O carrossel alentejano!

O Alentejo tem um sortilégio peculiar. Por mais voltas que dê, acabo sempre por voltar.
Será pela sua diversidade cultural, histórica, paisagística certamente. Pela proximidade também. Mas talvez a principal razão seja por me sentir em casa. Aqui fui criado e vivi a juventude.

Desta vez, o destino foi precisamente a zona onde vivi e que quis rever.

A “desculpa” foi a oportunidade de experimentar a Suzuki V-Strom 1050. Moto polivalente mas com evidentes características estradistas, era importante avaliar o seu comportamento, principalmente em traçados sinuosos. O resultado da experiência está aqui.

Dizem – ai os estereótipos!!! – que o Alentejo é plano: “é tudo a direito”… Pois sabem que a pouco mais de 100km de Lisboa é possível fazer um percurso de mais de 70km com curvas e mais curvas, praticamente sem descanso? Sem grandes desníveis mas um deleite para a condução. Pois é. Existe e para lá me dirigi. Obviamente com algumas paragens antes e depois.

A zona que percorri é muito sui generis do ponto de vista administrativo. Percorri os 4 concelhos alentejanos do distrito de Setúbal. Este distrito por sua vez pertencia à antiga província da Estremadura, cuja capital era Lisboa e se estendia até à Nazaré.

Mas os nossos 4 concelhos pertenciam à província do Alentejo. Confusos?  

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São eles, Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines.

Alcácer do Sal – um cafézinho à beira-rio e fazemo-nos ao caminho

O périplo começou em Alcácer do Sal. As esplanadas à beira rio são óptimas para um cafézinho matinal e depois dar início à função. Aliás, segui pela marginal e tomei depois o caminho que me levou até ao destino seguinte. Já lá vamos…

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Marginal de Alcácer do Sal

A antiga Salácia do tempo dos romanos, dois milénios atrás, era já nesse tempo um local importante. Não só pela sua maior riqueza (e que viria mais tarde a ficar no nome) – o sal – mas pela sua localização geográfica, como um entreposto importante porque aí seria possível atravessar o Sado para quem seguia no sentido norte-sul ou vice versa e ainda pela própria navegabilidade do rio.

Fundada antes de 1.000 a.C. (existem vestígios de presença pré-histórica nas suas imediações) pelos Fenícios, a sua importância já denotava a grande riqueza de então: chamaram-lhe Bevipo e o sal era a principal produção da região. Acresce que a navegabilidade do Rio Sado, era propícia ao acolhimento dos barcos que faziam o comércio à época, com a segurança de um porto interior mais protegido das intempéries e da pirataria. A região exportava sal (as margens do rio que ainda retinham o sal das águas oceânicas oriundas da foz, cerca de 40 quilómetros a jusante), peixe salgado e ainda cavalos que seriam abundantes nestas zonas de lezíria.

 Tal era a sua importância que os habitantes de Salácia auferiam de privilégios idênticos aos habitantes de Roma. Não era para todos!

 E o estatuto prolongou-se pelos períodos seguintes, de domínio dos visigodos e dos árabes.

 O castelo, do qual resta apenas a ruína, era imponente: uma torre central com 27 metros de altura (o equivalente a um prédio de 9 andares) e 26m de largo, rodeada por muralha com mais 30 torres de pedra com 25m de altura. Assegurava o domínio da entrada do estuário do Sado bem como das planícies a sul e nascente. Era o mais forte castelo da Península Ibérica.

 Tomada pelos Mouros em 715, no seu avanço pela Península Ibérica. A povoação passará a chamar-se Qasr Abu Danis e nela é construída importante fortaleza (Al-Qasr, fortaleza ou povoação fortificada em árabe). Era a capital da província de Al-Kassr. Daqui terá saído certamente a origem da sua actual designação: Alcácer do Sal, pela associação da sua importante fortificação à principal riqueza da região.

 Muito demorou a conquista definitiva deste território aos Mouros, depois de Lisboa ter caído às mãos de D. Afonso Henriques em 1147. A primeira conquista ocorreu em 1158 (e só à terceira tentativa), mas não foi definitiva. Só bastante mais tarde, em 1217, Alcácer do Sal ficou na posse dos cristãos. 70 anos depois. Eram outros tempos mas a dificuldade denota também a importância estratégica de Alcácer. 

De então para cá, a sua posição estratégica manteve-se relevante e apenas no século XIX a sua principal riqueza, o sal, foi substituído pelo cultivo do arroz, existindo no concelho os maiores arrozais da Europa. Aliás, o concelho de Alcácer do Sal é o segundo mais extenso de Portugal. Mais recente, outra das suas riquezas é a produção de pinhão. Portugal produz cerca de 15% da produção mundial e a região alcacerense é predominante no conjunto do País.

Foi em Alcácer do Sal que em 1502 nasceu Pedro Nunes (sim, aquele que deu nome ao liceu em Lisboa) célebre matemático, tendo-se celebrizado pela invenção do nónio. E que seria fundamental para o posterior desenvolvimento de instrumentos de navegação, como o sextante, que seriam essenciais na época dos Descobrimentos e da exploração marítima.

Já no início do século XX, em 1902, nasceu João Branco Núncio, distinto cavaleiro tauromático e proprietário rural da zona, evidenciando também a componente agrícola desta primeira região do litoral alentejano.

Descrita a história desta agora cidade alentejana, faltava só referir outro dos seus ex-libris: a sua ponte metálica, inaugurada em 1945.

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Ponte de Alcácer e a V-Strom

Com características originais, o seu tramo central erguia-se verticalmente para permitir a passagem de barcos à vela que transportavam cereais – trigo e arroz principalmente.

E era também o local de desespero de muitos, que indo ou vindo do Algarve, aí encontravam filas de trânsito homéricas! Naturalmente, antes da construção da auto-estrada (a montante) e da variante com uma nova ponte, a jusante.

Actualmente, e depois de obras de restauro e recuperação, a ponte recuperou este tramo levadiço que permite a passagem novamente de barcos à vela, mas agora com carácter exclusivamente turístico.

Como referi, segui pela marginal e atravessei o Rio Sado na nova ponte rodoviária, a poente da cidade. Mas no regresso, não pude deixar de a atravessar.

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Alcácer do Sal vista da outra margem
 A lenda de Almira

Do seu passado árabe, não podia faltar a lenda de uma “moura encantada”.

Conta-se que Almira (ou Almerinda) era uma pequena criança de tenra idade que ficou abandonada quando os últimos resistentes árabes fugiram quando os cristãos tomaram a fortaleza de Alcácer do Sal. Foi adoptada pelos novos senhores.

Apesar de não recordar a tragédia ocorrida na sua infância e de ter sido muito amada por quem a criou, a jovem encerrava dentro de si uma tristeza inexplicada, feita de saudades do que não conhecia.

De beleza sem igual e dotes de poeta e cantora, a todos encantava com a sua beleza e a sua arte. Mas nenhum cavaleiro conseguia conquistar o seu coração.

Certo dia uma cavaleiro de nome D. Gonçalo chegou a Alcácer do Sal. Como qualquer outro cavaleiro, quis conhecer o sorriso da já tão famosa Almerinda. Apesar de D. Gonçalo não ter uma beleza que arrebatasse corações, atingiu em cheio o coração da jovem que por ele ficou enamorada.

A partir desse dia, Almerinda não mais sorriu aos outros cavaleiros. Encostava-se sim às paredes da sua torre cantando. Até que um dia, D. Gonçalo lhe respondeu de igual forma.

A jovem respondeu: “Oh! Meu senhor D. Gonçalo…”

O resto, não conta a lenda, mas diz –se que em noites de luar de Agosto ouvem-se os sussuros dos dois amantes eternamente encantados nas muralhas da velha Salácia romana. “

Os cais palafíticos da Carrasqueira

A Carrasqueira, aldeia de pescadores do Rio Sado, fica a meio caminho entre Alcácer e a Comporta.

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Cais palafítico da Carrasqueira

O açoreamento do rio e principalmente a influência das marés que aí ainda se fazem sentir de forma significativa, levantava problemas a esses pescadores pois na baixa-mar não só tinham dificuldade em chegar aos barcos como os mesmos ficavam atolados no lodo.

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Cais palafítico da Carrasqueira

Assim, como o engenho humano é inesgotável, nos anos 50 e 60 do século passado, foram construíndo passadiços em madeira (sem grandes rigores de construção – importava a função e não a forma) assentes em estacaria irregular também de madeira, dando assim um ar de certa fragilidade e imperfeição.  

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Cais palafítico da Carrasqueira

O certo é que ainda hoje cumprem a sua função. Aliás, ao longo do tempo, foram sendo acrescentados algumas pequenas barracas onde os pescadores guardam as suas ferramentas e artes de pesca. 

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Cais palafítico da Carrasqueira

O aspecto artesanal dos diversos cais palafíticos bem como o enquadramento paisagístico do estuário do Sado, tornam a Carrasqueira um destino turístico relevante na zona.

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Cais palafítico da Carrasqueira
Cheguei à nova Tróia 

Há muitos anos que não visitava Tróia. Lembro-me de miúdo ir até lá, onde ainda quase nada existia, sentado nas pernas do meu pai, a “conduzir” o carro por uma estrada de terra batida…

Também, me recordo, já no início dos anos 70, do aparecimento da Torralta que aí construiu o que pretendia ser um destino de férias para a classe média que começava a surgir com o crescimento de Lisboa e a industrialização da sua periferia. Os hotéis que décadas depois viriam a ser implodidos, as piscinas do Bico das Lulas, a travessia do Sado em rápidos hovercrafts, etc.

Hoje, Tróia é um conjunto de hotéis e resorts luxuosos destinada à elite. Quem atravessa o Sado já não fica na Ponta do Adoche, mas sim abaixo para não perturbar a zona mais reservada e o facto de por via terrestre ser uma estrada “sem saída” permite algum sossego e discrição.

Era tempo de rumar a sul a ao objectivo principal.

A caminho do carrossel alentejano 

Deliberadamente evitei as praias a sul de Tróia. Comporta, Carvalhal até à Praia da Galé já perto de Melides, são mais para desfrutar do que para ver. E não tenho a certeza que, se fosse até alguma delas, de lá conseguiria sair a tempo de cumprir os objectivos da jornada. É que o dia ia quente, a apetecer uns mergulhos e uns banhos de sol. 

Até Melides, cerca de 45km, a estrada corre fluente, passa-se pela Penitenciária de Pinheiro da Cruz (tive alguns colegas de escola que eram familiares dos funcionários prisionais) e, naquela vila, rumamos a Grândola. 

Aí começou a diversão! Chamei-lhe carrossel porque é afinal disso que se trata: até bastante mais abaixo, no Cercal, percorrem-se cerca de 70km de estrada de serra. Curvas e mais curvas, dos mais diversos tipos, curvas e contra curvas encadeadas, é garantido que nos divertimos. Não temos no nosso País muitos troços de estrada com estas características e tão longos.

Carrossel Alentejano
Carrossel alentejano

De Melides a Grândola, são cerca de 18km pela EN261-2. O piso é razoável, a justificar algum cuidado. Com significativa cobertura de árvores e baixa intensidade de tráfego, tal significa também que neste ou naquele local o piso poderá não estar totalmente limpo.  

Par quem queira percorrer este trajecto, e desfrutar na plenitude da sinuosidade do traçado recomendaria que fizesse tudo de seguida. No meu caso, sendo Grândola a terra da minha infância, aí parei para almoçar, onde me esperavam. E foi bom o repasto! Restaurante Litoral…recomendo! 

Feitas as honras da mesa e do convívio, segui caminho.

Pareceu-me ouvir alguém gritar: “Nova volta! Nova viagem!!!”

O destino foi Santiago do Cacém pela EN120. Mais 30km de curva para aqui, curva para ali….tomba para a direita, tomba para a esquerda na Serra de Grândola. Diga-se que até aqui a Suzuki V-Strom se comportava como se esse fosse o seu terreno de eleição…e se calhar até é! 

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Santiago do Cacém

Santiago do Cacém, herdeira da romana Miróbriga (que dista meia dúzia de quilómetros da urbe actual) e dominada pelo seu Castelo com origem no período de domínio árabe mais tarde conquistado no reinado de D. Afonso II foi apenas ponte de passagem e reabastecimento de combustível. Terra natal do poeta Manuel da Fonseca e, já na actualidade da cantora Áurea, tem a sua principal actividade económica na agricultura.

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Continuei na EN120, agora atravessando a Serra do Cercal.

O pregão continuou: “Vá lá, freguês….mais uma voltinha!!!”

O rumo era esta vila ainda no concelho de Santiago do Cacém, mas não cheguei até lá. Numa pequena aldeia chamada Sonega, 21km depois, apontei a poente, em direcção ao mar. Não valia a pena prosseguir na EN120 pois a partir daí a estrada já seguia na planície e tinha pouco interesse, até porque depois teria que voltar atrás.

Tinha terminado o carrossel alentejano: 70km de estrada de serrania.

O litoral da minha infância 

O principal objectivo do dia estava realizado. Experimentar a V-Strom num pedaço de estrada verdadeiramente divertido e excelente para avaliar as capacidades da máquina.

Chegado à orla marítima, iria percorrer algumas das praias (agora sim) onde passei muitos verões da minha meninice. A ordem foi meramente geográfica. De sul para norte, porque esse era também o rumo do regresso.

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“Havia um pessegueiro na ilha….”

Comecei por espreitar se o pessegueiro, “plantado por um vizinho de Odemira” ainda estava na ilha…à distância não deu para ver. Mas acreditemos que a imaginação do Carlos Tê está correcta…

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Ilha do Pessegueiro

Da Ilha do Pessegueiro passei por Porto Côvo e uma pequena paragem para descanso.  

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Depois, S. Torpes. Praia que em tempos recomendava cautelas pelas suas correntes e pela água fria (mas não tanto como Sines!). Hoje é, segundo dizem, a praia com a água mais quente da Europa, graças à circulação de água do mar para refrigeração da central que fica logo ali. 

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S. Torpes e os navios que se encaminham para o Porto de Sines
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S. Torpes. Ao fundo a central que aquece a água da praia

Depois Sines. Percorri, como tantas vezes quando aí passava férias, a sinuosa e íngreme descida que sai do centro histórico ao lado do castelo, até cá abaixo à praia. O que há muitos anos – antes da construção do porto que alterou drasticamente a morfologia da zona costeira da vila – era um pequeno parque de estacionamento de terra batida faz hoje parte de uma ampla avenida marginal.

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Sines. Descida para a praia.

A terra que viu nascer Vasco da Gama está hoje completamente diferente da pequena vila piscatória que se animava nos meses de Verão com os banhistas oriundos maioritariamente do interior alentejano.

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Percorri toda a costa da península de Sines pela avenida marginal. Do agreste Cabo de Sines pouco resta, a não ser o farol, hoje mais distante das águas que aí eram bem revoltas.

Continuei para norte. Passei ao lado da cidade de Santo André (que até 1991 nem sequer tinha existência oficial) que foi construída para ser o dormitório dos trabalhadores do porto e das indústrias sediadas em Sines e, em Brescos, virei para a Lagoa de Santo André.

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Lagoa de S. André

Muito diferente daquilo que conheci há muitos anos. Não há vestígios das típicas casas de madeira, pedra e adobe com cobertura de colmo. As dunas estão limpas, salvo alguma restauração de apoio à praia. A lagoa continua bonita. Infraestruturas turísticas não se vislubram e as que me recordava de então estão em ruínas ou para lá caminham.

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Lagoa de S. André. Este restaurante existe ali há mais de 50 anos!

Convém referir que, apesar da costa marítima ser um areal contínuo de Tróia até Sines (cerca de 40km), o mar não é idêntico. Nas praias mais a norte, a ondulação é baixa e relativamente fraca e os banhistas conseguem ter pé durante algum pedaço. Mais a sul, a ondulação é forte e assim que se entra no mar, perde-se o pé. Daí talvez a pouca atractividade turística apesar da excelência do areal.

Pouco à frente, a Lagoa de Melides é em tudo idêntica. Mais pequena que a anterior mas com idênticas características.

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Lagoa de Melides

Quer numa quer noutra, os banhos não serão muito recomendáveis pois as águas são afectadas pela actividade agrícola a montante, nas ribeiras que as alimentam. Mas é interessante assistir quando são unidas (de forma artificial, claro) ao mar para renovação das águas.

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Lagoa de Melides

Aqui estava terminado o périplo. Era hora do regresso a casa. Ainda repeti um pouco da estrada de Melides a Grândola, até apanhar um pedaço da A26 até ao IC1/EN120 que me levaria de novo até Alcácer do Sal. 

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Serra de Grândola. Entrada de herdade tipicamente alentejana.

Entrei pela ponte metálica, quase ao final da tarde e com uma luz muito favorável à fotografia.

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Ponte de Alcácer
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Ponte de Alcácer
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A V-Strom e o Rio Sado

 

 

 

 

 

Panigale – Paixão ou razão?

Aproximou-se dengosa. O olhar fulminou-me. As curvas voluptuosas e o vestido vermelho, que todos sabemos ser a cor que incendeia as paixões, preencheram o espaço. À volta, nada mais havia….ou deixou de haver!

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Italiana, como não poderia deixar de ser, perante mim estava a Panigale de nome, V2 de sobrenome e Ducati de família.

Bem nascida em Borgo Panigale – a terra que lhe deu o nome – e herdeira de um pedigree com muita história, esta Ducati foi a companheira de um dia memorável. 

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E a motivadora de um dilema: o que mais nos influencia na escolha (aquisição) de uma moto? A paixão ou a razão? 

A história de um certo V2

Já lá vão mais de 25 anos, quando a Ducati lançou aquela que será, para mim, uma das motos mais bonitas da história: a Ducati 916. 

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Obra do génio de Massimo Tamburini, tinha umas linhas verdadeiramente revolucionárias para a época. E foi uma evolução tremenda face às suas antecessoras da série 851-888. 

O objectivo era a presença vitoriosa no Campeonato do Mundo de Superbikes e assim foi. Apesar da oposição da concorrência, principalmente da Honda RVF750R, pelas mãos de Carl Fogarty (4 vezes Campeão do Mundo), Troy Corser e Troy Bayliss (uma vez cada um), a 916 e as suas sucessora 996 e 998, dominaram a década. Foram 123 vitórias no Mundial de SBK… 

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O motor bicilíndrico em V a 90º impôs-se de tal forma que Honda e Suzuki se viram compelidas a utilizar a mesma fórmula, nas suas VTR1000 e TL1000R. Mas nunca com o mesmo sucesso. Nem lá perto. 

A Ducati 916 foi apresentada ao público em 1994 no circuito de Misano e as suas linhas esguias, com os faróis elipsoidais bem rasgados na frente e as entradas do ram-air triangulares marcavam-lhe a originalidade. A cor vermelha destacava-se e realçava a beleza do monobraço traseiro que deixava à mostra a espectacular jante traseira. Outro pormenor era o escape duplo com as ponteiras a sair pela traseira. 

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O modelo de série tinha 114cv às 9.000rpm com o binário máximo de 90,7Nm atingidos às 6.500rpm. Pesava 195kg e custava na época cerca de 2 milhões e 900 mil escudos: Algo menos que 15 mil euros na moeda actual. 

A análise de uma experiência inesquecível

Declaração de interesses: para a análise desta moto faltam-me referências – apesar de ter tido motos de estrada, nenhuma com as características apuradas desta Ducati – e também não tenho o “kit de unhas” imprescíndivel para lhe testar os limites. Assim sendo, todas as impressões recolhidas correspondem às de um motociclista “vulgar de Lineu” que procura nunca dar passos maiores que as pernas…

Para quem quiser ler o que os especialistas dela dizem, recomendo as reportagens publicadas nos dois principais órgãos da especialidade:

in MotojornalDucati Panigale V2, ao detalhe

in Andar de Moto: Ducati Panigale V2 – Performance acessível

Ao olhar para a Panigale V2 é impossível não nos vir à mente a sua antepassada ilustre. As relativamente pequenas entradas de ar triangulares cresceram substancialmente e incorporam agora quer as luzes de presença quer os faróis, ambos em LED. Aliás, os faróis mal se vêm. Agressividade absoluta. Um olhar felino que desde logo nos indica a personalidade da máquina.

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Vermelha, como não poderia deixar de ser, mantém o monobraço traseiro que nos exibe, do lado direito, toda a jante de cor negra. Na minha opinião, não tão bonita como a da 916, mas isto é subjectivo e acredito que esta cumpra muito melhor os requisitos actuais. Desta feita, o escape curto quase não se vê (na 916 também era bastante discreto com as ponteiras por baixo da estrutura do banco)….mas ouve-se e de que maneira!

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O painel de instrumentos de cor clara (de dia, pois de noite inverte para negro com letras a branco) tem uma leitura óptima e simples. E aqui encontrei talvez o único defeito claro desta moto: não tem indicador do nível de gasolina ao qual acresce a ausência do valor da autonomia. Ou seja, quando a luz da reserva acender…bomba com ela. Em viagem, principalmente com as áreas de serviço das autoestradas separadas por 40km ou mais, pode ser problemático para quem esteja menos familiarizado…ou mais desatento!

E já que falo neste aspecto, devo dizer que a moto é surpreendentemente económica. Se utilizada a velocidades pacatas e cumpridoras do Código da Estrada, ninguém dirá que temos nas mãos uma moto inspirada e com os genes da competição. Se lhe abrirmos as goelas, como ela e nós gostamos, aí a história será diferente….mas com uma Ducati Panigale, alguém está a pensar nisso?

O meu primeiro contacto foi quase traumatizante. A moto é relativamente pequena. A posição é radical, como não poderia deixar de ser: avanços baixos e pezeiras recuadas. A idade não perdoa e à primeira não foi fácil… Depois de acomodado e feitos os primeiros quilómetros, nunca mais me tornei a lembrar disso. A protecção dada pela bolha é bastante razoável (muito boa para os parâmetros habituais nestas motos) e denota a preocupação com a aerodinâmica, mesmo para um condutor com 1,82 de altura e “algo” volumoso.

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Os comandos estão onde devem estar. Num outro contacto com uma Ducati, no caso a Multistrada, tinha ficado impressionado com a qualidade da ergonomia. Mantenho e reforço a opinião. O trabalho neste domínio foi muito bom. Sempre levando em consideração as características da moto, como é óbvio.

Outro aspecto que me impressionou: o quick-shift!

Por norma não costumo ver grande utilidade na utilização deste add-on. A maior rapidez de passagem de caixa que permite não será relevante na maioria das condições de condução quotidianas (principalmente se estivermos a falar de diferente tipo de motos, como por exemplo as maxi-trails). E outros sistemas que experimentei tinham algumas restrições, geralmente na utilização a rotações mais baixas.

Esqueçam isso tudo! Na Panigale V2 é com quick-shift. Ponto final parágrafo! Dá a sensação até que ela não gosta que utilizemos a embraiagem nas passagens de caixa. Deve ter razão…

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Fiz cerca de 150km com a Ducati Panigale V2. Experimentei-a nas curvas da Serra de Sintra, na pacatez da Marginal, nos apertos urbanos de Lisboa e nas vias rápidas da zona (ler declaração de interesses atrás).

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Onde naturalmente se sente menos bem é no trânsito citadino. É natural. E é quase criminoso obrigá-la a isso. Não merece o castigo. Mesmo que utilizemos o modo “Street” (um dos três modos disponíveis), a Panigale não é máquina para estes propósitos. Entenda-se uma coisa: nunca perde a compostura, não reage mal, suporta bem o sacrifício. Mas percebemos o desfasamento.

Nas vias rápidas, onde pode respirar à vontade, os limites são…muito para lá do legal. E a banda sonora que acompanha ainda incrementa as sensações e alimenta o acréscimo violento de adrenalina. É uma “máquina de corridas” surpreendentemente dócil, isenta de reacções violentas ou inesperadas. Sem perder uma décima do seu carácter, é uma “bomba”.

Os outros dois modos de condução, “Sport” e “Race”, dão-nos sensações diferentes. Utilizei maioritariamente o “Sport” e senti-me confortável com ele. O “Race” torna-a mais imediatista nas reacções, seja na travagem seja no “enrolar punho”. E até a voz muda ligeiramente!

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Como não entrei em exageros, não testei a eficácia dos múltiplos sistemas electrónicos. Vou confiar em que eles lá estavam. E certamente não foram alheios à agradabilidade de condução. à naturalidade com que tudo acontece, mesmo que a velocidades…rápidas.

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Falta referir o comportamento em estrada sinuosa: irrepreensível! A inserção em curva é notável – a direcção é leve, directa e incisiva – a compostura até ao apex impressiona e a saída…bem, vocês sabem, a coudelaria tem 155cv… e são puro-sangue italianos. É preciso ter cuidado, muito cuidado, porque a facilidade com que nos entusiasmamos pode trazer dissabores se a destreza do condutor não for proporcional (há por ali muita electrónica a ajudar, atenção!) . Era o caso, portanto…fui até onde os meus limites me permitiram. Os da Panigale estavam muito para lá!

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As inclinações em curva são dignas da moto que é: muito para lá do que as minhas vertigens permitem. E são possíveis por três factores: ciclística irrepreensível, suspensões magníficas e uns belos Pirelli Diablo Rosso Corsa II.

Estes pneus estão especialmente vocacionados para este tipo de motos. Que tanto percorrem estradas como se ilustram em sessões em pista nos track-days. Por isso têm uma construção complexa, em que o pneu da frente conta com dois compostos diferentes e o traseiro três. A parte lateral de ambos está especialmente adaptada à performance em ângulos de inclinação extremos permitindo maximizar o grip (ao toque quase parece esponja). A banda intermédia, que é a central no pneu dianteiro, resulta de um composto 100% em sílica que visa um rápido aquecimento e bom comportamento em molhado. Finalmente a banda central, exclusiva do pneu traseiro, com uma composição de 70% de sílica, contribui para excelente estabilidade a alta velocidade e bons índices de durabilidade.

VVE027Mencionei a suspensão. Composta por uma forquilha Showa e um amortecedor traseiro Sachs em posição sui generis. Se nos diferentes locais por onde circulei o comportamento foi sempre exemplar (atendendo ao tipo de moto que é), onde fiquei deveras surpreendido foi num pequeno troço de empedrado irregular: pensei que no final iria ter que reorganizar o meu esqueleto. Completamente errado! A suspensão absorveu as irregularidades do piso de uma forma que nunca pensei ser possível para uma moto com estas características de rigidez.

Os travões são Brembo! What else….VVE024

Aqui importa destacar o pacote electrónico presente: a começar pelo acelerador ride by wire (actualmente obrigatório para permitir a multiplicidade de recursos electrónicos disponíveis) e a unidade de medição inércia de 6 eixos. Controlo de tracção, anti-wheelie, regulação do travão motor, abs cornering…tudo a que temos direito.

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A moto dispõe de 3 modos já configurados, sendo que permite depois, ao utilizador, personalizar e melhor a adaptar à sua forma de conduzir a aos objectivos que pretende: “STREET”, “SPORT” e “RACE”.

Os parâmetros configuráveis são:

  • Engine – Medium/High – (controlo da “agressividade” da entrega de potência)
  • EBC – Electronic Brake Control (controlo do travão motor)
  • DQS – Ducati Quick Shift (Up/Down)
  • DTC – Ducati Traction Control (controla o deslizamento da roda traseira)
  • ABS – Controlo de travagem com função cornering
  • DWC – Ducati Weelie Control (controlo de levantamento da roda dianteira)

Assim, no modo “Street” temos EBC=1, DQS= U/D, DTC=6, ABS=3, DWC=4 e Engine Medium

No modo “Sport”: EBC=1, DQS= U/D, DTC=4, ABS=3, DWC=3 e Engine Medium

E em “Race”: EBC=1, DQS= U/D, DTC=3, ABS=2, DWC=2 e Engine High

Estes parâmetros são configuráveis, os modos de condução facilmente seleccionados e estão sempre evidentes no canto inferior direito do painel.

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STREET:

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SPORT:

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RACE:

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Outras configurações:

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Há bela sem senão? Não, não há.

Já apontei o pequeno detalhe do indicador de combustível/autonomia. Outro aspecto é também merecedor de destaque pela negativa…mas curiosamente é “sazonal”.

Tem a ver com a configuração do motor. Repare-se que estamos perante um motor com dois cilindros de meio-litro em L. Ou seja, um dos cilindros/cabeça fica na vertical, mesmo junto às nossas pernas. Acresce que um dos coletores de escape dá umas reviravoltas por baixo do banco. Já estão a ver o filme.

De inverno, sentimos um calor acolhedor que nos aquece os membros inferiores. Mas no Verão…meus amigos, a parte interior das pernas corre o risco de se transformar num escalope “medium rare”. Principalmente se andarmos a velocidades lentas ou em trânsito de pára-arranca (já disse que não é moto citadina). Em estrada aberta, com a deslocação do ar, obviamente que se torna muito mais suportável. Até porque a própria temperatura do motor também desce ligeiramente. O dia estava muito quente…

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Em resumo, achei a Ducati Panigale V2 uma moto apaixonante, suficientemente dócil para ser utilizada por um condutor normal sem especiais atributos racing. Em nenhum momento a moto tem um comportamento ou reacção hostil e isso demonstra o excelente trabalho feito pelo construtor italiano.

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É evidente que sabemos que esta não é o “navio-almirante” da gama de desportivas italianas. Esse papel está reservado à sua irmã Panigale V4. Mantém o formato dos cilindros em V a 90º com 1103cc e 124cv (idem na versão S). Esta sim a moto que na actualidade é a base (ou deriva) da moto que compete no Mundial de SBK. E aqui é todo um outro mundo!

Curiosa e felizmente, neste dia tinham acabado de chegar 3 Panigale V4 Superleggera. 234cv, 152kg e mais uns gramas, apêndices aerodinâmicos tipo MotoGP, produção limitada a 500 exemplares e….mais de 105 mil euros cada uma!

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Se a V4S é outro mundo, a Superleggera é do outro mundo.

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Destinada a quem tem bolsos profundos e, acima de tudo, mãozinhas de piloto experiente. A não ser que a vá colocar no meio da sala para a poder admirar a toda a hora… 

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Onde a razão mitiga a paixão

Se eu gostaria de ter uma Ducati Panigale? Quem não gostaria, será a resposta!

E aqui entra a razão para moderar a paixão. Gostaria, obviamente que sim. Mas valeria a pena tê-la? Para a utilização que faço de uma moto, naturalmente que não. Poderia ser interessante tê-la na garagem, para a contemplar todos os dias e dar uma voltinha de vez em quando.

Mas…e o investimento? Justificava-se? Também não. No meu caso, claro!

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E ainda assim, se a paixão ultrapassasse todos estes argumentos estritamente racionais, qual escolheria?

Esta V2 que imenso prazer me deu conduzir?

Ou a irmã maior, a V4, ainda mais potente, selvagem, capaz de ainda maiores adições de adrenalina? Que não experimentei mas antecipo ser muitíssimo mais exigente do ponto de vista de condução.

Perante tal questão, e para ilustrar o que me levaria a escolher, veio à memória uma história:

O filme Mente Brilhante – protagonizado por Russel Crowe e Jennifer Connoly, realizado por Ron Howard, em 2002 ganhou 4 óscares, 4 Globos de Ouro e 2 Bafta em 8, 6 e 4 nomeações respectivamente – foi inspirado na vida do matemático John Nash, genial mas também esquizofrénico e nele se contava uma história que servia para ilustrar aquilo que o viria a celebrizar: a Teoria dos Jogos.

Assim, dizia John Nash, numa festa o “objectivo” da rapaziada não deverá ser a rapariga mais bonita. Pelo menos para incrementar as probabilidades de sucesso. A atenção deverá virar-se para a segunda mais bonita. Por duas simples razões:

1) Porque a mais bonita irá ser o alvo das atenções de todos os rapazes. Logo, a probabilidade de sucesso será apenas a fracção do número de pretendentes;

2) A segunda ainda será certamente muito bonita. Mas ao não ser o alvo principal das atenções…a abordagem será muito mais fácil e a probabilidade de sucesso muito maior. Até porque face ao sucesso da rival, quererá não ficar atrás.

Na família Panigale, toda a atenção vai para a irmã maior. A V4. Muito semelhante no aspecto mas dotada de um motor muito mais potente e selvagem. De características que a aproximam significativamente das verdadeiras motos de competição.

Eu preferiria a V2. Por ser linda! Pelo seu carácter…mais dócil. Por permitir experimentar os afluxos de adrenalina que só uma moto realmente desportiva nos dá. E por nunca ser hostil. Entrega-se ao condutor com a disponibilidade de quem sabe que tem muito para dar mas que respeita os limites daquele e, acima de tudo, que tem tudo o que é necessário para o ajudar. Ainda por cima, tem uma voz maravilhosa….

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Agora…se fosse mais novo, mais leve, se calhar um pouquinho mais baixo…quisesse fazer uns track-days de quando em vez…talvez que os 18 mil aéreos solicitados por contrapartida desta bella macchina não seriam exagerados de todo!

Em resumo, uma moto apaixonante!

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E afinal em que ficamos? Paixão ou Razão? ………

Agradecimentos:

A moto experimentada, a Ducati Panigale V2, foi gentilmente cedida pela DUCATI PORTUGAL, a quem testemunhamos a nossa gratidão pela oportunidade.

CB500X – O “pau pra toda a obra” da Honda

O “canivete suíço” de média cilindrada da Honda numa experiência de condução condimentada com uma “segunda opinião” de quem a usa em off-road e explica como.

Pau pra toda obra é uma expressão idiomática popular usada para dizer que alguém está sempre disposto a ajudar e nunca nega serviço.

…em 2013

Quando, no início da segunda década do Séc XXI a Honda entendeu preencher a sua gama média com uma moto que servisse distintas necessidades, lançou uma nova CB500 (designação tradicional da marca para este segmento) em 2013.

Na realidade, não foi uma mas sim três versões distintas com propósitos também diferentes:

– a CB500R, carenada e com uma postura mais radical, claramente orientada para o segmento mais jovem;

– a CB500F, naked e com guiador elevado para uma postura mais confortável e descontraída, destinada a um público mais vasto e que procurava uma moto utilitária para o dia a dia. 

Ambas estas motos com ciclística igual, diferenciadas apenas pelo posicionamento do condutor e pela carenagem na R. 

– a CB500X, com o visual a puxar um pouco mais para a aventura, mais alta, com ciclistíca ligeiramente diferente, mais conservadora, com o ângulo da coluna de diracção mais aberto e maior curso das suspensões. Uma trail de entrada de gama. Ou uma crossover para ser mais preciso… 

Todas estas motos animadas pelo mesmo motor de 471cc e 48cv de potência que permite a utilização por titulares de carta A2 e que foi construído inspirado no da CBR1000RR. Bons genes!

Se a Honda o pensou, melhor o fez. E o mercado reconheceu, pois a gama CB500 revelou-se um sucesso de vendas. 

6 anos volvidos, chegou o update

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Em 2019, nova série das CB500.

A versão anterior da X parecia ser “curta” para quem lhe queria dar uma das utilizações que o seu formato sugere: o fora de estrada. Na realidade, quer o curso das suspensões, quer principalmente a roda 17” à frente (para lá do diâmetro limita também a escolha de pneus mais apropriados) tornavam esta ambição bastante limitada. 

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Em 2019, a Honda refez a CB500X e seguiu esse caminho. 

Aproveitou a excelente base que vinha de trás – ciclística, motor, equilíbrio do conjunto – e introduziu as alterações que o mercado desejava: melhorou o motor em médias sem alterar a potência final (e assim se manter ao alcance da carta A2) através de novas afinações na admissão, distribuição e novo sistema de escape com duas saídas – bonito e com uma sonoridade muito agradável. 

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Também a nova embraiagem, deslizante, que dá leveza à acção da manete e melhora a suavidade do acto de engrenar bem como maior controlo sobre a roda traseira. 

Mas aquilo que é mesmo visível, a nova roda dianteira de 19” e o incremento do curso das suspensões, vem dotar a CB500X de verdadeiras capacidades para enfrentar outras dificuldades. Maior capacidade de superar obstáculos e a possibilidade de a equipar com outro tipo de pneus mais adequados ao fora de estrada. O acréscimo de curso nas suspensões de 10mm na dianteira (e 9 níveis de afinação da pré-carga da mola) e 17mm na traseira (com 5 níveis de afinação da précarga) têm o mesmo objectivo.

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Nos travões, o disco dianteiro único de 310mm garante um bom nível de travagem. Quanto ao ABS, está lá e não é desligável. 

É evidente que aquilo que já era bom à partida se manteve. Falo do quadro. 

Quanto ao design, renovado, com um vidro de dimensões adequadas que oferece a possibilidade de regulação em altura (com ferramentas) e uns plásticos laterais a “dar ares” de Africa Twin. A iluminação é totalmente LED e um novo painel de instrumentos.

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Os comandos nos punhos têm a dimensão e qualidade adequados. Apenas, só para mencionar, o “pormenor Honda” de a buzina estar por cima dos piscas. O que faz que quem não esteja muito habituado, de vez em quando dá uma “gaitada” em vez do pisca…e vice versa. 

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Falei da Africa Twin. Alguns engraçadinhos (também os há!) chamam a esta CB500X “Halfrica Twin”. Afinal, metade da cilindrada, metade da potência, metade do preço…. não deixa de ser verdade. Mas não é meia AT, garanto. Até porque a comparação não é justa para ambas as partes uma vez que são coisas diferentes para objectivos diversos. 

E uma coisa salta logo à vista se as colocarmos a par: a CB é quase do tamanho da AT! Pois é…

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Se olharmos de frente a CB tem 1410mm de altura por 825mm de largura. A CRF1000L tem 1475×930 e a CRF1100L tem 1391×961. Ou seja, a CB é 6,5cm mais baixa que a AT de 2019 e é 2cm mais alta que a AT de 2020 (modelo standard, que tem um vidro mais pequeno).

É, isso sim, mais estreita que ambas as AT e isso não é necessariamente um defeito. Porque a CB mexe-se muito melhor em ambiente citadino dos que as primas maiores!

Vistas de lado, a CB500 é 13cm mais curta que as AT, seja no comprimento total ou na distância entre eixos. Lá está…maior manobrabilidade no trânsito urbano. A altura do assento é de 830mm. Menos 2 cm que a AT de 2020 e menos 7cm que a AT anterior (nas posições inferiores).

Ou seja, não é assim tão mais pequena. Quanto ao peso, são cerca de 30kg a menos. 

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Onde certamente ganhará é na autonomia. O depósito da CB500X leva menos 1,1l que os das AT. Com um consumo abaixo dos 4l/100, digo-vos que a mais pequena vai mais longe alguns 70km…. Ou mais ainda, já vos direi! 

Concluindo: a CB500X não é metade de coisa nenhuma! É ela própria, com as suas características e capacidades. Uma moto especialmente vocacionada para o dia-a-dia e que, de série permitirá uma ou outra brincadeira offroad ao fim de semana. 

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Principalmente para os iniciados nesta arte, diria que se aproxima da moto ideal porque não tem o carácter bruto de uma monocilíndrica, antes uma enorme suavidade e progressividade na entrega da potência, minimizando as surpresas. Também é ligeira para a função e a sua condução perdoa as insuficiências do condutor. Mas atenção! Não falo de offroad “à séria” porque então terei que dizer que sem perder as suas qualidades, convirá acrescentar-lhe algo mais, nomeadamente a nível de suspensões (mais robustas). No final deste texto voltarei a este tema… com uma surpresa!

Ao guiador da CB500X

Experimentei a Honda CB500X, cortesia da Honda Portugal e do concessionário Lopes & Lopes.

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O objectivo, para lá das melhorias, era perceber as características de polivalência da moto e se se adequa às necessidades de um viajante. Tinha alguma curiosidade, pois com as alterações introduzidas e a resultarem, tínhamos aqui uma nova moto e uma solução para quem não quer ou não pode avançar para as maxi-trails da moda. 

Por outro lado, era interessante ver como se posiciona na gama da marca japonesa, pois tem sido geralmente criticada por não ter uma trail de média dimensão para fazer concorrência às 650 a 900cc que por aí andam. 

Pois bem, a CB500X tem muito para dar e entrega, garanto-vos. Mas não lhe peçam o que ela não tem para dar. E para esse segmento intermédio, é curta. Só resta saber é se o potencial cliente precisa mesmo de 70 ou 80cv, ou se os 48 desta lhe serão suficientes? 

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Chamei-lhe no título, “pau pra toda a obra”. O sentido é elogioso. Porque esta moto não falha: está sempre pronta para tudo. E não se nega ao serviço!

Vamos por partes:

A dimensão da moto é a adequada para a utilização no dia-a-dia. O “sofá” é confortável, as mãos caem bem nos punhos, a altura correcta (para mim, com 1,82 está mais do que perfeita). Os espelhos estão bem posicionados e têm um raio de visão muito bom. O vidro proporciona a protecção aerodinâmica necessária com a vantagem de poder ser ajustado em altura (com recurso a ferramentas).

O painel de instrumentos é agradável à vista, apenas com o senão de gerar bastantes reflexos se a luz lhe incidir directamente. A informação necessária está lá toda, incluindo uma luz branca que se acende quando estamos prestes a atingir o red line. Por falar nisso, observem a foto… na parte de baixo está o valor da média de consumo neste ensaio: 2,9l/100. Já lá vamos…

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Em movimento é ligeira, a embraiagem (atrás já falei nela) leve, levezinha, com as mudanças a entrarem na perfeição, extremamente manobrável. O motor tem desembaraço, sobe rápidamente e permite-nos velocidades de cruzeiro adequadas aos limites de velocidade (obviamente que a velocidade máxima está bem para lá dos 120 da praxe).

Nos 120 vai confortável…mas esta não é moto para viagens em auto-estrada. Já em ambiente urbano ou nas rodovias suburbanas está no seu habitat natural. Como também está perfeitamente à vontade em estradas sinuosas, onde a sua condução dá bastante gozo. Não pela potência (dos travões à entrada das curvas ou do motor na saída) mas sim pela forma, quase diria elegante, como se desembaraça das curvas e contra curvas. 

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Ou seja, com as alterações introduzidas nesta versão de 2019, a moto não perdeu nenhuma das suas características anteriores de polivalência. Mas terá ganho naquele pormenor do todo o terreno?

Como é sabido, o offroad não é a minha praia. Por isso a minha opinião vale o que vale. Senti que a moto se comporta muito bem em pisos mais degradados, tem boa tracção (o que também terá muito a ver com os pneus que se lhe queiram montar) e dá confiança. Apenas senti que a suspensão será insuficiente para uma condução/terreno mais agressiva.

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Em resumo, parece-me que a CB500X é uma excelente opção, dentro das suas capacidades e face à concorrência (não esquecer a habitual fiabilidade da marca). Para quem precisa de uma moto para o seu dia-a-dia, nos percursos casa-trabalho, para umas viagens de fim de semana ou para um fora de estrada ocasional não precisa de procurar muito mais.

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E é económica. Como sempre faço, dei-lhe uma utilização similar à que daria se fosse a minha moto. Sem exageros de velocidade em “terreno aberto”, explorando-a bem nas zonas sinuosas (Serra de Sintra) e com desembaraço no tráfego citadino. O resultado foi de 2,9l/100! Ou seja, daria uma autonomia superior a 500km…

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E agora…algo completamente diferente!

Acima prometi uma surpresa. A grande questão mantém-se: será a CB500X uma boa moto para uma abordagem ao offroad mais a sério?

Não serei a pessoa mais indicada para o testemunhar. Por isso nada como oferecer o espaço a quem sabe.

Na mesma altura em que fiz este ensaio, alguns amigos percorreram Portugal de cima a baixo fazendo o ACT (o Adventure Country Trails português é um percurso de 1250km em 5 etapas, que vai de Bragança a Cacela Velha, no Algarve, por trilhos de off road e desenvolvido pela Touratech).

Dois deles, o Rui Maciel e o João Marreiros – CB500X ADVENTURE OFF ROAD – conduziram as suas CB500X. Eram ainda da versão anterior mas as impressões de condução e, principalmente, o tipo de preparação realizado nas máquinas só vem confirmar que o caminho seguido pela Honda no novo modelo são acertadas, para quem quiser preparar a moto para estas aventuras. 

Fica o testemunho na primeira pessoa pelo Rui Maciel:

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“A Honda CB500X é uma excelente mota de aventura para iniciação ao off road, devido sobretudo à baixa altura do assento (81cm modelos 2013-2018 e 83cm modelos 2019-2020) e à sua curta distância entre eixos (muito parecida a uma mota do Dakar), que a torna super ágil e fácil de manobrar em situações mais apertadas. Especialmente depois do update que a Honda fez em 2019, que já vem com maior curso de suspensão, maior distância ao solo e roda 19” à frente.

O motor é perfeito para os iniciantes, pois é super dócil e fácil de dominar. A caixa muito curta e os seus 47 cavalos chegam e sobram para passar a generalidade dos obstáculos sem grandes preocupações.

Eu tenho um modelo de 2015 (ainda com roda 17″ à frente) mas fiz upgrade da suspensão e rodas de raios tubeless (dianteira 19″) da Rally Raid Products o que aumenta a distância ao solo e o curso da suspensão.

Comecei no Off road há cerca de 1 ano atrás, e já fiz de tudo com a CB500X, lama, areia, pedra, água, etc e sempre consegui ultrapassar os obstáculos com menor ou maior dificuldade.

Faço parte de um grupo de várias CB500X e é absolutamente incrível o que a pequenina CB500X consegue fazer fora de estrada, incluindo os modelos de roda 17″ à frente.

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A mota é de uma agilidade tremenda e com uns bons pneus (Mitas E07+, Pirelli Scorpion STR, Continental TKC80, etc), uma boa proteção de carter (Rally Raid Products, SW Motech, etc), umas barras laterais (Heed, Givi, etc) e umas proteções de punhos com barra de alumínio (Barkbusters, Polisport Touquet, etc) fica mais que pronta para fantásticas aventuras para além do alcatrão.

Eu tenho um botão que instalei para desligar o ABS, mas a verdade é que quase nunca o utilizo. O ABS é espetacular e muito pouco intrusivo, mesmo nas descidas de pedra solta. Fiz o Nosso Dakar e o ACT todo sem nunca desligar o ABS.

Ao mesmo tempo é necessário perceber que a CB500X não é uma mota de off road, e ter cuidado com o peso que carregamos e a velocidade que levamos. Se tivermos em conta estas limitações vamos ver que a ágil CB500X passa tudo, muitas vezes onde motos maiores, mais potentes e mais pesadas têm dificuldades.

No alcatrão a CB500X pode ir a 130-140kph todo o dia na auto-estrada. É só parar para abastecer. Eu costumo viajar a 2 com a minha mulher e, sendo que por vezes gostava de ter mais potência, a verdade é que chega perfeitamente. 

É super fiável e de baixa manutenção, faz revisões a cada 12 mil kms e até hoje, mesmo com o meu uso extremo off road, nunca tive a mais pequena avaria. Aliás, já chegámos a fazer passeios off road com 7-8 CB’s 500X e nunca tivemos nenhuma avaria.

Em termos de preparação para o ACT a única modificação que fiz foi meter uns bons pneus off road (Mitas E09 Dakar). E este é um facto que eu gostava de destacar: se querem fazer off road, especialmente em iniciação, precisam de pneus off road (especialmente o dianteiro, TKC80 é excelente para iniciar). Vão ver que é completamente diferente e sentem muito maior segurança. “ 

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As alterações efectuadas pelo Rui:

Rally Raid Level 2 CB500X Adventure Tubeless Wheel Kit RRP 458
Rally Raid Level 2 Suspension Kit Honda CB500X Adventure RRP 433
Rally Raid Brake Reservoir
Rally Raid Honda CB500X/F Engine Guard RRP 437
Rally Raid R&G Radiator Screen-RRP 467
Heed Crash Bars
ION footrest kit HONDA CB 500 X PC46 (13-16)
Fork Gaiters (Protetores das bainhas)
Cobra Nemo2 chain Oiler
Palmer Products Windshield Adapter Kit CB500X
Pro Taper SE Motocross MX Bike Handlebars Bars – KLX/ DRZ110 Bend – Black
Barkbusters Storm handguards
Rox Risers SpeedFX 2″ Pivoting Bar Risers for 7/8″ handlebar
Oxford heated rips
Botão desligar ABS.

AGRADECIMENTOS:

À HONDA PORTUGAL e ao concessionário LOPES & LOPES pela cedência da moto ensaiada.

Ao Rui Maciel e ao João Marreiros pela ajuda e pelo testemunho. Também ao Sérgio Aguiar – Twina.dventures pela ajuda.

 

Guimarães e a Lenda das Duas Caras

Fui até Guimarães ao encontro de uma lenda que remonta à batalha de Alcácer Quibir de má memória…

Cheguei a Guimarães ao início da tarde. A manhã tinha passado entre uma saída tardia e trezentos e tal quilómetros de auto-estrada. Viagem calma e confortável numa novíssima Honda CRF1100L Africa Twin Adventure Sports (sobre ela falei aqui).

VVE000Chegada a Guimarães

A visita à cidade seria breve porque ao final da tarde tinha encontro marcado na Casa do Ribeiro. Um dos Solares de Portugal, onde iria pernoitar. E principalmente, visitá-lo e conhecer a sua história.

VVE001Já cá estou!

 

Guimarães, pelas ruas do seu centro histórico

Guimarães, por toda a sua história e por ser um dos locais mais visitados de Portugal, confundia-se na minha memória. Não sei se as imagens que retinha eram vividas ou simplesmente fruto de as ver inúmeras vezes publicadas. E esta constatação foi o mote para o desafio: visitar a cidade no pouco tempo disponível e fugir dos clichés.

VVE002 Largo do Toural e Basílica de S. Pedro

VVE003Rua de Valdonas – Centro Histórico

VVE004Largo da Misericórdia

VVE005Fonte – Largo da Misericórdia

VVE006D. Afonso Henriques

VVE007 Igreja e Convento de S. Francisco

Já sabemos: é o Berço da Nacionalidade! Aí foi proclamado o nascimento de Portugal, foi a primeira capital do País e, ainda hoje, é a residência oficial – o Paço dos Duques de Bragança – do Presidente da República quando se desloca ao Norte do País (poderemos assim dizer, nesta perspectiva, que é a nossa segunda cidade-capital).

VVE008 Paço Duques de Bragança

No seu imponente Castelo, construído no séc.XII, sobre uma anterior edificação do séc X por ordens do Conde D. Henrique que aí fixou residência com D. Teresa quando foi criado o Condado Portucalense, nasceu o nosso primeiro Rei, D. Afonso Henriques.

VVE009 Estátua de D. Afonso Henriques

VVE010Castelo de Guimarães

VVE011Castelo de Guimarães

VVE012Castelo de Guimarães

VVE013Castelo de Guimarães

VVE014Castelo de Guimarães

Foi baptizado na Igreja de S. Miguel do Castelo que fica logo abaixo – e onde é possível ver a pia baptismal onde o acto foi consagrado.

VVE015Igreja de S. Miguel do Castelo

VVE016Igreja de S. Miguel do Castelo

Quase ao lado fica o majestoso Paço dos Duques de Bragança (construído no Séc XV e com arquitectura única na Península Ibérica) que hoje é museu especialmente consagrado ao período dos Descobrimentos.

VVE017Paço Duques de Bragança

VVE018Paço Duques de Bragança

VVE019Paço Duques de Bragança

VVE020Paço Duques de Bragança

Percorri o centro histórico, a caminho do Castelo e depois no regresso. Passei nas suas ruelas calcetadas, bem cuidadas e observei o bom estado de conservação das muitas casas com uma arquitectura bem característica. Tudo denota o carinho devotado à preservação da memória na Cidade- Berço (ai os clichés!).

VVE021Convento de S. António dos Capuchos

VVE022Igreja Nossa Senhora do Carmo

VVE023Igreja Nossa Senhora do Carmo

VVE024Câmara Municipal Guimarães

VVE025Casario típico

O meu destino era o Largo da Oliveira e a história que procurava: o Guimarães das Duas Caras!

VVE026 Largo da Oliveira – ao fundo o Guimarães Duas Caras

Este Largo é o ponto central do Centro Histórico de Guimarães. Deve o seu nome à oliveira secular nele plantada. Num dos lados do Largo podemos ver uma curiosa construção de estilo gótico, que foi mandada construir no reinado de D. Afonso IV e comemora a vitória na Batalha do Salado, onde os exércitos português e castelhano derrotaram o rei mouro de Granada, corria o ano de 1340.

VVE027Largo da Oliveira – Monumento à Batalha do Salado

VVE028Largo da Oliveira – casario

VVE029Largo da Oliveira – Monumento à Batalha do Salado e oliveira

Por trás deste fica a Igreja de Nossa Senhora de Oliveira (ou da Colegiada). Foi mandada construir por D. João I para cumprimento de um voto pela vitória em Aljubarrota. À Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira pertenceram figuras notáveis, como Pedro Hispano que viria a ser o Papa João XXI.

VVE030 Largo da Oliveira – Igreja N. S. da Oliveira

No lado oposto do Largo, fica o edifício medieval dos Paços do Conselho. E no topo da sua fachada, uma estátua curiosa: uma figura masculina que se diz representar Guimarães e que tem uma característica muito peculiar. Tem duas caras! Uma, o rosto do personagem e outra, localizada na zona do abdomén.

VVE031Paços do Concelho – Estátua Guimarães Duas Caras

VVE032Estátua Guimarães Duas Caras

A razão para as duas caras? Ao certo não se sabe. Ou seja, o condimento essencial para nascer a lenda. Neste caso, várias são as “explicações”. Era o que eu procurava!

 O Guimarães das Duas Caras

Das duas que vos contarei, nenhuma delas a que pareceria mais óbvia: o sentido que normalmente damos a alguém que tem duas caras (como o feijão frade, costuma dizer-se). Que aparenta ser algo que depois se vê não ser. Interpretação nada simpática para os vimaranenses, diga-se em abono da verdade. E injusta também!

Outra das interpretações para tão curiosa estatuária não deixa ficar bem vistos, desta vez, os vizinhos de Barcelos. Assim, reza a lenda que durante a batalha para a tomada de Ceuta, existiam duas frentes de combate, duas “caras”, uma da responsabilidade da guarnição de naturais de Guimarães e outra, dos homens vindos de Barcelos.

Ora segundo parece, os de Barcelos não deram conta do recado, tendo os valentes de Guimarães que cuidar das sua “cara” e ainda da “cara” dos de Barcelos. História esta que não abona muito a favor da valentia das gentes de Barcelos. Pouco simpática e, certamente, injusta.

A segunda lenda, aquela que mais gosto (quiçá pela sua inverosimilhança), está relacionada com a fatídica batalha de Alcácer Quibir (al-Kasr al-Kebir) corria o ano de 1578. A 4 de Agosto, sob o calor tórrido do deserto, o exército comandado por um D. Sebastião mal preparado mas sedento de glória, enfrenta os exércitos sarracenos. A infeliz demanda, que precipitou Portugal para uma das mais negras páginas da sua história, tinha tudo para correr mal. Um exército mal preparado, um clima hostil e um adversário sedento de vingança. E correu mal!

Consta que a dado momento da refrega, as tropas portuguesas são surpreendidas por um novo ataque do inimigo. De tal forma, a desordem e anarquia grassaram no exército de D. Sebastião, que as baixas foram imensas e a hora da derrota chegava. Nessa altura, uma tempestade de areia assola o local da batalha, ainda aumentando o caos que se vivia.

D. Sebastião, antevendo o final trágico, aproveitou com para tentar escapar com vida. Com ele ficaram 7 dos nobres portugueses que o acompanharam, entre os quais um tal de Baltazar Pacheco de Alcoforado, a quem chamavam “O Guimarães” por desta cidade ser natural.

Meteram-se deserto adentro, rumo a Sul, tentando escapar aquele alvoroço sanguinário. Caminharam dias a fio, sedentos e famintos, escondendo-se quando possível do tórrido calor e avançando pelo frio da noite porque tal era mais fácil. Mas desta vez a sorte não protegeu os audazes e a condição real já não existia. Eram apenas 8 desgraçados à procura do final daquele tormento .

A fatalidade da expedição continuava a acompanhá-los e a dado momento, tal era o desespero, que resolveram tirar às sortes qual deles se ofereceria em sacrifício com o objectivo de saciar a fome que a todos castigava. Desdita real! Foi a D. Sebastião que tocou a desdita. Não houve sangue real ou autoridade divina que o salvasse. E assim os sobreviventes puderam ter mais uma réstia de esperança.

Ironia do destino. Terminado o banquete e ainda não desfeita a digestão, eis que se aproximam da costa e vislumbram ao longe uma nau. Que só podia ser lusa, pois dos portugueses era o domínio dos mares. Acenaram com uma bandeira real que por mero acaso um tinha trazido da batalha e assim se julgaram salvos. Não sem antes jurarem que o segredo do real repasto ficaria selado entre eles e jamais seria revelado.

Mas o destino definitivamente era avesso. depois de atravessados os mares e já com Lisboa à vista, violenta tempestade os fustiga e acaba por afundar a salvadora embarcação. Apenas um sobrevivente dá à costa, na praia de Carcavelos: o Guimarães! Que assim virou herói pois não só tinha sobrevivido ao naufrágio, como mais importante, era o único sobrevivente da trágica batalha de Alcácer Quibir!

E nunca contou o seu segredo. Bem…nunca é forma de dizer, pois fê-lo em forma de confissão, ao padre Inácio Laranjo, o que, como sabemos jamais o poderia revelar, pois o segredo da confissão é o mais forte dos segredos.

Quando o Guimarães morreu, anos depois, a população entendeu ser de justiça que se lhe fizesse uma estátua, homenagem justa a tão grande herói da sua terra. O padre Inácio ciente de toda a história mas não a podendo revelar, muito insistiu com o escultor para que a estátua representasse o herói com o seu porte altivo mas uma segunda face na zona do ventre. Sendo conhecido por algo iconoclasta, lá levou o padre a sua avante. E assim ficou a estátua do Guimarães com duas faces.

VVE033Estátua no cimo dos Paços do Concelho

VVE034O Guimarães Duas Caras

Mas não será esse o significado, o de “ter duas caras”. Apenas o de “ter o rei na barriga”!

Quem sabe qual a verdade? A verdade…é que a estátua lá está. Com duas caras, no Largo da Oliveira e no cimo da fachada do antigo edifício dos Paços Concelhios!

Assim se passou a tarde, revisitando a História de Portugal, naquilo que ela tem de mais genuíno: o local onde verdadeiramente começou, as personagens que lhe deram a primeira forma e a tão fértil imaginação para explicar aquilo que o tempo apagou.

Por falar em tempo, o dia encaminhava-se para o final e era hora de rumar à Casa do Ribeiro. Mas antes, tive que satisfazer uma curiosidade: algures li que o pôr-do-sol na Penha era um dos mais bonitos do mundo (eu li que era “o mais bonito”, mas não gosto de exageros…). Lá subi até ao Santuário de Nossa Senhora do Carmo da Penha, em estrada que de quando em vez se transforma em pista de competição de corridas automóveis (bem divertido troço de estrada, diga-se!). Também poderia ter ido de teleférico. Podia…mas não era a mesma coisa!

VVE035Santuário de N. S. do Carmo da Penha

VVE036Santuário de N. S. do Carmo da Penha

A afirmação estava correcta. A vista é deslumbrante e o pôr-do-sol é mesmo espectacular!

VVE037Pôr do Sol na Penha

VVE038Pôr do Sol na Penha e a AT

Depois de tal desfrute, rumei finalmente à Casa do Ribeiro. Situada a meia dúzia de quilómetros da urbe vimaranense, em S. Cristovão do Selho, aguardava-me um típico solar minhoto e um acolhimento de excepção.

Na Casa do Ribeiro

Não foi difícil descobri-la (maravilhas do GPS, claro). E logo à chegada a primeira surpresa. Uma fachada branca, debruada a granito e com um portal imponente, encimado pelas armas da família. Não reparei ao início, mas vislumbra-se também a original capela. Dela falarei adiante.

40 - Casa do Ribeiro-fachadaCasa do Ribeiro – Fachada

Feitas as apresentações, passei o portão de entrada e no pátio interior tive a percepção da dimensão deste solar. Segundo me foi dito pelo meu anfitrião, trata-se de um “pequeno” solar tipicamente minhoto, de menor dimensão do que a generalidade dos que povoam o Minho, pela simples razão que este foi passando de geração em geração sempre por linhagem feminina. No piso térreo, as antigas “lojas” de serventia à actividade agrícola (e as restantes à espera de idêntico fim), duas delas excelentemente adaptadas à sua nova função turística. Numa iria pernoitar.

VVE039 Casa do Ribeiro – Pátio

A visita ao solar decorreu em dois momentos. Um primeiro, à chegada, mais breve. O outro, no dia seguinte, já com luz natural e após um belíssimo pequeno almoço. Apesar das descrições que seguem, este é um dos casos em que as imagens valem mais do que mil palavras. Espero que as fotos façam jus à beleza do imóvel, exterior e interior.

Devo aqui salientar que tive o privilégio de ser recebido pelo casal proprietário deste Solar. E mais uma vez tive o verdadeiro testemunho do que é ser recebido nestes alojamentos: como um amigo de longa data a quem aqui se recebe pela primeira vez e a quem se faz questão de contar as histórias e as curiosidades que estas paredes encerram. De realçar ainda que, depois de um saboroso jantar, ficámos em amena conversa, numa acolhedora sala com lareira e decorada com alguns temas de caça, entre os quais um imponente busto de veado, falando claro da casa e da sua história, mas também de nós, das experiências de cada um e, naturalmente, dos dias que correm. Como amigos que se reencontram, afinal. É este o verdadeiro espírito que encontramos nos Solares de Portugal.

VVE040 Casa do Ribeiro – Sala de estar

Voltemos à Casa do Ribeiro. A sua construção data de finais do Séc XVII e tem permanecido na família desde então. A casa, apesar de em diferentes momentos ter sido alvo de obras de recuperação, mantém a sua traça original, a presença cuidada do mobiliário de época com que sucessivamente foi enriquecida e, naturalmente, a presença vigilante dos nobres antepassados através dos seus retratos que preenchem algumas das paredes.

Quando, vindo do pátio, entrei na porta do primeiro piso, subido que foi um dos lanços laterais das escadas de granito, deparei-me com uma linda liteira que ostenta numa das portas o brasão familiar, visível também na magnífica tapeçaria que lhe serve de cenário.

VVE041Casa do Ribeiro – Liteira

À esquerda, a entrada da bonita sala de jantar, donde depois se pode aceder às cozinhas e à parte privada da casa.

VVE042 Casa do Ribeiro – Sala de Jantar

VVE043Casa do Ribeiro – Sala de Jantar

VVE044Casa do Ribeiro – Sala de Jantar

VVE045Casa do Ribeiro – Sala de Jantar

À direita, percorremos algumas salas com o mobiliário e os retratos já referidos, entre outras peças de decoração lindíssimas, e o acesso à sala da lareira que acima descrevi. É desta sala que depois temos acesso a outros quartos afectos à actividade turística.

VVE046Casa do Ribeiro – Sala

VVE047Casa do Ribeiro – Pormenor

VVE048Casa do Ribeiro – Sala

VVE049Casa do Ribeiro – Pormenor

VVE050Casa do Ribeiro – Sala

VVE051Casa do Ribeiro – Pormenor

No exterior, um alpendre em granito oferece-nos uma espectacular vista. Em primeiro plano para o magnífico e cuidado jardim em estilo francês, tendo do lado oposto uma espectacular fonte – a maior do Minho com estas características – com três estátuas que evocam as três Virtudes: Fé, Esperança e Caridade. Em segundo plano, e para lá dos limites do jardim, as vinhas pertença da casa e que lhe asseguram a sua produção própria de vinho. Mais longe, o ribeiro que lhe dá nome e uma vista que nos leva em diversos tons de verde, até à cidade-berço.

VVE052Casa do Ribeiro – Fachada interior

VVE053Casa do Ribeiro – Jardim, Fonte e panorâmica da Quinta

VVE054 Casa do Ribeiro – Jardim e Fonte

VVE055 Casa do Ribeiro – Fonte

Finalmente, a referência à original capela, de planta octogonal, tecto abobadado revestido a madeira pintada, com púlpito e uma pequena galeria. Apesar da sua pequena dimensão é muito bonita e as obras de restauro que se avizinham serão bem merecidas.

VVE056Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela: Acesso

VVE057 Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela: Sino

VVE058Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela

VVE059Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela

VVE060Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela

VVE061 Casa do Ribeiro – Pormenor da Capela

Quanto ao meu alojamento? A imagem fala por si:

VVE064Casa do Ribeiro – Pormenor do quarto

A Casa do Ribeiro está dedicada ao Turismo Rural desde 1984, e o meritório trabalho de conservação e principalmente de permitir que o possamos admirar e desfrutar, é totalmente dos meus simpáticos anfitriões, A Maria José e o Luís acolheram-me de uma forma que não poderei esquecer, nem sequer corresponder em gratidão. Com sinceridade posso dizer que fiquei mais rico por os conhecer. Bem haja!

VVE076OS MEUS ANFITRIÕES – Bem haja!

VVE065Casa do Ribeiro – Pronta para seguir…

VVE075Casa do Ribeiro – Pronta para seguir…

VVE066Por aqui entrei. Por aqui saí…logo com saudade

De volta a Guimarães

Terminada a estadia, rumei novamente a Guimarães. Para o cafézinho matinal, para encontrar o companheiro do resto da viagem….e para voltar ao Largo da Oliveira. É verdade! Tive que voltar lá e contemplar novamente o Guimarães das Duas Caras!

No Largo da Oliveira: ainda o Guimarães….

Depois, foi seguir viagem…para trás ficou o Berço de Portugal! (para terminar, nada como um cliché…)

Agradecimentos

A moto utilizada nesta viagem foi uma Honda CRF 1100L Africa Twin Adventure Sports, sobre a qual já escrevi a respectiva análise, publicada aqui. A minha gratidão à Honda Portugal pela sua cedência.

LOGO_HONDA_OFICIAL

Um enorme obrigado também aos Solares de Portugal, companhia de primeira hora neste projecto em que vos dou a conhecer algum do riquíssimo património histórico e arquitectónico dos muitos solares e mansões familiares do nosso País.

Solares_logo_mini

E obviamente, a minha gratidão aos anfitriões desta excelente estadia na Casa do Ribeiro.

Que recomendo…até porque fica logo ali, ao Virar da Esquina!

P’rós Amigos

Disclaimer

A partir de 18/06/2020 e durante os próximos 30 dias, os Solares de Portugal oferecem um desconto de 10% nas reservas efectuadas para este destino sendo que nesse acto deverá ser indicada a referência 6F0BD582 e mencionar que a casa visitada foi a Casa do Ribeiro em Guimarães.

Este desconto não é cumulativo com campanhas em vigor e a reserva da estadia terá que ser feita através da CENTER promo@center.pt e tel 258 743 965 e não directamente à casa.

Outros benefícios podem ser consultados na página P’rós Amigos!

Suzuki V-Strom 1050XT – Olhar o futuro e respeitar a herança

The Master of Adventure é o mote para esta nova moto, onde a inspiração clássica se cruza com a actualidade e com as modernas soluções tecnológicas.

Viagens ao Virar da Esquina na estrada com a Suzuki V-Strom 1050XT
Test1

Corria o ano de 1988 quando a Suzuki lançou no mercado uma moto que viria a ficar mítica: a DR 750 Big. Ou DR BIG para os amigos!

Tinha aquele que, à época, era o maior monocilíndrico do mercado com 727cc que debitava 50cv às 6.800rpm e 55Nm às 5.600rpm. Também tinha um enorme tanque de gasolina: 28 litros. Associado a um consumo que a marca apontava para os 5,9 l/100, tinha uma autonomia acima dos 450km. Ou seja, era uma moto que visava o horizonte. 2 anos mais tarde, a cilindrada subiu ligeiramente bem como a potência. Ao invés, a capacidade do depósito diminuiu.

DR750Big

Para lá de todas estas características, que estavam de acordo com os tempos então vividos e uma certa “febre” com as aventuras do Paris-Dakar, talvez a característica mais marcante e que rompeu claramente com as tendências de então: um imponente “bico-de-pato” que lhe dava um visual original e distintivo. Agressivo também! Foi apelidada de “Desert Express”.

Porquê esta referência? Já lá vamos…

Nove anos depois, em 1997 e na sequência da moda dos motores bicilíndricos em “V” que dominavam nas Superbikes, a Suzuki lançou a TL1000S. A moto era francamente bonita (questão sempre subjectiva, portanto aqui vai a minha opinião pessoal), tinha um motor de 2 cilindros em “V” a 90º, com 996cc que debitava 125cv às 8.500rpm e 105Nm às 8.000rpm.

TL1000S

Apenas esteve em produção durante 4 anos e apresentava alguns problemas relacionados com a suspensão traseira (mal nascida). Não foi todavia impedimento para que seja hoje considerada como uma das motos de culto da marca japonesa.

Porquê mais esta referência? Aí vai!

SUZUKI V-STROM 1050 XT – Uma moto com pedigree

Por cortesia do representante oficial da Suzuki no nosso país, a MOTEO PORTUGAL SA e com o apoio dos concessionários oficiais HM Motos  e MIGTEC  tive a oportunidade de experimentar a novíssima V-Strom 1050XT.

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Não podemos afirmar tratar-se de uma moto nova…mas é certamente uma nova moto. De facto, depois do seu lançamento em 2014, a maior da família V-Strom – V do motor com essa disposição e Strom da palavra alemã que designa potência/poder – já carecia de alguma revisão, seja no visual, seja nas suas características técnicas.

A Suzuki, e bem, foi à sua história buscar a inspiração para as linhas do novo modelo.

O anterior, apesar das suas boas características e do preço atractivo – sem dúvida um bom exemplo de uma excelente relação custo-benefício – nunca cativou as paixões do mercado. A moto valia por si, não por uma imagem marcante e que se distinguisse na paisagem.

E se assim o pensou, melhor o executou. A nova V-Strom é uma moto bonita. E não é só a minha opinião. Ouvi esse comentário várias vezes ao longo da minha jornada com ela.

E foi só ir ao baú da história, “ler” as linhas da avózinha DR BIG e aí recolher a inspiração para o sucesso que se antecipa. Já percebem a minha referência ao início? Aquele imponente “bico-de-pato”, original à época e que hoje pontua na maioria das motos da categoria que poderemos apelidar de “Aventura”, marca decisivamente o design deste novo modelo.

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E para que se note que não passa indiferente, quando chegava a Lisboa, na portagem da Ponte Vasco da Gama e já após ter pago, a senhora portageira fez uma cara estranha, de alguma admiração. Estranhei e perguntei o que se passava. Respondeu-me: “É a nova V-Strom?”. Aqui o meu espanto foi total! Pois bem, não só chamou a atenção da simpática senhora como foi logo tema para curta conversa. Afinal, ela tem o modelo anterior e logo foi questionando a minha opinião…atrás, a fila de carros cresceu rapidamente!

Esclarecida a primeira das referências históricas, porque mencionei depois a TL1000S? Precisamente porque foi o modelo que estreou o motor de 1 litro em “V” a 90º que hoje equipa a nossa V-Strom. Obviamente actualizado e evoluído. Mas que é desde logo uma garantia da respectiva fiabilidade. Se tivesse que “dar raia”, há muito que isso teria acontecido. E nem é o caso.

Explicado o pedigree da nova V-Strom 1050 XT em ensaio, convém referir ainda que o esquema cromático escolhido é particularmente feliz. Existem ainda duas versões alternativas, em preto e em amarelo. Que não ficam atrás desta vermelha e branca. Uma mais discreta e outra bem mais “berrante”. Há para todos os gostos!

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Neste ponto convém referir um aspecto fundamental. A moto ensaiada á a versão XT. Ou seja, é o topo de gama, com muito mais equipamento e funcionalidades que o modelo standard (no final acrescento um quadro com as diferenças) e com um custo chave na mão de cerca de 15 mil euros.

 V-STROM 1050 – The Master of Adventure

Este claim que a marca introduz, não deixa margem para dúvidas quanto à ambição. Enquadrar a moto no segmento da moda: as aventureiras. Define o seu posicionamento.

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Mas fá-lo com objectivos claramente assumidos não deixando dúvidas quanto ao que pretende: associar as características das maxi-trails (conforto, posição de condução, presença na estrada, capacidade de personalização…sem esquecer a moda) a uma vocação definitivamente estradista (a opção pela roda de 19” à frente que lhe retira alguma margem em offroad mas que claramente melhora o comportamento em estrada e, principalmente, a maneabilidade em sectores mais sinuosos ou até na condução citadina). E convém não esquecer um pormenor que à partida até nem é evidente: é uma moto relativamente pesada – quase 250kg.

Eu diria que esta nova versão é uma evolução…quase revolução. Ou seja, a aplicação de mais electrónica na gestão do motor para a conformidade com a norma Euro5 traduziu-se também num acrescentar muito significativo de novas capacidades.

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Vejamos: 

Incremento de 7cv na potência a par de ser menos poluente com novas arvores de cames e diferentes perfis de alimentação, nova centralina, novos corpos de injecção e duas velas por cilindro. Também um novo radiador e permutador de óleo que permitem optimizar as temperaturas de funcionamento, o que se traduziu no aumento de potência e de forma mais limpa.

Sistema de alimentação “ride by wire”, unidade de medição inercial que faz actuar o controlo de tracção e o ABS em função da inclinação da mota em cada instante e que inclui o tão útil Cruise Control. Este sistema, designado pela marca por Suzuki Inteligent Ride System, oferece também 3 mapas de motor opcionais, 4 níveis de controlo de tracção e 2 níveis de controlo do ABS. 

Finalmente, uma nova embraiagem deslizante que muito contribui para a agradabilidade de utilização. 

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Em resumo: Motor 4 tempos, V-Twin a 90º, refrigeração líquida, DOHC, com 1037cc. Tem 107cv às 8.500rpm e 100Nm às 6.000rpm. A emissão padrão de CO2 é de 122 g/km. Depósito de 20 litros. Dimensões: 2265x940x1465 (CxLxA mm), 1555mm entre eixos, 850mm altura do assento e 160mm de altura ao solo. Pneus tubeless: 110/80R19 à frente e 150/70R17 atrás.

 Na estrada

Tive a V-Strom na minha mão durante cerca de 48 horas. Permitiu fazer um ensaio de condução ao longo de quase 600km. E diversificado: cerca de 100km em trânsito urbano e sub-urbano, aproximadamente 80km em estradas de serra bem sinuosas, 50km em autoestrada e o restante em estradas nacionais ou municipais.

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Não testei os limites da moto, porque o objectivo era experimentar a moto em condições normais de utilização. Velocidades adequadas aos limites legais. Ainda assim, para os curiosos, a velocidade máxima (teórica) rondará os 240km/h. É fácil fazer o cálculo: às 4.500 rpm atinge os 120km/h. Como o redline está nas 9.100rpm…é “fazer as contas” como dizia o outro!

“Apertei-lhe os calos” nas estradas de serra, sinuosas e com pisos razoáveis. Porque a diversão faz parte da vida de um motociclista, obviamente. E devo dizer que o desempenho foi de excelência. Apesar do centro de gravidade naturalmente mais alto, ainda assim a inserção em curva é muito fácil e o aprumo com inclinações bastante consideráveis (alguém mais habilidoso com facilidade rasparia as pezeiras…) mantém-se até à saída. Nesta, o motor responde com competência, sem ser explosivo. A roda 19” faz aqui toda a diferença, associada aos pneus adequados a estas funções.

VVE007 Em estrada mais rápida e em auto-estrada, a protecção aerodinâmica é muito boa, seja ao nível da cabeça, seja nas pernas. Quanto aos braços, devido à estreiteza da parte cimeira da frente da moto, sente-se a deslocação do ar mas nada que seja perturbador. Viaja-se com todo o conforto.

E, aqui uma palavra para a banda sonora. O motor emite um barulho grave e rouco mas não muito pronunciado. Aqueles que gostam de dar umas gazadas no trânsito, se calhar vão achar pouco. Eu gosto assim. Mas….se nos lançarmos para as 5.500/6.000rpm aí…ela muda de voz e a música é outra! Sabemos claramente que estamos a “dar gaz” e esta música entra-nos pelos ouvidos dentro, puxando pela adrenalina. Ou seja, somos recordados que este motor nasceu com características “R”. Tinha na sua génese 125cv e uma faixa de utilização muito apertadinha entre as 8.000 e 8.500rpm. E já lá vão mais de 20 anos! É certo que agora está mais civilizado, mas a capacidade está lá.

Bem, com uma utilização ao longo desta experiência muito similar ao que eu faria com uma moto minha numa normal viagem, devo referir que fiquei surpreendido com o consumo. No final, 4,8 l/100 (valor registado pelo computador de bordo)! É evidente que se na auto-estrada tivesse explorado mais frequentemente a faixa superior do conta-rotações (o que fiz…mas na serra), que se tivesse feito uma percentagem maior de condução citadina, eventualmente esse consumo subiria umas décimas. Estranho seria se não acontecesse.

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Mas, como referi, procurei simular uma “utilização normal”, sem exageros mas também sem preocupações de economia de consumo. Fica o registo, que julgo ser uma nota muito positiva para a V-Strom.

Por falar em motor, convém não esquecer que é um V2 com meio litro de capacidade em cada cilindro. A Suzuki conseguiu atenuar e muito, o tradicional bater a baixa rotação. Ainda se sente mas…para que serve a caixa de velocidades? É para utilizar, se faz favor. 

E devo dizer que o funcionamento da embraiagem, muito macia de tal forma que nos esquecemos que ela lá está tal a facilidade com que actuamos a manete, e a caixa de velocidades que engrena também com suavidade, contribuem para a agradabilidade de condução. Não será a referência do mercado, mas que funciona, funciona.

Quanto aos travões…parecia que tinham sido feitos à minha medida. De facto, “mordem” bem com eficácia. Talvez, para uma incursão na terra sejam um pouco “fortes” demais e possam dar algum susto, mas já o referi, não é esse o terreno de eleição (até porque o ABS não se pode desligar totalmente).

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As suspensões são um ponto que merece ser referido. Já disse e repito, a moto é confortável e tem um bom aprumo em estradas sinuosas. Obviamente que as suspensões são determinantes aqui. E volto à premissa inicial: a moto tem clara vocação estradista. Ou seja, para lá de um menor curso face à maioria das suas concorrentes, são também mais firmes. Em bom piso, em recta ou nas curvas, é perfeita. Mas se o asfalto estiver irregular…aí a coisa já não é tão agradável.

O percurso entre a Comporta e Grândola, praticamente recto mas com uma ondulação permanente do piso, fez-me lembrar os tempos das minhas motos de estrada….aos saltinhos!!! Bem, não é offroad..mas quase parece. Aqui, valerá a pena o utilizador afinar as suspensões às suas características pessoais (que poderão não coincidir com as de fábrica), conselho aliás extensível a todos. No caso da V-Strom, a suspensão dianteira é totalmente regulável e na traseira, a pré-carga é também facilmente acessível por um largo manípulo circular situado na lateral esquerda. 

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Finalmente, a condução offroad. Como ponto prévio dizer que não “é a minha praia”. Por isso, não me “estiquei”…

Em piso de terra batida, consolidada com pouca pedra solta ou gravilha e sem buracos ou sulcos, ela comporta-se adequadamente, mas sem margem para entusiasmos. Até porque os pneus não têm essa capacidade também. Depois, num pequeno percurso em caminho bastante arenoso…convidou-me muitas vezes para bailar. Aderência mínima e mesmo com a entrega de potência muito suave, a situação não aconselhava continuação. Dei-lhe “tampa” e não fui no baile…

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Para concluir este ponto, refiro dois aspectos menos positivos na minha opinião:

– A ausência de punhos aquecidos, numa moto que se pretende viajante, julgo ser uma lacuna importante (embora seja fácil remediar…ainda assim, já podiam vir de série);

– O farol quadrado (é quase um hexágono) à frente. Confesso que não gosto de faróis quadrados. Mas…e se fosse redondo? Melhorava. Não sei. Ou com um formato mais elaborado? Talvez.

Ou seja, podia ser diferente? Poder, podia…mas não era a mesma coisa!!! Até porque a antepassada BIG tinha um farol rectangular. E já aqui salientei que o pedigree é fundamental nesta nova V- Strom. Portanto, até porque é um aspecto estritamente subjectivo e pessoal, não minimiza em nada a qualidade da moto. Pelo contrário.

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Conclusão

A primeira conclusão que tirei é que se o objectivo da Suzuki era apresentar uma moto para fazer longas distâncias, atingiu-o em absoluto. E se o seu utilizador quiser fazer dela o seu veículo quotidiano, nos trajectos casa-trabalho, também acertou.

A moto transmite alguma leveza (apesar do seu peso) na condução, deixa-se levar perfeitamente no tráfego citadino com a maneabilidade adequada para quem enfrenta as longas filas de trânsito e facilita o filtering.

A Suzuki não pretendeu claramente fazer uma moto com aspirações a utilizações mais radicais em offroad. Também conseguiu.

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Uma palavra pode definir a utilização desta moto: simples! Sem ser simplista. Longe disso. Tem tudo ou quase tudo o que uma moto deste segmento e preço deve ter. Algumas boas ideias. Outras que primam por ser práticas. E quando falamos na utilização das inúmeras funcionalidades que permitem costumizar a moto e adaptá-la às condições de cada momento, aquele punho esquerdo é exemplar! Simples, simples, simples. 3 vezes simples, tantas quantos os botões necessários a por aquilo tudo a funcionar.

Sabemos que as anteriores versões V- Strom (seja o modelo que vendeu na Europa entre 2002 e 2009, seja esta nova versão lançada em 2014) não primavam pelo carisma. Sendo boas motos, cuja solidez é reconhecida e a relação custo-benefício muito favorável, ainda assim não estão normalmente no top of mind dos potenciais compradores. E a Suzuki quis inverter isto. Conseguiu!!!

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 Os detalhes
  •  ECRAN – Dá uma muito boa protecção ao condutor. Sente-se algum vento na zona dos braços mas tal é habitual neste tipo de motos. Tem a grande vantagem de ser regulável, com boa amplitude e de forma contínua. Tem o contra de o ajuste, apesar de muito simples, ser efectuado à frente e portanto implica parar e desmontar da moto.
  • SUPORTE PARA GPS (ou outros acessórios) – Situado acima do painel de bordo, solidário com a estrutura de suporte do ecran, de largo diâmetro e sem transmitir vibrações. Muito bom.
  • PROTECÇÕES DE PUNHOS – Eficazes
  • POSIÇÃO DE CONDUÇÃO – É muito boa. Confortável e ergonomicamente ajustada, as mãos caem naturalmente nos punhos. A largura do guiador (menor que alguma concorrência com pretensões mais offroad) é adequada. A condução em pé não surge naturalmente…o que não espanta dadas as características predominantemente estradistas.
  • REGULAÇÃO DO ASSENTO EM ALTURA – Tem duas posições. A sua regulação faz-se com recurso a ferramentas. Não sendo prático, ainda assim devemos questionar-nos quantas vezes alteramos a sua altura depois de encontrarmos a melhor posição?
  • CRASHBARS – De série, são pequenas e garantem alguma protecção ao motor. Não sendo particularmente bonitas, a sua cor preta fá-las passarem despercebidas quando olhamos para a moto.
  • PROTECÇÃO DO MOTOR – Existem duas pequenas chapas protectoras do motor, laterais. Como não garantem a protecção quer do cárter, quer do filtro do óleo que está em posição bastante exposta, um utilizador que queira garantir mais protecção aquela zona do motor com a adopção de uma protecção mais abrangente, terá que substituir não só estas protecções como também as crashbars de série. Maior protecção mas custo acrescido na aquisição e mais algum tempo de mão-de-obra nas manutenções.
  • PEZEIRAS DO CONDUTOR – A posição é confortável e a sua dimensão também é boa. Todavia a posição, mesmo na vertical das pernas, faz com que ao colocarmos os pés no chão, toquem na zona da canela e obriguem a aumentar a abertura das pernas.
  • PENDURA – A posição é adequada, confortável e com boa dimensão do banco. As pegas estão bem situadas e são amplas. A V-Strom é uma boa moto para viajar a dois.
  • BAGAGEM – O suporte traseiro é útil e de tamanho aceitável. Para aumentar a capacidade de carga, será sempre possível dotá-la das malas laterais e/ou top-case. As 3 malas da marca, em alumínio, custam cerca de 1.500€ mais 500€ para os respectivos suportes.
  • JANTES e PNEUS – Jantes de raios, 19” à frente e 17” atrás, com pneus tubeless. No caso, os Bridgestone Battlax Adventure A41. Cumprem de forma excepcional em estrada. Em terra batida (consolidada e com pouca pedra ou gravilha) mantém o aprumo, com muito cuidado e sem grandes “avarias”. Em piso arenoso, praticamente não têm aderência. Com uma moto desta dimensão, não são claramente a solução mais adequada…mas, aqui ninguém engana ninguém. Nem a vocação principal desta moto é esta, nem estes pneus são minimamente adequados para tal.

 O painel de bordo merece destaque especial, até por ser novidade nesta moto.

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É agradável à vista (principalmente à noite) embora com condições de muito sol, apresente bastantes reflexos. Não é defeito. É feitio. É um problema que este tipo de equipamento – LCD – apresenta e que algumas marcas resolveram substituindo-os por displays multicromáticos mais eficazes. Digamos que, neste caso, a V-Strom está ainda na geração anterior.

Quanto à arrumação da informação, é muito boa, legível e clara. E aqui é fundamental elogiar a Suzuki e realçar a forma prática como resolveu a navegação pelos menus e respectiva informação. Apenas 3 botões!!! Mais simples, não é possível.

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Ou seja, tem um botão “MODE” e outros dois de navegação que, consoante a função escolhida, servem para subir ou descer nas opções, ou para seleccionar o que se pretende.

No mostrador, tem um conta rotações circular do lado esquerdo, com a indicação da mudança engrenada no seu interior. Na sua margem direita superior tem o indicador da temperatura do motor e na margem inferior direita, as opções de condução:

– os 3 modos de parametrização da injecção – A, B e C (do menos para o mais “agressivo”)

– os 4 modos do controlo de tracção – 1, 2 ou 3 (este o mais actuante) e ainda desligado

– os 2 modos do ABS – 1 ou 2 (este o mais actuante). Não permite desligar totalmente

Estas opções são escolhidas pressionando o botão “MODO” para avançar de uma para a seguinte, rotativamente. A selecção em cada uma é feita com os botões de selecção. Não é possível alterar estes parâmetros em andamento.

Do lado direito, de cima para baixo, em dígitos bem visíveis, a velocidade. Abaixo, o nível de gasolina no depósito, em escala com 6 níveis.

A seguir, temos informação que é seleccionável:

Num primeiro campo, que é seleccionado pelo botão “RES” no punho esquerdo, em duas linhas surgem o odómetro e a autonomia ou, alternativamente, um indicador em escala do consumo instântaneo.

No segundo campo, por baixo do anterior, seleccionando sequencialmente no botão “SET”, o odómetro e autonomia, o Trip A e consumo médio para esta distância, o Trip B e respectivo consumo médio e, finalmente um indicador da carga da bateria e da luminosidade do LCD.

Finalmente, o relógio e a temperatura ambiente.

Existem ainda outras hipóteses de personalização: carregando alguns segundos no botão “SET”, acedemos a outras opções:

  • Ligar/desligar o “Hill Hold Assist”: função que apoia o arranque e facilita quando, por exemplo, estamos em inclinações significativas;
  • Acertar a data/hora do relógio
  • Definir as unidades (sistema métrico ou imperial)
  • “Service” que está associado à informação sobre a manutenção programada

e

  • “RPM ASSIST”. Muito interessante esta função! No topo do painel existe uma luz led branca bastante intensa (e que normalmente está apagada, claro). Esta função permite definir dois valores de RPM. Que funcionam como alerta. Um primeiro em que a luz acende intermitentemente (por exemplo, para indicar um valor de rotações a que queremos ser alertados) e um outro em que a luz fica fixa (um valor de rotações que não queremos ultrapassar – no caso 9.000).

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E tudo isto, com apenas 3 botões!

Falta referir um outro elemento muito útil em viagem (e que devia ser equipamento de série em todas as motos destinadas a viagens): o cruise-control.

Inicialmente não percebi o seu funcionamento, porque é accionado com um pequeno botão situado no punho direito. Pois bem…voltamos aos nossos 3 botões! Se este que refiro, liga e desliga, depois toda a “afinação” é feita com os já nossos conhecidos botões “SET” e “RES”. Simples!!! E funciona…

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As diferenças entre a versão XT (em ensaio) e a versão standard

Pelo que adiante será enumerado, tenho sinceras dúvidas que a versão standard tenha procura. na realidade o que a XT tem a mais, muito mais, justifica o investimento marginal a fazer. Sei que a versão XT ficará alguns euros acima de 15 mil já com as despesas de transferência e registo bem como o primeiro IUC.

 1) O que ambas têm: 
  • Acelerador electrónico
  • Controlo de tracção 3 modos + off
  • Sistema de selecção de modos Suzuki
  • Sistema de arranque fácil
  • Sistema de apoio em baixa rotação
  • Banco independente para condutor e passageiro
  • Painel de instrumentos em LCD
  • Tomada USB 2.0 2A
  • Suspensão dianteira invertida KIB 43mm totalmente ajustável
  • Suspensão traseira mono-schock
  • Suspensão traseira ajustável em pré-carga da mola e extensão do hidráulico
  • Discos de travão dianteiros duplos e flutuantes de 310mm
  • Novo motor V-Twin 1037cc EURO5
  • Iluminação dianteira e traseira em LED
  • Sistema de assistência à embraiagem Suzuki (SCAS)/embraiagem deslizante
  • Apoios para pés mais largos
  • Barra para montagem de acessórios no guiador

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2) O que só a XT tem: 
  • Cruise control
  • Sistema de travagem dinâmico
  • Sistema de controlo do arranque em subida
  • Sistema de controlo de travagem em descida
  • Sistema de controlo dependente da carga
  • Banco do condutor ajustável com duas posições
  • Tomada de corrente 12V
  • Ecran ajustável sem ferramentas
  • Unidade de controlo de inércia (IMU)
  • Sistema CAN (Controller Area Network)
  • Jantes de raios
  • Protecção de cárter
  • Brasas de protecção
  • Protecções de mãos
  • Descanso central
  • Espelhos desportivos trapezoidais
  • Sistema de travagem combinada (CBS)
  • ABS regulável em 2 níveis
  • Piscas em LED
  • Versão limtada a 35 kW

Esta experiência de condução representa exclusivamente a minha opinião e decorre das condições em que foi efectuada. O objectivo é apenas contribuir com mais informação para o conhecimento desta moto e reflecte a utilização de um condutor normal, em condições idênticas à que faria com a sua própria moto.

O percurso efectuado foi: Lisboa, Arrábida, Alcácer do Sal, Cais da Carrasqueira, Tróia, Grãndola, Santiago do Cacém, Cercal (Sonega), Ilha do Pessegueiro, Porto Côvo, Sines, Lagoas de S. André e Melides, Melides.

A minha gratidão à MOTEO PORTUGAL SA!

VVE099

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