Estrada Nacional 2 – de cima a baixo (4)

Um sonho antigo e a oportunidade para percorrer o País de norte a sul, pela sua maior estrada e desfrutar da camaradagem e do espírito motociclístico.
4ª parte – A terceira etapa – de Abrantes a Castro Verde

3ª etapa – de Abrantes a Castro Verde

E ao 4º dia de viagem, acordámos cedinho em Vale de Zebrinho. A 3ª etapa aguardava-nos.

A manhã estava soalheira e apenas ouvíamos os barulhos da natureza. Depois da estafa da véspera, do lauto jantar e do são convívio posterior, a noite passou muito rápida. Consta que naquela noite, em pleno Alentejo só se ouvia o barulho das corujas e os potentes roncos das nossas motas…em sonhos (alguém ousou mencionar o vocábulo “ressonar” mas foi prontamente aniquilado!).

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Os nossos anfitriões presentearam-nos com o melhor pequeno almoço da viagem.

Depois, as despedidas e … ala que se faz tarde!

Regressámos ao Rossio ao Sul do Tejo para entrarmos novamente na nossa EN2. A primeira paragem aconteceu pouco depois em Bemposta. Era necessário atestar as montadas que a véspera tinha sido exigente também em combustível. Depois, um cafézinho, uma visita ao Multibanco para consultar o horóscopo e…continuámos Alentejo dentro.

Abrantes marca uma fronteira determinante no tipo de paisagem que atravessamos. Até lá, e depois do planalto transmontano até Vila Real, passámos em sobe e desce, curva e contra-curva, o vale vinhateiro do Alto Douro, a aproximação à base da Serra da Estrela até Viseu, depois toda a zona central com a predominante Serra da Lousã e a chegada à margem direita do Rio Tejo. Um autêntico carrossel (um divertimento permanente em termos de condução!) que de súbito, atravessada a ponte, desemboca na planície. Portugal, um país pequeno mas tão marcado por contrastes…o que também faz a nossa riqueza.

Passámos lateralmente por Ponte de Sôr, seguimos em paralelo à pista de aviação que serve de apoio ao pólo da indústria aeronáutica desta cidade e pouco depois começámos a bordejar as margens da albufeira da Barragem de Montargil. Parámos no meio do paredão para as fotos da praxe (também para estender as pernas…) e, quando demos por isso, uma moto preta, com um motard vestido de preto, com capacete preto, estaciona atrás de nós. Não seria o Batman (até porque era de dia…) mas afinal quem era aquele companheiro?

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Tratava-se de um irmão motociclista do país vizinho chamado Alex. Também estava a fazer a EN2 (começou nesse dia) mas apenas a partir de Abrantes para sul. Natural de Málaga, tinha na véspera feito a travessia da sua terra natal e dirigia-se agora para Almodôvar. Mas estava com um problema…não conseguia a confirmação da reserva para essa noite. Rapidamente resolvemos a situação. Com 2 telefonemas, passámos a reserva para o nosso hotel em Castro Verde…onde ainda por cima nos esperava uma belíssima piscina. Depois do calor dos últimos dias e o que se esperava para este, era quase uma miragem!

Era este o panorama em cima da barragem:

Desde já ficou acordado um encontro à beira da piscina, ao final da tarde e depois uma sessão copofónica para a noite. Cada qual seguiu depois ao seu ritmo…o nosso, pensávamos nós, mais rápido. Depois veríamos quanto estávamos equivocados…

Depois de Montargil, passámos em Mora. Terra famosa pelo seu Fluviário mas, desta vez, tínhamos muitos quilómetros pela frente que não se compadeciam com visitas demoradas. Ainda assim, tempo para uma foto:

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Para lá do lamentável tratamento dado pela autarquia a um dos elementos sinaléticos tradicionais da EN2, convém referir que o engraçadinho que está em 2º plano foi imediatamente doado ao Fluviário para utilização em experiências científicas. Ficaram gratos!

Seguimos viagem em direcção a Montemor o Novo onde pretendíamos almoçar. Pelo caminho, ficou Brotas com um elemento característicos das povoações na planície alentejana: o depósito de água.Foto116

Ainda em Brotas, observámos um semáforo que é elemento fundamental no ordenamento de tráfego desta “buliçosa” povoação:

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E o caminho continuava plano e a direito

Antes da próxima paragem, mesmo à beira da estrada, vestígios pré-históricos, no caso, uma anta:

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Assim chegámos a um marco simbólico da EN2 e também ao local que mais destaque dá, ao longo de toda estrada, à via de comunicação que a atravessa no seu percurso de sul a norte: Ciborro e o marco do quilómetro 500!

Marcado o simbolismo do local, mais uns poucos quilómetros e o ansiado almoço estava à nossa espera em Montemor. Salvo uma ou outra excepção, a nossa viagem não tinha intuitos gastronómicos. Por razões óbvias: são normalmente demoradas e conduzir longas quilometragens, com bastante calor, após lautas refeições não parece ser o mais aconselhável. Por essa razão, sem fugir à típicidade da região, abastecemo-nos com umas belas bifanas para depois seguirmos caminho. No meio do Alentejo, com bastante calor, uma casa da especialidade denominada Pólo Norte tinha tudo a ver….

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Rumo a sul continuámos. seguiu-se Santiago do Escoural, onde existem umas grutas com pinturas rupestres. Situadas em terrenos privados e carecendo de reserva prévia para poderem ser visitadas. Ainda assim tentámos, mas sem sucesso. não se via vivalma!

Aproximávamo-nos de um dos momentos de toda a viagem. Alguns quilómetros volvidos, uma patrulha da GNR faz-nos sinal de paragem. Gente simpática, correctíssimos, no exercício do seu dever, perguntaram-nos naturalmente pela documentação. Azar! Um de nós não tinha a versão actualizada da carta verde do seguro. Com alguma benevolência deixaram-nos seguir sem uma multazita…mas com a recomendação de na primeira localidade tentarmos contactar a seguradora para obter uma 2ª via do documento. Foram dizendo que mais à frente, outros colegas poderiam ão ser tão simpáticos…

A povoação seguinte era Alcáçovas. Vila com história muito antiga, foi nela que portugueses e espanhóis começaram a dividir o mundo na época dos Descobrimentos, no tratado que antecipou o de Tordesilhas. É também a capital do chocalho, com algumas oficinas de fabrica completamente artesanal daqueles artefactos.

Estávamos nós a desmontar, a preparar a fotografia à imponente Igreja Matriz quando aparece o jipe da Guarda com os elementos que já conhecíamos. Ofereceram os seus préstimos para conseguirmos resolver o nosso problema. Telefonema para lá, e-mail para cá, computador e impressora “emprestada” e saímos do posto com o papelinho mágico. Desde esse momento, a nossa gratidão a estes agentes da ordem que, sem repressão mas com muita compreensão, nos ajudaram a continuar uma fantástica viagem. Bem hajam!

Ainda em Alcáçovas, visitámos o recém recuperado Paço dos Henriques onde pudemos apreciar alguns objectos tradicionais expostos e assistir a um filme sobre a fabricação dos chocalhos típicos da terra. Não esquecer o marco simbólico dos 551 quilómetros (todas as localidades atravessadas pela EN2 deveriam ter, em lugar de destaque, um marco similar). E mais uma vez, com a maior simpatia da senhora que nos recebeu e fez de cicerone. Alcáçovas deixou-nos boas recordações, de facto!

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Todavia, com as aventuras legais e a visita cultural, o tempo passou e urgia fazermo-nos à estrada pois já não tínhamos muitas horas de sol. O destino era, como já referido, Castro Verde.

Passámos de seguida Torrão, Odivelas, Ferreira do Alentejo, Ervidel, Aljustrel e, finalmente, Castro Verde. Iríamos pernoitar no Hotel A Esteva…mas o que mais desejávamos naquele momento era a possibilidade de dar um mergulho na piscina!!!

Assim foi. Quando chegámos, surpresa! O Alex já lá estava, a banhos, há cerca de 1 hora. Com o tempo que demorámos em Alcáçovas ele ultrapassou-nos…e com a vantagem de já não ter apanhado a brigada na estrada.

O dia não tinha ainda acabado!

Banhos tomados (na piscina e depois no duche), roupinha de sair à noite vestida, lá estávamos preparados para a “movida” castroverdense!

Primeiro fomos tratar do estômago e da sede a uma típica taberna alentejana, onde desfrutámos de uma carne de porco preto excelente entre outros petiscos e tudo bem regado.

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Depois, uma volta pela vila onde deparámos com bastante movimento. Era noite de véspera do 25 de Abril e as celebrações começariam com um fogo de artifício muito bem organizado pois o foguetório decorreu com acompanhamento de um medley de músicas da época da revolução com Zeca Afonso à cabeça. Cerca de 15 minutos de espectáculo, que foi sendo regado com umas imperiais para nos manter atentos!

E pronto! a 3ª etapa estava concluída. Como todas as anteriores, tinha as suas histórias que foram contribuindo para a riqueza do périplo!

Para o dia seguinte, restavam cerca de 100 quilómetros da EN2 (e depois o regresso a Lisboa). Mas esta centena tinha muito que dizer…as 365 curvas da Serra do Caldeirão!

Convém referir que a paragem em Castro Verde e deixarmos para a manhã do dia seguinte o percurso da Serra foi deliberado. Estes quilómetros são um dos santuários para os motards portugueses. Tinha muito mais interesse fazê-los, melhor dizendo, desfrutá-los logo pela fresquinha do que num final de tarde, provavelmente já com pouca luminosidade e com o cansaço acumulado de muitos quilómetros. Pareceu-nos a melhor opção e depois assim o confirmámos…mas isso é amanhã! Boa noite e bons sonhos…daqueles com potentes motores a roncar noite fora!

Antes (parte 3)

Continua (parte 5)

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