Por volta de 1600, navegadores portugueses estabelecerem um entreposto comercial numa ilha do Mar da China. Por lá já tinham passado desde meio do século anterior e de tal forma encantados com a beleza paisagística logo lhe chamaram Formosa. O domínio português foi breve, como breves foram as permanências de espanhóis ou holandeses que vieram depois. A História atribulada chegou até aos dias de hoje.
Na actualidade, o país-ilha é designado por Taiwan, reclamado pela China como sendo parte integrante do seu território, e possui uma economia desenvolvida e com bons padrões de vida. Apesar de politicamente estar quase isolada, as suas exportações percorrem o mundo.
Um exemplo é a SYM (SYM representa as iniciais de Sanyang Motor Co., Ltd) e a Sanyang é uma das maiores fabricantes mundiais de veículos de duas rodas…
Esta marca de scooters e motociclos, está há bastante tempo presente no mercado nacional e na sua ampla oferta tem lugar de destaque a recente MAXSYM 400. É sobre ela que falaremos, até porque se trata de uma moto nova: motor, quadro, design…é tudo novo.
Vou utilizar o método P5E já habitual em Viagens ao Virar da Esquina.
1. POSICIONAMENTO
No Marketing existe uma “ferramenta” essencial chamada Segmentação. É a forma simpática e polida de dizer “dividir para reinar”. Na realidade, não é só o Marketing que utiliza tal artifício. Todos o fazemos na nossa vida: agrupamos as coisas de acordo com as suas características por forma a ser mais fácil entendê-las, arrumá-las, encontrá-las, o que for…
Na minha “teoria da arrumação das coisas”, aplicada ao universo das scooters, adopto uma terminologia algo ferroviária (sem desprimor para ninguém): urbanas, suburbanas e interurbanas. Utilizo a cilindrada como factor de segmentação, apenas porque é simples e determinante nas potencialidades destas motos.
Nas primeiras, as urbanas, incluo as inúmeras 125cc que há no mercado, como também as de cilindrada até 250cc. São veículos destinados à circulação em cidade. Leves, pequenas, ágeis e económicas são as suas características dominantes.
As interurbanas (scooters de “longo curso”) serão as chamadas maxi-scooters. Aquelas cuja cilindrada está acima dos 500cc. O seu tamanho (geralmente traduzido em excelente capacidade de carga) e as performances da motorização permitem efectuar viagens com bastante conforto, de longa distância e sem constrangimentos para o eventual pendura.
No meio, as suburbanas – onde incluo a MAXSYM 400. Como a designação sugere, são ideias para as deslocações diárias casa-trabalho para que vive nos subúrbios das grandes cidades. Circulam com idêntica facilidade no meio do tráfego citadino ou nas auto-estradas e vias rápidas da periferia. Dotadas da capacidade de carga adequada ao dia-a-dia e com a possibilidade de no seu interior guardarmos o equipamento utilizado na deslocação. Serão as mais polivalentes de todas, com o que isso possa significar de prós e contras.
Como todas as simplificações, é evidente que esta arrumação não é perfeita. Mas serve para o propósito de enquadrar a MAXSYM 400. E percebermos mais facilmente quais são as suas rivais mais directas. Ainda assim, as comparações merecerão algum cuidado porque as diferenças de performance nesta faixa de cilindrada podem ter algum significado. E os preços também…
2. ESTÉTICA
A MAXSYM é elegante e com um toque clássico q.b. A suas linhas fluídas dão-lhe um ar ligeiramente desportivo, sem exuberâncias supérfluas nem banalidades confrangedoras.
O modelo ensaiado, em tons de cinzento a contrastarem com elementos negros, reforçam essa elegância e as linhas a coincidem com os parâmetros estéticos actuais.
Se algo foge a este “bom-gosto” será o painel de instrumentos. Tem um visual antiquado e tons azuis algo berrantes. Mas honra lhe seja feita: a visibilidade da informação é boa e o que tem para nos mostrar é o essencial.
Em suma, tem linhas bastante consensuais, elegantes e modernas. O trabalho de design feito para este novo modelo tem nota francamente positiva.
3. ESTRUTURA
O quadro tubular foi redesenhado face à versão anterior. Um novo quadro 18,5% mais leve sem comprometer a rigidez.
Na parte mecânica, para lá da utilização de componentes cerâmicos no motor visando diminuir atritos, torná-lo mais leve e reduzir consumos, a adopção co controlo de tracção é um elemento adicional de segurança. à partida pareceria que para uma utilização citadina seria despiciendo, mas é precisamente neste ambiente que nos confrontamos com situações de perdas de aderência momentâneas que podem valer uma queda.
A MAXSYM adopta o sistema ABL (Advanced Brake Light): a partir de 70km/h e sempre que a travagem é mais brusca, as luzes de travão acendem de forma intermitente para melhor chamarem a atenção de quem vem atrás.
As suspensões têm um excelente comportamento. Ainda assim, a traseira acusa por vezes alguma secura nas reacções que poderá ser minimizada pela possibilidade de ajuste da pré-carga das molas em 5 posições.
MOTOR:
- Euro 5
- TIPO: 1 cilindro, arrefecido por líquido, OHC, 4 válvulas
- CILINDRADA: 399cc
- DIÂMETRO X CURSO: Ø 83 x 73,8 mm
- POTÊNCIA MÁXIMA: 25,0 kW (34 cv)@6.750 rpm
- BINÁRIO MÁXIMO: 39,5 Nm @5.250 rpm
- SISTEMA DE COMBUSTÍVEL: E.F.I.
- TRANSMISSÃO: C.V.T.
SUSPENSÕES e TRAVÕES:
- SUSPENSÃO DIANTEIRA: Forquilha telescópica
- SUSPENSÃO TRASEIRA: 2 amortecedores
- TRAVÁO DIANTEIRO: Disco duplo Ø 275 mm + ABS Bosch
- TRAVÃO TRASEIRO: Disco Ø 275 mm + ABS Bosch
DIMENSÕES:
- RODAS: 120 /70 15’ e 160 / 60 14’
- COMPRIMENTO: 2,230 mm
- LARGURA: 820 mm
- ALTURA: 1.455 mm
- ALTURA DO ASSENTO: 800 mm
- CAPACIDADE DO DEPÓSITO DE COMBUSTÍVEL: 13 L
4. EQUIPAMENTO
A MAXSYM 400 não nos disponibiliza muitos gadgets electrónicos. Mas a iluminação completamente em LED ou o sistema Keyless (que abrange não só a ignição como a abertura da mala ou do tampão da gasolina) e a ligação USB para carregamento rápido estão presentes. A ausência de um computador de bordo faz com que, por exemplo, não tenhamos informação dos consumos ou da autonomia…
Também a possibilidade de regulação do ecrã em duas posições de forma manual e sem ferramenta é um ponto positivo. Merece destaque o tamanho do espaço por baixo do banco. Nele cabe à vontade um capacete integral e um jet (até mesmo um segundo integral poderá caber, dependendo do tamanho da calota). Este espaço tem luz de cortesia e fácil acesso à bateria e ao terminal OBD.
No avental dianteiro existem ainda dois espaços bastante fundos, um deles com a tomada USB iluminada, com o senão (será defeito? outras marcas seguem a mesma política) de não terem fechadura.
O descanso lateral ao ser utilizado acciona o travão de estacionamento o que é um factor adicional de segurança quando paramos a moto.
O painel de instrumento tem um visual algo desactualizado. É composto por dois mostradores circulares – velocímetro e conta-rotações – onde predomina o azul. Entre eles, ao meio, um pequeno mostrador digital com o indicador de combustível, a temperatura do liquido de refrigeração e onde temos também o odómetro, a indicação da corrente da bateria e o totalizador parcial de quilómetros. No fundo a informação necessária e suficiente e com bastante boa visibilidade em todas as situações.
Outro aspecto interessante e que revela alguma atenção aos detalhes: os espelhos retrovisores são retracteis, o que no trânsito citadino ou em estacionamentos apertados pode ser bastante útil. E têm excelente visibilidade para a retaguarda.
5. ERGONOMIA
A posição de condução é confortável…principalmente se a altura do condutor não exceder 1,80 m. A partir daí, o espaço de pernas pode ser um pouco acanhado, até porque o suporte lombar que separa o banco do condutor do do pendura impede que se procure uma posição mais recuada. Mas o banco é confortável e no que aos comandos diz respeito, as nossas mãos caem no guiador com naturalidade, o que se traduz numa condução agradável.
Os comandos estão bem posicionados com dois pontos que fogem ao normal e se situam ambos no punho esquerdo: a ligação dos 4 piscas que fica ao lado do comutador de médios/máximos e o botãozinho amarelo que liga/desliga o controlo de tracção (TCS) que fica por baixo da buzina. De referir que ambas as manetes são reguláveis.
Já o referi mas não é demais realçar: o sistema Keyless é verdadeiramente confortável e prático. E evita esquecimentos da chave no canhão da ignição… (o problema é quando depois passamos para uma que não tem o sistema e aí, temos o problema ao contrário…a chavezinha vai ficar lá esquecida. Mas disso não tem a SYM qualquer culpa…).
6. EXPERIÊNCIA
O primeiro destaque vai para o motor. Cheio desde baixas rotações, com o binário logo disponível e ainda por cima acompanhado de uma banda sonora grave e um pouquinho rouca, muito agradável.
Se no meio do trânsito urbano o desembaraço é grande – tem um excelente arranque, diga-se – onde ela nos dá grande prazer de condução é numa estrada revirada. O motor como já referi, associado ao bom equilíbrio das suspensões, uma ciclística muito saudável e travões muito competentes, proporciona-nos momentos de condução verdadeiramente divertidos. Ainda assim uma nota: a parte inferior da moto é relativamente bojuda e não muito distante do solo – o que é reflexo da tentativa de colocar o centro de gravidade tão baixo quanto possível – o que em curvas mais empenhadas pode levar a raspar com o cavalete central no chão. É questão de fazer com que o Miguel Oliveira que há em cada um de nós não se manifeste em demasia….
Em auto-estrada, atinge velocidades bastante para lá do limite legal o que significa também que temos sempre disponível uma margem de segurança que nos permite encarar as deslocações nestas vias com toda a confiança.
É nestes domínios que sentimos verdadeiramente a diferença para scooters mais pequenas: temos a dimensão e o peso necessários para nos darem estabilidade e confiança e o motor disponibiliza a potência necessária para sairmos de qualquer situação da melhor forma.
O vidro regulável dá boa protecção ao nível do tronco e da cabeça. Já os ombros ficam algo desprotegidos (porque não uns pequeninos deflectores ao lado do painel de instrumentos? Fica a sugestão…).
Os “sapatinhos” Maxxis mostraram-se bastante adequados e complementam bem a qualidade global da MAXSYM 400.
CONCLUSÃO
Atrás apontei as muitas virtudes e um ou outro ponto menos positivo desta scooter que faz jus à ancestral designação do seu país de origem: Formosa.
Falta destacar um ponto que na hora das opções poderá ter um peso significativo para o potencial comprador: a garantia é de 5 anos ou 100.000 quilómetros. Revela confiança por parte do construtor e é um factor de segurança adicional para quem a resolver adquirir.
E é aqui que poderá residir o busílis da MAXSYM 400: o preço ronda os 7.000€.
Não a destaca significativamente de alguma concorrência japonesa ou até europeia com cilindradas similares, fica algo acima de propostas ligeiramente inferiores (300 e 350cc). E, porque existem ideia preconcebidas…a origem em Taiwan pode relevar.
Acredito que quem pondera comprar uma scooter o faz da forma mais racional possível pelo carácter claramente utilitário destes veículos. Mas se comparar preços, há motos (convencionais) muito atractivas nesta gama de valores…
Expostos os factos, caberá a cada um ponderar os prós e contras e, se for o caso, optar pela MAXSYM 400 com a certeza que levará uma scooter muito competente que lhe poderá dar plena satisfação quer nas deslocações rotineiras do dia-a-dia quer em escapadinhas de fim de semana sem grandes restrições de distâncias.
E o espaço disponível até nem é problema…
A marca refere um consumo de 3,5 l/100km…o que é outro factor muito interessante!
Uma recomendação final: antes de qualquer decisão, é sempre fundamental fazer um test-drive. para que o sim seja consciente ou o não com conhecimento de causa. As opiniões de terceiros como esta, valem o que valem…
Termino com um agradecimento à MOTEO, SA pela cedência da moto para este ensaio e a disponibilidade e simpatia do apoio dado pela MIGTEC MOTOS, concessionário da marca no Cacém / Sintra.
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