mangualde. Quase a terminar, em Nelas, um jantarito para retemperar num alojamento local muito simpático ….e com umas senhoras verdadeiras fans dos motociclistas!!!

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A equipa!

A próxima etapa será a mais longa. Chegaremos a Hondarribia…muito perto da fronteira com França. Até lá…quase 900km…

(PV) – Apesar da estreiteza do território português face ao espanhol, a possibilidade de antecipar a saída umas horas (de final de dia) e pernoitar já perto da fronteira, garante que retiramos 200 e tal quilómetros e duas horas e pico à grande jornada de travessia do deserto castelhano. Para nós foi óptimo, como adiante veremos. A viagem, pela A1 e depois IP3 não teve história e ainda sobrou tempo para alguns ajustamentos de última hora e afinarmos melhor a nossa estratégia para os dias seguintes.

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Nelas – onde jantámos!

PYRENAEOS 2019
8 Junho – Dia 1

A viagem começou!

A sina de ser português, viver neste anexo da Europa chamado Península Ibérica e logo no canto mais afastado, mede-se em quilómetros. Para arrumar a estatistica, foram 745. A somar aos 282 da véspera e já ultrapassámos a milena.

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Entrada em Espanha por Vilar Formoso

Ainda assim, ao ritmo das paragens para atestar (autonomias a rondar os 270km a isso obrigam) e com um andamento razoavelmente rápido, deu para fazer um pouco de turismo.

Parámos em Tordesilhas, no dia seguinte ao da comemoração dos 525 anos da celebração do Tratado. Como em tempos aqui contei, para que este acontecesse, um outro foi celebrado antes: o da alentejana Alcáçovas. Por essa razão o nosso farnel não podia ser mais a propósito: paio, queijo e pão alentejanos. A zona monumental da cidade é bonita, merece visita e apreciar a história de dois povos que geralmente andaram à trolha mas também souberam acertar-se quanto tal era preciso…e aqui apenas se tratou da partilha do Mundo! Começava a Globalização….

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Tordesilhas: vista panorâmica
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Tordesilhas: ponte sobre o Rio Douro
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Tordesilhas: miradouro e jardim
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Tordesilhas: Igreja de Santa Maria
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Tordesilhas: Plaza Mayor
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Tordesilhas: Ayuntamiento
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Tordesilhas: Celebração dos 525 anos do Tratado (chegámos com um dia de atraso…)

Depois, bem mais à frente, Burgos. Entrada rápida na cidade para apreciarmos a lindíssima Catedral.

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Burgos: panorâmica da aproximação à zona monumental
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Burgos: a caminho da Catedral. Ponte sobre o Rio Arlanzón
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Burgos: Rio Arlanzón
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Burgos: Puerta de Santa Maria
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Burgos: pormenor da Puerta de Santa Maria
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Burgos: Catedral
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Burgos: Catedral
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Burgos: Catedral
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Burgos: Catedral

Finalmente, San Sebastian. Uma maravilha!!! Espectacular e linda cidade. Mas é fundamental dizer que os ultímos 100km, percorridos no País Basco, são um deleite para os olhos. Não há dúvida que ver uma linda paisagem através do visor do capacete tem outra dimensão. Vocês sabem do que falo…

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San Sebastián: Playa de la Concha
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San Sebastián: Playa de la Concha – vista da entrada da baía
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San Sebastián: Playa de la Concha e avenida marginal
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San Sebastián: Playa de la Concha – panorâmica

Volto a San Sebastian. Uma baía espectacular com um enquadramento paisagístico em anfiteatro e uma avenida marginal povoada de gente a desfrutar do sol e da vista, mereceram bem a nossa paragem de cerca de 2 horas. Espero que as fotos façam justiça…

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Depois, cerca de 40km até ao nosso alojamento, quase a morder França, no meio de nenhures, numa serra de vegetação luxuriante, em edifício típico do País Basco e rodeado por um rio à frente e um ribeiro ao lado. Paradisíaco!

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O primeiro alojamento: Hostal Rural Onbordi (Lesaka)
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Hostal Rural Onbordi (Lesaka)
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Hostal Rural Onbordi (Lesaka)
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Hostal Rural Onbordi (Lesaka) – vegetação luxuriante por todo o lado!

E pronto, feito o relatório agora é tempo de ….PIRENÉUS! Ou PYRENAEOS para os gregos que os baptizaram segundo reza a lenda…

Assim o S. Pedro nos ajude….que ultimamente anda arisco!

(PV) – Atravessar Espanha ao ritmo das paragens para atestar é penoso. São muitas horas a conduzir a velocidades quase constantes sem qualquer desafio que não seja o de não perder a concentração. Toda a viagem até S. Sebastian foi feita por autoestrada (autovia) gratuita. 750km gratuitos…. lá como cá! Aliás, uma referência a algo com que nos confrontámos mais vezes nos dias seguintes: algumas autoestradas com portagem estão a terminar os prazos das concessões. E o que acontece? Vão para a posse do Estado…e passam a ser gratuitas! Estes espanhóis são loucos. Perderem assim as hipóteses de aumentar a receita…

Os pontos fortes do percurso foram, como referenciado, Tordesilhas, Burgos e San Sebastian. Se a primeira e a última foram atrás descritas, cumpre dizer que Burgos é uma cidade bem bonita e aprazível. Atravessada pelo Rio Arlanzón é uma cidade muito antiga como se pode constatar pelos seus monumentos. Dos quais se destaca obviamente a magnífica Catedral cujo inicio de construção data do Séc XIII.

Entrámos em San Sebastian pela autovia A1 (gratuita) e os ultímos 100, 120km são espectaculares sob o ponto de vista paisagístico. Atravessamos montanhas, descemos para a cidade com a baía a seus pés e ao longe os primeiros vislumbres dos majestosos Pirenéus! Quanto à cidade…a merecer uma estadia prolongada, sem qualquer dúvida!

PYRENAEOS 2019
9 Junho – Dia 2

Começou a travessia dos Pirenéus. Vamos unir o Cabo Higuer na costa cantábrica ao Cabo Créus no Mediterrâneo e o ponto mais oriental da Península. E não vai ser pelo caminho mais curto nem pelo mais fácil…mas pela amostra desta jornada, será certamente bonito e com estradas para desfrutar da paixão pelas motos e sua condução.

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Cabo de Higuer (Hondarribia) Aqui começa a nossa transpirenaica…
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Cabo de Higuer – Farol O destino é para ali…

Assim começámos em Hondarribia (espectacular) e depois…embrenhámo-nos pelos Pirenéus ocidentais. Passámos sucessivamente de Espanha para França, voltámos a Espanha ..e a França. E finalmente Espanha de novo. O percurso planeado (o mérito não é meu!!!) predominantemente por estradas “municipais” revelou-se fantástico, praticamente sem pontos mortos (leia-se rectas) e sempre no sobe e desce, no curva e descurva.

Uma nota muito importante: o País Basco, principalmente do lado espanhol é lindíssimo. Deslumbrante! A deixar saudades e com a vontade de cá voltar para melhor o explorar!

A perspectiva de intempérie altera-nos os planos para a jornada seguinte. Não iremos aos picos do Tour de France….mas se ontem andámos abaixo dos 1500m, hoje vamos andar acima dos 2000m! Serão 300km até Andorra!!!

Até lá!

(PV) – A jornada começou em Hondarribia. Cidade que está separada da francesa Hendaya pelo rio Bidasoa. A paisagem é fenomenal pois a foz do rio cava uma baía com praias de ambos os lados das margens. E o Cabo de Higuer é logo ali. Selvagem e lindo. E é fundamental referir que Hondarribia tem uma zona monumental muito interessante e que merece uma visita.

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Hondarribia (à direita) e Hendaya (à esquerda) No meio, o rio Bidasoa que faz a fronteira e aqui separa a Península Ibérica do resto da Europa

Referido acima mas não é demais. O País Basco nesta zona que atravessámos de “introdução” aos Pirenéus é lindíssima! As diferentes tonalidades de verde que se misturam à medida do ondear do terreno são deslumbrantes. Outra nota sobre este território que abrange dois países: a sua incrível identidade cultural – e política! – com uma tranquilidade social que há alguns anos atrás seria impensável.

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Andámos sempre junto à fronteira (que cruzámos pelo menos 2 vezes até ao Col d’Ispeguy onde almoçámos defronte de uma vista deslumbrante) em estradas sinuosas de sobe e desce mas sem grandes altitudes (sempre abaixo dos 1000m)…o que não significa ausentes de diversão.

Depois, já em território francês, visitámos a antiquíssima e monumental S. Jean Pied de Port (considerado o início do caminho francês de Santiago de Compostela).

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S. Jean Pied de Port
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S. Jean Pied de Port

Quando percorríamos mais uma das muitas estradas interiores, num constante ondular ao sabor das elevações do terreno, encontrámos num miradouro um grupo de motards franceses (com alguma curiosidade sobre uma certa VFR vermelha…). Mas o destaque, para lá da vista espectacular para um vale a perder de vista, foi a possibilidade de observarmos o voo elegante de algumas águias, abaixo do ponto onde estávamos.

Continuámos por mais cerca de 100km por estradas municipais muito divertidas até que regressámos a Espanha pelo túnel de Somport (cerca de 9km). E logo à saída, a estação ferroviária de Canfranc. Actualmente em recuperação depois de anos ao abandono, foi um marco histórico muito relevante no trânsito de passageiros (refugiados, judeus, etc.) que pretendiam fugir à guerra e às perseguições nazis bem como de géneros (ouro e outros valores para cá e volfrâmio e alimentos para lá).

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Canfranc – estação ferroviária (histórica na 2ª GG)
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Canfranc – estação ferroviária (histórica na 2ª GG)
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Canfranc – estação ferroviária (histórica na 2ª GG)
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Canfranc – rodeada de montanhas

Andámos em Espanha, França, voltámos a Espanha. A quase totalidade do percurso por aquilo que cá chamaríamos Estradas Municipais. Excelentes! No piso (apesar das difíceis condições meteorológicas que enfrentam), bem sinalizadas, com boas condições de segurança, muito bem desenhadas. Melhores que a maioria das nossas “Nacionais”. Outra nota, importante para quem esteja menos atento: em França a esmagadora maioria dos estabelecimentos comerciais está encerrada ao domingo…principalmente as bombas de combustível. Convém jogar pelo seguro.

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A caminho de Torla…
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Quase em Torla…vista para Broto

Depois, se já tínhamos tido até aqui um certo saborear dos Pirenéus mas a baixas altitudes, a festa ía começar! No percurso até Torla ainda tomámos o gosto à N260 que nos iria acompanhar daí por diante e ser o ponto alto da viagem.

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Macizo de Mondarruego

PYRENAEOS 2019
10 Junho – Dia 3

E ao terceiro dia, primeira alteração de rota (algo para o que o viajante deverá estar sempre prevenido). A previsão meteorológica para os picos do Tour de France que pretendíamos fazer – Aubisque, Tourmalet e Aspin – indicava chuva com temperaturas abaixo de zero e forte probabilidade de neve. Seria uma experiência interessante…mas arriscada, principalmente com motos de estrada e carregadas. Assim, ficámos do lado espanhol e acabámos já em Andorra.

Foi apenas o terceiro dia, num total que se aproxima dos 1700km percorridos. Desta feita, dos previsto 300 ainda acrescentámos mais 15. Adiante explico.

Se na véspera tinham dominado os tons de verde devido à menor altitude que transformavam a paisagem num postal ilustrado paradisíaco, hoje andámos em altitudes mais elevadas e o cenário era em tons de castanho (com algumas manchas brancas nos topos), mais agreste, mais violento. Vales profundos, desfiladeiros e subidas/descidas vertiginosas. São impressionantes os declives da generalidade dos montes. Quase a pique!

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Vielha: panorâmica
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Vielha Lá ao fundo…borrasca!

Quanto às estradas, percorremos essencialmente duas. A N230 (para Vielha e Baqueira-Beret) e a magnífica em toda a sua extensão N260!!!! Um festim autêntico para quem adora conduzir motos!

E em Baqueira-Beret festejámos o 10 de Junho!

Existem duas formas de percorrer estas estradas. Calmamente ( quase parando em cada curva para tirar mais uma foto ou reter mais uma imagem na memória) e nesse caso serão precisos muitos dias. Ou fazê-lo numa lógica de desfrute da estrada, da paisagem, da condução! Escolhemos esta última alternativa…mas também parávamos para as fotos…de vez em quando (até porque convinha baixar a adrenalina…ou descansar!). Descobri que o motor da moto tinha umas rotações que eu desconhecia…..

De tal forma, que depois de Baqueira, subimos o Col de Bonaigua (2072m) com nevoeiro cerrado. Ao começar a descer, o nevoeiro passou e….chegados cá abaixo…voltámos para cima e tornámos a descer!!!!

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Col de Bonaigua: 2072m e nevoeiro cerrado
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Col de Bonaigua: algum gelo e muito nevoeiro! No dia seguinte….
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Estradas fantásticas. Pela condução e pelas paisagens
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As fotos não fazem justiça à beleza do cenário… …e entretanto, o nevoeiro foi-se!!!
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Diversão absoluta!
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Diversão absoluta!

A N260 foi certamente projectada por um motard empedernido! A estrada não dá descanso. Sobe, desce, sobe, desce…e se há uma recta é apenas para nos permitir meter uma mudança acima para que o pé esquerdo não adormeça. Logo a seguir redução para mais uma curva! O Port Cantó entre Sort e Seu d’Urgell é espectacular….e muito frequentado pela malta das motos. Porque será?

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Port Cantó: 52km bem divertidos!
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Port Cantó

Curiosidade: ainda não apanhámos motards lusitanos!

Quanto a paisagem….é brutal! As montanhas são gigantes, imponentes com encostas a pique e vales profundos que acentuam a sua dimensão. Nos vales, predomina o verde e é frequente irmos na estrada a ladear rios cujo caudal em fundos de pedra lhes dá uma graciosidade e beleza fantásticas. As fotos não conseguem fazer justiça à paisagem. Que é um regalo para os olhos.

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Port Cantó

Finalmente, cansados mas mais do que satisfeitos, chegámos ao oásis do turismo e do consumo chamado Andorra.

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É provável nova alteração de percurso. A previsão dá 100% de chuva e há pouco, o nevoeiro bem cerrado estava um pouco mais acima da cidade. Saindo por norte e estando Pas de la Casa bem acima dos 2000m e depois o Puymorens idem, o trajecto tornar-se-á perigoso e sem graça. Provavelmente vamos retomar à N260 a caminho do Mediterrâneo….

(PV) – Saímos da paradisíaca Torla para logo apanharmos a N260 que na véspera já nos tinha enchido as medidas. Pois bem…a partir daí foi um banquete! Sempre ao lado do Rio Ara, por vezes em desfiladeiros cortados a pique onde mal cabia o rio…e a estrada, chegámos a Ainsa.

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Ainsa

Aqui tomámos a A136… Se fosse um parque de diversões, tínhamos passado de um carrossel dos miúdos para um destinado a mais crescidos. A montanha russa ficava mais à frente.

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Lá ao fundo…o parque de diversões esperava por nós!!!

Foi a seguir a Ainsa que, numa curva à direita (para nós) fomos alertados por alguns companheiros de um grupo motociclista que nos fez sinal para pararmos. Havia gasóleo na estrada e, nesse grupo que vinha em sentido contrário e a descer, um casal numa BMW clássica tinha ido ao tapete. Felizmente sem consequências. Mas foi um aviso excelente e oportuno porque íamos em condução algo empenhada e certamente qualquer coisa poderia correr mal… Tudo bem, quando acaba bem!

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Bem visivel a mancha de gasóleo

Seguimos a A136 até quase El Pont de Suert, onde virámos à esquerda em direcção a Vielha, pela N230. Aqui começámos a subir…até que, já próximos, um túnel nos anunciava mau tempo do lado de lá. Parámos para agasalhos e à nossa esquerda estava, com bastante neve, o Pico de Aneto, o mais alto da cordilheira, com mais de 3400m de altitude. Majestoso!

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Atravessado o túnel começámos a vislumbrar nevoeiro cerrado. Descemos para Vielha, uma cidade tipicamente de montanha, e completamente virada para o turismo de inverno. A arquitectura é tipicamente alpina (deveria dizer pirenaica?) em que os edificios seguem todos a mesma traça e  dimensões similares, o que no final dá um certo ar artificial. Mas a paisagem é de cortar a respiração.

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A descer para Vielha….e o nevoeiro cerrava…
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Vielha: panorâmica Foi naquela direcção que seguimos, rumo a Baqueira…e ao nevoeiro!

De Vielha (ou Viella) seguimos em direcção a Baqueira (ou Baquera). Subimos mais um pouco até chegar à rainha das estações de desportos de inverno dos Pirenéus. Celebrámos o 10 de Junho com a nossa bandeia nacional. E partimos à conquista do prato forte da jornada: o Col de Bonaigua (2.072m).

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10 de Junho – Dia de Portugal

Subimos rodeados de um espesso manto de nevoeiro. Nada que fizesse perigar a condução (embora à medida que subíamos nos preocupássemos com o que estaria pela frente) mas que nos retirava a espectacularidade das vistas. Chegados ao topo, fotos da praxe e toca a descer. Alguns metros percorridos e…o nevoeiro foi-se. A paisagem era brutal…e a descida também! De tal forma que…chegados lá abaixo, toca a subir outra vez, para repetirmos a descida. Escusado será dizer que o ritmo não era propriamente de passeio…apenas aquele que o kit de unhas permitia (sem colocar nada em risco)!  Diversão absoluta e adrenalina no máximo.

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Col de Bonaigua: 2072m e nevoeiro cerrado (que rapidamente desapareceria…)
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Col de Bonaigua: homenagem aos limpa-neves
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Paraíso?
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Gelo. Quedas de água. Montanhas. Estávamos bem no meio dos Pirinéus!
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A paisagem é linda. A estrada…fantástica!
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Pirinéus!

Chegados cá abaixo…pausa para almoço e recuperar a respiração, em Esterri d’Aneu, à beira rio e desfrutando da paisagem bucólica.

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Viagens ao Virar da Esquina nos Pirinéus! 10 Junho 2019

Depois…alguns quilómetros em estrada rápida, até Sort onde reencontrámos a nossa N260, um café na esplanada e toca a seguir até Seu d’Urgell (porta de entrada em Andorra) pelo Port Cantó: 52km de deleite e diversão.

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Paisagens fantásticas…
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…para onde quer que olhemos!

Depois…Andorra-a-Velha!

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Andorra-a-Velha
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Andorra-a-Velha

No dia seguinte…começaríamos o nosso trajecto rumo ao Mediterrâneo. O clima estava adverso…quanto? Iríamos descobrir….

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